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MARGOT ESTAVA IRRITADA E UM TANTO ANSIOSA, por mais que tentasse disfarçar seus sentimentos de Octávia, seu nervosismo relacionado ao reencontro familiar que estava prestes a acontecer ficava evidente no modo irresponsável que dirigia pela cidade, atravessando faróis vermelhos e ofendendo todos os motoristas que ousavam "atrapalhar" seu caminho. Vez ou outra Octávia gritava um pedido de desculpas pela janela enquanto apertava com força o puxador da porta. Mesmo assustada com o modo de agir da mãe naquela manhã preferiu guardar para si suas opiniões, pois sabia que falar com Maggy ou tentar arrancar uma confissão sobre seus sentimentos seria muito pior.
No fundo Margot possuía motivos para agir daquela forma, na última vez que TODOS os seus irmãos estiveram reunidos na velha mansão após o funeral de Ben as coisas fugiram do controle, Maggy disse coisas que não deveria para a maioria deles, principalmente para Allison e Vanya, acabou saindo no soco com Luther e durante a madrugada fugiu de casa com a promessa de que nunca mais voltaria para lá, o que de fato aconteceu, pois mesmo deixando Octávia aos cuidados de Grace e Pogo, além de aceitar trabalhos frequentes do pai como caçadora de recompensas, faziam anos que não colocava os pés dentro da sede da Academia Umbrella. Agora a situação necessitava de sua presença e de seus irmãos, pelo menos ela tinha Octávia ao seu lado e Diego, o qual nunca a decepcionou.
Antes de estacionar o Chevrolet Corvertte vermelho da primeira geração na viela que dava para parte dos fundos da casa, Margot rodou o quarteirão duas vezes, dando a desculpa de que estava bloqueada para ingressar na viela no fundo da mansão. Porém quando tomou coragem para o ato, entrou com tanta pressa no beco que os freios guincharam e o para-choque da frente bateu de leve na lixeira de metal, garantindo os primeiros arranhados do carro recém-adquirido em sua preciosa coleção. Ela contraiu o rosto aborrecida, não com os danos do carro, mas por não poder fugir da responsabilidade.
— Pode entrar pela frente se você quiser, eu vou pelos fundos — Avisou Margot apontando para o que parecia uma loja abandonada, o que não deixava de ser já que Sir Reginald havia comprado todo o quarteirão, onde foi o primeiro ponto de negócios de Maggy com suas plantas. Ela prosperava ali, todos queriam comprar uma planta gerada por um dos membros da Umbrella Academy, afinal elas eram as mais bonitas, cheirosas e bem cuidadas de todo mundo.
Em uma das primeiras visitas que Octávia fez na mansão do avô, Sir Reginald a levou em uma tour por todos os locais da casa, explicando sobre a academia e, principalmente, do que ela deveria esperar por parte de sua mãe. A menina nunca contou aquilo Maggy, ainda mais por Reginald ter sido um grande babaca ao falar sobre ela e seus tios, guardando a tour em segredo, deixando a mãe crer que ela nunca tivera contato direto com o avô, o que também era uma mentira, pois ela jamais teria conseguido montar metade dos aparelhos tecnológicos se não fosse pelas explicações do avô e ajuda de Pogo. No fundo a pequena Octávia estava sentida com a morte do frio e distante Sir Reginald Hargreeves, porém conseguia disfarçar melhor que a mãe os seus sentimentos.
A menina observou Maggy escalar com facilidade a parede, dando apenas alguns pulos até a plataforma da escada de incêndio, sem precisar abaixar a parte que dava para o chão e entrar sorrateiramente por uma das janelas. Ela sorriu, achando inacreditável a maneira de trabalhar da mãe, a qual era tão ágil quanto seu tio Diego na hora de serem sorrateiros. Imaginava se um dia seria tão boa quanto ela em escaladas, lutas corporais e qualquer outra coisa que Margot estivesse disposta a ensiná-la, estando decidida a seguir o legado da mãe quando chegasse a hora. No instante que Maggy sumiu para dentro da casa, Octávia deixou o beco, dando a volta e ingressando na mansão pela porta da frente.
No momento que a adolescente atravessou a porta, ela deu de cara com o maior homem que já encontrara em sua vida. Sabia que seus tios não eram pessoas comuns, entretanto jamais cogitou que um de seus parentes tivesse uma mudança significativa em sua aparência. O homem parou de conversar com Pogo, olhando levemente confuso para a garota e fazendo com que ela se encolher timidamente.
— Senhorita Octávia, aproxime-se! — Ordenou Pogo gentilmente saindo da frente de seu tio e aproximando dela — É bom revê-la — Cumprimentou o chimpanzé de quase sua altura a abraçando — Onde está sua mãe?
— Pelos fundos — Disse a menina sem tirar os olhos de Luther — Qual dos meus tios ele é?
— Esse é o número Um, Luther — Explicou Pogo a segurando com sutileza pelo cotovelo e aproximando do rapaz — Estávamos falando de você agora, ele disse que alguém andou invadindo seu sistema de comunicação.
— Eu meio que estava testando minha nova invenção — Explicou Octávia corando — Me perdoe se atrapalhei seus negócios.
— Não, tudo bem — Luther estendeu a mão para a garotinha apertar — Foi interessante escutar todas as suas histórias. É um prazer conhecê-la formalmente, Via.
— O prazer é meu — Assentiu Octávia apertando a mão do tio.
— Puta que pariu! — Gritou Maggy descendo as escadas e olhando admirada para o irmão número Um da cabeça aos pés — Luther? Uau! Você está... UAU!
— Mamãe... — Repreendeu Octávia entre os dentes.
— Mamãe o que? Olha o tamanho que seu tio está — Maggy aproximou do Luther, dando uma volta ao seu redor, fazendo com que o mesmo ficasse sem jeito — Andou malhando na lua? Me passa a receita, quero músculos desse tamanho. Oh! Esses exercícios também serviram para aumentar o...? — Maggy apontou com ambos os dedos indicadores para a pélvis e assobiou duas vezes erguendo as sobrancelhas, fazendo Luther corar. — Hã?
— Mãe, pelo amor de Deus! — Repreendeu Octávia corando junto com Luther, Pogo apenas levou a mão até a testa e balançou a cabeça negativamente. — Isso não é pergunta que se faça.
— O mundo quer saber, Via. — Disse Maggy segurando o riso e ignorando a bronca da filha.
— Vou terminar de desfazer as minhas malas — Disse Luther constrangido a Pogo e Via, em seguida virou-se para Maggy — Eu não vou falar o que merece ouvir, em respeito a sua filha.
— Poxa, que triste. — Margot sorriu de escárnio.
— Seu irmão passou por muita coisa... — Pogo começou a falar, mas foi interrompido pela mulher, a qual desmanchou o sorriso ao notar que estava prestes a receber uma bronca do símio.
— Todo mundo passou, Pogo. Todos nós passamos por perrengues! — Disse Maggy revoltada — Mas como sempre, vocês preferem passar a mão na cabeça do número Um e tratá-lo como líder. Grande líder aliás, deixou o Ben morrer e a estúpida da nossa irmã lançar um livro idiota sobre nós.
— Ele não tem culpa das coisas que Vanya escreveu, ele estava na lua a pedido de seu pai — Disse Pogo no mesmo tom de voz de Margot, mostrando que não baixaria a cabeça para a mulher ou aceitaria calado suas grosserias.
— Reginald não é meu pai, nunca foi. — Disse Maggy pontuando as palavras e frisando o nunca. — No máximo era meu sócio. Pais não fazem o que ele fez conosco, está mais fácil eu chamar você de pai do que o grande Sir. Reginald Hargreeves.
— Como é bom estar de volta — Disse Allison em tom de brincadeira quando ingressou na mansão segurando as malas de viagem e chegou em tempo de ouvir a última parte da discussão breve entre Pogo e Maggy, um discurso muito parecido com o do dia que ela fugiu de casa.
— Vai se foder, Allison — Urrou Margot apontando o dedo na cara da irmã, indo para o bar da sala, deixando os três sozinhos no hall de entrada.
— E as coisas nunca mudam — Allison falou sarcástica, em seguida abraçou Pogo — Oi!
— Olá, senhorita Allison — Disse o Chimpanzé retribuindo o abraço breve, ele soltou e apontou para Octávia, a qual tentava entender o que estava acontecendo e se deveria ter seguido sua mãe. — Não sei se já tiveram contato, mas essa é a senhorita Octávia, um importante membro da família. Eu levarei suas coisas para seu antigo quarto, podem conversar.
— Oi — Octávia aproximou de Allison, dando um abraço tenro. — Eu sou filha da Margot, desculpa pela minha mãe, ela tá meio irritada.
— Não tô irritada! — Gritou Margot do bar enquanto abria a garrafa mais cara de Whisky que conseguiu encontrar, prestando atenção na conversa entre tia e sobrinha. A adolescente revirou os olhos.
— Está tudo bem — Allison estendeu as mãos, tocando com ternura na face da sobrinha — Mas... Uau! Tenho uma sobrinha... Como disse que se chamava mesmo?
— Octávia — Ela sorriu gentilmente — Soube que tenho uma prima, pelas revistas, onde está Claire?
— Ela ficou com o pai — Disse Allison tristemente.
— Que pena, seria legal conhecer toda a família — Falou Octávia suspirando. Através das revistas ela também sabia do divórcio da tia e outras coisas de sua carreira. — Fica para uma próxima vez.
— Para quando o próximo velório acontecer, talvez! — Gritou Maggy novamente — Mas já aviso que dependendo de quem for eu não vou. E se for da Vanya, irei mijar no caixão.
— Qual o seu problema? — Perguntou Allison ingressando irritada no mesmo ambiente que Margot estava. — O papai morreu, deveríamos estar em luto e não provocando uns aos outros.
— Aí, me poupa! Nem você acredita nas suas próprias palavras. — Maggy revirou os olhos e se jogou no sofá, esticando as pernas sobre a mesinha de centro — Eu queria estar soltando fogos de artifícios agora, ele morreu, é tempo de celebração.
— Você não tem um pingo de sentimento — Rebateu Allison cruzando os braços sobre o peito — Não deveria agir dessa forma na frente da sua filha.
— Pelo menos não usei o meu poder nela — Maggy arqueou ambas as sobrancelhas e Allison pareceu surpresa, ela abriu e fechou a boca algumas vezes, tentando entender como a irmã número Oito sabia daquilo — Patrick me contou quando foi comprar flores para a nova namorada — Revelou a mulher — Os negócios caíram depois do livro da Vanya, mas ainda tenho as plantas mais bonitas e duradouras do mundo. Eu sinto muito por ele ter ficado com a guarda, mas não sinto pelo divórcio, para ser honesta você tinha mais chifres que a estátua do gado de três cabeças que ajudei a recuperar em dois mil e doze.
— Eu... — Allison balbuciou, porém não sabia o que falar para a Margot em relação aquele assunto tão delicado e menos ainda na frente de Octávia, a qual assistia tudo em silêncio, sentindo um misto de vergonha e preocupação. Ela não saberia separar uma briga entre as duas mulheres, principalmente se elas resolvessem usar seus poderes.
— Não precisa dar explicação, acha que não desejei ter seu poder algumas vezes com essa aqui — Margot apontou para a mais nova, a qual franziu a sobrancelha com a revelação — Crianças, elas são teimosas. E se a sua for parecida com você na personalidade como é aparentemente, céus, não fico admirada por ter usado.
— É, ela é um pouco — Allison riu fraco e sem humor, porém mais relaxada.
— Tia Vanya chegou — Anunciou Octávia para as duas irmãs. Margot levantou do sofá e voltou para trás do bar fazendo cara de deboche, ela não trocaria palavras com Vanya, principalmente depois do lançamento de ExtraOrdinária. — Vou falar com ela.
— Vou com você — Disse Allison colocando a mão sobre ombro da sobrinha e a acompanhando para o salão de entrada, onde Vanya estava parado admirando de longe Grace que estava limpando as molduras dos quadros na parede — Oi, sis!
— Allison! Octávia? — O número Sete parecia confuso com a presença de Via na casa — O que faz aqui?
— Ela é filha da Margot — Disse Allison abraçando Vanya por alguns segundos.
— Você é filha da Maggy? — Perguntou Vanya piscando os olhos alguns segundos — Durante todo esse tempo você não me disse nada?
— Achei melhor omitir — Revelou Octávia mordendo o canto dos lábios. Desde o lançamento do livro de Vanya, Octávia ficou interessada em saber mais sobre os seus tios adotivos. Sua mãe não costumava falar muito sobre aqueles com quem havia brigado e menos ainda sobre o irmão número Sete, perguntar as coisas para Diego também era inútil. Através de Pogo ela descobriu que Vanya costumava dar aulas de violino, mesmo que música clássica não fosse sua praia, preferindo as divas do POP e os grupos de KPOP, ela comprou um bom instrumento e se matriculou nas aulas, aproximando sutilmente da tia comum e adquirindo sua amizade com o tempo — Desculpe!
— Está tudo bem — Disse Vanya sorrindo gentilmente para a menina.
— Você não deveria estar aqui, não depois do que fez — Diego ingressou irritado na casa, ele utilizava seu uniforme de defensor da lei, o que o fazia parecer o Batman menos qualificado e pobre, entretanto com o dobro de sua ira. Ele parou por alguns segundos para bagunçar os cabelos de Octávia — Oi, Via!
— Oi, tio! — Octávia alargou o sorriso, ficando mais aliviada. Pelo menos com a presença de Diego na casa sua mãe ficaria menos irritadiça e menos propícia a entrar em brigas corporais com os outros irmãos.
— Você conhece a Octávia? — Perguntou Allison surpresa.
— É claro que conheço a Via. Vocês acham que ela fica com quem quando a Margot resolve dar uma de Lara Croft pelo mundo? — Diego fez careta, voltando a subir as escadas.
— O cara que resolve usar uma roupa ridícula no velório do papai fica de babá? Sério? — Perguntou Allison descrente.
— Pelo menos estou de preto — Rebateu Diego ignorando o resto da frase da irmã.
— Estou com pena de você — Disse Allison olhando com pesar para Octávia, a qual fechou as expressões ao notar que ela falava sério.
— Não precisa ter pena de mim — Octávia tentava soar o mais sútil que conseguia, sem parecer uma má educada com suas tias — Margot é uma ótima mãe, Diego é um ótimo tutor e quando ele não podia ficar comigo, eu ficava com a Grace e o Pogo. Agora, se me dão licença, vou pedir panquecas para a Grace.
— Okay, ela é mesmo filha da Margot — disse Allison assistindo a menina se afastar, pegando o caminho que levava para a cozinha.
— Eu ouvi isso! — Gritou Maggy do bar, ela já havia bebido quase metade da garrafa de Whisky — E é melhor alguém subir, Luther está sozinho lá em cima e daqui a pouco ele e Diego se matam.
Prendendo os cabelos verdes com uma caneta que havia encontrado jogada em cima do bar, Maggy voltou a admirar a grande coleção de bebidas do pai, se perguntando qual seria a próxima que abriria para degustar. Outro sinal de que o homem estava morto, é que nenhum deles poderia estar mexendo em seu estoque permanente de Whisky caros e outras coisinhas a mais. Como o velho estava morto, pelo menos ela aproveitaria aquelas garrafas como parte da sua herança antes que Klaus aparecesse e acabasse com todas.
— Argh! Você! — O desgosto na face de Margot pela presença de Vanya na sala era evidente, o número sete era o último dos irmãos que ansiava encontrar — Pensei que não viesse.
— Pensei em não vir — Disse Vanya com sua serenidade habitual desviando os olhos do quadro de Cinco.
— Deveria ter seguido seus pensamentos — Reclamou Margot estourando a rolha de um vinho centenário que fora retirado de dentro do próprio Titanic e tomando direto do gargalo — Hum... Delicioso... É vinho seco.
— Não acha que deveria guardar um pouco para mais tarde? — Perguntou Vanya preocupado com Margot.
— Querida, se eu tenho que aturar vocês, não vai ser sóbria que farei isso — Rebateu a mulher sentando sobre o bar, do lado da urna do pai. — E você mesma disse em seu livro que eu era uma louca inconsequente e que estava admirada por ter sobrevivido no lugar do Ben. Sei que sou a menos favorita daqui, porém sou a única que continuou trabalhando para Reginald depois de anos mesmo tendo fugido de casa. Céus! Eu deveria ter ido com o Cinco, esse sim foi esperto, fugiu antes de toda merda acontecer.
— Quanto tempo faz? — Perguntou Vanya encolhendo os ombros.
— Quatorze? Quinze? Dezessete anos? Sei lá — Margot deu com os ombros — Só sei que foi o mais esperto de nós. Vamos ser honestas aqui, ele sempre foi. Não só o mais esperto, como o mais petulante.
— Por isso vocês se davam bem — Disse Vanya, porém o outro riu — Vocês eram melhores amigos.
— Mais ou menos, ele era mais seu amigo do que meu. Diego é meu melhor amigo, sempre foi, e o Ben. Lembro quando raspamos parte do cabelo do Luther e cortamos as sobrancelhas do Cinco — Revelou Maggy rindo divertida com a lembrança — E tem o lance do urso de pelúcia.
— Sempre pensei que ele fosse voltar, deixava a luz da entrada acessa e sanduíches de pasta de amendoim com marshmallows na porta, para que ele não se perdesse e pudesse comer se estivesse com fome — Revelou Vanya com pesar.
— E eu comi mais da metade deles, isso quando Pogo não pisava neles sem querer — Margot deu com os ombros e bebericou mais alguns goles de vinho — Você disse que minha filha estava fazendo aulas de violino?
— Sim, quando pretendia contar que minha aluna favorita era minha sobrinha? Não precisava esconder isso de mim, Margot — Falou Vanya olhando para a irmã.
— Estou tão surpresa quanto você — Maggy ergueu as mãos em rendição — Mas é bom saber que o dinheiro que estava dando eram para as aulas de violino, não para ela ajudar o Klaus com seu vício nas drogas. Ela leu seu livro e ficou fazendo muitas perguntas, muitas mesmo, para mim, para o Diego, para o Pogo e para Garce. Se duvidar até para o velhote.
— Você acha que o papai leu meu livro? — Perguntou Vanya timidamente.
— Deveria perguntar para a Via, não para mim. Ela tinha contato com o Reginald e, talvez, seja a única que esteja sentida com a morte dele além do Pogo — Disse Maggy dando com os ombros — Essa é a primeira vez que estou entrando na mansão desde que fui embora.
— E pelo visto está acabando com o estoque de bebidas do velho — Falou Klaus ingressando na sala de estar e indo para trás do bar com Margot — Espero que tenha deixado um pouco das boas bebidas para mim.
— Infelizmente, sim. Não fui rápida o suficiente — Margot sorriu de escárnio e virou longos goles da garrafa.
— Esse é o vinho do Titanic? — Perguntou Klaus abrindo a boca estupefato.
— Esse? — Margot colocou grande quantidade dele na boca e cuspiu de volta na garrafa lentamente, de modo que Klaus pudesse ver o que ela fazia, em seguida estendeu o objeto para ele — É. Você quer um gole?
— Claro que quero — Ele tomou a garrafa da mão dela, virando longos goles de vinho sem se importar com a baba da irmã, a qual o encarava estupefata. — O que? Achou que eu ia ter nojo de você? Se soubesse as coisas que já coloquei na boca, isso é de menos.
— Prefiro que me poupe dos detalhes — Margot fez careta, em seguida aponto para Octávia que havia acabado de ingressar na sala, se juntando com os outros — Tem criança aqui.
— Mamãe, a senhora tá bêbada? — Perguntou Octávia notando a voz embargada da mãe.
— Não... — Maggy tomou a garrafa de vinho de volta das mãos do Klaus, terminando de beber — Ainda!
— Mamãe? Eu tenho uma sobrinha? — Klaus aproximou de Octávia, olhando encantado para a menina enquanto mexia em seus cabelos — Latina! Eu tenho uma sobrinha latina. Eu sou Klaus, serei o seu tio favorito.
— Na verdade, o tio favorito dela sou eu — Diego ingressou na sala e sentou em uma das cadeiras vazias. — Não é verdade, Octávia?
— Contra fatos não há argumentos, desculpa tio Klaus — Octávia arqueou as sobrancelhas, fazendo uma careta divertida.
— Como eu não sou o tio favorito da Octávia? — Perguntou Klaus olhando indignado para Margot, a qual deu com os ombros. — Me recuso a perder esse posto para o Diego.
— Você sabe onde moro, pode correr atrás do prejuízo se quiser, fique a vontade — Disse Maggy saindo de trás do bar e sentando no sofá. A garotinha aproximou da mãe, tirando a garrafa de bebida quase vazia de suas mãos e entregando para Diego — Sério, Via?
— Vai acabar fazendo bobagem, sempre faz quando está triste — Octávia estava com expressões sérias e com ambas as mãos na cintura, seu comportamento fez com que os outros Hargreeves rissem — E precisa estar sóbria para voltarmos para casa depois do funeral.
— Impressionante como sua filha consegue ser mais responsável e racional que você, Maggy. Deveria ser o contrário — Falou Luther ingressando na sala junto com Allison.
— Você já foi tomar no cú hoje? — Perguntou Maggy mostrando o dedo do meio para o irmão número Um.
— Delicada como uma flor — Ironizou Allison sentando na cadeira vazia na frente de Diego.
— Vai se foder você também — Sem abaixar o dedo, Margot estendeu a mão na direção de Allison — Na verdade vai se foder todo mundo... — Maggy apontou para o quadro do Cinco — Vai se foder você que fugiu de casa e não me levou. Vai se foder o Ben que resolveu morrer no meu lugar. Vai se foder você, Vanya, graças as merdas que você escreveu perdi parte dos meus lucros da floricultura...
— Todo mundo sabe que você não ganha dinheiro vendendo plantas — Disse Klaus movendo as sobrancelhas.
— Vai se foder você que falou isso — Ela apontou para Klaus, em seguida virou-se para Diego — Você não, você é legal. Nem você via, neném de mamãe.
— 'Tá bom, mãe. Já chega — Octávia puxou Margot pela camiseta, obrigando a mulher a sentar novamente ao seu lado no sofá. — Podemos tratar de coisas importantes agora? Por favor!
— Herança? — Perguntaram Maggy e Klaus em uníssono.
— Funeral. Que é para isso que estamos aqui — Respondeu Octávia suspirando — Para prestarmos as últimas condolências a Sir Reginald Hargreeves. Não estamos aqui para brigarmos, mas para nos despedir de alguém especial.
— Sério? Depois de tudo que eu te contei sobre ele? Você diz que ele é especial? — Perguntou Margot irritada — Ele não te deixava chamá-lo de vô.
— Mas ele me ensinou o que sei sobre tecnologia, me ofereceu materiais para trabalhar. Ele pode ter sido um pai horrível, mas fez bastante por todos — Disse Octávia olhando para cada um dos presentes — Eu disse especial, não disse maravilhoso. Pessoas e coisas especiais podem ser ruins também, vemos como exemplo os especiais de final do ano, são sempre uma porcaria.
— Estamos sendo repreendidos por uma criança? — Perguntou Klaus sentando no sofá ao lado de Vanya, ele estava com equilibrando um copo de bebida na mão e um cigarro acesso.
— Não viram nada — Disseram Margot e Diego em uníssono, eles conheciam todas as broncas possíveis que Octávia era capaz de dar e, mesmo assim, ficavam surpreendidos quando ela lançava uma nova.
— Continuando, poderíamos lançar as cinzas dele em seu espaço favorito da casa e...
— Espera, papai tinha um lugar favorito? — Perguntou Allisson interrompendo Octávia.
— Hum, todo mundo tem um lugar preferido em sua casa — Disse a menina dando com os ombros — Achou que com o Sir Reginald seria diferente?
— Octávia está certa — Luther levantou e colocou a mão no ombro da menina — Ele tinha um lugar favorito, embaixo do Carvalho, ficava sentado o tempo inteiro...
— É claro que o número Um sabe o lugar favorito dele — Disse Diego cravando a faca no braço da cadeira.
— Então será no jardim, embaixo do Carvalho, ao pôr-do-sol para dar um ar poético — Octávia olhou para cada um dos tios e para a mãe, vendo se todos concordavam com sua escolha.
— Ela é uma líder melhor que o Luther — Sussurrou Diego provocativo, tanto ele quanto Margot riram.
— Alguma pergunta? — Perguntou Octávia ignorando os risinhos debochados da mãe e do tio.
— Vai ter comes e bebes? Chá, bolinhos... — Klaus levantou do sofá para encher novamente seu copo com bebidas — Sanduíches de pepino fazem sucesso.
— Essa é a minha saia? — Perguntou Allison ao notar que Klaus usava sua roupa.
— Cai muito melhor nele do que em você — Disse Maggy com honestidade.
— Dank, Maggy — Agradeceu Klaus em Alemão enquanto mostrava como a peça de roupa estava em seu corpo — É meio datada, eu sei... Mas é fresquinho nas partes.
— Ficou maravilhoso — Elogiou Via com sinceridade, Klaus aproximou dela lhe dando um beijinho no topo da cabeça. — Voltando ao assunto, acho que posso falar com a Grace sobre uns petiscos após as homenagens. Enquanto isso estão dispensados.
— Esperem! — Gritou Luther antes que todos se dissipassem pela casa — Ainda temos um assunto para resolver, algo importante.
— Pensei que tivesse resolvido todo o assunto do funeral — Disse Octávia cruzando os braços sobre o peito.
— Não é sobre isso, mas como ele morreu — Falou Luther estufando o peito.
— Ai, Luther. Pelo amor de Deus — Margot urrou jogando a cabeça para trás.
— E lá vamos nós — Ironizou Diego fazendo caretas.
— Falei com o Pogo enquanto comia panquecas, ele disse que não houve nada de mais. Foi uma morte simples, até sem graça para alguém como Sir Reginald — Disse Octávia ficando na ponta dos pés para conseguir ter tanto destaque quanto Luther. — Coração! Puft! Morreu!
— Tão brigando por atenção — Sussurrou Margot para que apenas Diego fosse capaz de ouvir enquanto segurava o riso. — Okay, talvez isso seja divertido.
— Luther precisa saber que ninguém rouba o protagonismo da sobrinha dele — Rebateu Diego também sussurrando e disfarçando o riso — Narcisistinha igual a mãe.
— Seu cú! — Margot socou de leve o braço do Diego.
— As crianças já pararam de rir? Acho que estão interessados no que o tio Luther tem a dizer — Octávia fuzilava o tio número Um com o olhar, como se já previsse o que o gigante queria dizer ao ingressar naquele tópico.
— Do que está falando? Foi infarto — Disse Maggy séria para Luther.
— De acordo com o legista — Insistiu Luther olhando determinado para Margot, porém com certo receio para Octávia.
— E... — Insistiu Margot ainda sem compreender onde ele queria chegar.
— Teoricamente... — Luther começou, mas foi interrompido por Octávia, a qual havia subido na mesinha de centro para poder olhar o tio nos olhos.
— Teoricamente? Você não está propondo o que acho que está, não é? Por que, se for... — Lentamente Octávia foi levando a mão até a parte de trás do cós da calça, onde sua arma estava.
— Porque não deixamos o titio Luther terminar? — Perguntou Klaus puxando Octávia de cima da mesa, antes que todos notassem que a menina estava armada e começassem a levantar perguntas. Ele a abaixou, sussurrando em seu ouvido de modo que só ela escutasse — Não tenta defender a honra do Diego ou da sua mãe, não agora.
— Só digo que, no mínimo, algo aconteceu — Disse Luther olhando indignado para Octávia, estando cético quanto aos relatórios dos médicos legistas e surpreso por ela ter o confrontado daquela maneira. — A última vez que falei com papai, estava estranho.
— Oh! Quelle surprise — Ironizou Klaus abraçando Octávia pelos ombros, contendo a sobrinha do melhor modo que conseguia sem fazer alarde.
— A última vez que falei com Reginald foi através do Pogo e ele pediu que trouxesse aquela coisa ridícula — Margot apontou para uma gigantesca peça de madeira com detalhes de ouro que estava pendurada na parede — Então seguimos normalmente, além do mais, faz menos de uma semana que minha filha veio aqui e eles montaram um tipo de treco estranho que ela carrega para todo lado.
— Estranho como? — Insistiu Allison em saber, fazendo Margot urrar irritada.
— Sei lá, parece uma máquina de escrever dobrável... — Margot começou a explicar, mas foi interrompida pela número três.
— Estou falando do papai.
— Parecia nervoso — Respondeu Luther — Disse para ter cuidado em quem confiar.
— Luther, ele era um velho paranoico e amargo que começava a perder o que lhe restava de juízo — Disse Diego levantando da cadeira que estava sentado e tentando acalmar as paranoias de Luther.
— Não. Ele deveria saber que algo aconteceria. — Disse Luther olhando nervoso para Diego, estando focado com suas teorias. Em seguida virou na direção do Klaus que seguia abraçando Octávia, dessa vez só com um braço — Olhe, sei que não gosta, mas preciso que fale com o papai.
— Não posso ligar para o papai no além e dizer: "Pai, poderia parar de jogar tênis com Hitler e atender uma ligação?" — Disse Klaus descontente com a proposta feita por Luther.
— Desde quando? É seu lance — Vociferou Luther indignado por Klaus não ter aceitado o pedido.
— Não estou em um bom estado emocional — Mentiu Klaus.
— Ele está chapado e eu estou com inveja, pois também queria estar agora. Você conseguiu estragar a minha embriaguez me fazendo ficar sóbria novamente. — Maggy revirou os olhos — Você está ouvindo os absurdos que sai da sua boca?
— Isso é importante — Urrou Luther olhando do Klaus para Maggy. — E há o problema do monóculo perdido.
— Quem liga para um monóculo idiota? — Perguntou Diego irritado com toda a baboseira do Luther.
— Exato — Rebateu Luther — Não tem valor. Quem pegou, acho que foi pessoal. Alguém próximo. Alguém ressentido.
— Por que você não fala logo na cara de todo mundo que acha que foi um deles que matou? — Perguntou Octávia lançando a bomba. — Não, melhor, que você acha que pode ter sido a minha mãe ou o tio Diego, quem sabe eu... Já que fui a última pessoa a vê-lo.
— Eu não quis dizer isso... — Luther arregalou os olhos e abriu a boca, não sabia o que dizer para a sobrinha.
— Talvez tenha sido o tio Klaus para comprar drogas — Octávia subiu na mesa novamente, aproveitando o momento que todos discutiam para enfrentar o tio número Um. — Ou tia Vanya, todos leram o que ela escreveu, viram seus sentimentos.
— Octávia, não é bem assim...
— Você é um tio horrível e um líder pior ainda — Octávia desceu da mesa num salto, dando as costas para Luther e o resto de sua família.
— Espera, Via... — Ele olhou para Margot em busca de conselhos do que fazer com a sobrinha.
— Não olha para mim, vou aproveitar que ela saiu para beber mais — Disse Margot batendo no braço de Klaus sutilmente, o chamando para acompanhá-la na embriaguez.
— Talvez ela tenha ido matar a mamãe — Zombou Klaus acompanhando a irmã.
— Diego... — Luther olhou nervoso para a segunda pessoa que era capaz de conversar com Octávia calmamente.
— Belo líder! Belo. Líder. — Disse Diego pontuando as palavras e deixando o ambiente.
— Você falou com ela, Luther. Deve ter reparado que a Via é a única pessoa triste de verdade com a morte do velho, use isso ao seu favor e outros gostos parecidos que possuem — Disse Margot passando por Luther com duas garrafas grandes de vinho embaixo do braço — Agora vou comemorar a morte, ops! Assassinato, do Reginald no meu lugar favorito.
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