33. Um Rosto Já Conhecido
Downtown, Boston
02 de janeiro, 8h
S C A R L E T T
Pela primeira vez em muito tempo eu havia acordado verdadeiramente disposta para ir trabalhar. Havia acordado cedo, cantarolado no banho e tomado café em casa, e isso já era coisa demais para uma manhã só. Vesti saia, aproveitando o calor intenso do dia, e compus com blusa social, blazer e saltos. O cabelo solto, como já havia virado costume, e segui para o trabalho.
Tive medo de que toda essa animação acabasse no caminho ou na chegada, ou que fosse um prelúdio para alguma notícia ruim, que abalaria o meu humor pelo resto do dia, semana ou mês. Mas não. Tudo estava certo, em seu devido lugar. Todos no fórum já em seus postos, esperando bater o horário, Margot com meus compromissos do dia, Hems, Evans e Betty conversando e bebericando seus cafés, como de praxe.
Como eu havia sentido falta.
— Bom dia! — Desejo, passando por eles, parando para lhes desejar o famoso “feliz ano novo”, e dar um abraço em Betty.
— Ano novo, personalidade nova. — Hems diz, me fazendo rolar os olhos.
— Não conte com isso. — Disse, passando direto por ele e ignorando Evans, mantendo as aparências.
— Bom dia, Johansson. — O loiro provoca, e eu continuo andando, o ignorando ainda mais.
— O jeito que ela te odeia… — Hemsworth diz, mas eu fecho a porta antes que consiga ouvir o fim da frase.
Organizei minha bolsa, tirando o necessário e a pondo de volta no canto da mesa. Liguei o computador e me sentei, abrindo as pastas e deixando em fácil acesso tudo o que precisava para o momento, começando o trabalho do dia. A vantagem de ter trabalhado nas folgas, além do dinheiro, era ter conseguido adiantar coisas que me ocupariam mais hoje, e isso me deixou minimamente mais livre.
↢ ❦ ↣
Foram algumas horas trabalhando quase sem interrupções até o horário do almoço. Minha coluna doía e o estômago queimava, eu precisava de uma boa massagem e um delicioso almoço. Agradeci mentalmente quando bateu meio dia e liberei Margot. A coitada estava para lá e cá por todo o dia sem descanso.
Peguei minha bolsa, carteira e celular, parando para responder algumas mensagens. Ouvi alguém bater na porta e mandei que entrasse, ainda focada no celular. O perfume me indicou quem era, e o som da tranca da porta sendo girada após a maçaneta deixou ainda mais óbvio. Segundos depois, senti as mãos na minha cintura e o beijo no meu pescoço. Uma de suas manias que eu também já estava acostumando.
— O que você quer, Evans? — Questiono, encarando o celular, lendo as mensagens.
— Um beijinho. — Pede, girando meu corpo.
Chris desce minha mão e segura meu rosto, me fazendo lhe dar um selinho longo. Ele me ergue pela cintura, me pondo sobre a minha mesa e ficando entre as minhas pernas. O beijo se intensifica, e eu deixo o celular sobre a mesa, puxando o loiro para mais perto pelo colarinho da camisa social.
— Odeio tanto quando você vem de saia. — Evans diz, quase em um rosnado, subindo o tecido da peça.
— Achei que fosse só um beijinho. — Digo, beijando seu pescoço.
— Pensei em propor uma rapidinha, como você gosta. O que acha? — Pergunta, passando a mão pela barra da minha calcinha, esperando por minha resposta?
— Não pode passar de cinco minutos. — Alerto, e o vejo sorrir malicioso. — Onde estão os outros? — Pergunto, desabotoando sua calça.
— Hems foi almoçar com a Elsa, ela viaja hoje. Betty e Margot foram almoçar juntas. — Explica, massageando minhas coxas.
Ia lhe responder, mas sou impedida de falar quando ouço meu celular tocar. O nome do capitão da 55ª aparece, e eu pego o aparelho, atendendo a chamada e empurrando Chris, impedindo seus toques em mim enquanto eu falava.
— Scarlett?
— Oi Ed! Aconteceu algo?
— Sim. Mas notícias boas. Muito boas por sinal.
— Ótimo, é o que eu estou precisando. — Digo, e ouço o homem sorrir.
— A equipe interna encontrou sinais de arrombamento em uma das casas que mapeamos como possível futura cena de crime. Estamos mandando a força especial para lá e os policiais a paisana continuam observando. Podemos estar perto, e hoje completam oito dias de desaparecimento, então podemos ainda estar com sorte!
— Isso é ótimo! Você precisa de mim para algo aí? Estou no fórum hoje.
— Por enquanto não, mas eu vou te manter informada a cada passo, se conseguirmos achá-las, te aviso.
— Muito obrigada, Ed. E sorte para a equipe!
Desligo a chamada me sentindo extasiada, e desço da minha mesa, explicando a situação para Chris, descendo minha saia e abotoando a calça do loiro. Nós dois estávamos felizes pelo avanço, mas o clima para sexo, mesmo que rapidinha, havia passado completamente. Ao menos era por um bom motivo.
— Está me devendo uma rapidinha. — Chris diz, me fazendo rir.
— Põe na conta amor, quando tiver tempo eu faço melhor que isso. — Digo, num sussurro, abrindo a porta da sala e saindo com ele. — Vai almoçar?
— Sim senhora. Vai agora?
— Vou.
Num acordo silencioso, saímos lado a lado, indo em direção ao elevador, descendo e saindo do fórum. Caminhamos até um dos restaurantes de esquina, encontrando Betty e Margot lá. Vi os sutis olhares da minha amiga para mim, mas ignorei ou cairia na risada. Betty por outro lado sequer percebeu ou deu a mínima. Ótimo.
Fizemos os nossos pedidos e enquanto aguardávamos, Margot nos contava sobre suas últimas provas, as questões e as notas, e Evans endossava o assunto, falando sobre magistratura com ela. Não sabia se aquela era uma das vontades de Robbie, mas estava pronta para apoiá-la como sempre fiz, e como estava fazendo atualmente com Chris.
— Saudades da Kenna, onde ela está?
— Com meus pais, aproveitando as férias. Iria voltar hoje mas pediu para ficar por lá.
— Bom que te dá um tempo para descansar. — Gab diz, e a loira concorda. — Ter filho é dose.
— Não é nada fácil. — Rob diz. — Você quer, Chris? Pretende ser pai algum dia?
— Quero. Acho crianças incríveis, conviver com meus sobrinhos foi uma das melhores partes da minha vida. — Ele diz, com um sorriso genuíno.
Aquilo me faz pensar, me faz hesitar, mas não consigo não sorrir quando ouço Marg e Gab esboçarem um “aww” em coro. Eu não imaginava que ele queria filhos, mas me lembrar dele com os sobrinhos fez isso ser bem perceptível. Chris será um pai incrível, mas precisa de alguém que queira o mesmo que ele. E esse alguém não sou eu.
Quando o almoço veio, eu permaneci quieta. E enquanto comia, pagava a conta e voltava para o trabalho. Os três conversavam animadamente sobre assuntos que mudavam constantemente, mas eu não conseguia conversar. Estava presa aquele pensamento, na ideia de que eu tinha que ser objetiva com ele sobre minhas vontades. Mas ele já sabia, de certa forma, então era mesmo necessário dizer?
— Scar? O Capitão Edward. — Marg diz, passando o ramal da assistência. Pego sem hesitar, curiosa para saber o que era e porque ele não havia ligado para o meu celular.
— Ed? Alguma novidade?
— Achamos!
— Sem chance!
— Eu juro! Assim que a equipe especial chegou ao lugar, uma delas estava saindo da casa. Está ferida e sonolenta, possivelmente drogada. A outra estava presa no sótão da casa, desacordada mas viva. As duas estão sendo levadas para o hospital, vamos ver o que conseguimos.
— Perfeito! Quero que isole a área em que elas estiverem, ok? Ninguém passa além da polícia e corpo médico.
— Claro, procedimento padrão. Te espero no hospital?
— Sim, sim. Estarei saindo em minutos.
— Ótimo. Até logo.
— Até.
Desligo a chamada, passando o ramal para Margot e lhe contando da situação. Conto também a Evans, que era o que estava envolvido no caso, e volto para a minha sala, reorganizando tudo. Haviam grandes chances de que eu saísse direto do hospital para casa.
Com tudo no lugar, peguei a bolsa e saí após desligar o computador, trancando a sala assim que passei da porta. Vi Evans de pé e começamos a andar para fora do local juntos. Dessa vez fomos em carros separados, pois havíamos vindo de lugares diferentes, mas com um seguindo o outro pelo trânsito, chegamos juntos ao hospital.
— Detetives Johansson e Evans, onde fica o 446? — Pergunto, lhe dando o número do quarto que Ed havia me passado.
— Terceiro piso, após a sala de recepção.
— Obrigada.
Subimos juntos, vendo policiais conhecidos na entrada e saída do elevador, na sala de repouso, corredor e porta do quarto onde as duas estavam. Lá dentro havia mais um, junto ao detetive, que conversava com uma das vítimas. Ver as duas vivas, mesmo que judiadas como estavam, me deixava muito mais tranquila. Ao menos eu sabia que havíamos conseguido salvar duas inocentes.
— Estava ansioso para que chegasse.
— Qual a situação agora?
— Angeline Forbes está desacordada. Os médicos a levaram para desintoxicação, lavagem estomacal, procedimento padrão de overdose. E Samantha Brown é nossa ovelha dourada. As drogas não funcionaram no organismo dela, ela não esteve dopada em nenhum momento, apenas fingiu. — Ed explica, e eu encaro a ruiva, vendo ela assentir, confirmando.
— Não vi muito, ficamos presas em um quarto bem fechado e escuro, e sempre que ia sair, seja quem fosse, sempre estava mascarado, e colocava vendas em nós, nos dopava e amarrava mãos e pés. — Ela explica, e eu vejo Chris anotar os detalhes.
— Não se preocupa, tem uma escuta desde que eu cheguei aqui. — O capitão diz, e eu assinto.
— Pode vontinuar, Brown.
— Eu ouvi os sequestradores conversando uma noite. Brigando, na verdade.
— Ouviu nomes?
— Era um casal. Ele a chamava de Care, e ela o chamava de B. E eu consegui ver o rosto dele de relance, mas ainda me lembro muito bem. Memória idética. — Ela pontua, e eu agradeço aos céus silenciosamente.
— Quero um desenhista técnico aqui em meia hora no máximo. — Solicito, vendo Edward assentir e pegar o celular. — O que mais?
— Eles discutiam porque ele não apoiava o que ela estava fazendo. Disse que não chegaria a lugar algum fazendo aquilo, que vingança não a levaria a nada, e que ela precisava parar de estragar a vida dele e sumir.
Ela explica pacientemente, como se estivesse se esforçando para lembrar dos detalhes.
— Ficaram repetindo as mesmas coisas diversas vezes, até um dos dois ir embora. É difícil dizer porque eu nunca via nada do corpo, sempre tinha que fingir estar dormindo, então não sei se quem estava com a gente era ele ou ela.
— Você já ajudou muito, Sam. Como está se sentindo?
— Exausta, com medo. Mas grata que se empenharam e nos acharam. — Ela diz, dando um sorriso genuíno.
— Vai ficar tudo bem. Sua família será avisada assim que for seguro, e levaremos você e ela para um lugar secreto, seguro, até que tudo isso acabe. — Digo, tocando sua mão, sentindo-a apertar a minha.
— Você é uma boa pessoa, detetive.
— É para isso que estou no meu trabalho. Vou deixar você descansar até o desenhista chegar. Se precisar de algo, pode chamar.
— Obrigada.
Chris, Edward e eu saímos, indo direto para a sala de espera. Evitamos falar do caso por não saber quem eram aqueles que estavam ali perto, e aguardamos o técnico chegar enquanto debatíamos outros assuntos. Ele não demorou, e quando chegou, o deixamos na sala com ela e um policial. Esperamos ansiosamente, com o coração quase rasgando o peito. Independente de quem seria, nos deixaria muito perto do culpado.
— Está pronto. — O desenhista diz, nos chamando de volta para o quarto. — Aqui está.
Ele nos entrega o papel, e eu observo cada detalhe daquele rosto, daquele desenho. Encaro Samantha, e não hesito em lhe perguntar diversas vezes se ela tinha certeza de que aquele rosto era o que ela tinha visto quando estava desaparecida. Nós o conhecíamos muito bem, e recentemente o havíamos apreendido pela segunda vez.
— Brandon Waters.
▰▰ // ▰▰
Eita bbs
Eu disse que o circo ia começar a pegar fogo...
O próximo cap é um pouco mais tenso, vocês já podem imaginar, mas garanto que tá bom.
Nos vemos sexta!
Beijoss
🌷
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