04. A Chamativa Cor do Sangue
⚠️ Capítulo contém descrição leve de cena de homicídio. ⚠️
Beacon Hill, Boston, Massachusetts
11 de dezembro, 08:37h
S C A R L E T T
Dirigi o mais rápido que pude para a Rua Bleeker. No início já pude ver a grande movimentação, e as faixas amarelas da polícia cercando uma casa. Estacionei o carro próximo ao local, e andei até lá. Vi Sebastian conversando com Gab e Anthony, e me aproximei, passando da faixa amarela.
— O que tem para mim? — Pergunto, abraçando Betty de lado.
— Não sei se vai gostar muito de ver. — Sebastian diz.
— Foi tão ruim assim?
— Péssimo. — Ouço a voz de Evans e me viro, vendo-o limpar a boca. — Foi terrível.
— Ok. Quem vai comigo?
— Eu não entro lá dentro nem morta. Só depois que a equipe limpar tudo. — Gab diz.
— Eu não vou sozinha. — Cruzo os braços, encarando os quatro a minha frente.
— Ok, eu chamei, eu vou. — Sebastian diz, já andando em direção da casa.
Passamos por todo o gramado, e da porta da casa já podia-se sentir o odor interno. Ao contrário do que parecia, a casa estava limpa. Bom, aparentava estar. Sebastian me guiou para o primeiro andar, direto para o último quarto.
A equipe de legistas e peritos criminais já estavam lá, juntando cada uma das partes dos corpos. O quarto estava uma bagunça, o odor ainda pior. Marcas de sangue por todo o local, paredes arranhadas e os dois corpos dispersos nas duas camas, uma paralela a outra. Era mesmo terrível.
Todas as provas já estavam enumeradas, totalizando mais de 40. As fotos estavam sendo tiradas do restante da casa, como mais evidências. Após observar tudo, voltei para o jardim. Bebi um pouco da água que Betty me deu e foquei em não vomitar.
— Já tem alguma informação sobre o caso? — Pergunto, me sentindo ligeiramente enjoada com a lembrança.
— Não, os vizinhos disseram que nem sabiam que alguém morava na casa. Tudo esteve sempre apagado e em silêncio. — Sebastian diz.
— Não reconheceram as vítimas? Nenhum cartaz de desaparecido? — Evans pergunta.
— As duas. Estavam sumidas há exatos oito dias. — Stan o responde, mostrando as imagens dos cartazes.
— Algo liga uma à outra? — Pergunto, finalmente recobrando minha respiração normal.
— Até então não sabemos. Estou trabalhando nisso. — Anthony responde, com o celular junto ao ouvido.
— Está estranho demais. Foi muito brutal para ser só isso. — Digo, recebendo seus olhares em mim.
— Acha que quem já fez está planejando mais, Johansson? — Betty pergunta.
— Sendo sincera, acho. Foi um crime grave. Ninguém faria isso assim, atoa. E ainda mais deixar tão exposto...
— Tem algum motivo por trás disso tudo. — Evans diz, encarando Sebastian.
— Querem o caso? Sei que vocês dois estão sem nada.
— Quer que esses dois trabalhem juntos? Jura, Stan? — Betty questiona, com um meio sorriso, e ele dá de ombros.
— Você realmente precisa passar mais tempo na procuradoria. — Anthony diz.
— Ah, qual é?! Vocês dois são os melhores de lá. Se trabalharem juntos podem acabar com esse caso rapidinho. — Sebastian disse, me fazendo encarar o loiro.
Evans tinha um sorriso convencido no rosto, me olhou do pé a cabeça e estendeu a mão para mim. Relutei em apertar, mas o fiz, concordando com aquela loucura. Seria interessante trabalhar com ele de perto, tiraria minhas próprias conclusões se ele era tão bom como diziam.
— Nem acredito que isso está acontecendo. — Gab disse, emocionada.
— Não façam alarde. Sebastian, quero tudo o que os legistas e peritos conseguirem, tudo. Até as provas que não resultaram em nada. Mackie, está nessa com a gente. Qualquer alerta que receber, não hesite em ligar para mim ou Evans. A qualquer hora.
— Pode deixar.
— Vão voltar agora para o fórum? — Pergunto a Gab e Evans.
— Sim, vamos.
— E vocês dois?
— Vamos dar uma segunda olhada em tudo, conversar com os vizinhos. — Stan diz. — Assim que receber os resultados, mando o e-mail para vocês.
— Ok.
Me despeço deles, voltando para o carro. Betty e Evans me seguem, no carro dele, e logo chegamos à procuradoria. Duffy vai direto para a mesa, Evans me segue para a minha sala. Eu me sento e retomo os papéis do caso em que iria julgar. Mas a presença de Evans de pé, no meio da minha sala, me tira o foco.
— O que você quer, Christopher?
— Quero propor uma coisa, agora que estamos trabalhando juntos.
— E resposta é não.
— Mas-
— Nada que venha da sua cabeça com relação ao nosso trabalho juntos será aceitável.
— Me escuta. É sério. — Pede, se sentando na poltrona a minha frente. Volto os papéis para a mesa, o encarando. — Estive pensando. Se esse caso for grande mesmo, pode ser um impulso na minha carreira.
— E o que eu tenho a ver com isso?
— Tem que é a melhor juíza de Massachusetts. Talvez dos EUA.
— Você disse isso de boa vontade? Está com febre?
— Eu estava, na verdade, sendo puxa saco.
— Deu para perceber. O que você quer, então?
— Quero que seja minha mentora na minha magistratura. — Pede, me fazendo corrigir a postura. Aquilo sim era inusitado. — Sei que você teve notas máximas em todas as provas, e eu vou precisar estar preparado para o concurso.
— E quer que eu te ajude baseado nesse caso?
— Se eu for útil. Bom, se você me achar útil. Eu vou me esforçar, mas a decisão final é sua.
— Está deixando a sua possível futura carreira nas minhas mãos? Você bateu a cabeça?
— Falando assim, estou começando a achar que sim...
— Tudo bem. Irei avaliar você. O caso inteiro. Lembre-se sempre disso.
— Posso voltar atrás?
— Não. Está na minha mão agora, Evans.
— Scarlett! Você é mais malvada do que eu imaginei.
— Achei que já soubesse. Anda, some da minha frente. Preciso trabalhar, e você também.
— Está bem, nervosinha. Fui.
Evans sai da sala, fechando a porta atrás de si, e eu retorno a minha atenção para a papelada, ignorando o cheiro do perfume masculino que ainda estava presente, lendo tudo com extrema atenção. Acabei, sem querer, dedicando toda a minha manhã ao caso, coletando todas as informações que me foram dadas ali.
Já havia lido toda a papelada de acusação e havia começado a de defesa, mas dei uma pausa por estar no horário de almoço e com uma bela dor de cabeça. Deixei um marcador na página e fechei a pasta, pondo tudo na gaveta e trancando na chave. Peguei o celular e carteira, desligando o monitor do computador em seguida.
O andar estava quase vazio, ocupado apenas por dois detetives, Jacob e Parker. Desci para o térreo de elevador, e andei sem pressa alguma até o restaurante da esquina. Era o local que sempre recebia advogados, juízes e pessoas desse tipo para café da manhã, almoço, lanches... Sempre foi assim, por estarmos no complexo bem próximo do fórum e da delegacia.
Sentei em uma mesa do andar superior e pedi meu almoço, agradecendo aos céus que não demorou para ser servido. Comi sozinha, como já tinha o costume, respondendo as mensagens que havia deixado acumular. Me assustei com a presença masculina a minha frente, mas relaxei ao perceber que era apenas Hemsworth. O loiro puxou a cadeira da minha frente e sentou-se.
— Como me viu aqui?
— Estava voltando do sanitário, te vi sozinha. Reconheci pelos piercings na orelha. — Ele diz, secando as mãos com guardanapos da mesa.
— E em que posso ser útil?
— Elsa me pediu seu número, mas eu esqueci de passar. Ela mandou te chamar para o aniversário dos gêmeos.
— Já? Estão crescendo rápido demais.
— Eu sei. Vai ser na nossa casa, esse sábado. Às quatro.
— Ok, estarei lá.
— Espero que sim. India quer te ver também.
— Imagino.
— Agora que já está avisada, vou nessa. Te vejo no fórum!
Hemsworth sai, me deixando sozinha, e eu peço a conta. Pago tudo e pego meus pertences, voltando para o trabalho em curtos passos. Na minha sala, volto a ler a papelada, me entretendo no início da tarde. Sentia sono, sabia que estava dormindo mal de novo. Pensava em formas de passar por isso sem ter que tomar remédios, de novo, mas nem imaginava como, ou se iria conseguir.
Era um dos meus demônios internos lembrando que ainda vivia em mim. Que ainda estava preso, e eu ainda era estagnada quanto a isso. Não era livre e talvez nunca fosse ser. Mas são ócios do ofício em preferir manter o passado onde está.
As batidas na porta me despertaram, e eu mandei que entrasse, fechando a página com o marcador de novo. Tenho muito tempo até o julgamento. Tempo suficiente para ler tudo aquilo, já que não conseguia me concentrar agora. Anthony entrou, acompanhado de Evans e Margot. Os três tinham a feição séria, me preocupando muito.
— O que houve?
— O caso é mesmo maior. Maior até do que imaginávamos. — Anthony diz.
Eles se sentam no sofá no canto da minha sala, e eu os acompanho, me sentando na poltrona de frente para eles. Anthony separa papéis sobre a mesa de centro. Fotos e resultados de exames.
— Acabei de receber tudo da equipe. Já conseguiram até a identificação das duas vítimas. Camila Rodgers e Elana Lewis. As duas são naturais de Boston, moraram aqui a vida inteira, e pareciam se conhecer. Trabalhavam no Toulouse Gastrobar, Elana caixa, recém-contratada, Camila gerente, indicou a outra.
— Alguma possível digital, cabelo, saliva?
— Não. Nada. Na casa inteira, nada. Um dos vizinhos só disse ter visto um homem todo em preto, capuz, touca, máscara, luvas, bota... Esse da imagem da câmera lateral da casa. — Ele explica, apontando para a foto.
— Nada de carro, moto, possível placa... Nada? — Evans questiona.
— Não. Veio e foi embora andando. As duas também estavam drogadas. A legista encontrou rastros de sonífero forte no sangue do chão, que coincidiu com as amostras das duas vítimas, por isso ninguém escutou gritos.
— Então aquela cena toda foi montada?
— Foi. As marcas de sangue nas paredes, móveis derrubados, foi tudo armado. Tudo para encontrarmos uma carta no meio do sangue. Estava envolta em plástico, então foi colocada lá de propósito. Essa aqui. — Mackie explicou, apontando para uma das fotos da evidência.
O papel em questão era uma folha de ofício a4, mas só havia uma frase escrito. “Eu pegarei todos eles.” Apenas isso. Era um recado, para nós e para a polícia. Seja quem fosse, estava passando uma mensagem.
— Está digitado, então não temos nada que entregue nem mesmo a caligrafia da pessoa.
— E o que mais vocês têm? Por que o caso é assim tão sério?
— Porque as minhas apostas é que é por vingança. — Anthony diz.
— Recebemos um e-mail da 37 de Boston hoje, estavam procurando alguém da defensoria pública por um caso de assassinato em dupla. Outras duas mulheres, Kelly Headie e Meghan Young. Assasinato brutal, cena armada e mais uma carta na poça de sangue. Mesma coisa escrita. Nenhuma evidência que entregue o assassino. Ambas também passaram exatos 8 dias desaparecidas. A legista indicou a mesma toxina de sonífero no corpo delas também. — Margot explica.
— Algo as ligava as duas que encontramos hoje?
— Ainda não sabemos das outras, mas Kelly e Camila eram amigas de infância. Sempre estudaram nas mesmas escolas, sempre fizeram tudo juntas.
— Ótimo, então vamos descobrir quais escolas e o que tanto fizeram juntas. Seja o que for, irritou muito alguém.
— Também acha que foi vingança? — Evans questiona e eu assinto.
— Se foi assunto de escola, sabemos bem que sim. Já perdi a conta de quantos assassinatos já vi por isso. Ameaças, brigas... Algumas coisas feitas no passado fazem as pessoas perderem a cabeça. — Digo, olhando as fotos das provas.
— Sabem dizer se o capitão da 37 tem mais algo? Depoimentos de vizinhos, algo assim?
— Não tem. Ele ficou sabendo do segundo assassinato e passou o caso para nós. — Margot explica.
— Então temos trabalho a fazer.
▰▰ // ▰▰
Um capítulo bem saudável para uma sexta a tarde, não acham?
Como eu disse, a ação está começando. Espero que estejam gostando porque vem coisa boa. E lembrem, eu sempre deixo pequenos detalhes que entregam muito. Atenção viu?
Até mais,
🌷
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