48. A Resposta Final
Como um rio, eu fluo
Para oceanos conhecidos
E você me puxa para perto
Guiando-me para casa
E eu preciso que você saiba que
Nós estamos caindo muito rápido
Nós estamos caindo como as estrelas
Nós estamos nos apaixonando
E eu não tenho medo de dizer essas palavras
Com você eu estou seguro...
— Falling Like The Stars; James Arthur
North End, Boston
25 de janeiro, 14h
S C A R L E T T
Me sentia estranha em estar vivendo um momento sossegado como o que tive hoje. E isso sempre acontecia quando eu tinha algum caso complicado em mãos. Sempre me questionava como eu poderia sentar e relaxar quando havia uma maníaca maluca matando pessoas por aí. E depois que eu conseguia concluir o caso, me questionava sobre como eu conseguia ter me deixado num cansaço psicológico tão grande.
Era uma bola de neve de bipolaridade e maus tratos comigo mesma. E sempre me deixava extremamente confusa. Quase maluca também. Mas, de alguma forma, Evans havia conseguido me mudar nesse quesito.
Ele e só ele havia feito eu enxergar a minha própria necessidade de descanso, com seus argumentos lógicos de que o mundo não estava nas minhas mãos, e que com a prisão de Sebastian e de Brandon, seja lá quem fosse a assassina, estaria ainda mais encurralada agora.
Então eu finalmente consegui sentar e respirar fundo, e aproveitar a tarde de sol. Havíamos ficado um bom tempo na piscina, e agora eu descansava embaixo do sombreiro enquanto ele montava os nossos pratos do almoço, que ele também cozinhou, me deixando realmente de folga hoje.
— Senta aí. Esqueci o suco, mas já pode comer. — Chriz diz, pondo uma bandeja no meu colo, com um prato de carbonara e um pouco mais de bacon, como ele sabe que eu gosto.
— Tudo bem, eu espero você.
— Não precisa. — Ele rebate, sem me dar tempo para argumentar quando corre para dentro de casa.
O cheiro atrativo do bacon acaba pondo em prática o seu pedido, e então eu me rendo, comendo a primeira garfada, e vendo ele se aproximar com uma jarra de suco e dois copos. Ele me serve enquanto eu como mais, e tomo um gole do suco quando ele me entrega o copo, sentindo o sabor de morango se espalhar pela minha boca.
— Assim eu vou ficar muito mal acostumada, Chris.
— Espero que fique. — Ele diz, sentando na cadeira ao meu lado, tirando os óculos de sol.
— Está querendo me ganhar pela barriga, é?
— Vamos dizer “pela comida”, sim? “Pela barriga” parece que estou tentando engravidar você.
Ele se defende, e eu não contenho o riso, parando de mastigar instantaneamente e pondo a mão na boca, me impedindo de cuspir. Me recompus com dificuldade, quase não me contendo quando o olhei outra vez.
— Você é muito idiota. — Digo, continuando a comer. — Se estiver tentando me conquistar pela comida, pode estar dando certo.
— Eu sei que está, nem tente se esquivar.
— Quem te contou? — Pergunto, num tom brincalhão, e ele me olha de olhos semicerrados.
— No dia que eu não souber distinguir a sua brincadeira da realidade, eu tenho um infarto. — Chris diz, me fazendo gargalhar outra vez.
Nós dois tornamos a comer, agora em silêncio e quietos, apreciando a companhia um do outro e o calor descomunal que fazia em Boston. Terminei tudo, acatando seus pedidos de deixar ali que ele mesmo lavaria a louça. E então voltei a relaxar, continuando a minha leitura. Vi Chris quieto ao meu lado, também lendo, dando continuidade com os estudos das minhas provas e sorri orgulhosa.
Adorava estar acompanhando o seu crescimento profissional, e estar ajudando ele nisso era gratificante. Só assim podia ver o quanto ele estava se esforçando. O quanto ele realmente queria isso. Tê-lo assim, empenhado, tão perto, era tão bom. Sem querer ele me inspirava a ser uma pessoa melhor também. Algo que nenhuma outra pessoa conseguiu tão bem, e em tempo recorde.
Vejo Dodger se aproximar de nós, abanando o rabo felpudo com o corpo recém-tosado. Parecia um ursinho de pelúcia. Ele veio exatamente entre nós e ficou de pé, recebendo carinho de nós dois.
E mais um momento estava sendo gravado na minha memória.
E por mais que eu queira negar, no meu coração.
É… É ele quem vai quebrar meu coração.
Eu sei disso, e sei que não tem para onde correr. Como também sei que não quero correr. Chris é uma paixão na qual eu quero passar por todas as fases. Da negação do sentimento para a aceitação, para o carinho. Para os momentos juntos. Para as memórias que eu nunca vou superar e tomarei boas taças de vinho quando lembrar. E para o fim. Porque eu sei que vamos chegar ao fim. De qualquer forma.
— Está tudo bem? Amor? — Ouço Chris perguntar, preocupado, me olhando.
Aqueles olhos azuis intensos… O motivo da minha calma e do meu surto em um lugar só. O lugar onde eu me sentia confortável e sufocada. Animada e pensativa. O lugar onde reunia meus dois opostos em um só. O que fazia eu me aceitar. Perdoar meus próprios erros e ser eu mesma.
Ele.
— Pimentinha?
— Oi. Desculpa. O que foi?
— Nada, só.. Nada. Pode voltar a ler. — Ele pede.
Eu volto minha atenção para o livro, sem desfocar dessa vez, me concentrando em cada palavra ali e em mover meus dedos por todos os pelos finos das costas de Dodger. Sentia minha mão e a de Chris se encontrando algumas vezes, e percebia que sempre sorríamos quando isso acontecia. De forma automática.
Nós só paramos quando começou a ficar frio outra vez. Juntamos nossos pertences e corremos para dentro, direto para a ducha quente. Tomar banho juntos já havia virado um costume também. E não foi difícil. Com a minha proibição de ficar sozinha para evitar riscos, eu já estava há duas semanas na casa de Chris.
E talvez esse fosse o motivo para estarmos tão… Grudados.
O caso é que sempre que um de nós ia para o banho, o outro seguia. Não havíamos combinado isso. Simplesmente aconteceu. E como nada é só amores entre nós, no início os banhos abrigavam uma sessão de sexo rápido, mas que foi cessando aos poucos e agora realmente era mais carinho. Mais intimidade suave. Deixávamos o sexo para a cama.
Ou para o balcão da cozinha.
As vezes para o sofá da sala quando Dodger não estava por perto.
— Estava pensando em cortar o cabelo. — Revelo, sentindo suas pontas dos dedos massageando o couro cabeludo.
Eu estava de costas para ele, de frente para o chuveiro, e quase pude ver sua expressão de choque pela porcelana embaçada.
— Está falando sério?
— Sim. Talvez só nos ombros, um chanel…
— Ao menos assim você sempre deixaria solto. — Ele diz, puxando meu cabelo para cima, fazendo um topete esquisito. — Assim você parece o Jimmy Neutron.
— Chris! — Brigo, mas não consigo conter a gargalhada que sucede. — Você também está igualzinho. — Digo, após olhá-lo por cima dos ombros. — Parece o Zezé, d’Os Incríveis.
Ouço sua gargalhada alta, dramática e exagerada, mas também me faz rir. Assim que nos recuperamos, Chris puxa minha cintura, colando nossos corpos e beijando a pontinha do meu nariz, que ardia um pouco.
Ele ligou o chuveiro, tirando o shampoo de nós dois, e passou o condicionador enquanto eu me ensaboava sozinha. Terminamos o banho juntos pouco depois. Ele secou meu corpo e me enrolou na toalha, como um pequeno sushi. E então enrolou meu cabelo com uma toalha a parte. O vi se secar e enrolar uma toalha ao redor da própria cintura, saindo comigo do box, indo para a frente do espelho.
— Você ficou queimadinha. — Ele diz, me vendo passar um creme específico no rosto, vendo as partes vermelhas.
— Você também. Vem aqui.
O puxo, passando o mesmo creme por seu rosto e ombros, e na parte superior das costas. Fiz o mesmo comigo, passando também pelo meu peitoral e braços. Parecia que havíamos tomado sol no Havaí, não em Boston. Mas era óbvio, a falta de melanina nos deixava sensível daquela forma.
— O que seria de mim sem a minha namoradinha super preparada? — Ele questiona, e eu me sinto arrepiar com o termo que usa para me descrever.
— Nada. — Respondo, vendo ele sorrir, se olhando no espelho. — “Namoradinha”, hm?
— Desculpa, é mais forte que eu. Minha ficante séria. — Ele rebate, virando na minha direção e sorrindo aberto.
— Não existe isso de ficante séria, bebê. — Argumento, quase conseguindo ouvir o tilt do seu cérebro.
— Então… Ficante? Acho um tempo um pouco… Pouca coisa, para nós. Ficantes… Ou namorados?
— Não sei. O que você quer ser?
Meu questionamento faz Evans paralisar. Ele continua encarando o nada, sem mover um músculo. Sorrio com aquilo, e beijo a ponta do seu nariz, onde não havia creme, e então sigo para o quarto, deixando-o ali, pensativo.
Vou até o seu closet, puxando uma das minhas malas e tirando um pijama de moletom, confortável. Calça e top. Os visto após pôr uma calcinha de algodão e então penteio o cabelo com os dedos, retornando para o banheiro. Passo creme nos fios e uso um dos pentes dali, observando a pia de Evans e rindo ao perceber que nossos produtos já estavam misturados sobre o mármore branco e cinza.
— Preparei um filme, você quer ver? — Ele pergunta, unindo as mãos em dúvida. Fofo.
— Quero sim.
Aceito, pegando suas mãos e o sentindo me guiar para o quarto. Havia alguns doces ali, bobagens que adolescentes comem quando vão ao cinema. A luz do quarto é desligada e ele me deita na cama com cuidado, ficando ao meu lado, puxando meu corpo para um abraço.
O filme da vez é “Mamma Mia”, e Chris e eu dividimos o controle – que na nossa imaginação era o microfone – sempre que as músicas começavam, e quase engasgávamos de rir depois. E assim que acabou, com nós dois chorosos, ele passou para “Esposa de Mentirinha”. Começamos a assistir e dividir a comida.
— Acho fofo a forma como eles se apaixonam e nem percebem.
— Acontece assim quando é verdadeiro. — Comento, sorrindo boba para o casal, mastigando mais um daqueles ursinhos de gelatina.
— É engraçado porque os dois se conheciam há tanto tempo… O sentimento já estava ali, mas nenhum deles percebeu. — Ele pontua, me fazendo assentir.
— É.. Acho que trabalhar juntos fez os dois se acomodarem, sabe? Achavam que aquele sentimento era companheirismo de amizade.
Nós dois nos observamos ligeiramente após falar tudo aquilo, como se a mesma coisa tivesse passado por nossas mentes. Nenhum de nós fala nada sobre, mas é certeza que pensamos o mesmo. E então continuamos o foco no filme, parando apenas quando enchemos e ele tira a sacola de guloseimas do nosso meio.
O abraço outra vez, aconchegando meu corpo no seu, sentindo seu calor, e sinto seus braços me envolverem. Chris puxa meu queixo para cima, me fazendo olhá-lo, e me beija logo depois, nos lábios, e posteriormente nas bochechas, seguindo para a ponta do nariz e testa. Quase um ritual.
— Você estava falando sério quando perguntou sobre o que somos? — Ele pergunta em um sussurro, com o rosto quase colado ao meu.
— Não há para quê brincar.
— Scarlett, meu coração não aguenta essas coisas.
— Aguenta sim. Você é forte.
— Amor.. Você está falando sério? Namorados?
— Se você quiser.
— É óbvio que eu quero!
— É tudo o que nós já temos, certo? É sexo, é sentimento, é carinho... Mas com exclusividade. — Proponho, sentindo o meu coração bater mais rápido dentro do peito.
— Eu sou só seu. Eu prometo. — Ele diz, beijando meu nariz outra vez. E então meus lábios.
— Ótimo. Então eu sou sua.
— Minha namorada.. — Ele diz, sorrindo bobo, de orelha a orelha.
— Só sua. Quem diria, hm?
— Eu. Nos meus sonhos. — Sorrio de seu sorriso bobo, não me contendo. E então o beijo. — Não acredito que é real.
— Pode se beliscar. É real, Príncipe Encantado. Está namorando a maior juíza do estado.
— Ei, não. Espera.
Vejo Chris sentar na cama e procurar algo no seu celular. E então ele vira para mim, mostrando a imagem de um buquê de rosas vermelhas. Sorrio, maneando a cabeça em negativa, mas o sinto me puxar para sentar também.
— Perdoa o buquê de péssima qualidade, não tem nenhuma floricultura aberta agora. Mas.. Você quer namorar comigo?
Ele pergunta, e eu mordo o lábio, contendo um sorriso.
— Quero.
▰▰ // ▰▰
Eu nem fiz suspense pra esse, queria pegar vocês desprevenidas.
BOA TARDE BRASIL, O CASAL AGORA É OFICIAL
Dias de luta, dias de glória né amores.
Mas nem se empolguem com os capítulos felizinhos não, a partir do próximo, a investigação volta a tona. A serial killer ainda tá solta!
Nos vemos segunda!
Té mais, beijo
🌷
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