— Então é isso? Caratê já era? — Demetri disse sentado na mesa da biblioteca.

— Acho que sim... — Miguel respondeu sem ânimo.

Minha cabeça ainda estava rodando tudo o que aconteceu dias atrás, meu semblante já mudou completamente. Estou de cabeça baixa, deitada sobre meus braços.

Nunca consegui esconder bem o que eu estava sentindo.

— É melhor assim. — Demetri continuou. — Isso tava aumentando sua confiança.

— Isso não é bom?

— Não?! Olha Miguel, o que a confiança te deu além de um olho roxo e uma mochila jogada na lata do lixo?

— Quem jogou a mochila na lata do lixo? — Ouvi a voz de Kyler e levantei a cabeça, os garotos levantaram após pegarem suas coisas para sair dali.

Kyler segurou Eli de frente para ele, vendo sua cicatriz.

— Que merda. Que garota iria querer beijar esse troço?

— Deixa ele em paz Kyler. — Eu disse ainda sentada.

— Que? O que você disse loirinha? "Deixe ele em paz Kyler" — Ele afinou a voz.

— Sai de perto dela Kyler. — Miguel o puxou.

Não aguentei discutir, sai da biblioteca com minha cabeça latejando. Eles saíram logo atrás de mim, o carro da Carmen estava parado em frente à escola, e ver o sorriso largo dela e o aceno animado me fez quase soltar as lágrimas que estavam presas.

— Você tá bem? — Miguel tocou meu ombro.

— Eu só quero ir para casa...

— Seu pai não tá em casa, sei que vocês discutiram sobre o Cobra Kai e não estão se falando... você pode ir para minha casa comigo.

— Eu não quero incomodar você.

— Você nunca incomoda, minha mãe e minha avó amam mais você do que eu. — Ele riu, o que me fez dar um sorriso entristecido também.

Entramos no carro e em pouco tempo já estávamos no apartamento dele. Estou deitada na cama, meu nariz estava vermelho de tanto que já chorei até chegar aqui.

Carmen está aqui junto de Miguel, ambos tentando dizer palavras bonitas para mim parar de chorar ou tentando entender o motivo de tanto choro para uma garota que é tão doce e tão alegre.

Alguém bate na porta.

— Vou atender, melhor não acordar minha mãe essa hora da noite, ela vira uma fera! — Carmen disse na intenção de me fazer rir, e conseguiu, mesmo que por pouco tempo.

Ela saiu do quarto e Miguel se aproximou mais.

— Cora... Me diz o que está acontecendo, por que está chorando tanto? — Ele tirou alguns fios de cabelo loiros e molhados dos meus olhos. — É por conta do Cobra Kai?

— É por conta de tudo Miguel! O cobra Kai acabou, meu pai voltou a ser um bebado que não se importa com nada, meu irmão ainda me odeia tem aqueles garotos te batendo!

— Não se preocupe comigo, o caso aqui é você.

— Não se preocupe comigo.

— Eu sempre me preocupo com você, Cora.

Dias se passaram. O Cobra Kai voltou por algum motivo, meu pai estava mais empolgado ensinando agora eu, Miguel e uma garota, Aisha.

Miguel teve uma luta no refeitório com Kyler após o mesmo mentir sobre que nos tínhamos "visto" um filme juntos. Os golpes de Miguel foram perfeitos, ele derrubou todos sem mal encostarem nele.

Meu pai é a avó dele estavam super orgulhosos, tanto que meu pai o deu o primeiro quimono dele, para Miguel.

Após essa luta muitas pessoas vieram para o Dojô, muitas mesmo. Nunca pude explicar a minha felicidade neste momento.

— Muito bem vamos começar! — Meu pai disse. — Virem para cá.

Todos viramos, ele passou em meio a cada um, dizendo alguns comentários maldosos por certa forma. Dizendo que via perdedores e não lutadores.

Eles tiveram algumas aulas e meu pai sempre fazia comentários horríveis sobre Eli, até o chamando de "lábio" e de "aberracao", o que o fez sair do Dojô provavelmente estava chorando.

Nunca entendi o por que do meu pai ser tão duro com todos, como alguém consegue fazer comentários tão maldosos?

— Pai? — Dei duas batidas na porta aberta do escritório. — O que foi aquilo?

— Qual é? Vai chorar também?

— Você queria um Dojô cheio e conseguimos te dar.

— Não assim, ali só tem perdedores.

— Entendi, ali só tem perdedores. Talvez eu também seja então.

— Ta brincando né? Você nunca fracassou.

— Deixa pra lá. Mas você não sabe como é estar na nossa pele. Até amanhã pai, vou pra casa do Miguel.