.᭪ꩌ᷼❁ 𝑰𝒏𝒆𝒔𝒑𝒆𝒓𝒂𝒅𝒐⒊ׄ ╌݂ ⑉
As circunstâncias naquela situação não eram as melhores, e Neji não teve tempo de raciocinar corretamente por conta dos chuviscos grossos que caíam sobre si, lhe fazendo caminhar em volta do carro e adentrar o veículo que tinha o puro cheiro de Shino. Retirou sua mochila lilás das costas e a colocou sobre suas pernas, encarando o mais velho que detinha um sorriso vitorioso nos lábios mais uma vez naquele dia.
Hyūga não deixou Shino falar, e ditou o local onde morava, acrescentando que não se importava caso ele fosse assaltado por conta do veículo, e aparentemente, o Aburame também não estava ligando para isso. As vantagens de ser burguês tinham dessas e Neji não podia não ser hipócrita em pensar que havia um pouco de inveja em seu coração por ver como o mais velho possuía demais, enquanto ele próprio nunca teve nada. Todavia, jamais iria se menosprezar por isso.
Corria atrás do seu, e mesmo que demorasse muito tempo, no fim iria valer a pena.
Shino, então, concordou e se manteve calado até o momento, dirigindo na direção falada pelo mais novo, que apoiou sua cabeça no vidro da porta e observou a chuva caindo com força junto dos raios e trovões. Suspirou baixinho e sentiu seu corpo pedindo cama e sono, porém, o que pensava não lhe faria dormir ali. Desejava saber o motivo pelo qual Shino ofereceu essa carona, afinal, ele nunca foi um bom samaritano, pelo contrário: Shino parecia somente pensar em si mesmo.
— Por está fazendo isso? — questionou quando estavam no meio do caminho, parando em um sinal vermelho, desviando seu olhar para o mais velho que tinha as mãos no volante.
— Nada em particular — observou o Hyūga se remexer no banco, arqueando uma sobrancelha, não acreditando no que disse — Estou falando sério. Eu apenas fiz no impulso.
— Impulso? Conta outra, cretino — deu um olhar de tédio para o Aburame que pareceu pensativo, levando o dedo indicador até sua bochecha.
— Hum, talvez porque eu quero?!
— Está bem — Neji respirou fundo, voltando a se calar quando o sinal mudou de cor e Shino prosseguiu, virando à direita.
Saindo do centro da cidade, estavam indo em direção ao subúrbio de Konoha, que agora continha buracos no chão cobertos pelas poças d'água e um Neji pensando em que piada de mal gosto Shino poderia fazer, estranhando que não ouviu nada até agora. Todavia, isso caiu por terra quando ele observou as casas caindo aos pedaços residentes naquela pequena vila onde Neji vive há 1 ano.
— Por Deus! Isso é uma favela, Hyūga? — o tom de voz saiu surpreso e debochado, fazendo o citado fechar o punho e dar um soco na perna de Shino que apenas lhe deu um olhar de relance, parecendo não ter sentido nada, apesar do menor ter colocado toda força que conseguia — Você bate como uma garota.
— Vai se foder, imbecil — a irritação era evidente em sua voz.
— Calma, eu não disse que não gosto disso — Shino parou o veículo em frente ao prédio onde Neji disse morar anteriormente, agora podendo observá-lo melhor e constatar seu rosto vermelho de ódio.
— Babaca, abra essa maldita porta! — Neji mandou e Shino ergueu as sobrancelhas, ignorando o fato muito interessante de como ele parecia um pinscher nesses momentos de raiva contra si.
— Por favor, tome um chá de camomila ao chegar em casa. Oh, talvez você não tenha dinheiro? Tome aqui — Shino retirou algumas notas de 50 reais de seu bolso e ergueu para que o menor pegasse. E ele pegou, entretanto, não imaginava que Neji iria tentar enfiar os papéis em sua boca.
— Engole isso seu merda — Shino se segurou para não rir enquanto o jovem tentava fazê-lo engolir as notas, e só parou quando Shino segurou em seu pulsos e pediu para ele parar com aquilo, já não conseguindo parar de dar risada no tempo em que Neji o xingava de todos os palavrões que conhecia e até os que não conhecia.
— Até irritado você consegue ser adorável.
— Eu te odeio! — Neji gritou e tentou abrir a porta mais uma vez. Shino destravou e deixou o garoto sair do veículo, que logo bateu a porta com força e caminhou em passos largos até o prédio, onde na entrada havia um velho sentado que sorriu malicioso para o Hyūga, que mandou um "morre, seu nojento" e subiu as escadas, deixando o homem nada surpreso.
Neji, já dentro de sua residência, trancou a porta e deixou sua mochila no chão, se sentando no sofá e falando pelos cotovelos o quanto odeia Aburame Shino, e que nunca mais aceitaria carona, mesmo que um dilúvio estivesse caindo. Ao menos, não iria passar por isso e ouvir as babaquices que ele dizia, sempre pensando que está acima de si somente por ter mais.
— Tão idiota, tão escroto, pateta, animal — Neji pegou uma almofada e colocou sobre o rosto, dando um grito abafado contra o pano, com a respiração ofegante e o coração acelerado, enquanto choramingava. Apenas parou a sessão de "choro" quando ouviu seu celular tocar dentro da mochila.
Abriu o pequeno bolso e retirou o objeto de lá, ligando somente para ver que a tela estava com manchas pretas e rachaduras por ter caído algumas vezes. Neji não gostava de pensar que o aparelho poderia parar de funcionar em qualquer momento e este ficar sem nenhum, porém comprar outro estava fora de cogitação. Se está difícil comer, imagina obter um aparelho novo.
Era impossível ver pela barra de notificação, pois ela simplesmente não descia mais. Por conta disso, abriu o aplicativo de mensagem e visualizou a marcação no grupo, sendo Tenten quem a fez. Logo ao ver a mensagem, soube que estavam lhe chamando para ir a um passeio no parque com os demais amanhã. Como sempre, Neji recusou pois sabia que cada ingresso custava 10 reais, e com isso ele conseguia comprar algum alimento para sua casa.
Após responder, foi tomar um banho para relaxar um pouco, pois suas pernas estavam doloridas por sempre ficar para lá e para cá dentro do café, todos os dias. Levantou as mãos para o céu, pois amanhã era sábado e não tinha de trabalhar. Ao concluir seu banho, direcionou-se para à cozinha que tinha apenas um fogão velho, geladeira no mesmo estado e um pequeno armário onde colocava os alimentos.
Pegou as panelas com as comidas restantes da noite passada, requentou tudo e se serviu, depois indo para o sofá e se sentando para assim comer e depois dormir. Como não tinha televisão, Neji fazia a refeição em silêncio, pois seu pacote de internet acabou e só restava o WhatsApp e ligações ilimitadas. Era possível ouvir a chuva caindo lá fora, a qual podia ser vista pela janela fechada sobre a cama do jovem, que não ligava, apenas desejava terminar e descansar.
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No dia seguinte, não foi nada diferente dos outros pela manhã. Neji comprou pão na padaria em frente ao prédio e voltou para casa, e como rotineiro, ao chegar, pegou a jarra de suco de maracujá na geladeira junto da manteiga. Fez o breve café e já foi estudar a matéria do dia anterior, pois queria aprender para não esquecer depois e deixar as informações grudadas em sua mente. Neji passava esse começo de dia estudando e depois organizava o pequeno local que residia.
Hyūga odiava desorganização e sujeira, sempre deixava o local, apesar de bem humilde, arrumado e limpo. Após isso, tomava mais um banho e voltava a estudar, porém, o destino planejava outra coisa nesse momento, e foi perceber quando ouviu alguém batendo na porta, que o fez deixar o caderno e livros no chão para ir atender, dando de cara com o homem que lhe deu carona no dia anterior.
Seus olhos perolados arregalaram-se de surpresa. Além disso, era a primeira vez que via Shino sem o sobretudo, apenas vestindo um casaco preto colado que marcava seus braços tonificados e seu peitoral definido. A calça jeans era da mesma cor e a bota igualmente, de cano baixo. Seus óculos escuros se mantinham cobrindo seus olhos que eram encarados pelo menor.
— Boa tarde — Shino foi quem deu a primeira palavra enquanto Neji ainda tentava entender o que acontecia — Vim te buscar para o passeio com o pessoal — informou, ignorando o quanto aquele lugar era horrível e velho.
— Q-quê? — Neji abriu a boca para falar com o cenho franzido — Está fazendo o que aqui, cretino?
— Não vou repetir. Se vista e vamos logo.
— Eu disse que não iria, droga. Agora vá embora e me deixe em paz pelo menos no final de semana, maldito — Neji estalou a língua no céu da boca e se pôs a fechar a porta, porém, Shino segurou.
— Eu posso imaginar o motivo pelo qual você raramente sai com a gente, e acredite, prefiro te perturbar do que está com eles. Então tem duas opções: ou saí somente comigo ou iremos para o parque — Shino ditou e Neji rosnou como um cachorro — Não faça isso, eu vou te chamar de fofo e você irá se irritar.
— Babaca! Por que se deu ao trabalho de vir até aqui? E para começo de conversa, como sabe que meu apartamento está nesse andar? — Neji questionou, tentando fechar a porta novamente e falhando miseravelmente.
— Eu perguntei para sua amiga chamada... Terina? Tani? Tenti? Eu não lembro o nome.
— O nome dela é Tenten, e não somos amigos, apenas colegas, inclusive nem isso você e eu somos, então o que te faz pensar que eu vou sair com você?
— Podemos comer o que você quiser, contanto que me livre dessa furada de estar com mais pobres — falou naturalmente, segurando a porta e adentrando pela frente, sem que Neji conseguisse não deixá-lo adentrar o local.
— Eu deixei você entrar? — Neji esfregou as têmporas, colocando a mão livre na cintura.
— Se arrume. Vou te esperar — Shino ditou enquanto passava o olhar pelo lugar. Tudo era tão pequeno, apenas em um cômodo, e imaginava que a porta ao lado da pequena geladeira fosse ao banheiro. Ao menos era limpo e bem organizado. A cara de Neji.
— Mas que inferno! — o Hyūga cerrou os punhos e deu as costas para Shino, que não pôde deixar de passar o olhar para si como antes, vendo como estava fofo com o blusão branco que tinha a cara de um urso panda ao meio — Você vai ficar aí parado? Senta no sofá — Neji mandou enquanto caminhava até o quarto para se trocar.
Shino seguiu até o estofado de origem duvidosa e tocou sua mão ali, notando que havia algo quebrado sendo coberto pelo pano azul. Ele decidiu que ficaria em pé, e de forma alguma não conseguiria reparar na minúscula residência, perguntando para si como ele conseguia morar naquele lugar. Seu quarto era maior do que aquele apartamento e ainda julgava ser pequeno. Talvez seja um pouco... Exagerado.
Neji não tardou em sair do quarto e encontrou Shino com seu caderno em mãos, parecendo estar analisando o que escreveu anteriormente. — Os ricos são todos iguais a você? — Neji puxou o objeto das mãos do maior, que balançou a cabeça em negação, dando de ombros — Intrometido.
— Acabou, princesa de olhos perolados? — Shino abriu um sorriso debochado, apenas para ver Neji lhe mostrar dedo do meio indo guardar suas coisas em seguida. Ele gostou da vestimenta que o menor usava. A blusa lilás e a calça jeans azul de cós alto junto da bota preta caiu muito bem, apesar de ser tudo bem simples.
Shino julgava que Neji era o único pobre que ficava bonito com "roupa de pobre".
Em poucos minutos os jovens desciam as escadas, quando puderam ver um casal discutindo na porta de casa, xingando um ao outro enquanto as duas crianças que aparentavam ter menos de 4 anos choravam sentadas no chão, algo que fez o coração de Neji apertar, mesmo que essa não seja a primeira vez que presencia essa cena entre a dupla que apontava o dedo um na cara do outro.
Shino puxou a mão do menor para que pudessem sair do local de uma vez, afinal, eles não tinham nada com isso. Quando chegaram na entrada do prédio, Neji pôde ver o veículo do Aburame sendo utilizado de assento por um grupo de homens que fumavam e gargalhavam de algo. O de olhos perolados observou quando o mais velho torceu o nariz e estava prestes a ir até os caras quando segurou em sua mão, balançando a cabeça negativamente.
— Entra no carro, eu falo com eles — Neji pediu e Shino arqueou uma sobrancelha.
— Eu sei me defender, Hyūga — o mais velho guiou o menor até o banco do carona e destravou o veículo, chamando a atenção dos que estavam sentados no capô do veículo — Entre, já sairemos — Shino observou os olhos perolados arregalar um pouco, engolindo a seco, parecendo estar com medo.
Aburame fechou a porta e assim se designou até à frente dos mais velhos, tranquilo e com suas mãos nos bolsos, mantendo sua postura ereta, ignorando aquele cheiro horrível de cigarro e cachaça. Não é a primeira vez que teria de lidar com bêbados, principalmente os que viam seu carro como um assento. Depois manda dar uma surra e pensam que ele é o errado.
Shino jamais mancharia suas mãos com esse tipo de pessoa, para isso, pagava caro a quem fizesse.
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