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𝐒𝐄𝐀𝐒𝐎𝐍 𝐓𝐖𝐎; chapter seven

NO MEIO DA NOITE COMEÇOU uma tempestade tão forte que parecia que o prédio ia demolir.

— Miguel? — Eu disse no telefone. — Miguel? Ainda tá aí?

— Coraline larga o telefone! — Ouvi a voz do meu pai na porta.

— Por que? To falando com o Miguel!

— É? Espera só cair um raio aí e você virar pó.

— O prédio tem para raio! — Revirei os olhos.

Palavras tem poder.

Na mesma hora um raio caiu e iluminou as janelas todas e a luz acabou, dei um grito tão alto que por um segundo não consegui ver se era eu ou meu pai gritando.

— Viu! Eu falei!

— Você que jogou praga! — Reclamei saindo de cima da cama e começando a andar pelo corredor, me apoiando nas paredes, não dava para ver nada.

— Espera aí garota, eu já sou Velho. — Jhonny reclamou também, se apoiando no meu ombro para chegarmos a cozinha.

— Ninguém mandou abrir a boca, agora o Miguel vai achar que eu desliguei na cara dele.

— Ah claro, só se ele for surdo de não ter ouvido esse terremoto que aconteceu aqui.

Não consegui segurar a risada baixa agora.

Abri o congelador, passando a mão pelo quadrado frio e que tinha a maior parte vazia.

— O que você tá fazendo? — Meu pai perguntou.

— Sorvete.

— Que? Não tem sorvete aí não.

— Tem sim, eu escondi de você. — Encolhi os ombros, mesmo que ele não visse.

Puxei um pote do fundo do congelador e sorri, logo pegando duas colheres na gaveta.

— Falei? — Bati a colher no ombro dele para ele pegar.

— É minha filha mesmo.

Ouvi a risada baixa de Jhonny e nos sentamos no chão encostados no armário. Começamos a comer o sorvete enquanto brincávamos um pouco, fazia muito muito tempo que eu não tinha momentos assim com meu pai.

— Então... e você e o Miguel?

— Sei lá pai... — Dei mais uma colherada no sorvete. — Eu gosto muito dele e ele também gosta de mim, mas tenho medo dele fazer o mesmo que fez aquele dia sabe? Não dá pra confiar muito.

— Vocês são adolescentes, eu já vivi isso e sei bem como é se sentir como você se sente. Mas da pra ver no comportamento daquele garoto o quanto ele gosta realmente de você.

— Pois é... — Suspirei.

— Quer chamar ele aqui pra casa amanhã? Vou voltar tarde, vou ir beber com uns amigos da adolescência e vocês ficam juntos.

— Serio pai?

— Confio nele, e confio ainda mais em você. Então sim.

— Obrigada pai! — Sorri e beijei a bochecha dele quando fez novamente um barulho alto e a luz voltou.

Olhei para ele e ele olhou para mim, estávamos ambos com a boca suja de sorvete. Isso nos fez rir alto um do outro.

— Você tá igualzinha quando era criança. — Ele riu.

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