
ೋ°|𝗖𝗵𝗮𝗽𝘁𝗲𝗿 𝟐𝟐
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Estacionou o carro em uma vaga vazia na frente da escola de ensino fundamental e olhou para Castiel que estava no banco de trás, já em sua forma de cachorro, aliviado de não precisar mais usar aquelas roupas.
- Fique aqui no carro, prometo não demorar muito.
- Tudo bem. - Concordou se deitando no banco - Só não se esqueça que só pararemos seu treinamento quando...
- Quando eu estiver completamente exausta. - Min-ji concordou, repetindo a frase que ele dizia desde que descobriu que não começariam com os ensinamentos naquela tarde - Eu já entendi.
Pegou sua bolsa e abriu a porta do carro, o trancando logo depois. Entrou na escola com um pequeno sorriso nostálgico em seus lábios tingidos de vermelho.
Há anos não pisava naquele lugar, esses mesmos corredores estavam repletos de lembranças do início da sua adolescência. Lembranças boas, e ruins.
Passou pelos alunos e se sentiu levemente constrangida quando percebeu que muitos a encaravam descaradamente pelo caminho, coçou a nuca e continuou a andar, escutando o som de seus saltos pelo piso.
Avistou a poucos metros uma cabeleira azulada igual a sua, junto de alguns garotos da mesma idade e rapidamente Min-ki correu até ela com um sorriso aliviado quando a viu.
- Min-ji! - Ele fez bico e alguns alunos cochicharam com o movimento do garoto - Pensei que tinha esquecido!
- Eu nunca decepcionaria meu irmãozinho, eu prometi, não foi? - Bagunçou os fios do garoto que sorriu levemente - Agora vamos, me mostre a sala do seu professor.
- Tá bom. - Assentiu e a guiou por outro corredor, Min-ki franziu a testa vendo alguns garotos encarando sua irmã e olhou de relance para a azulada e arregalou os olhos - O que aconteceu com você?
- O que?
- Por que está vestida desse jeito? - Questionou.
- Eu vim como sua responsável, não posso aparecer com jens, tênis e moletom. - Rebateu - Tenho que passar uma boa impressão. Por que? Estou feia?
- Não, está bonita. Bonita até demais, está chamando muita atenção. - Min-ki fez um bico enciumado e ela sorriu com isso - E como conseguiu comprar essas roupas? Elas gritam dinheiro.
- Eu dei meu jeito. - Piscou e parou quando ele apontou hesitante para a sala do fim do corredor vazio e franziu a testa - Diretoria, Min-ki?
- Não conta pro papai! - Suplicou com as duas mãos juntas na frente do rosto - Eu disse que era uma reunião de pais e mestres, mas...
- O que você aprontou, pirralho? - Lançou um olhar de repreensão.
Ele abaixou a cabeça e Min-ji vacilou quando uma sentiu uma sensação de dejavu.
Era como voltar no tempo, ela de cabeça baixa, enquanto sua mãe a repreendia, tinha praticamente a mesma idade de Min-ki quando sua mãe precisou vir a escola por ter brigado seriamente com um colega de classe pela primeira vez. Naquele mesmo corredor, meses antes de tudo acontecer com sua mãe.
E agora estava aqui, mas dessa vez, não era quem estava de cabeça baixa, esperando uma bronca.
- Eu só... queria que ele me deixasse em paz. - Ele murmurou.
- Em paz? - Min-ji franziu a testa confusa, mas logo depois arregalou os olhos quando se tocou - Oh, Min-ki. Eu não sabia.
- Não tinha como, ele só começou com isso a algumas semanas.
Se agachou, acariciando os fios azulados do mais novo, que com certeza era a razão do problema, e uma raiva desconhecida começou a crescer em seu peito quando viu tristeza nos olhos castanhos dele. Por que as pessoas têm que ser tão cruéis?
- Eu vou resolver tudo, já passei pela mesma coisa. - Se levantou e suspirou sorrindo levemente, quando ele a lançou um olhar surpreso - É... eu também, maninho. Mas o que exatamente você fez?
- Soquei o olho dele. - Deu de ombros - Está na enfermaria agora.
- Ah, Min-ki... você é mesmo meu irmão. - Sorriu orgulhosa, mas logo tratou de voltar a ficar séria - Mas não faça mais isso.
- E o que você fazia? - Min-ki questionou - Aguentava tudo calada?
- Bom... não, mas tem outras formas de fazer eles ficarem quietinhos. Em casa eu te ensino. - Sorriu presunçosa, vendo ele lhe lançar um olhar curioso - Mas olha, não passamos pela mesma situação. Pelo que estou vendo... você tem amigos preocupados com você de verdade.
Olhou para além do irmão, vendo dois garotos olharem para os dois irmãos com curiosidade e hesitantes com a presença dela. Min-ki olhou para trás de relance e depois sorriu para a irmã, dando um aceno de cabeça, antes de correr até eles.
Ela andou até a porta e bateu três vezes, rapidamente escutando um "entre". Acenou para seu irmão e entrou na sala, olhando tudo ao redor com um olhar curioso, estava tudo igualzinho.
Olhou para a mesa a frente e viu uma mulher de mais ou menos cinquenta anos a olhando com severidade, mas logo depois se transformou em surpresa.
- Não faz essa cara, não está com saudades?
- Olha só que voltou. - A mulher diz desacreditada - Faz uns... seis, sete anos, desde que entrou pro ensino médio?
- Por aí. - Se sentou na cadeira a frente - E então, o que tem pra mim?
- Inacreditável, você mudou muito, Ryu. Menos os olhos... continua com esse mesmo olhar de quem vai aprontar. - Deu um pequeno sorriso e se encostou na cadeira - Bom, como já deve saber, seu irmão se envolveu em uma discussão, acabou agredindo um colega e....
- Min-ki não agrediria ninguém, se não fosse instigado a isso. Ele é um garoto calmo, não é de se meter em brigas. - Rebateu com uma feição séria - Ele está passando pelo mesmo que eu, bater no outro garoto foi errado, mas ele não é o único culpado nisso.
- Eu sei, o outro garoto também vai receber o mesmo castigo.
- Não é o suficiente, meu irmão agiu por legítima defesa, não é justo! - Min-ji fechou a cara.
- Por Deus, é praticamente como voltar no tempo. - Negou com a cabeça - Min-ji, eles receberão o mesmo castigo, vão passar um tempo juntos e vão se resolver. Assim como aconteceu com você.
- Ah... posso lhe garantir que não foi só o tempo juntos organizando a droga daqueles montes de livros e o pedido de desculpas "abrigatorio" que ajudou. - Garantiu e se levantou - Resolva isso, e se voltar a acontecer... eu mesmo vou vir aqui.
- Min-ki é um bom garoto, eu reconheço. Todos os professores comentam sobre seu irmão, notas altas, comportamento excelente. Ele se parece com você, menos na parte do comportamento, é claro. - A diretora também se levanta com um sorriso divertido e olha para a azulada de cima a baixo e Min-ji não conseguiu segurar o pequeno sorriso - Soube que é uma caçadora, pelo que estou vendo, está bem sucedida. Se por acaso Min-ki desejar se tornar um caçador... você o apoiaria?
- Não. - Respondeu de imediato e olhou nos olhos dela, com firmeza.
Sabia que estava sendo hipócrita, sua família também não a apoiava no início, e se sentiu realizada quando finalmente a apoiaram esse era seu maior desejo, mas mesmo assim, não queria que Min-ki se envolvesse entre os caçadores.
- Min-ki quer entrar pra faculdade de administração, e o apoio firmemente nisso. Não desejo que meu irmão veja tudo que eu já vi no meu trabalho, que tenha que passar pelas mesmas coisas...
Engoliu em seco se lembrando de tudo que teve que enfrentar dentro de dungeons, sentir o sangue derramado, o peso nos ombros, a traição e o pior deles, o medo de morrer. Não queria isso pro seu irmãozinho.
- Bom, eu só agradeço por isso nunca passar pela cabeça dele. - Peguei minha bolsa e andei até a saída.
Andei até o lado de fora da escola, Min-ki voltaria sozinho, não era tão longe de casa e de acordo com ele, não precisavam mais buscá-lo como se fosse uma criancinha.
Destrancou o carro e revirou o latido de Castiel, ele se sentou no banco e abanou o seu rabo peludo.
- Vamos, rápido! - Ele diz ansioso.
- Calma... - Revirou os olhos e depois sorriu animada - Vamos pra um lugar mais afastado, vai ser melhor.
...
Parou em uma rua completamente vazia, em uma parte de Seul inabitada, os prédios estavam em péssimas condições, sem ninguém por perto, privacidade garantida.
- Onde estamos? - Castiel parou ao lado dela.
- Esse lugar é um ponto muito propício para os portais, então ninguém quer morar nessa parte da cidade, por medo. - Estalou os dedos das mãos e se virou para o cachorro, tendo apenas a iluminação do fim de tarde como companhia - Então estamos sozinhos aqui, podemos começar o treinamento.
- Ótimo. - Assentiu.
- E então, como posso usar a Onificência? - Perguntou ansiosa.
- Primeiramente, deve entender que a Onificência não é simplesmente desejar criar algo e ele aparecer magicamente na sua mão, se é isso que está pensando. - Castiel viu a garota murchar com um bico de descontentamento - Esse dom poderosíssimo é muito mais do que isso, é lhe foi entregue para usar com sabedoria.
- Está bem, podemos começar logo? - Min-ji perguntou impaciente - Eu entendi, não é só aparecer na minha mão em um passe de mágica, mas então... como eu posso fazer com que isso aconteça?
- Um bom exemplo para que entenda bem como funciona a Onificência, é a alquimia, uma ciência bastante parecida. - Castiel se sentou no chão de concreto da calçada e Min-ji quase riu, vendo que ele estava mesmo parecendo um professor, um cachorro professor - Qual a graça?
- Nada! - Balançou as mãos na frente do rosto e sorriu levemente - Pode continuar!
- Muito bem, você sabe o que é alquimia?
- Bom... já ouvi falar na faculdade, já que a alquimia é uma prática de caráter místico que floresceu durante a Idade Média reunindo ciência, magia e arte. - Deu de ombros - Mas não me aprofundei na área. Tranquei o curso quando começamos a ver esse assunto. Mas o que isso tem haver com meus ensinamentos de Onificência?
- A alquimia é uma prática que envolve a manipulação de substâncias químicas e técnicas laboratoriais para alcançar objetivos, como a transmutação de metais. - Castiel explicou vendo o ar confuso da azulada e suspirou - Poder transformar uma coisa em outra...
- Demais! - Min-ji sorriu animada.
- Mas, aí vem a diferença da Alquimia, com a Onificência. - Ele se animou vendo que ela mantinha atenção em cada palavra que dizia - A alquimia é uma ciência de compreensão, decomposição e recomposição da matéria. Contudo, não é uma técnica onipotente, pois não é possível criar algo do nada. Se você deseja obter alguma coisa, é preciso pagar um preço, e este é o fundamento da alquimia, a chamada troca equivalente.
- Entendi, uma troca... - Min-ji pensou e logo depois voltou a olhar para o anjo - Então, basicamente, você deve transmutar algo com o mesmo valor equivalente, para não afetar o espaço.
- Muito bem. - Castiel latiu orgulhoso - Agora, vamos voltar para a Onificência, como eu te disse diferente da Alquimia, um Onificênte é sim capaz de criar algo do nada.
- Mas você disse... - Ele a interrompeu.
- Esse é um poder ilimitado, mas você ainda possuirá suas limitações. - Ele explicou - Como por exemplo: Ter que saber como um objeto funciona para criá-lo. Caso queira um carro, você não pode ver apenas o que está no seu exterior, um automóvel possui motor e ouras coisas pra funcionar, e você precisa visualizar tudo isso para criar um carro que funcione perfeitamente.
- Caramba... - Min-ji engoliu em seco.
- O processo de criação não ser instantâneo. - Castiel continuou - Como você pode ter percebido, visualizar algo com muitos detalhes exigirá muito da sua concentração, principalmente uma iniciante como você, mas... com o tempo, pegará o jeito.
- Certo! - Min-ji concordou com determinação.
- Exigir conhecimento de química e biologia. - Castiel quase riu quando viua a feição de desgosto dela - É preciso, por exemplo se você querer criar algo orgânico, algo vivo, você deverá ter conhecimento nessas áreas.
- Algo vivo? - Min-ji franziu a testa - Eu não tinha pensado nisso...
- Eu sei, te conheço desde que nasceu, aposto que só pensou em criar comida e armas. - Castiel debochou vendo as bochechas dela corarem - Min-ji, você é muito inteligente, mas as vezes você não pensa muito.
- Gosto de pensar que é meu charme, se eu não penso muito, minhas ações se tornam imprevisíveis. - Empinou o nariz orgulhosa.
- Entendo, bom... continuando. - Min-ji desmanchou o sorriso quando percebeu que o momento de concentração, mas ao memso tempo, tão leve, se transformou em um momento sério e pesado - Estar limitada ao que pode criar.
Min-ji viu a feição de Castiel levemente fechada, um vento frio balançou seu fios azulados e agradeceu pela sua roupa a proteger um pouco do clima.
- Quando eu disse que você poderá criar vida, não era da boca pra fora. Mas lembre-se de tudo que eu lhe disser, Min-ji Ryu. - Ele viu a garota engolir em seco, e se sentiu satisfeito por ela levar a sério de verdade - O usuário pode criar algo que possa ser perigoso para si próprio. Embora o usuário possa criar qualquer coisa, ele não necessariamente pode controlar aquilo que cria.
Ela sentiu um arrepio em todo seu corpo, quando processou as palavras, com um leve tom rancoroso do anjo. Cruzou os braços, olhando para a calçada, mas logo depois levantou a cabeça com um sorriso confiante.
- Tudo bem, eu entendi. - Diz - Vou tomar cuidado, e me esforçar todos os dias! O meu desejo é me tornar a mais forte e vou conseguir, tô certa!
- Então, agora sim, vamos começar com algo pequeno e simples. - Castiel anda alguns passos para frente, se aproximando dela - Use sua mana para juntar a materia. Pense em algum objeto, mas lembre-se, quando menos detalhes tiver, mais fácil vai ser pra você nesse começo. Talvez... algo que você use bastante no deu dia a dia.
- Entendi. - Min-ji se sentou na calçada, sem se importar com a camada de poeira do chão - Que tal... um lápis?
Levou as mãos para frente, observou a sua palma estendida e forçou sua mana, pode ver a luz azul que emanava na sua mão, forçou em visualizar um lápis igual ao que usava quase todos os dias para desenhar. Um lápis possuía o grafite, e a madeira que se estendia ao redor da matéria prima.
Mordeu o lábio inferior, os segundos se passavam, mas nada acontecia.
- Que droga! - Exclamou impaciente.
- Mantenha a calma, é a sua primeira vez.
- Vou tentar denovo! - Min-ji voltou a se concentrar, mas assim como a primeira, apenas sua mana apareceu.
Castiel parou ao lado dela e olhou para o chão empoeirado, com um olhar pensativo. Voltou a observar a careta emburrada que ela fazia e latiu, chamando a atenção da caçadora.
- Você gosta de pintar e desenhar, não gosta? - Ela assentiu, sem entender o que ele queria dizer - Veja dessa forma... um pincel como o criador, pintando cada pedacinho de um objeto específico.
- O que isso tem haver...?
- Não é só ver o objeto perfeitamente em sua mente, e depois esperar que ele pareça. Não é assim que funciona para os artistas, eles não esperam suas obras serem criadas, só porque visualizam e sabem como querem que elas sejam.
Min-ji arregalou os olhos e mais uma vez sentiu um arrepio de excitação, seus lábios se curvaram pra cima e mais uma vez.
- A mana é seu pincel, Min-ji.
Ela voltou sua atenção para suas mãos. Mas logo depois, seus olhos se seguiram para além da sua palma, observou o chão empoeirado entre os seus pés e lentamente, levou a ponta de seu dedo indicador até lá.
Concentrou sua mana na ponta do dedo e o deslizou pelo chão sujo de concreto, visualizou o objeto em sua cabeça o mais perfeito que conseguia. Quando terminou, mordeu o lábio inferior, vendo o desenho simples de um lápis, rabiscado na poeira.
Abriu a palma da sua mão sobre o chão, e com a ajuda do desenho, pode se concentrar melhor e logo depois, aumentou sua mana, seus dedos sentiram o frio se alastrar e rapidamente, com muito esforço, sentiu algo sólido ser puxado do desenho e quando menos percebeu, sua mão capturou um simples e pequeno lápis do chão.
- Castiel... - Arregalou os olhos, quando olhou para o lápis lilás, em um tom parecido com seus olhos, e saltou pulando animada - Eu criei um lápis! Eu criei, eu tirei do chão!
- Muito bem, Min-ji! - Castiel a parabenizou - Mas lembre-se, isso é só um lápis.
Ela parou de comemorar e o olhou, fechando a cara e mostrou a língua pra ele, que revirou seus olhos prateados com a infantilidade dela.
- Não importa, eu criei do nada um objeto, isso é incrível! Mesmo sendo só um lápis. - Deu de ombros e sorriu travessa - E ele não é tão inútil assim, eu posso enfiar ele no olho de alguém em uma briga.
- Isso é uma ameaça? - Castiel perguntou desconfiado.
- Não pra você, Cas. - Acariciou a cabeça dele - Eu nunca te machucaria, você é meu conselheiro...
Parou quando percebeu a presença de algumas pessoas entrando no bairro, forçou sua percepção e sentiu a mana deles, um caçador rank A, sete de rank B, e mais alguns que não teve tempo de identificar, já que Castiel tirou sua concentração puxando sua calça com os dentes.
- Ei, essa roupa custou uma grana preta! - Min-ji o soltou.
- Eles estão próximos, vamos sair.
- Nada vai acontecer, só... espera um instante. - Min-ji sentiu uma mana famíliar, depois de alguns segundos pensando, se lembrou do chefe do segundo departamento da guilda Tigre Branco. Ele estava junto dos outros caçadores - O que eles estão fazendo aqui?
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