09. A Ducati, o Parque e o Jogo
South End, Boston, Massachusetts
15 de dezembro, 15:25h
S C A R L E T T
Evans chegou à mesa, se desculpando com Elsa pelo atraso, e cumprimentando todos nós educadamente. Ele se sentou ao lado de Margot, de frente para mim, e logo foi recebido pelos abraços dos gêmeos. Chris H o incluiu na conversa, também apresentando Tom, e voltamos a socializar, contando histórias de acontecimentos engraçados sobre o departamento, e Chris e Tom contando coisas que já passaram juntos.
Eu, volta e meia, dividia minha atenção entre McKenna e India. Ambas querendo me mostrar algo ou me contar algo. Os gêmeos também vinham várias vezes querendo atenção, e eu entendia completamente. Eu costumava ser muito mais ativa na vida deles, e praticamente os tinha deixado de lado por meses.
— Onde vai passar o Natal, tia Scarlett? — India perguntou, e eu vi Elsa me encarar.
Ela sabia de toda a minha história, e do que me fez mudar de cidade apenas com dezoito anos. Sei que ela nunca contou para Chris, acatando meu pedido de deixar minha vida em segredo, e a agradecia muito por isso.
— Em casa. — Respondo, tirando os fios rebeldes da franja dela de cima do rosto. — Vocês vão para a Austrália?
— Vamos. Queria te ver antes. Estou fazendo um presente secreto para você.
— Oh, um presente secreto? E eu não posso saber o que é?
— Não. Você vem aqui antes do Natal?
— Posso tentar. Tenho que trazer os seus presentes de Natal também.
— Ok...
Voltamos a conversar sobre outros assuntos, e possíveis passeios para se fazer em grupo — mesmo que eu soubesse que não iria para nenhum, infelizmente. As quatro em ponto, Elsa chamou os gêmeos e as crianças e cantaram o famoso “parabéns”. Foram dois bolos, para cada um apagar sua própria vela.
Os pedaços foram distribuídos e nós voltamos a nos sentar, conversando agora sobre como as crianças já estavam enormes. Não era uma surpresa. Mesmo que Elsa não fosse tão alta assim, Chris é, e toda a sua família também. Não iria demorar para que ambos passassem a altura da mãe.
Quando alguns dos convidados começaram a se despedir, e McKenna reapareceu cansada, Margot e eu fomos nos despedir dos gêmeos também. Os abraçando, eu garanti que voltaria antes da viagem de Natal. E deixei em aberto com Elsa o dia que voltaria. Tínhamos um tempo para combinar.
— Não se preocupa, qualquer coisa eu os levo no fórum ou na sua casa também. — Ela diz, e eu assinto.
— ..., mas segunda a gente resolve isso. — Hemsworth diz, aparecendo na frente da casa com Evans. — Vocês também já vão?
— Já. Eu vou de táxi e não quero deixar ficar tarde demais. — Explico, e vejo Hemsworth e Evans me encararem.
— Por que vai de táxi? — Hemsworth pergunta, franzindo o cenho.
— Porque a Margot mora há ruas daqui, é uma contramão enorme para ela me levar e ter de voltar.
— Eu disse que não é problema algum para mim, mas ela insistiu. — Margot se defende.
— Se for por isso, eu te levo. Guarda o dinheiro do táxi. — Evans pede, me estendendo um dos capacetes. Eu sequer sabia que ele estava de moto, mas percebendo agora, a jaqueta de couro entrega um pouco. — Sabe como eu sou chato e insistente, Johansson. Aceita logo.
Hemsworth, Elsa, Margot e McKenna nos observavam. Eu sentia os quatro pares de olhos curiosos em nós dois, e, mesmo que muito relutante, aceitei e peguei o capacete. Evans deu um leve sorriso vitorioso e se virou para Chris H, vendo o amigo nos encarar com os olhos semicerrados.
— Nos vemos segunda então. Elsa, até outro dia!
— Até Chris. Scar, nós combinamos o encontro depois.
— Sem pressa. Até depois! Tchau Kenna.
— Tchau, tia Scarlett!
Evans me guiou para a moto, uma Ducati 1260, toda preta com poucos detalhes em cinza. Ele me estendeu um capacete, me fazendo soltar o cabelo para pôr o mesmo. Evans subiu na moto, e eu subi na garupa, pondo minha bolsa entre as pernas. Ele levou as mãos até as minhas, puxando-as e levando até sua cintura.
— Segura. — Mandou, dando dois tapinhas nas minhas mãos. Eu apenas assenti.
Tinha um certo receio em andar de moto, mas estranhamente confiava nele. O que era bom. Evans buzinou quando saiu da casa de Hemsworth e tomou o caminho da estadual, pegando o desvio para o centro.
Apreciava a paisagem conforme passávamos pelos lugares, e íamos em completo silêncio. Meu corpo apoiado no dele, abraçando sua cintura. Evans pilotava concentrado, e a cada semáforo que parávamos, ele me olhava por cima do ombro, talvez checando se eu estava bem. Perto do centro, antes do desvio para North End, Evans desviou para o parque da cidade.
— Para onde está indo?
— Vamos dar um passeio. — Diz, diminuindo a velocidade ao chegar no estacionamento, procurando uma vaga para a moto.
— Passeio? Evans, você está louco?
— Não. — Diz desligando a moto ao estacionar. Ele me faz descer da moto e desce em seguida.
— Por que está fazendo isso? O trato era só me levar em casa.
— Seguinte, eu percebi que essa semana você esteve bem estressada. Mais do que o normal.
— Chris.
— Me escuta. Percebi a sua oscilação de humor na quarta, o stress na quinta e a falta na sexta. Conversei com Margot. Eu insisti para que ela falasse. Ela não me disse nada pessoal seu, mas eu sei que não estava doente. Então... Quero fazer um passeio com você. Andar, tocar a grama, comer um cachorro-quente e sujar a boca.
— Fala sério, por que está fazendo isso?
— Não acho saudável o jeito que você só existe pelo trabalho. — Ele é sincero, me faz desviar o olhar e encarar o chão. Odiava a sinceridade repentina, e odiava o fato de que ele estava certo, mas eu nunca iria admitir isso em voz alta. — Você nunca sai com a gente, aliás, mal sai do seu escritório. Só trabalha o dia todo, as vezes até muito mais tarde do que deveria. Você não tem um cachorro, ou gato. Almoça sozinha. E a interação humana mais sincera que eu te vejo ter é com crianças, mas você nem gosta de crianças.
— Ok, ok. Você me conhece bem, entendi. Onde quer chegar com isso?
— Você não tira férias há três anos seguidos, e eu sei que o caso recente desse Serial Killer está enchendo demais nossa cabeça. Então te trouxe aqui para pelo menos aproveitar um fim de tarde sem ser em casa, em frente ao computador, tentando resolver mais de algo que não está nos levando a lugar nenhum. Então deixa de ser cabeça dura uma vez na sua vida e confia em mim.
Em silêncio, assenti para ele, pondo o capacete no braço e o acompanhando para a entrada do parque. O deixei ser meu guia. Eu não conhecia nada desse parque, mesmo tendo vindo aqui diversas vezes. Ele me levou direto para uma pequena barraquinha de cachorro-quente, e pagou dois pequenos, alegando que ainda queria me levar para comer mais coisas.
Nos sentamos em um banco, no lado menos movimentado. Apenas alguns casais, amigos e pessoas com cachorros passeando pelo local. Comemos em silêncio, e como o esperado, nós dois sujamos as bocas, e limpamos com os guardanapos que ele pegou.
— Olha para aquele casal a esquerda e me diz se eles estão terminando ou brigando. — Evans pede, e eu lentamente viro a cabeça, olhando o casal do banco paralelo ao nosso, mas longe.
— Terminando, eu acho. Ele está chorando. — Digo, observando o casal por mais alguns curtos segundos antes de voltar meu olhar para Evans.
— Aqueles dois ali, amigos ou namorados? — Pergunta, olhando sutilmente para um casal no gramado.
O rapaz estava encarando a moça, e ela olhava distraída para o céu. Estavam ligeiramente afastados, sem qualquer contato físico.
— Amigos, mas ele gosta dela. — Respondo, e o encaro. — Isso é um jogo?
— Quase isso. Eu costumo fazer com o Scott quando saímos. É bom para distrair, ver o mundo, perceber que as coisas não se tratam só de você. — Explica. — Aqueles dois ali, casal, amigos? — Pergunta, e eu olho na direção de dois rapazes. Eles olhavam ao redor, e sorriram um para o outro, trocando um rápido selinho em seguida.
— Namorados, provavelmente.
— Não vale, você usou hack. — Diz, me fazendo rolar os olhos e sorrir. — Você sorriu? Não acredito! Essa eu vou ter que contar no fórum. — Ele se gaba, e eu lhe dou um leve soco no ombro. — Você é muito agressiva, sabia? Parece um pitbull.
— Já perdi a conta de quantos apelidos você me deu.
— Todos combinam, foram muito bem pensados.
— Acho que você esquece que está sob a minha avaliação.
— Não sei do que está falando. Se é sobre trabalho, pode esquecer. Aqui nós somos amigos.
— Ok, mas você falou do fórum primeiro. — Rebato, dando de ombros. — Aqueles dois ali, me diz, amigos ou namorados? — Pergunto, observando um casal passar por nós, cada um com um cachorro na guia.
— Namorados. E os cachorros também. — Ele diz, e eu sorrio, observando os dois salsichinhas andarem juntos.
Pela minha visão periférica, percebo um menino se aproximar. É jovem, talvez na faixa dos dezoito anos. Não é tímido, e já se aproxima sorrindo.
— Oi, desculpa incomodar. Sou Ethan, e estava jogando com alguns amigos para tentar adivinhar se os casais são mesmo casais ou amigos. — Ele se explica.
— Estávamos fazendo o mesmo. — Evans diz animado, e o menino sorri.
— Nós ficamos num grande impasse para saber se vocês são amigos ou namorados. Então... Poderiam sanar nossa dúvida?
— Claro! Nós, na verdade, não somos nem um nem outro. Ela é minha chefe, chata e normalmente insuportável.
— E normalmente nós nos odiamos. — Completo a informação de Evans.
— Mas estamos em trégua, por enquanto. — Evans completa. — Que ela pediu.
— Ele pediu.
— E você aceitou.
— Oh... Ok. Então eu estava parcialmente certo, são "amigos". Obrigado!
— Por nada! — Dizemos ao mesmo tempo.
O menino volta para o grupo, que nos olhava curioso, e provavelmente explica a situação. Terminando nosso joguinho, Evans e eu andamos um pouco mais pelo parque, e agora ele parou num carrinho de sorvete, comprando dois para nós, e voltando a andar pelo parque, sentando numa parte do gramado bem iluminado.
— Não acredito que pediu de baunilha. — Evans caçoa, maneando a cabeça em negação.
— É melhor do que menta. — Digo, olhando o sorvete dele, e ele ri. — Olha... Chris, eu...
— Ei, você me chamou pelo apelido?
— Pela segunda vez hoje e você só percebeu agora. — Respondo, e ele parece pensar. — Eu só quero me desculpar pela forma como tratei você.
— Está tudo bem, Johansson.
— Não, não está. Eu fui muito arrogante com você, e extremamente antiética descontando em você problemas da minha vida. E ainda mais te fazendo trabalhar um dia inteiro sozinho num caso que envolve um serial killer. Então... Sinto muito, por tudo. Não vai se repetir.
— Não se preocupa. Eu não sei pelo que passou, nem o que te deixou daquela forma, mas teve seus motivos. Eu pude perceber que estava mal e não iria te culpar por nada. Foi complicado trabalhar sozinho nisso sim, e eu fiquei um pouco chateado com a forma que me tratou, mas está tudo bem.
— De verdade?
— Tá brincando? Você aceitou minha trégua e ainda me pediu desculpas, é um dos melhores dias da minha vida. — Diz, animado, e eu sorrio por sua idiotice. — Chupa logo isso, vou te levar em casa.
— Você está começando a ficar muito a vontade, garoto.
— Tenho que aproveitar nossos momentos de amizade, a trégua já vai acabar. — Responde sorrindo.
Termino o sorvete e limpo as mãos e a boca com o guardanapo. Evans termina o dele, conversando comigo sobre como ele gostava de ir ao parque. Ele tinha uma visão interessante sobre isso, e sobre como eu deveria fazer o mesmo.
O que eu via de Boston era pela janela do meu carro, indo ou voltando do trabalho. Ou via a cidade pelo lado péssimo dela, estando a frente dos crimes que aconteciam aqui, julgando pessoas, olhando cenas de crime e me cercando de negatividade.
Ver a cidade era bom. Ver as pessoas andando, conversando, se divertindo. Ver as cores das coisas e a cidade por outra perspectiva. O lado bom de Boston. Eu sentia falta disso, muita. Há muito tempo não saía de verdade, sem estar com a cabeça imersa em pensamentos distintos.
— Vem. — Evans chamou, erguendo a mão para mim, me ajudando a levantar. — Gostou do passeio?
— Sim.
— Na próxima trégua eu trago o Dodger.
— Dodger?
— Meu cachorro. Qual é, nunca me ouviu falar do meu filho?
— Já, mas não sabia o nome. É fofo.
— Ele é fofo. Anda, põe o capacete.
Faço o que ele pede e Chris sobe na moto. Subo atrás, segurando sua cintura e apoiando minha cabeça nas suas costas, cansada. Precisava dormir. Chris pilotou pela cidade, saindo de Donwtown e entrando em North End. Ele logo chegou ao meu condomínio, e eu liberei a entrada. Ele pilotou até a frente da minha casa, parando e desligando a moto ao chegar.
— Obrigada pela carona.
— Não foi nada. Chegou bem? — Pergunta, sorrindo.
— Cheguei, papai. Não atrasa segunda, ok? Temos muito trabalho a fazer.
— Sim senhora. E... Ei, usa o cabelo solto. Conselho de amigo. — Pede, encostado na moto.
— Oh... Ok... Seu capacete. Até segunda, Evans.
— Até, Scar.
Ele permaneceu em cima da moto, me esperando entrar em casa, e eu o fiz. Atirei os alarmes e deixei meus sapatos na entrada, indo para a cozinha, pegando uma garrafa de água. Soltei um longo suspiro de cansaço, pensando em todo o dia, e subi para o quarto. Precisava de um bom banho e um descanso, amanhã poderia estudar o caso que teria que julgar. Tenho tempo o suficiente para isso.
▰▰ // ▰▰
Olha quem resolveu dar as caras? E com um capitulinho fofo desses, só pra melhorar o dia de vocês!
Primeiramente quero dizer que ainda tô pulando de felicidade. O bebezinho da Scar e Colin nasceu essa semana e eu tô explodindo de felicidade por eles até agora!
Segundo: Talvez eu dê uma atrasada nos capítulos por conta da Universidade. Tenho projetos pra adiantar e tá implicando um pouco nos livros, tanto pra escrever quanto pra revisar, mas vou dar meus pulos!
É isso, espero que tenham gostado!
Até mais;
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