CAPÍTULO VIII
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Não havia margens de palavras para explicar o por que Soyoung havia dito aquilo. A garota sempre teve uma peculiar de posse — que de fato ela tratava com serenidade o assunto —, enquanto voltavam para a mansão em meio aquela chuva que ficara agora mais densa, Soyoung se preocupava em como entrar com Violet sem serem vistas. Não pelo fato de esconder, mas sim por conta que gostava de ser particular nesses assuntos. Sua vida praticamente era um enigma sem chave.
A pista estava cada vez mais derrapante e a cada segundo, Soyoung olhava pelo retrovisor se não havia ninguém as seguindo. Isso de fato a preocupava.
Soyoung Park
Desde que saímos do parque e recebi aquela maldita ligação fiquei um tanto nervosa, temia que aquele mala-sem-alça fizesse alguma merda. A voz dele no telefone era suspeita demais e com uma calmaria excepcional. Christopher tinha algo que me deixava estranha em relação a ele, eu não queria que ele ficasse com o legado do senhor Alejandro, eu tinha que de alguma forma impedi-lo a não ser líder. Aquela liderança tinha poder demais para ele, ainda mais com a carta. A carta é a chave de algo que ninguém imagina, esconder isso foi a única solução, talvez quando descobrir será tarde demais e será melhor assim.
Encarei Violet por segundos, ela havia fechado os olhos, aquelas benditas orbes verdes me faziam ficar nervosa. Talvez se eu realmente quisesse assumir sentir algo em relação a ela, eu poderia torná-la alvo dessa perigosidade. Quando ela havia me pedido para beijá-la eu havia simplesmente travado, me senti presa a algo de sete anos atrás. Precisava me livrar e não era fácil. Eu havia construído uma armadura em mim mesmo para não ter que sofrer. Porém, estou fazendo isso com a garota ao lado.
Seu suspiro era imperceptível, eu sabia que ela queria me perguntar algo. Apenas não sabia se eu conseguiria responder, se nem aos psiquiatras eu respondia com frequência, imagina ela.
— Sei que quer me fazer perguntas, Violet. Seus suspiros não me enganam — Respondi vagarosamente, tendo a certeza que ela havia escutado em precisa atenção. — Só tenha certeza que queira fazê-las e não se apavorar.
— Tudo bem… — Sua feição totalmente inenarrável fez-me arrepender um pouco. — Os seus pais, eles sabem?
— Que trabalho para os Villanueva? — Questionei e a ouvi negar. E rapidamente entendi o que ela havia interpretado. — Suponho que não.
— Sobre eles, sei que os seus pais trabalham para o FBI, como você lidou com o acontecimento dos Belova? — Ela perguntou me encarando, seu cenho franzido querendo resposta me fez recuar em responder. — Meu tio me contou sobre o que aconteceu, mas apenas dizem que foram eles, apenas eles. Há algo nessa história que não encaixa, Soso.
— Sim, foram eles… — Menti. Meus pais passaram anos levando essa mentira em suas costas, sabendo que a verdadeira culpada era a própria filha.
Eu nunca fui de mentir, mas quando comecei, não parei mais. Quando matei os Belova eu me sentia livre, finalmente a última fase do luto eu havia superado. Existem cinco delas, negação; raiva, barganha, depressão e aceitação. Porém, algo me consumindo me dizia faltar algo, a vingança. Essa fase eu havia construído como forma de culpar eles. Mas eu nunca soube da verdade.
— Seus pais devem ter tido bastante motivo para isso.
Sim, querida Violet, “eles” tinham motivo.
— Por que todos sempre fazem essas perguntas? — Questionou frustrada. Era um assunto que eu queria esquecer, mas aparentemente, ninguém perderia a oportunidade de perguntar.
Possuo pavio curto, e tecnicamente, desconto em coisas. Eu acelerava o veículo de forma rápida e não temia que um acidente poderia acontecer. Meus remédios… eu precisava deles.Talvez eu não surte mais. E sempre começava assim, minha visão começava a ficar turva, coração palpitando aceleradamente, mãos trêmulas com respiração ofegante, e uma surdez inigualável.
— Sophie per favore… pare! — A italiana pedia, sua voz ficava angustiada a cada segundo que falava. — Soso…
Por momentos comecei a desacelerar sem perceber, o risco que eu estava colocando Violet me fazia sentir culpada, a forma como acelerei o carro nessa chuva totalmente densa poderia ter causado um estrago. Eu mataria Violet.
Não de novo não. Isso não. Minutos atrás eu mataria Violet sem intenção?
— Você me assustou, por que fez isso? — Ela indagou pondo sua mão em meu ombro.
— Eu não sei. — Respondi rapidamente.
Você sabe Soyoung! Você já deve saber que tipo de pessoa surtada você é.
(…)
A chuva havia parado e minutos depois, após chegarem à mansão, Violet encarou o enorme lugar e exclamou.
— Uau! Que incrível, o que o dinheiro não faz, não é?
— Dinheiro sujo. — Soyoung prosseguiu, ao sair do carro.
Soyoung olhou vagarosamente aos redores a procura dos seguranças, não havia nenhum sinal deles. Porém, algumas luzes da grande casa estavam acesas. O suficiente para ela acreditar que ainda sim, alguém estava acordado a essa hora. Ambas entraram em silêncio, a entrada da casa reinvestida na cor branco artesão combinavam com as estátuas de anjos macabros, a enorme porta de carvalho antigo detalhou com o brasão de Medusa em ouro.
Admiravam-na tanto que possuíam quadros da górgona.
Uma mansão encoberta pelo dinheiro que muito não se sabia donde vinha. Soyoung recusava toda quantia que Alejandro a entregava, e o homem fazia de tudo para que ela aceitasse, então ele decidiu mandar certo alguém entregar o cheque para a mãe da agente.
— Essa mansão é incrivelmente perfeita… — A ruiva murmurou enquanto admirava ao redor. — Como consegue dormir com tanto luxo ao redor? É inacreditável. Existem artefatos que não estão em museus.
— A maioria dos artefatos são de leilões ilegais, começando com a enorme estátua de Perseu que fica na sala, há outros também. O mais valioso é o fragmento que retrataria a rainha-faraó Hatshepsut.
— Espera, mas os arqueólogos não estão com ela? — A mesma questionou baixinho ao subir a enorme escada.
— É o que todos acreditam.
Ao caminharem até os corredores extensos, Soyoung percebeu que a fresta da porta do escritório estava aberta gradualmente e a luz acesa, ela seguiu vagarosamente até o seu quarto onde deixou Violet até ela voltar. O silêncio pela mansão era tedioso, e aquele silêncio perturbador combinava com o pouco barulho dos coturnos de Soyoung. Vagarosamente ela abriu a porta e espiou constatando a luz do abajur acesa e a cadeira virada para a enorme varanda fechada.
— Achei que estivesse dormindo — Ela murmurou sentindo a fumaça do charuto pairando em suas narinas, no qual ela conhecia bem.
A cadeira virou lentamente e o rosto de Christopher fitou a face pouca iluminada de Soyoung e logo deixou o charuto cubano em seu cinzeiro feito a ouro.
— Aceita um trago? — O moreno empurrou de leve o cinzeiro em sua direção, e ela negou. — Por que veio até aqui? Eu não suporto você.
A Park riu soprado ironicamente.
— Nem eu. Vim por esse escritório ser um dos lugares no qual eu vinha me embebedar, antes de vocês chegarem é óbvio.
— É alcoólatra? Achei que não fosse o seu feitio — A voz do rapaz saiu baixa e rouca, mas mesmo assim não deixava de haver farpas em seu tom de voz.
Soyoung revirou os olhos e seguiu até a adega ao lado da estante, retirou uma garrafa de vinho e uma duas taças, mesmo que houvesse atritos entre os dois, ela não deixaria de oferecer.
— Eu não sou alcoólatra, pelo contrário, eu bebo com moderação. Não gosto de bebida qualquer, igual a você, que possui um péssimo gosto — Ao abrir a garrafa ela despejou o líquido em ambas taças e prosseguindo após o primeiro gole — Então, eu me lembrei de algo. Sobre tal aliança ou proposta, seja lá o que for essa merda.
— É o seguinte, o que você faria para ter tudo o que desejasse? — Ele questionou sem olhá-la, bebericando levemente o vinho.
— Boa pergunta. Mas isso é algo que não me cabe ainda, eu desejo algo, porém não posso tê-la.
— O seu desejo necessita do dinheiro? — Bang Chan rebateu perguntando. Soyoung queria sacar o joguinho que ele fazia, mas a forma que ele questionava estava fora de cogitação para ser brincadeira. — Necessita?
— Por que fala tanto do dinheiro? A sua ambição me preocupa. O que os meus desejos têm tanto a se misturar com o dinheiro? — Soyoung proferiu, não havia expressão, apenas seriedade.
O rapaz levantou-se e fora em sua direção, deixando de lado a taça, e cada vez que ele se aproximava, Soyoung caminhava para trás. E logo acidentalmente bateu suas costas na estante de livros, vendo Bang Chan por sua mão encostada na estante. A respiração dele estava tão quente que Soyoung virou o rosto para não encará-lo.
— O dinheiro vai nos proporcionar algo, e eu preciso de você para isso.
— Me diga então — Ela soou ironicamente. — No que ele vai me proporcionar, já que as duas coisas que eu mais desejo estão fora de cogitação.
— Che carino! — Ele exclamou debochando — Pense bem, eu e você com bilhões de dinheiro caindo na nossa conta quando eu puser as mãos na liderança…
— E Hyunjin? Ele é seu irmão também! — Desacreditada, Soyoung rebateu, sua expressão estava contornada de raiva ao ouvir ele rir descaradamente.
— Esqueça o pirralho, mandarei ele de volta de onde veio. — O moreno proferiu e indo em direção ao seu cinzeiro buscando seu charuto.
— Pensa em colocá-lo no hospital psiquiátrico novamente? — A Park perguntou temerosa, e ao vê-lo afirmar, ela respirou fundo e fechou os olhos negando veementemente — Porquê?
— Basta olhar para ele! Não enxerga as loucuras dele? Não vê aqueles medicamentos, seus surtos, alucinações, e o quão ele pode parecer insano? Ele não é uma criança. — Seu riso ladino após seriedade parecia caótico — Aposto que o velho mente dizendo que Hyunjin é meu irmão.
— O DNA não te torna alguém da família, ele é uma criança que foi forçado a crescer! Não queira estar neste barco senão ele afunda com você. — Soyoung jogou rudemente aquelas palavras e fora em direção a Christopher ficando cara a cara — Ele está traumatizado, então não precisa martirizar o garoto o colocando lá. Não sabe o que é viver naquele inferno.
— Não precisa sentir pena dele, Soyoung! — Ele vociferou e agarrou o queixo da garota fortemente.
— Está com inveja por que ele tem a mim, enquanto você não lhe resta nada. — Em mesmo tom ela proferiu entredentes, e logo retirou a mão dele de seu rosto se afastando. — Vamos, Christopher, assuma de uma vez. Você gosta de ser o centro das atenções, um completo narcisista.
— Não sabe o que fala.
— Uma pessoa centrada em si, que sonha em ter poder ilimitado e necessita ser admirada o tempo todo. Foi por isso que me “arrastou” até aqui. O tiro que você levou não foi feito por inimigos — A sua fala foi um completo baque para Chris, que desviou o olhar por segundos. — Mandei alguém analisar, a arma tinha resquícios de uma suposta droga que eu sabia que alguém usava, você pagou para que atirassem em você.
— Que blefe sua história, não tem como provar nada. — Seu murmuro foi suficiente para a garota riu sarcástica.
— No dia que levou o tiro, percebi o projétil, a arma era muito vagabunda para vir de alguém de alto escalão. Então tive um encontro com a garota que você supostamente iria casar — Soyoung com a taça em mãos rodopiou em um giro sem tirar o sorriso do rosto — E Chris, e não sabe como foi prazeroso encontrá-la. Se é que me entende. Ela me disse que não havia efetuado nenhuma tentativa de homicídio, e boom, no mesmo dia uma quantia de trinta mil foi movimentada da sua conta. Manipulador, narcisista e psicopata, é isso o que você é!
Soyoung adorava investigar, e para ela, jogar todas as provas na cara do suspeito era satisfatório. Então veria a verdadeira expressão de um culpado. Por milímetros segundos, Bang Chan sabia que parte disso revisitaria, mas nunca iria admitir. Era impagável o quão ele era manipulador, sem demonstrar. Fingia-se de coitado, mas ela conhecia quem estava à sua frente.
— Você sabe que nunca deve dizer a um psicopata que ele é um psicopata, isso os perturba. — Sua voz sombria não causou medo a Park, aquilo tinha soado como ameaça.
— Por que? Vai me matar? Vamos, faça isso!
A garota fez os seus passos irem até a gaveta da mesa, ela girou a chave e puxou até encontrar uma pistola, no qual ela sabia que ele usava com frequência. Soyoung segurou-a com agilidade e encarou percebendo algo de diferente, e queria desafiá-lo, ela entregou a arma em suas mãos e gesticulando, colocando o cano do silenciador em sua testa.
— Vamos, Christopher. A arma ainda está quente, suponho que ainda haja projéteis de bala, você usou não faz nenhuma hora. E agora irá usá-la. — Ainda com aquela arma em sua direção, parecia que nada iria se resolver.
Eles não gritavam, não berravam, e muito menos faziam barulho. Era uma briga que aparentava ser calma em tom baixo e relevante, mas estava o caos. Christopher não tinha reação, mas ainda sim posicionava o objeto na testa da garota, na sua mente Soyoung era suicida ao ponto de desejar tanto que ele a matasse.
— Não sabe o quão eu quero que perfure a minha cabeça com essas balas, ninguém irá se importar. Alguém já se importou com você? Não precisa responder, eu sei que não. — Suas palavras interpretavam angústia e ironia, mas ao mesmo tempo era calma. — Se você me matar, vou te agradecer.
— Agora você que me manipula, mas não farei isso — Ele se afastou vagarosamente e fechou os olhos fortemente — Cada um merece um final feliz, e você não merece morrer, não nas minhas mãos. Por que deseja isso?
— Estou machucada… com dores das memórias infelizes que eu cometi, eu só queria receber o perdão de alguém. — Soyoung falava trêmula, seus olhos brilharam por conta das lágrimas, mas aquele brilho era apenas a ilusão da noite.
Ela queria chorar, por tanto tempo manteve as verdadeiras lágrimas presas por que tinha que ser forte, vivia como se fosse uma máquina sem sentimentos. O rapaz encarava-a de forma diferente agora, sentiu um aperto que nunca sentira antes, ele sentia pena talvez.
— Ela me tem, Chris. — Ao lembrar da ruiva, rapidamente ela sorriu mas logo se desfez. — Quero acabar logo com isso, então, me fale. O que eu tenho que fazer para me livrar de uma vez por todas dessa família e ser feliz? Não posso entregar vocês para o FBI, seria injusto com o senhor Alejandro, mas também eu seria injusta com os meus pais.
— Eu não sei, então é melhor você ir descansar, por enquanto finja que é feliz por aqueles dois idiotas.
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