10. Dilemas Internos ou Sentimentalismo
North End, Boston, Massachusetts
16 de dezembro, 16:40h
C H R I S
Já havia levado o Dodger para passear, já havia feito uma boa caminhada, e ido comprar tudo para um lanche de fim de tarde, e agora estava distraído, fritando bacon, fugindo um pouco da dieta. Não sentia vontade de comer, mas precisava. Tudo o que eu queria era andar. Andar pelo parque de Boston, como eu fiz ontem. Andar de moto pela cidade. De novo.
A garrafa de plástico batendo contra a minha cabeça me chamou a atenção. Virei o torso, vendo Scott me encarar com interrogações invisíveis sobre a cabeça, cenho franzido, sobrancelhas arqueadas e um meio sorriso no rosto. Devolvi a garrafa, acertando seu peitoral, e voltei a atenção ao meu bacon.
— Você está surdo? — Pergunta, chamando minha atenção de novo.
— Não. Não te ouvi chamar. — Fui sincero, pondo o bacon frito no prato. — O que foi?
— Perguntei se a comemoração do dia 21 poderia ser aqui. Steve iria fazer lá mas como a casa dele é alugada e a proprietária mora em cima, ele não quis-
— Tá, pode ser aqui. — Respondo, dando metade de um bacon à Dodger.
— Você está rabugento hoje. O que aconteceu?
— Nada.
— Você não me xingou por ter te chamado de rabugento. Definitivamente aconteceu algo. Pode começar a falar. — Manda, pegando um mini croissant da mesa.
— Não foi nada, Scott.
— Ok... Usei seu capacete reserva e está com cheiro de shampoo de frutas, e sua jaqueta está com algum perfume feminino caro, vou supor que encontrou alguma ficante e as coisas não foram muito bem.
— Trocou de lugar agora? Você é o detetive? Insistente.
— Achei que já soubesse que sou chato. Quem foi a da vez?
— Eu só levei a Johansson em casa depois da festa dos gêmeos. — Respondi, e ele semicerrou os olhos na minha direção.
— A festa acabou cedo, Chris. O que está me escondendo? Não me diz que você pegou a Scarlett... Chris... Você pegou a Scarlett?
— Não! Deus me livre! Depois da casa do Hems, eu levei ela no parque de Boston, Margot me pediu, ok?! Ela precisava espairecer, precisava respirar.
— E depois?
— Conversamos, passamos um tempo lá, depois eu a levei em casa.
— Não explica como chegou tarde em casa.
— Ah meu Deus! Eu fui ver uma amiga, Scott. Satisfeito?
— Não, que amiga é essa? Tara?
— Caroline. Você não conhece. Eu a conheci num bar.
— Como ela é?
— Baixinha, loira, branquinha, olhos claros, algumas tatuagens, magrinha... Nada demais. Nós só nos encontramos para transar.
— Então... Você passou a tarde com a Scarlett, fez companhia a ela com uma certa proximidade que normalmente não existe entre vocês, porque sua jaqueta veio com o cheiro dela, e depois de deixar ela em casa, você foi transar com uma mulher que é igual a ela? Interessante.
Sua constatação me faz pensar. Havia sido um acaso, é claro. Eu até então não havia percebido como Caroline era parecida com Scarlett, e pensando nisso agora me fazia sentir estranho. Enjoado, talvez, em imaginar algo com a Johansson. Oh, Deus, não. Não, não, não!
— Te peguei desprevenido, não foi? Que bom, te faz pensar.
— Me poupa, Scott. Foi só coincidência.
— Foi mesmo, Christopher?
— Foi, e eu não vou discutir. Scarlett é minha chefe, não vai e nem pode acontecer nada entre nós. — Rebato, e ele dá de ombros.
— Se você diz, eu acredito.
Ficamos em silêncio, e eu agradeço aos céus por isso. Não tinha paciência alguma para ouvir Scott falar mais baboseiras de que eu precisava de uma namorada fixa, que não podia nem devia continuar nessa vida.
Não é como se eu não quisesse namorar. Eu quero, mas achar alguém ideal, que queira as mesmas coisas que eu quero é complicado. Conhecer uma pessoa nova é complicado. Ainda mais com o trabalho que eu faço diariamente. Quero alguém que eu já tenha amizade, que não precise passar por todo o processo de conhecimento. Porque isso sim é chato.
Mas, pensando por essa vertente, não há qualquer mulher no meu círculo de amizade capaz de ocupar essa vaga. Ou elas não fazem meu tipo — para namoro —, ou são amigas muito próximas. Ou, no caso da Johansson, me odeia. E o ódio é mútuo.
Ainda estou realmente surpreso que ela tenha aceito trabalhar comigo e fazer tanto ao meu lado, incluindo me ajudar e aceitar as coisas que eu proponho. É um bom passo, talvez ela esteja querendo ficar mais próxima para me avaliar. E eu preciso da ajuda dela para conseguir minha magistratura. Preciso alcançar o cargo dos meus sonhos.
Não, eu não estou me aproximando da Johansson só por isso, não sou um sádico, lunático com mentalidade de adolescente. É bom tê-la por perto, trabalhar com ela e ver ela trabalhar, como a mente dela funciona extremamente rápido. Ela me inspira as vezes. Mas a sua ajuda com certeza é muito boa para isso.
E agora que Margot me pediu para lhe fazer companhia sempre que puder, não consigo me afastar. Ver o lado sentimental dela, a detetive com mais prisões em três anos consecutivos, a juíza que dá as piores e mais altas sentenças, é bom. Saber que minha chefe realmente é humana, que tem coração. E que, talvez, com o esforço certo, seja capaz de me aceitar como, pelo menos, um amigo.
Resta saber qual é esse esforço. O que eu preciso fazer para ela?
— Hey! Steve está perguntando se topa uma partida de D&D mais tarde. Na casa dele.
— Passo. Tenho que preparar uns arquivos para amanhã.
— Se eu voltar e você estiver assistindo Senhor dos Anéis e não tiver feito nada, você vai ver só.
— Você fala demais. Vai lá ver seu namorado, vai.
— Ele não é meu namorado, e você sabe.
— Por falta de vontade sua que não é. — Digo, vendo-o rolar os olhos. — Vai lá, vai. Trás pizza quando voltar. E se não for voltar, avisa cedo para eu poder pedir a pizza.
— Ok!
Scott saiu do meu quarto, me deixando sozinho. Puxei o Macbook para o colo, ligando-o e puxando a pasta de arquivos do caso. Estávamos em defasagem de pistas e suspeitos. Eu queria adiantar o trabalho. Havia realmente muita gente em perigo. Iria fazer meu trabalho. E iria ser bem feito.
↢ ❦ ↣
Downtown, Boston, Massachusetts
17 de dezembro, 8:00h
N A R R A D O R
O dia havia começado agitado para todos. O inverno os atingira com força, trazendo ainda mais frio após o fim de semana quente, e ventos fortes por toda a cidade. Boston inteira estava quase coberta em neve fina e espessa, que começava a cair pouco a pouco.
Na promotoria e procuradoria de justiça, os advogados, detetives e outros oficiais já se juntavam para conversar e começar o trabalho do dia, de mais uma semana. Hemsworth, Betty, Margot e Evans já estavam em seus postos. Em frente à sala de Hemsworth, conversando sobre o fim de semana.
Margot evitou fazer perguntas sobre a saída de Evans e Johansson. Ela era a única que sabia que eles haviam ido para o parque juntos, pois Evans levou Johansson a pedido dela. Os dois trocavam olhares divertidos, deixando suspeitas sobre os outros ao redor.
O toque do elevador chamou a atenção. Apenas uma pessoa faltava chegar ao andar deles. A loira saiu do elevador dando curtos passos, checando a bolsa pendurada no ombro. O celular na mão esquerda a atraía. Vestia uma calça de alfaiataria preta, slim, justa e longa. Uma blusa de lã em manga longa e gola alta, também preta. Saltos fechados e finos, subindo até o tornozelo. E, quebrando toda a cor, um sobretudo branco, lhe dando um ar minimamente mais leve.
Mas o que surpreendeu a todos foi o cabelo solto.
Ela nunca o usava solto, em nenhuma ocasião. Sempre era um coque baixo, todo preso para trás. No mais, alguns fios desordeiros sobre o rosto que se soltavam durante o dia, mas nessa manhã decidiu acatar ao pedido de Evans. E ela estava linda e radiante, era o que muitos ali estavam pensando ao mesmo tempo. Scarlett se aproximou dos quatro, atraindo sua atenção, e parou próxima a eles.
— Eu acabei comprando dois frapuccinos sem querer e estava atrasada demais para reclamar ou devolver, alguém quer?
— Como eu vou saber que não está envenenado? — Hemsworth pergunta, atiçando a colega.
— Eu não ofereceria para a Margot ou para a Betty. — Scarlett rebate.
— Justo. — Hemsworth responde, pegando o copo em seguida.
— Você — Scarlett aponta para Evans. —, na minha sala, agora. Aos demais, bom dia.
Ela tornou a andar, caminhando em direção a sala e destrancando a porta. Evans entrou logo após e fechou a porta atrás de si. Do lado de fora, os três se entreolharam, de olhos semicerrados um para o outro, como se tentassem descobrir algo. Ou descobrir se algum dos outros na rodinha sabia de algo.
— Ok... Eu tenho uma teoria. — Hemsworth diz, chamando a atenção de Margot e Betty.
— Lá vem...
— Chris transou no sábado. E a Scarlett está estranhamente felizinha. Qual é, como assim ela não quis reclamar com um pobre e inocente atendente? Ainda mais num dia em que chegou atrasada?! Na-ham...
— Eu ainda estou curiosa sobre como você sabe que o Evans transou. — Margot pergunta, se arrependendo logo em seguida.
— Ele me conta.
— Vocês contam um para o outro quando transam? — Betty questiona, franzindo as sobrancelhas.
— Vocês não?
— Sim, mas achávamos que homens não faziam isso. — Margot responde. — Enfim, não acho que tenha rolado nada entre os dois.
— Jura, Robbie? Eles estão bem mais próximos desde que começaram a dividir o caso. Andam de conversinha todo dia, e ele a levou em casa sábado.
— Ele deu carona a ela porque eles moram no mesmo bairro. E é normal que estejam de conversinha, eles estão resolvendo um caso juntos! — Margot defende.
— E o que você sabe? Está com cara de quem sabe algo dos dois.
— Eu não sei de nada.
— Mesmo?
— Mesmo.
— E você, Betty?
— Nem conte comigo, se a Margot não sabe, eu sei ainda menos.
— Ótimo! Vou precisar espremer informações do Chris.
— Hems, olha... Se estiver mesmo acontecendo algo entre os dois, não acha que é melhor ninguém se meter? Sabe como a Scarlett é estourada e se não contou a ninguém é porque não quer que ninguém saiba.
— Margot, você é sempre tão inteligente. Mas tão ingênua a pensar que eu sou maduro a esse ponto. Eu sou uma criança da quinta série num corpo de 1,92cm. Já deveria saber.
— Eu sei, só me negava a acreditar.
O trinco da porta chamou a atenção dos três. Evans saiu, indo para a sua sala e voltando logo depois, com papéis em mãos. Não demorou mais que um minuto na sala, e saiu novamente. Foi mais uma vez até sua sala e pegou seu sobretudo, caminhando pelo corredor com Scarlett, que acabara de sair da própria sala e trancava a porta.
Eles se aproximaram, juntos, e Chris ergueu o celular para o ouvido, atendendo a chamada de Sebastian e se afastando. Scarlett voltou sua atenção para Hemsworth, lhe entregando alguns papéis do caso que estava avaliando.
— Quero que entregue esses papéis para a equipe interna, acho que os nossos casos tem relação um com o outro. — Scarlett pede, tomando um tom mais sério que o habitual. Estava tensa e preocupada. — Quero ver o que são esses extratos bancários e essas transferências, quem está depositando esse dinheiro e para quem está indo. Entendeu?
— Entendi. Vou tentar fazer o mais rápido possível.
— Não vai tentar fazer, você vai fazer. Quero tudo pronto até o fim da tarde.
— Tudo bem. Não se preocupa, vou fazer.
— Acho bom. Evans? Tudo pronto?
— As duas últimas desaparecidas, Isabel e Helena, foram encontradas hoje cedo.
— Vivas? — Scarlett pergunta, ainda com um último fio de esperança, e Evans a encara, quase sem querer responder.
— Não. Mesmo padrão das outras. Oito dias de desaparecimento. Cortes por todo o corpo, partes espalhadas. Bilhete no sangue. Dessa vez dizia que, seja lá quem quer que for, já estava mais a nossa frente do que sequer imaginávamos. Sebastian está no local, coletando todas as provas. Vai nos mandar tudo pela tarde.
— E a casa? De quem era a casa?
— Yamada. De novo.
— Então vamos ver o que Yamada tem a ver com tudo isso.
▰▰ // ▰▰
Oiee!
Estava ansiosa pra postar o de hoje, porque vem com boas notícias.
Nessa primeira semana de setembro ainda não, mas a partir da próxima, no dia 6, começamos a ter dois capítulos por semana. Os dias de postagem serão fixos na segunda e sexta.
O livro não vai ser longo como os meus outros (90 e 70 capítulos), e eu quero adiantar bastante dele, para não ficarem esperando demais. Sei o quão chato é acompanhar leitura.
Era isso! Espero que tenham gostado.
Até mais;
🌷
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro