
ೋ°|𝗖𝗵𝗮𝗽𝘁𝗲𝗿 𝟎𝟏
𝚂𝙴𝙶𝚄𝙽𝙳𝙾 𝙳𝙴𝚂𝙿𝙴𝚁𝚃𝙰𝚁, 𝙿𝙰𝚁𝚃𝙴 𝚄𝙼.
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Há mais de uma década, surgiu uma misteriosa passagem que ficou conhecida como portal, que conecta este mundo a uma dimensão diferente. E essas dimensões eram a casa dos monstros de diferentes formas e tamanhos que habitam nela, chamadas de dungeons.
Aqueles que caçam os monstros são chamados de caçadores. Quanto maior o nível desse monstro ou caçador, maior será sua força.
Mas aí está uma das maiores frustrações da minha vida. Quando acontece o despertar de uma pessoa para se tornar um caçador, ela vai possuir um nível, mas não importa o que você faça, seu nível continuará o mesmo. Não é possível aumentar com esforço pessoal.
É o que todos dizem. Principalmente pra mim.
Alguém que viveu uma vida normal em Seoul. Uma garota que possuía boas notas, mas levemente problemática na opinião dos professores, que tiveram o prazer e o desprazer de ensinar por meio período de seus dias durante anos.
Digamos que a minha personalidade não era uma das melhores naquela época, impaciente, sempre tentando ser a melhor entre os outros naquilo que eu gostava e um imã pra problemas.
Me chamo Min-ji Ryu, uma caçadora.
Desde que os caçadores surgiram e eu tive a sorte de ter meu despertar, sempre soube que era isso que eu queria e eu faria de tudo para ser uma das mais fortes entre eles. Além de que quanto maior for meu desempenho nas dungeons, posso conseguir recompensas melhores e ser bem paga por algo que eu amo fazer.
Mas a minha vida fácil acabou assim que me disseram que eu pertencia ao nível E.
O nível mais baixo de todos.
Na minha vida, tanto na escola ou fora dela, sempre fui acostumada a conseguir as coisas com facilidade ou com esforço, e saber que estou em um patamar tão baixo e não poder mudar isso era sufocante pra mim.
Treinei e treinei durante dias seguidos e entrei em várias dangeons de nível E, para tentar minha evolução.
Na maioria delas eu saia ferida e em algumas vezes, tive sorte de ter apenas alguns arranhões, mas minha evolução era nula. Isso era frustrante, tão frustrante que chegava a ferir meu ego como ninguém.
Cheguei a questionar se era isso mesmo que eu queria, se valia a pena me acabar de tanto esforço e humilhar a mim mesma a todo fracasso. E com o tempo, percebi que comecei a treinar com menos frequência e não participei mais de tantas caçadas como antes. E então, um choque veio em minha consciência, eu estava desistindo.
Mas eu nunca desistia de nada.
Era o que eu pensava.
Desceu as escadas bocejando com sua bolsa em mãos e andou rapidamente até a cozinha pegando uma maçã a mordendo. Olhou ao redor e finalmente percebeu que o lugar estava vazio, andou até a sala e coçou a nuca não vendo que não tinha ninguém por lá também.
Até que enfim pode ver um bilhete em cima da mesinha de centro e o pegou começando a ler.
- Leve seu irmão pra escola antes que ele se atrase e não destrua a casa. - Leu com um sorriso sarcástico - Eu não destruiria a casa...
- Você quase fez isso umas três vezes.
Se virou vendo seu irmão mais novo Min-ki, colocando sua mochila nas costas pronto para sair. Ele tinha seu uniforme escolar bem alinhado e sem nem um amassado, seus cabelos azulados estavam bem penteados e seus olhos castanhos claros estavam estreitos observando a irmã mais velha.
Ele era quase o oposto em personalidade, era calmo e mais responsável que muitos adultos, era admirável, sendo que era apenas um garoto de onze anos.
- Foi um acidente! - Protestou enquanto o acompanhava até a porta.
- Você diz isso todas as vezes, Min-ji. - Ele revirou os olhos e percebeu a bolsa que ela segurava, seus pequenos olhos castanhos brilharam em expectativa - Você voltou a pintar?
- Ah... - Min-ji segurou sua bolsa com mais firmeza ficando ao lado dele na calçada - Faz muito tempo que eu não faço nenhum desenho.
- Fico feliz, você sempre gostou disso. - Sorriu levemente - Mas é sério, não precisa me acompanhar, são só sete quarteirões.
- Seu pai me pediu pra te levar, sabe que hoje em dia não é tão seguro andar sozinho.
- Mas depois que eu entrar na escola você que vai estar sozinha, Min-ji. - Ele sorriu vendo a careta da irmã mais velha - E ele também é seu pai, sabe que o papai fica bem chateado com isso.
- Eu sei, Min-ki... é só força do hábito. - Suspirou e cruzou os braços ficando em silêncio, mas logo deu um empurrão no ombro do garoto, que quase se desequilibra e a olha carrancudo - Aposto que eu chego primeiro que você!
- Não podemos ficar correndo igual malucos no meio da rua!
- Falou o senhor certinho. - Ela mostrou a língua - Tá com medinho de perder?
Mal piscou os olhos e o garoto correu em disparada soltando uma gargalhada gostosa, que contagia a garota que ri o acompanhando na disputa até a escola do mais novo.
...
Respirou fundo e aproveitou o ar puro do parque. A grama verdinha, as árvores por todos os lados, pessoas passeando, os animais de estimação aproveitando o pequeno período de liberdade que tinham e o lindo céu ensolarado tão azul quanto seus cabelos lhe proporcionava um sentimento de conforto e inspiração para seu novo quadro.
A tinta azul de seu pincel pintava o céu de seu desenho e terminava seus últimos contornos para enfim terminar e voltar para casa. Se perguntou o motivo de ter parado de fazer isso, pintar sempre foi uma de suas paixões e seu maior talento desde criança, sua mãe antes de falecer amava receber seus desenhos, lhe presenteando de volta com um lindo sorriso caloroso todas as vezes.
Suspirou com o olhar baixo enquanto guardava suas coisas e se levantava da grama. Lembrou o motivo de ter parado.
Seus dias de treino para tentar evoluir sua força tirou todo o seu tempo, e aos poucos parou de pintar para tentar realizar seu sonho. Mas agora, mesmo que não quisesse admitir a si mesma e não ferir ainda mais o seu ego, tinha desistido aos poucos de seu caminho como caçadora.
Era isso que seu irmãozinho queria, e seu padrasto também. Diziam não aguentar mais vê-la ferida e exausta, mesmo que soubesse que eles apenas queriam seu bem, ainda doia saber que eles não entendiam seu desejo. Queria ser forte, mesmo que tivesse que se machucar todas as vezes, até mesmo se morresse. Preferia morrer tentando do que desistir.
Mas como todos diziam, era impossível subir de nível. Mas era teimosa demais para escutá-los.
Mas então, a frustração dos fracassos e falta de resultados conseguiu vencer a determinação e percebeu o quão fraca era.
Olhou para cim vendo o céu quase se ponto e percebeu que ficou horas pintando e mal havia percebido. Parou bem em frente de casa minutos depois e andou lentamente até a entrada, abrindo a porta que já estava destrancada.
- Onde estava? - Hyun perguntou de repente a assustando.
Ele estava sentado no sofá com os braços grudados, já estava vestido com suas roupas de casa confortáveis e seus cabelos castanhos estavam levemente úmidos, como se tivesse saído banho a pouco tempo.
- Eu sai pra pintar e demorei mais do que esperava. - Sorriu sem graça - Foi mal, pai.
- Ah! - Ele se animou, levantando do sofá de súbito, tomando o quadro das mãos dela - Realmente... você herdou o talento da sua mãe.
- Você sempre diz isso quando eu faço uma nova pintura.
- Mas é verdade. - Ele colocou a pintura em cima da mesinha de centro e segurou o ombro dela - Fico feliz que tenha esquecido aquela ideia de ser caçadora, filha.
- Ah... não começa. - Revirou os olhos púrpura incomuns - E eu não desisti.
- Eu percebi que não está indo para as raids como antes, não está treinando e está voltando a pintar.
- Isso não diz nada. - Se sentou de uma forma desleixada - Onde está o Min-ki?
- Está tomando banho. E não mude se assunto. - Fica ao lado dela - Min-ji, eu só quero o seu bem. Sabe quantas vezes eu quase tive um infarto quando me avisavam que você estava no hospital?
- Nunca era nada grave...
- Mas podia ser. - Ele olhou nos olhos dela seriamente - Você podia voltar a cursar artes como antes, era isso que você queria desde criança. Eu não consigo entender...
- Era isso que eu queria antes, pai! - Virou o rosto para o outro lado - Eu sempre gostei de pintar e eu era uma das melhores da minha turma. Mas não é isso que eu quero agora, não consegue entender isso?!
- Como você quer que eu entenda?! - Ele se exaltou - Uma caçadora de nível E, que pode morrer em qualquer dangeon! Eu não quero isso pra você, minha filha!
- Mas isso não depende do que você quer, essa tem que ser a minha decisão!
- Vocês estão brigando de novo.
Os dois se viraram de súbito na direção das escadas, vendo Min-ki parado, vestindo seu pijama os olhando com tristeza e decepção.
- Nós não estamos brigando. - Forçou um sorriso caloroso na direção do irmão.
- Só estávamos conversando, filho.
- Eu vou fingir que acredito, não vai adiantar de nada mesmo. - Ele se virou voltando a subir as escadas.
- Não vai jantar? - Hyun perguntou se levantando.
- Estou sem fome.
Ele e Min-ji se entreolharam com feições culpadas, vendo o mais novo voltar para o quarto com desânimo.
- Eu vou falar com ele...
- Não, pai... deixa que eu faço isso. - Murmurou dando um pequeno sorriso para o mais velho que assentiu.
Minutos depois do ocorrido, a mulher de cabelos azuis aparece na porta do quarto do irmão e bate nela três vezes, mas não recebe resposta. A abriu mesmo assim, o quarto estava devidamente organizado, e o garoto estava deitado na cama com o rosto afundado no travesseiro de bruços.
- Min-ki...
- Por que vocês brigam tanto? - Escutou a voz abafada dele.
- As pessoas são assim, elas discutem as vezes. - Se aproxima deixando uma bandeja com um sanduíche de frango e suco em cima do criado mudo ao lado da cama.
- Mas, por quê? - Ele virou o rosto emburrado na direção dela - Eu detesto quando vocês fazem isso.
- O pai só está preocupado comigo, o caminho que eu decidi seguir é bem perigoso, principalmente pra alguém do meu nível, Min-ki. - Acariciuou os fios azuis do garoto - Essa preocupação faz com que ele queira que eu desista de algo que eu quero muito, é por isso que brigamos as vezes.
- É isso mesmo que você quer? - Ele faz um bico adorável - Eu também não gosto da ideia de você se colocando em perigo assim.
- Sim, é isso que eu quero. - Sorriu - Quando você crescer e decidir o que vai querer fazer da sua vida e alguém te contrariar, você vai entender.
- Então tudo que eu decidir seguir você vai me apoiar?
- Mas é claro.
- Até se eu quiser me tornar um traficante de drogas?
- No dia que eu descobrir que você é um traficante de drogas ou querer se tornar um deles, não vai ser a polícia que você vai ter que se preocupar, pirralho! - Deu um tapa no ombro do garoto que riu da careta da irmã - Agora coma, você precisa ficar forte para crescer e de preferência, não se tornar um traficante de drogas... nem um agiota.
- Tudo bem! - Ele riu dando uma mordida no sanduíche.
Saiu do quarto com a consciência mais leve e suspirou quando sentiu seu celular vibrar no bolso de sua calça e o pegou, vendo que recebeu uma notificação para participar de uma dangeon de nível E. Seu dedo seguiu na opção de negar, mas de um segundo para o outro, parou.
Sua mão livre se fechou em punho e escutou o barulho da televisão ligada na sala, provavelmente seu padrasto estava assistindo alguns de seus documentários de biologia que tanto gostava, como professor dessa matéria na faculdade, não era uma surpresa.
Sua atenção então foi até um de seus quadros na parede branca do corredor, pintou ele nas pressas naquele dia a mais de um ano, toda a sua animação e vontade de melhorar foram colocados naquela pintura e então, sua coragem finalmente pesou em seus ombros, não poderia se torturar mais.
- Me desculpe, pai.
Olhou novamente para a tela do celular com sua mãos queimando em êxtase e então, clicou em aceitar.
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