36. Chame o Meu Nome
Não me responsabilizo por acessos de raiva durante o capítulo.
Boa leitura.
North End, Boston
05 de janeiro, 20h
S C A R L E T T
Evans realmente conseguiu me surpreender. Eu não estava pronta para a noite que ele tinha planejado. Sua explicação foi de que se nós não pudemos ir ao restaurante, ele faria o máximo para que a sala de estar se parecesse com uma. Então, após servir nossa comida, abriu uma garrafa de vinho, baixou as luzes, ligou duas velas eletrônicas na mesa e pôs música ambiente.
Tinha como ser mais perfeito?
— Mais vinho? — Pergunta, e eu assinto, lhe entregando minha taça.
— Obrigada.
— Por nada, gatinha. A lasanha está aprovada?
— Sim. Vai fazer outras vezes.
— Sempre que você pedir. — Se dispõe.
O loiro nega a minha ajuda quando levanto para levar o prato para a pia, e leva nossos pratos, deixando apenas as taças. Ele pega um potinho de sorvete na freezer e uma colher. Pego minha taça e ele pega a dele, seguindo para a sala de estar. Nos sentamos, deixando as taças na mesa de centro, e ele me faz deitar a cabeça sobre a almofada no seu colo.
— Você parou de fumar? — Pergunto, eu vejo assentir.
— Como descobriu?
— Seu cheiro. Desde a festa de réveillon que não senti mais o cheiro do cigarro em você. — Explico.
— Meu cão farejador. — Ele diz, beijando a ponta do meu nariz.
— Não sei se gosto disso ou não. — Digo, e ele ri. — Porque parou?
— Porque eu percebi que te incomodava. Mesmo quando você dizia que não.
— Chris, não precisava. Não me incomodava mesmo.
— Relaxa, gatinha. Não me faz falta. — Ele afirma, me fazendo abrir a boca para tomar do sorvete. — Cookies e caramelo.
— Meu favorito. Como sabia?
— Marg me contou.
— Então teve uma cúmplice?
— Sim. — Ri, tomando um pouco do sorvete. — Eu sei muito sobre você, mas seu sabor de sorvete sempre foi uma dúvida.
— Achei que soubesse isso.
— Não. Sempre fiquei na dúvida, sei que você gosta muito do cheesecake de morango, mas a Margot disse que prefere esse.
— É uma ligeira preferência, mas sim.
— Bom saber... Hm, posso te fazer uma pergunta? — Assenti. — Quando você quis me beijar pela primeira vez?
— É difícil dizer. Talvez sempre que eu era arrogante e você provocava, sem medo da morte. Quando me desafiava.
— Gostava quando eu te provocava? Revelações quentes.
— Nem sempre, playboyzinho, não vai se achando. Mas algumas vezes era interessante.
— Bom saber.
— E você, quando me quis pela primeira vez? — Pergunto, arranhando sua perna com as pontas das unhas enquanto esperava a resposta.
— Não sei dizer também. No início você era bem arrogante, mas eu achava bom. Era como um desafio para mim. Talvez a primeira vez que você elogiou o meu trabalho. Eu fiquei sem chão. Quis te beijar, e não me pergunte o motivo porque eu não sei. Mas eu quis. E aí foi de mal a pior. O desejo nu e cru, e crescendo…
— Crescendo quanto?
— Até se tornar o que é hoje.
— E o que é hoje? — Pergunto, arrumando minha postura.
— E-Eu não.. Acho que.. Próxima pergunta. — Pede, enfiando uma colherada de sorvete na própria boca e pegando mais para mim.
— Chris, você lembra que é só sexo, não é?
— Sim, eu sei. Eu lembro.
— Você não está sentindo nada demais por mim? — Pergunto, e ele permanece calado. Suspiro, me sentando, ficando de frente para ele. — Chris, eu não posso te corresponder agora e.. Eu não quero te fazer mal, meu bem. Então se você estiver sentindo algo, me diz. Por favor. Porque aí nós-
— Nós paramos de nos ver. Não é isso?
— É. Me desculpa, mas eu não posso estar com você sabendo que sente algo por mim e sabendo que eu nunca vou sentir o mesmo por você. Não é justo com você, Chris.
— Nunca vai sentir?
— Não. Eu preciso ser sincera, não é? Estou sendo. Então… Você sente algo?
— Não. — Ele responde sem hesitar, mas não me olha nos olhos. — Não sinto.
— Está sendo sincero ou está dizendo isso porque não quer acabar o que temos?
— Estou sendo sincero. Até porque não temos nada. É só sexo. — Ele diz, mas parece ser mais para si, então não contesto.
O vejo mexer a colher no pote de sorvete mas sem pegar nada. Chris não me olha, não fala nada. Nós dois permanecemos quietos, eu o olhando e ele me evitando. Eu queria resolver aquela situação, mas não sabia como. Não fazia ideia de como contornar aquilo, porque eu sabia a verdade dele. E me matava por dentro saber que cada palavra minha era verdade. Eu não poderia corresponder ele agora.
— Você quer mais? — Pergunta, e eu maneio a cabeça, negando.
— Eu.. Estou cheia. Vou subir e tomar um banho, ok?
— Eu levo sua mala, pode ir na frente.
Não hesitei. Subi, indo direto para o quarto de Chris. Tudo o que martelava na minha mente naquele momento era se eu tinha feito a escolha certa em vir para cá. Mas não havia outro lugar onde eu pudesse ficar. Não poderia expor os Hemsworth, não poderia expor Marg e Kenna. Eu não estaria segura em lugar algum, mas ao menos aqui garantia que ninguém sofreria.
Sabia que Chris poderia se defender muito bem caso acontecesse algo, mas qualquer pessoa que nos conhecesse minimamente saberia o quão impossível era ficarmos no mesmo cômodo. E seja lá quem está passando as informações de dentro, garanto que também passaria essas. Então aqui talvez fosse o último lugar onde viriam me procurar.
Enquanto continuava pensando nisso, adiantei meu banho. Lavei bem o corpo e cabelo, secando no secador assim que saí, enrolada na toalha. Vi quando Evans entrou, de cabeça baixa, tirou a roupa que estava e foi direto para o box. Meu pressentimento me dizia uma coisa, mas eu não queria pensar nisso. E foi bom, porque acabei sendo distraída pelas mensagens no celular. Abri o app, vendo o número de quem era e, mesmo sem vontade, abri o chat de mensagens.
“Oi Scar, é a Kate! Você não deu notícias então eu vim passar para avisar que o casamento foi antecipado por uns imprevistos. Vai acontecer dia 12. Como eu não sei seu endereço, estou mandando o convite por foto.
Dá um oi quando puder <3”
Eu sorri. Foi inevitável. Era adorável a forma como ela estava tão preocupada com a minha presença no casamento quando paramos de nos falar há mais de dez anos. Eu ainda tinha um carinho grande por Kate, mas não sabia se estava pronta para rever minha família no próximo fim de semana, então mandei uma das minhas mensagens automáticas por estar fora do horário de trabalho e responderia amanhã, quando tivesse coragem.
— Achei que estava no quarto. — Evans diz, saindo do box com a toalha enrolada na cintura e quase o corpo inteiro molhado.
— Me distraí vendo uma mensagem. — Explico. O encaro, percebendo imediatamente que estava certa sobre o meu pressentimento. — Chris.. É por isso que eu não gosto de conversar sobre sentimentos. Sobre "nós", mesmo que não exista nada.
— Porque?
— Você chorou, eu consigo ver. — Digo e ele me encara, curioso e com os olhos ainda vermelhos. — Isso não está dando certo.
— Está sim! É só que… Nós estamos… Eu estou me deixando levar, mesmo sabendo que não posso. Eu quero ter o que você não quer, mas está tudo bem! Eu sei seus limites e não estou impondo nada. Estou?
— Não. Mas eu não consigo continuar assim, Chris. Não quando eu sei que você sente por mim e eu não vou poder te corresponder. É como se eu tivesse usando você. Como se estivesse prendendo você a mim.
— Não é! Não é porque eu sei o que eu sinto, e eu já entrei nessa sabendo que você não queria nada.
— Não me parece certo. Não pode ser assim, você deveria estar com alguém que seja recíproco com você! — Digo, e o vejo se aproximar, cercando meu corpo na pia de mármore.
— Eu estou ficando com você, e só quero você. Eu procurei alguém que fosse recíproco comigo e não encontrei. Você não está me prendendo porque eu quero estar aqui. Quero estar com você, Scarlett! Mesmo que você não esteja pronta para relacionamentos. Mesmo que nunca vá estar. Hoje eu quero você. E enquanto você me quiser, mesmo que seja só um pouco, mesmo que seja só para sexo, eu vou estar aqui. Eu vou ser seu. — Ele desabafa, segurando meu rosto com as duas mãos.
Eu encarava os olhos de Chris, abalada por cada uma daquelas palavras. Sentia meu coração oscilar nas batidas, sem saber exatamente como eu me sentia com aquilo. Mas deixei escapar um sorriso. Chris sorriu de volta e me puxou para um beijo. Suspirei, me sentindo mais calma, e correspondi.
Eu me sentia confortável com ele e sabia que estava cada vez mais com o passar do tempo. Chris era... Era de longe o melhor parceiro que já tive. Eu não tinha tanta experiência assim com relacionamentos, até porque nunca estive em um. Nunca senti a urgência em namorar, em ter alguém ou “ser” de alguém.
Mas com ele... Eu gostava.
Sempre me afastava quando percebia que o sexo estava virando algo mais, mas com Chris eu não consigo. Eu ameaço deixá-lo, para ele e para mim mesma, mas eu sei que não consigo. Eu sei o bem que ele me faz, eu sei como ele está me ajudando a ser uma pessoa melhor em muitos aspectos, e eu não consigo ignorar isso. Eu só não queria que ele perdesse seu tempo comigo.
Ele merece uma família. Como Hemsworth tem. Uma esposa, filhos. Eu vejo o olhar que ele sempre deu a Kenna, a Sasha, India e Tristan. Ele quer aquilo. Ele quer dar um neto a mãe, um sobrinho aos irmãos, como Carly fez. Mas ele precisa de alguém que queira o mesmo. O tempo está passando e vai ser cada vez mais difícil se ele continuar estagnado comigo. Isso é que me entristece.
— Chris... Posso fazer uma pergunta? — Peço, afastando nossos rostos.
— A resposta vai te aborrecer?
— Não. Eu já imaginei todas as respostas possíveis, mas eu preciso ouvir da sua boca.
— Então pergunte. — Ele responde, relaxando as mãos nas minhas pernas.
— Por que você sempre mente quando eu pergunto se sente algo por mim?
— Mas eu não-
— Mente sim. — O interrompo, fazendo o loiro se calar. — Nós dois sabemos.
Chris suspira, possivelmente percebendo que eu não acreditaria em qualquer coisa que ele dissesse. Eu precisava que ele fosse sincero comigo, e ainda mais consigo mesmo. Se o que eu imaginava era verdade, ele precisava admitir.
O loiro se aproximou mais de mim, beijando minhas duas bochechas e subindo as mãos para a minha cintura, apertando o local. Ele estava criando coragem, por isso não pressionei, mas quando ele passou tempo demais em silêncio, eu o encarei e ergui uma sobrancelha. Apenas isso, e então ele começou.
— Eu só.. Precisava organizar minhas ideias.
— Tudo bem.
— É que.. Já está bem óbvio que eu gosto de estar com você. E... Eu não sei. Só é muito bom. Você me entende, você me ajuda.. Não tem pessoa que eu gostaria mais de ter por perto. E é estranho porque eu sempre fui um cara que gosta muito de liberdade, gosto de estar no meu espaço e sem pressão, mas.. Ter você aqui, comigo, é muito melhor. E não é por causa do sexo, é porque.. Eu.. Hm, eu..
— Sente algo por mim. Não é isso? — Questiono, percebendo o quanto ele gaguejava.
Chris não responde. Não com palavras. Ele gagueja e cora. Eu sorrio e o puxo, beijando seu pescoço e lhe dando um selinho. Ele sorri.
— Há quanto tempo sente.. isso? Seja lá o que você sente.
— Não sei. Acho que eu sempre senti, mas encobri com o ódio. Só que agora estamos tão... sabe? Que.. Eu nem consigo disfarçar. Nem mentir. Me desculpa, eu sei que você não queria nada disso mas-
— Ei, calma, ok? Eu admiro sua coragem e sinceridade, é legal isso. É importante. Eu só espero que você realmente tenha consciência de que eu não sinto o mesmo, e que não se prenda a mim na esperança de que um dia eu vá sentir, porque eu não vou, ok?
— Eu sei. O que eu sinto é responsabilidade minha, Scar. Eu sei seus bloqueios e não quero nem pretendo ultrapassar nenhum deles. Você é.. Você é a mulher mais incrível que eu já vi na vida, então... Quando tudo isso aqui acabar, eu vou lembrar de você com todo o carinho que eu sinto agora.
— Estou feliz que está sendo sincero, meu benzinho. — Digo, e ele sorri ao ouvir isso. Talvez pelo apelido. — Vem aqui.
Puxo o loiro pela nuca, vendo seu sorriso ladino, e lhe beijo. Era incrível a forma como as conversas e os sentimentos expressados mudavam tanto a forma como nós dois nos tocávamos. O beijo durou, e durou muito, e foi um dos melhores que já demos. Eu sentia tudo ali, inclusive tudo o que eu tinha tanto medo de sentir. Mas, mais uma vez, eu me sentia leve só de estar com ele. Era incrível.
— Você vai me odiar se eu disser que estou com desejo agora? — Questiono, afastando um pouco nossos rostos.
Chris cola a testa na minha, respirando devagar, já começando a ficar ofegante, e beija minhas bochechas antes de começar a falar.
— Minha pimentinha.. Eu prometo que sempre vou odiar você, para sempre, mas entramos nessa pelo sexo, não foi? — Questiona, e eu sorrio, voltando a lhe beijar.
▰▰ // ▰▰
Olaa!
Uma DRzinha é sempre bom, né? Colocar os sentimentos no lugar...
Espero que estejam gostando, segunda trago mais um capítulo e numa pegada mais sentimental como essa também.
Até lá, beijoss
🌷
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