Meses depois do baile.

Desespero. Estado de espírito, sensação ruim, que faz com que alguém acredite estar num momento sem saída, desesperança.

Eu vou morrer, este é meu fim.

É isso que estou sentindo nesse exato momento, o gosto metálico em meus lábios faz com que eu me recorde de tê-lo mordido quando fizeram com que eu perdesse o estado de consciência e me trouxessem para esse lugar de merda, não apenas no sentido metafórico mas também no sentido literal, com certeza alguém defecou neste lugar escuro e sem qualquer forma de saída aparente, o som de gotas de água caindo sobre o chão é algo marcante também. Eu vou morrer, tenho plena consciência de que é isso que irá acontecer comigo nesse lugar, tento levantar um de meus braços, mas o excesso de peso em meu membro faz com que eu tenha ciência de que me prenderam aqui com auxílio de uma corrente.

Não me recordo muito bem do que aconteceu para que eu estivesse aqui, uma hora eu estava nos braços de meu amado Frederick e agora eu nesse lugar de merda, ninguém vai me achar esse é meu fim, eu vou perder meus novos amigos, minha família, qualquer coisa que eu consiga falar agora não vai me ajudar em nada melhor eu desistir e aguardar o fim de minha vida medíocre. O som de uma porta sendo aberta faz com que eu entre em estado de alerta, com a pouca luminosidade que entra consigo ver que é uma mulher com longos cabelos loiros, um vestido azul que marca suas curvas ela tem mais ou menos a altura de Victoria, uma das melhores amigas de meu Falcone, seu tom de voz irritante faz com que eu levantasse meu olhar para seu rosto.

― Finalmente eu consegui conhecer a mulher que prendeu meu filho, como está minha querida? ―Perguntou com um claro tom de sarcasmo em sua voz. ― Que cabeça a minha é claro que você está péssima, você está presa no mesmo lugar a horas e sem se alimentar pelo que parece, mas fique tranquila meu amor que irei mandar alguém lhe trazer um prato de comida, não quero que você morra, ainda não pelo menos seu sofrimento irá durar mais um pouquinho. ―Completou dando uma risada diabólica no final.

Artemísia Falcone. A mãe de Freddy, a ex-matriarca da família, e a mesma que deveria estar morta e enterrada sob a terra.

― Como diabos você está viva? Frederick me disse que você estava morta, ou pelo menos foi isso que você fez com que todos acreditassem. ―Perguntei com um ranger de dentes, essas malditas correntes estão me apertando, tenho certeza de que se sobreviver a esse inferno ficarei com cicatrizes para sempre.

― Ah então meu querido primogênito lhe contou o que aconteceu, escute muito bem amorzinho porque eu não irei repetir outra vez, eu nunca estive morta o corpo pelo qual choraram todos esses anos nada mais é do que uma sósia minha, eu queria ficar sozinha ser uma mãe presente era sufocante ainda mais tendo um filho como o Frederick ele vai ser a destruição do mundo seja agora ou daqui a muitos anos.

— Mas… Isso não é possível, ele me disse que você amava seu marido e que era uma excelente mãe, devem ter feito lavagem cerebral em você ou algo do tipo você não é assim não…―Antes que pudesse dizer qualquer coisa sou impedida por sua mão indo em direção ao meu pescoço e ele sendo apertado, como ela conseguiu se mover com tanta rapidez?― Você não me conhece, muito menos conhece a minha história com a minha família, então pelo amor da deusa fique quieta se não quiser morrer agora mesmo.

― Desculpe, não vou falar mais nada sobre isso ou que tenha qualquer relação com esse assunto. ―Disse abaixando meu olhar quando senti sua mão soltando meu pescoço.

― Que bom que nós nos entendemos, agora…

― Senhora senhora, eles estão aqui, seu filho está aqui, mais precisamente. ―Indagou enquanto tentava recuperar o fôlego, provavelmente ele veio para cá correndo.

Frederick estava aqui, meu amor, eu vou viver, vou conseguir ter uma vida ao lado de meu amado, sinto muito pela sua mãe, ela com certeza irá morrer só que dessa vez será de verdade e eu que matarei ela com minhas próprias mãos mesmo que nesse momento esteja muito fraca para fazer qualquer coisa.

― Não comemore muito queridinha porque você vai morrer, mesmo que demore é isso que vai acontecer. Garrett a bruxa Laurent chegou? ―Perguntou para o garoto que estava ali, ele deveria ter no máximo dezessete anos.

― Sim senhora, ela está lhe aguardando na sala de estar. 

― Irei falar com ela, cuide da nossa convidada especial, traga algo para ela comer, não quero que ela morra antes da hora.

― Pode deixar, senhora.

Com um último sorriso maligno, Artemísia e o tal capanga chamado Garrett saíram dali me deixando sozinha novamente, com a escuridão sendo minha única companhia. Fiquei assim por um bom tempo até ele aparecer novamente com um prato de comida fria, a mesma comida que ele jogou no chão e me fez comer como a porra de um animal qualquer como estava faminta fui obrigada a comê-la mesmo assim, após passar por aquela humilhação voltei a dormir.

Depois de algum tempo, acordei amarrada a um poste em uma espécie de círculo de fogo, mas dessa vez eu estava no meio de uma floresta que é desconhecida para mim, ainda mais que está de noite. Mesmo em meio a escuridão eu consigo ver seis pessoas três delas desconhecidas, além disso, a senhora Falcone e seu empregado também estavam ali, por último mas não menos importante Frederick, meu amado, eu reconheceria ele em qualquer lugar, eu o amo mais do que tudo, mais que a mim mesma eu faria qualquer coisa para que ele vivesse bem e em segurança. O silêncio é quebrado pela mulher que está me prendendo contra a minha vontade.

― Bom, agora que estamos todos aqui podemos começar a cerimônia, quero acabar com isso de uma vez não motivo para atrasar mais.

Minha vida estava acabando, o meu destino estava traçado, Artemísia fez questão de deixar isso bem claro pra mim, eu não seria feliz ao lado de Frederick muito menos viveria para ter uma família ao lado dele, eu ia acabar como uma ninguém, alguém que não deve ser lembrado. Vi o olhar de Frederick se voltando para sua mãe com uma expressão indecifrável, como ele era tão bom em esconder o que está sentindo em determinadas situações?

― Você não pode acabar com a vida da mulher que eu amo dessa forma, se você fizer isso eu irei acabar com a sua vida e garantirei que dessa vez esteja morta mesmo. ―Após concluir a fala, lançou para a mãe um olhar mortal.

― Eu posso e vou, Jocelyn comece o feitiço antes que meu filho acabe atrasando meu plano ainda mais.

― Pereant, puella haec viginti annis vitam suam vivat et moriatur, sed renascentis faciat ut iterum iterum incipiatur. (Maldição, que esta garota viva sua vida por vinte anos e que morra mas que continue renascendo fazendo com que o ciclo se reinicie)― Olho para a tal bruxa de nome Jocelyn sem entender, o que ela disse e porque eu me sinto tão fraca e zonza de repente? As cordas que antes me prendiam e o círculo de fogo agora haviam sumido.

― Cerejinha… ― Antes que eu caísse no chão, o mais velho me pegou se ajoelhando ao meu lado e deitando minha cabeça em seu peito.

― Freddy… Eu…

Tentei falar alguma coisa mas minha voz não estava saindo, era como se eu estivesse falando apenas na minha cabeça, minha visão estava ficando embaçada e era como se o ar em meus pulmões agora me sufocasse.

― Tá tudo bem meu amor, você vai ficar bem, não precisa se esforçar, você vai ficar comigo custe o que custar. Saiba de uma coisa eu te amo, correria por vários quilômetros com uma pedra amarrada em meu tornozelo se isso significasse ficar com você para todo o sempre, você é e sempre será a razão do meu viver, eu posso me arrepender de várias coisas mas não me apaixonar por você. ― Ao concluir a fala distribuiu um beijo em meus lábios.

Queria retribuir, queria gritar para que ele me salvasse mas eu sabia que não estava mais nesse mundo, pouco a pouco meu coração parou de bater, minha respiração se acalmou e meu braço pendeu para o lado, eu estava morta, mas eu sabia que ia voltar, eu e Frederick estamos destinados a nos conhecer e amar um ao outro.