46. Um Peso do Passado
LEIAM AS NOTAS FINAIS!!!
Downtown, Boston
19 de janeiro, 18h
S C A R L E T T
O dia foi produtivo e exaustivo. Me dei folga, e a Margot. Ela precisava de descanso e eu precisava passar na minha casa. Deixei algumas roupas que não estava usando, e peguei outras, melhores e mais confortáveis. Saí de lá depois de trancar tudo, e quando cheguei na casa de Evans, ele já estava.
Passamos o fim de tarde juntos, e como nenhum de nós dois havia comido nada, eu o pedi para ir comprar algum lanche. Enquanto isso, tomei banho e deitei, esperando que ele voltasse. Sabia que havia dormido no processo, e agora acordava lentamente, sentindo o cheiro da comida e a massagem nos meus pés.
Evans possivelmente me percebeu sorrir, e fez cócegas nos meus pés para que eu acordasse. Senti seus beijos subindo pelo meu corpo quando eu cobri o rosto com o travesseiro, e ele puxou a peça, beijando minhas bochechas e depois a boca.
— Meu amor está cansadinha? — Questiona, e eu assinto. — Trouxe comida. E sobremesa.
— Fez o pacote completo. Parabéns.
— Eu aprendo rápido.
Ele estendeu a mão para mim, me levantando, e pôs uma bandeja no meu colo, com um hambúrguer, batata frita e um refrigerante. Uma refeição gordurosa como eu havia pedido e necessitava.
Nós comemos lado a lado, assistindo a ‘Uma Linda Mulher’. Era um clássico, e um dos meus filmes favoritos. Me fez apaixonar pelo Richard Gere e ainda mais pela Julia Roberts. Chris comentava diversos pontos comigo. Sorrimos por muitos pontos do filme, e na cena em que eles tem a primeira noite de sexo com sentimentos, nós já estávamos abraçados, cheios do jantar e em total silêncio.
Chris me abraçava e afagava meu cabelo, enquanto eu descansava sobre o seu peitoral e passava minhas unhas pela lateral do seu corpo, dedilhando as linhas das suas costelas. Aquele momento… Eu havia mentalizado ele para não esquecer. Nunca. Tudo o que nós passamos para estar exatamente aqui. Eu acho que.. Não, não acho. Eu tenho certeza que não poderia estar mais feliz, e com tão pouco. Com tanta simplicidade.
— Amor.. Minha bexiga vai explodir. — Evans diz, e eu não contenho o riso.
Afasto nossos corpos, vendo-o levantar e seguir para o banheiro. Pauso o filme e pego o celular, vendo duas chamadas perdidas e mensagens de Margot pedindo para que eu ligasse para ela urgentemente. O fiz sem pensar duas vezes, e ela atendeu ainda nos primeiros toques. Ouvi seu soluço de choro, me deixando ainda mais desesperada.
— Margot, o que aconteceu?
— Eu estou no hospital. E-Eu preciso ficar internada e meus pais estão com a Kenna. Por favor, Scarlett-
— Me dá o endereço, chego o mais rápido possível.
— É o Hospital Geral, na Blossom St, em West End.
— Tudo bem, meu amor. Eu vou me vestir e chego aí rapidinho, ok?
— Ok. E vem com o Chris. Por favor. É importante.
— Sem problemas, nós vamos. Fica calma, ok?!
— Está bem.
— Te vejo logo.
Desligo a chamada após ouvir sua resposta e levanto, vendo Chris voltar do banheiro. O explico a situação por alto, e ele se dispõe para ir dirigindo, alegando que eu ficaria nervosa demais para isso.
Me vesti, pondo uma calça jeans, regata solta e um cardigã por cima, e calcei um par de sapatos, imaginando o frio que faria lá, pelo fim da noite. Evans se vestiu novamente e pegou suas chaves. Levei carteira com documentos, celular e carregador numa bolsa mediana, e nós saímos.
Ele dirigiu o mais rápido que pôde, e durante o caminho eu trocava mensagens com Margot, a acalmando e tentando saber o motivo da sua internação, mas ela não disse. Mal conseguia digitar e queria me falar pessoalmente, alegando que estava muito mal consigo mesma.
Não havia como não ficar nervosa com essa situação. Não quando havia alguém infiltrado tentando me apagar. E se tivessem pego Margot? E se tudo isso fosse um jogo para finalmente me capturar, me matar? Usando minha melhor amiga de isca? Mas dentro de um hospital? Faz um pouco de sentido. Poderiam matar nós duas e fazer parecer acidente, acaso.
Ou pior, poderiam matar nós três. Não podia esquecer que Evans estava indo comigo. Me levando para o que poderia ser tanto um socorro para a minha melhor amiga, quanto uma emboscada para nós dois. E no fim das contas ele tinha razão, eu ficaria muito ansiosa no caminho.
— O quarto de Margot Robbie, por favor. — Peço a recepcionista.
— Margot Elise Robbie, quarto 505, ala E. A senhora ficará de acompanhante?
— Sim.
— Uma enfermeira irá buscar seus dados para a ficha. Pode ir.
Seguimos juntos para o elevador, subindo para o andar. Chris me guia, e nós logo chegamos ao quarto privativo. Bato na porta, entrando em seguida. Ela estava deitada, com o braço estirado e um acesso de soro. Uma enfermeira trocava a bolsa, tirando uma pequena, de 275ml e pondo uma maior, de 350ml.
— Oi.. — Digo, tocando seu braço. — Como você está?
— Exausta. — Ela diz, e tosse levemente. — Scar..
— Calma. — Peço, vendo-a lacrimejar. — Calma, ok? Eu vou ouvir o que tiver para dizer, mas preciso saber o que aconteceu com você.
— Ela teve uma intoxicação. — Ouço uma voz feminina. A médica entrava na sala, e chegou para checar Margot. — Como você está, Srta Robbie?
— Melhorando, eu acho. Pode explicar a ela o que aconteceu?
— Claro. — A mulher assente e me olha. — Nós fizemos as testagens de ovulação e gravidez, e deram negativo. Então eu pedi um exame mais a fundo. No laboratório, detectaram a presença de alguns componentes no organismo dela. Sedativos, anti-histamínicos e outras substâncias. — Ela diz, me entregando o papel.
— O mesmo sedativo que Mackie nos mandou no relatório das vítimas. — Digo, mostrando para Chris.
— Como? — A médica pergunta.
— Perdão, juíza e detetive Johansson, este é o detetive Evans. Estamos no meio de uma investigação e algumas das nossas vítimas tem sido drogadas com essas mesmas substâncias. — Explico, vendo-a assentir.
— Imaginamos que a Srta Robbie não estava tomando isso por conta própria, até porque um desses sedativos, e um dos fármacos são extremamente difíceis de se achar. Ela nunca teve histórico de drogas, então..
— Então estavam dopando ela.
Quem? Porque?
— O corpo dela estava começando a rejeitar os remédios. E talvez ela tenha parado de tomar, porque começou com os sintomas de abstinência, isso explica os enjoos, náuseas, ânsias e enxaquecas. Ela ficou hipersensível aos cheiros fortes, e isso indica que as substâncias vinham sendo inaladas ou ingeridas via oral.
— Sem gravidez, mas drogada. Yay. — Ela diz, levantando o polegar com pouco esforço. Eu sorrio, mesmo que quisesse repreendê-la.
— Fizemos uma lavagem estomacal para livrá-la de qualquer resquício disso no seu intestino, e estamos deixando-a no soro por, pelo menos, 12 horas. Ela fará uma pausa para se alimentar de sólido e água, e então mais 12 horas. Todo esse tempo estará em observação.
— Tudo bem. Obrigado por esclarecer, doutora.
— Não há de quê, detetive. Eu.. Normalmente não permito mais de um acompanhante, ou que permaneça qualquer acompanhante sem cadastro, mas.. A situação da Srta Robbie e o seu caso parecem ter ligação. Precisam de descrição?
— Toda possível.
— Então os dois estão autorizados a ficar. Irei avisar a enfermeira. Com licença.
Ela saiu, nos deixando a sós com minha amiga. Toquei sua mão, tentando lhe passar suporte, e a vi sorrir. Os lábios já estavam ressecados, os olhos cansados, mas eu via um pouco de alívio ali. Junto a tristeza. Uma mescla da sua situação.
Evans tocou meu ombro, me mostrando as mensagens do celular. Ele conversava com Mackie sobre as substâncias, e o perito o avisava sobre o sumiço de dois potes de cada uma daquelas que ele havia listado. Ele ainda não havia achado quem havia roubado, mas avisou que Sebastian estava trabalhando nisso.
— Você tem ideia de quem estava fazendo isso com você?
— Não. Eu não estava vendo ninguém, não estava saindo em público. Não queria me expor, nem a McKenna.
— Não foi ver ninguém além do Sebastian?
— Só meus pais, mas eles estavam em Newton, não sabiam do caso e, obviamente, não tem nenhum motivo para fazer isso comigo.
— Não, foi alguém daqui. É coincidência demais o sumiço dos remédios e isso com você. — Chris diz.
Meu cérebro apita para o óbvio. Fecho os olhos imediatamente quando percebo a verdade, e suspiro. Eu não queria ter que dizer aquilo em voz alta para Margot, e sabia que os momentos seguintes seriam dolorosos para ela. Logo agora que ela estava tão bem com alguém. Finalmente estava tentando outra vez.
— Foi ele. — Ela diz, e eu a olho. — Foi o Sebastian, não foi? — Pergunta, com os olhos imersos em lágrimas.
— Marg..
— Foi ele sim.
— É a única resposta, amor. Ele era o único que tinha contato com você. Era o único que poderia roubar os remédios.. As perguntas só levam a ele como única resposta.
— Então ele sabe. — Chris diz, e nós duas o olhamos. — Ele sabe quem é o assassino. Ele é quem o estava passando informações sobre o caso. Estava dopando Margot para que ela respondesse sem relutar, para que não se lembrasse do que disse. Ele é o infiltrado.
Margot apertou minha mão, e em segundos se entregou as lágrimas de uma vez. Me cortava o coração ao vê-la daquela forma. Não queria que fosse assim. Não queria que ela sofresse tanto. Ela não merecia.
— Foi tudo culpa minha, Scar! Ele chegou até você por causa de mim. Você foi ameaçada de morte por causa de mim! Porque eu fui burra. Porque eu só me envolvo com esse tipo de homem. Eu pus sua vida em risco.
— Margot, respira. Eu preciso que você se acalme. — Peço, enlaçando nossos dedos. — Não é culpa sua. Jamais será. Ele usou você. Ele drogou você, e sabe-se lá o que mais fez. Não é sua culpa, ok?
— Mas o risco que você correu, Scay!
— Não ligo. Eu estou viva, não é? Eu estou bem. Eu juro que não vou ficar com raiva de você, está bem? Eu sei que não fez por querer. Não é culpa sua.
Marg assente, se entregando a um choro silencioso. Era isso que eu imaginava que aconteceria quando ela soubesse, e era o que eu não queria ver. Eu jamais pensaria que ela foi responsável pelo que aconteceu a mim, pelas ameaças que sofri. Ela foi uma ponte, sim, mas contra a própria vontade. Sem saber. Sendo usada. Não poderia condená-la por isso. Não iria.
Ela descansou entre o choro, se entregando ao sono e exaustão. Apagou. Os batimentos continuavam suaves, a pressão estável, então eu puxei Chris para fora da sala. Senti seus braços em mim, envolvendo o meu corpo, e suspirei com o contato, sentindo minha mente pesar.
— O que a Marg quis dizer sobre só se envolver com esse tipo? — Ele questiona.
— Você nunca leu a ficha?
— Não. Sei que ela se sente confortável para deixar pública, mas.. Não sei. Nunca li.
— Ela teve um noivo uma vez. O pai da McKenna. No início era um amor com ela, mas quando ela engravidou, ele a sequestrou. A gravidez inteira foi um inferno para ela. Apanhava, teve sangramentos, quase perdeu a Kenna. E o noivo era traficante, peixe grande. Ela nunca se envolveu com isso, mas quando ele foi pego, quiseram pôr ela como cúmplice.
— Você quem interveio?
— Sim. Estava no final da minha pós-graduação em direito, já atuava como advogada. Ela só tinha 20 anos, a McKenna tinha 3. Dava para perceber que as duas sofriam com ele. Eu consegui provar que ela era vítima, tinha os exames que fez quando sofria as agressões e os relatos médicos sobre as manchas, cortes e pancadas no corpo dela. Estamos juntas desde então. Ela por mim, eu por ela, e nós duas pela Kenna.
— Não esperava por isso… imagino porque ela esteja tão magoada consigo mesma. Você a salvou de uma vida infernal e de nunca ver a filha, e ela, na mente dela, é culpada por assassinos conseguirem informações sobre você.
— Exatamente isso. Na verdade, provavelmente era um dos motivos pelo qual Sebastian estava a usando. Ele tentou me atingir de qualquer forma. Todas falharam.
— Que bom que falharam... O que vai fazer agora? — Ele pergunta, e eu dou de ombros.
— Esperar ela se recuperar e pegar aquele desgraçado. Mas antes de tudo preciso contatar os pais da Marg, avisar a eles que o Sebastian não pode chegar perto deles, muito menos da Kenna.— Digo, puxando o celular do bolso.
— Vamos para a sala. Ela pode acordar de súbito e precisar de nós. — Ele diz, e eu assinto, o seguindo.
Para um dia exaustivo, o fim de noite estava parecendo um inferno. E eu sentia que os próximos dias só tendiam a piorar. Queria tanto estar errada...
▰▰ // ▰▰
Oie!
Eu disse pra se prepararem, não disse?
A partir de agora é tiro atrás de tiro, podem pegar o colete.
AVISO:
Comentei no meu perfil ontem sobre estar passando por um bloqueio criativo intenso, e está piorando significativamente. Uncover já está toda escrita, completinha, por isso vocês não precisam se preocupar tanto. Mas esse bloqueio também tem afetado minha vontade de postar. E eu sei que os capítulos estão chegando numa parte tensa do livro, mas preciso que lembrem: caso eu pular algum dia de postagem, atrasar mais que o normal, não é por querer. Ultimamente só tenho entrado no Wattpad pra responder os comentários e mensagens. Não vou deixar de postar aqui, o aviso é só para caso eu atrase, dê uma sumida ou não responda vocês tão rápido como de costume.
Fiquem bem, se cuidem. Os próximos capítulos vem pra mexer com a cabeça e coração de vocês.
Até o próximo, beijo 🤍
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