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O SILÊNCIO INCÔMODO PREVALECEU SOBRE A FAMÍLIA HARGREEVES durante uma fração de minuto, todos admiravam com um misto de receio, confusão e curiosidade a presença do adolescente que havia acabado de desabar dos céus através de um buraco de minhoca gerado pelo próprio. Nenhum dos seis irmãos vivos compreendia como o número Cinco havia regressado para o lar com as mesmas feições do dia que os abandonou. Admirá-lo na auge da sua puberdade passava a impressão de regresso no tempo, como se todos tivessem treze anos novamente e estavam reunidos no jardim para algum tipo de treino do velho Reginald.
— Quem é você e o que faz aqui? — Perguntou Octávia tomando a liderança e quebrando o silêncio, seus punhos estavam cerrados como se estivesse pronta para lutar até a morte com o que julgava ser uma nova ameaça. Porém era impedida de aproximar do rapaz que limpava as vestes por Diego e Margort, os quais a protegiam com o próprio corpo.
— Você deve ser a Octávia! — Disse o número Cinco aproximando da sobrinha, a qual foi ainda mais protegida por Diego que aproveitou o momento para também proteger Maggy. — Eu sou seu tio, Cinco!
— Impossível! — Disse Octávia arqueando as sobrancelhas e rindo — Minha mãe disse que você fugiu de casa quando ainda era uma criança e desapareceu.
— Duvido que tenha sido com essas palavras! — Reclamou Cinco lançando um olhar seco para Maggy, a qual fez careta e deu com os ombros. Realmente não havia dito exatamente com aquelas palavras, alguns palavrões foram postos na sentença.
— Sabia que tinha sentido minha falta, neném! — Zombou a mulher mandando um beijo no ar para o irmão "mais novo".
— Nem um pouco — Cinco sorriu de escárnio e se teletransportou alguns passos para longe do amontoado dos irmãos, caminhando tranquilamente para dentro da casam.
— Acho que você deve algum tipo de explicação! — Gritou Octávia desvencilhando do tio número Dois e da mãe, sendo a primeira a ir atrás do adolescente.
— Octávia! — Repreenderam Margot e Diego correndo atrás da adolescente para impedi-la de ficar muito próxima de Cinco.
— A baixinha está sendo uma líder melhor que você! — Comentou Klaus dando dois tapinhas sutís no peito de Luther antes de alcançar os outros irmãos que estavam adiantados.
Dentro da cozinha Diego segurava o ombro da pequena Octávia com força suficiente para mantê-la no lugar que desejava, mas com sutileza de não machucar. Ao lado do irmão número Dois e da filha adolescente, Maggy mantinha os braços cruzados sobre o peito, porém com sementes de feijão nas mãos, estando pronta para atacar Cinco caso ousasse fazer qualquer coisa contra sua filha ou outro membro da família.
— O que você quer saber, Via? — Perguntou Cinco enquanto mexia nos armários buscando por alimento.
— Octávia, para você! — Corrigiu Octávia arqueando uma das sobrancelhas e imitando a postura da mãe, com o corpo firme e os braços cruzados na frente do peito. Parecendo uma miniatura latina de Maggy. — E que tal começar do começo?
— Que dia é hoje? — Perguntou Cinco virando-se para os irmãos que lentamente se acomodavam no recinto. Ele deu um sorriso breve e sem mostrar os dentes ao notar a semelhança entre a número Oito e a sobrinha.
— Hoje é dia vinte e cinco. — Respondeu Margot movendo os ombros com desdém.
— Data exata — Número Cinco exigiu saber enquanto voltava a mexer nos armários, separando algumas coisas em cima da mesa.
— Na verdade hoje é dia vinte e QUATRO de Março! — Corrigiu Octávia olhando rapidamente para a data marcada no visor do relógio que a mãe utilizava no pulso — Vai querer saber a hora também?
— Data já é mais que o suficiente — Cinco sorriu de escárnio — Ela é realmente sua filha, Maggy.
— Sei disso, fui eu que escolhi — Falou Maggy sorrindo com o canto dos lábios.
— Vamos falar sobre o que acabou de acontecer! — Exigiu Luther tomando a postura de líder que deveria ter obtido antes de Octávia. Suas expressões faciais eram de irritação, parte por não estar obtendo as respostas desejadas e parte por estar competindo pela liderança com uma menina de treze anos que ingressou a pouco tempo na família.
— Diego é o pai? — Perguntou Cinco ignorando as exigências do Luther.
— Fazem dezessete anos! — Falou Luther antes que Maggy pudesse responder Cinco sobre a paternidade da Octávia.
— Faz muito mais do que isso. — Disse Cinco lançando um olhar severo para Luther e aproximando dele, porém antes que pudesse encostar o no irmão número Um, ele se teletransportou para a estante.
— Eu não senti falta disso. — Comentou Luther fazendo caretas com o poder do menino.
— Você vai ficar bancando uma esfinge ou vai falar alguma coisa útil? — Perguntou Octávia gesticulando irritada, fazendo Margot e Klaus rirem de seu comentário. — Até onde sei, ninguém tem o poder de adivinhação.
— Eu fui para o futuro. — Respondeu Cinco frustrado — Aliás, é uma merda!
— Eu sabia! — Disse Klaus sarcástico.
— Não deveria ter feito isso! — Disse Octávia balançando a cabeça negativamente.
— Eu sei, deveria ter escutado o velho — Disse Cinco montando um estranho sanduíche com marshmallow, pasta de amendoim e pão de forma integral — Saltar pelo espaço é uma coisa, saltar através do tempo é jogar com a sorte.
— Isso explica esse seu corpinho sem pelos pubianos — Zombou Margot fazendo beicinho.
— Vou te mostrar meus pelos pubianos — Crispou Cinco apontando a faca que usava para passar pasta de amendoim no sanduíche na direção de Maggy.
— Desculpa neném, mas prefiro homens mais velhos — Disse Margot mantendo o sarcasmo em sua voz enquanto piscava com um dos olhos para o menor.
— Como o do Klaus! — Cinco apontou a faca da direção da Maggy para o irmão número Quatro que estava sentado sobre a mesa — Aliás, belo vestido!
— Oh! — Klaus compreendeu o que o adolescente queria dizer e cobriu as partes íntimas de modo decente com a saia antes que a sobrinha notasse seu deslize — Danke!
— Chega vocês dois! — Dessa vez foi Vanya que interrompeu a discussão infantil entre Cinco e Maggy, aquele tipo de comportamento ocorria com frequência quando ambos possuíam a mesma idade.
— Tia Vanya tem razão. Vamos manter o foco! — Ordenou Octávia segurando o braço da mãe antes que ela respondesse Vanya com alguma de suas grosserias — Cinco... — O adolescente pigarreou — Não vou te chamar de tio — Completou a menina notando o desejo do mesmo em sua pigarra e olhar — Como você voltou?
— No fim, tive que projetar minha consciência numa versão de mim suspensa em estado quântico que existe em todas as instâncias possíveis de tempo. — Respondeu Cinco com calma.
— Isso não faz sentido — Disse Diego sem compreender uma palavra dita pelo rapaz.
— Faria se você fosse mais esperto — Rebateu Cinco sem tirar os olhos do sanduíche que terminava de entupir de Marshmallow. O irmão número Dois ameaçou partir para cima do menor ao ser chamado de burro, mas foi impedido por Luther que estava próximo.
— Quanto tempo esteve lá? — Perguntou Luther mantendo o braço esticado na frente do Diego.
— Uns quarenta e cinco anos, mais ou menos — Respondeu Cinco.
— Impossível, você teria uns... — Margot começou a contagem nos dedos, porém interrompeu ao notar que não conseguiria terminar a contagem a tempo de soar como a pessoa mais inteligente do ambiente — Vários anos.
— Cinquenta e oito! — Falou Octávia franzindo o cenho.
— Podemos observar que ele não tem essa idade. — Disse Maggy apontando para o irmão.
— Talvez, fisicamente não, mas não podemos dizer o mesmo da sua mentalidade — Tentou explicar Octávia sem soar rude, uma das coisas que a adolescente detestava fazer era dar explicações a sua mãe sobre assuntos complexos, Maggy nunca aceitava com bom humor não ter o mesmo conhecimento que a filha.
— Exatamente, Via! A minha consciência tem cinquenta e oito anos — Ele olhou por alguns segundos para o próprio corpo e fez careta, demonstrando desgosto por ter voltado como uma criança. — Aparentemente meu corpo está com Treze de novo. Quantos anos você disse ter, Octávia?
— Ela tem treze, fica longe dela — Margot abraçou a filha e a empurrou para trás, protegendo a garotinha com seu próprio corpo.
— Não foi por isso que perguntei, idiota! — Cinco revirou os olhos com as suspeitas sem sentido da irmã número Oito — Só estou impressionado por ela ser a segunda pessoa mais inteligente nessa sala, diferente dos pais.
— Você está pedindo para apanhar neném! — Ameaçou Maggy criando longas vinhas cheias de espinhos que pareciam grossos chicotes.
— Pare de me chamar de neném — Ordenou Cinco ficando em posição de ataque.
— Prefere filho da puta? — Perguntou Margot dando um passo para frente, porém foi interrompida por Octávia.
— CHEGA VOCÊS DOIS! — Gritou a adolescente batendo o pé no chão e soltando um grito agudo e comprido para calar a discussão — CHEGAAAAAAAA! Mas que inferno. Qual o problema dos Hargreeves, não podem ter uma conversa civilizada sem tentar se matar?
— É, a Via tem razão! — Disse Luther após soltar pigarrear nervoso. — O Cinco ainda não explicou como ele voltou criança.
— Houve um problema com as equações. Delores disse que isso iria acontecer, aposto como está rindo agora — Falou Cinco regressando para a ponta da mesa e pegando o jornal que estava jogado sobre a mesma, a matéria da primeira capa tratava sobre a morte do velho Reginald — Acho que perdi o funeral.
— Não espalhamos suas cinzas — Avisou Octávia abraçando o próprio corpo.
— Como soube quando voltar? — Perguntou Luther receoso.
— Qual a parte do "FUTURO" você ainda não entendeu? — Perguntou Cinco revirando os olhos para a pergunta estúpida feita pelo irmão número Um. — Insuficiência cardíaca?
— Sim — Disse Diego.
— Não — Falou Luther contrapondo a resposta do número Dois.
— De acordo com o tio Luther, o Spaceboy acha que um de nós matou o Sir. Reginald — Disse Octávia revirando os olhos. — Eu aposto no Pogo.
— Ela tem seu humor, Maggy — Disse Cinco com a sombra de um riso debochado na face e pegando o sanduíche mordido de volta.
— É isso? É tudo o que você tem a dizer? — Perguntou Allison enquanto o irmão se afastava em direção a saída da cozinha.
— O que mais há para dizer? É o ciclo da vida — Falou Cinco desdenhoso, deixando os sete irmãos e a sobrinha sozinhos na cozinha.
O silêncio incômodo voltou a reinar entre os Hargreeves, era visível que Cinco estava escondendo alguma coisa sobre a sua volta. Porém ao invés de informar os irmãos sobre o verdadeiro motivo que o trouxe de volta para o tempo presente, ele os deixou com mais dúvidas do que estavam antes de sua aparição.
— Bem, isso foi interessante — Disse Luther quebrando o silêncio.
— Acho que agora podemos falar sobre outro assunto preocupante — Falou Allison olhando para Luther em busca de apoio para as próximas palavras que viriam a seguir.
— O assassinato do Reginald de novo? Pelo amor de Deus... — Maggy começou a falar enquanto reduzia as vinhas em suas mãos novamente para sementes de feijão.
— Sua filha ter uma arma! — Disse Allison sem rodeios, interrompendo as reclamações de Margot.
— A filha é minha, eu crio do jeito que EU quiser. — Falou Margot voltando a ficar irritada com os irmãos.— Você não paga as minhas contas, ninguém aqui paga.
— Era uma arma, Margot! — Insistiu Allison.
— E? Diego tem facas desde que aprendeu a andar — Disse Maggy — Todo mundo aqui sabe lutar. Agora o problema é a minha filha ter uma arma?
— É perigoso, imprudente...
— Ah, vai tomar no cu, Allison! Ouvi um rumor que você foi para a puta que te pariu — Xingou Maggy altamente ofendida com o rumo que a conversa estava tomando — Eu não sou irresponsável ao ponto de deixar a minha filha desprotegida nesse mundo. Meu trabalho é perigoso, nossa vida é perigosa e fomos expostos por essa... — Maggy apontou com o dedo indicador na direção do irmão número Sete — Traidora inútil...
— Mãe, para! — Ordenou Octávia tentando acalmar Maggy, porém Diego balançou a cabeça, fazendo sinal para que ela não interrompesse o discurso de Margot.
— Eu sei o que vocês estão pensando, que estou criando ela como esse velho fodido nos criou — Disse Maggy ignorando os apelos da filha ou os resmungos de Vanya por ter sido chamado de inútil — Sim, eu adotei a Octávia e treinei a MINHA FILHA como os Hargreeves nos treinou. Sim, ela me ajuda nas missões perigosas, auxilia o Diego e também aprendia algumas coisas aqui com o Pogo, a Grace e, até, com o velho. Mas isso não significa que a minha filha não receba amor, carinho, atenção. Ela tem personalidade, carisma, é uma criança incrível. Vocês notaram o senso de liderança dela. Nunca deixei minha filha sozinha, nunca permiti que ela enfrentasse perigos. Todos os perigos que ela enfrentou até o momento é culpa de vocês, disso que nem posso chamar de família. Eu daria a minha vida pela da Octávia. E meu único arrependimento foi ter feito ela acreditar que tem tios e tias incríveis. Vai todo mundo se foder! Vamos embora, Octávia!
— Mas... — Choramingou a menina assistindo a mãe se afastar dos tios, ela queria ao menos ficar para o lançamento das cinzas.
— Agora, Octávia! — Ordenou Margot do lado de fora do corredor.
— Bom, até o próximo funeral — Octávia deu com os ombros e seguiu o caminho da mãe.
— Espera! — Pediu Klaus descendo da mesa e correndo até a mais nova, dando um abraço apertado na garotinha — Gostei de te conhecer, mesmo não sendo o seu tio favorito, ainda.
— Você sabe onde eu moro — Ela retribuiu o abraço risonha e se afastou.
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