VIGÉSIMO SEXTO
Assim que a porta se fechou atrás de Esme, o peso do silêncio caiu sobre a sala. A sensação de pânico e medo me envolveu como uma corrente gelada. O que ela havia contado a ele? Cada detalhe que imaginei estar seguro parecia agora ameaçado, exposto. E por que, de todas as pessoas, Charlie tinha que mencionar Carlisle tão prontamente? Isso só podia significar uma coisa: ele sabia. Meu coração batia descompassado, como se tentasse fugir de uma situação que eu mesma criei por não confiar e abrir o jogo com ele antes.
Eu me aproximei lentamente, sentindo as pernas pesarem, e me sentei ao lado dele no sofá. Queria desesperadamente encontrar as palavras certas, como se qualquer combinação mágica pudesse reparar o que estava prestes a desmoronar entre nós.
— Pai, por favor... Eu consigo explicar. — Minha voz saiu num sussurro, cheia de medo e sinceridade.
Charlie permaneceu olhando para o chão, uma expressão pesada e pensativa no rosto. Ele parecia estar buscando respostas em cada fresta do assoalho, como se tentasse se agarrar ao que conhecia para lidar com o desconhecido que eu acabara de trazer para a vida dele. Respirei fundo, criando coragem, e estendi a mão para segurar a sua, quase implorando por sua atenção.
Ele finalmente ergueu os olhos e me olhou com uma seriedade que era apenas dele.
— Você o ama, Grace? — Ele perguntou, a voz grave.
A pergunta bateu fundo, trazendo à tona todos os sentimentos que eu evitava confrontar. Fiquei em silêncio por um momento, sentindo o peso das palavras dele. Não havia como fugir.
Engoli em seco, sentindo a garganta apertar enquanto tentava processar a pergunta. Ele sabia... E agora eu não tinha outra escolha a não ser ser honesta.
— Pai... — comecei, sentindo minha voz tremer. — Eu... eu não sei como explicar. Carlisle... ele... ele significa muito pra mim. — Baixei os olhos, incapaz de sustentar o olhar dele.
Charlie ficou em silêncio, e isso só aumentou o nó no meu estômago. Ele retirou a mão da minha lentamente e cruzou os braços, ainda sem me encarar.
— Grace, você entende o que isso significa, não entende? — A voz dele era baixa, mas eu podia sentir o peso da decepção e da preocupação. — Ele é mais velho, é o médico da cidade, e ainda... — Ele parou, suspirando profundamente, como se as palavras estivessem pesando nele também. — Ele é casado, ou era, pelo menos... com Esme.
Eu fechei os olhos, sentindo a vergonha me queimar por dentro. Era algo que eu sabia, que me perseguia todas as noites, mas ouvir meu pai dizer aquilo em voz alta tornava tudo ainda mais real.
— Eu sei, pai. Sei de tudo isso. Sei o quanto é complicado, sei o quanto parece errado... — Minha voz falhou, e eu me forcei a encará-lo. — Mas eu nunca me senti assim antes. Com ele, eu sinto... eu sinto que posso ser eu mesma.
Charlie balançou a cabeça, finalmente me olhando nos olhos, seu rosto uma mistura de tristeza e algo que parecia ser... medo? Como se ele também não soubesse o que viria a seguir.
— Grace, eu só quero que você entenda o que está arriscando aqui. Carlisle Cullen não é só mais um homem, ele é alguém com uma vida inteira, com responsabilidades que não envolvem só você. — Ele engoliu em seco.
Eu respirei fundo, sentindo o peso de tudo que ele estava dizendo. Mas, ao mesmo tempo, algo dentro de mim se recusava a desistir.
— Pai, eu entendo os riscos, eu juro. Mas... o que eu sinto por ele... não é algo que eu possa simplesmente ignorar.
Charlie fechou os olhos, respirando fundo, como se tentasse absorver o que eu acabara de dizer. Quando ele abriu os olhos novamente, sua expressão estava mais cansada, como se minha resposta tivesse acrescentado mais um peso ao que ele já carregava.
— Grace... — Ele começou, com uma voz tão suave que eu quase não o reconheci. — Eu sei que você cresceu rápido, teve que lidar com muita coisa sozinha. Mas isso aqui... isso é diferente. Amar alguém é complicado, mais ainda quando essa pessoa já tem uma vida inteira, com laços e compromissos que... que você talvez não possa entender agora.
Eu senti o calor das lágrimas surgindo, mas lutei para mantê-las contidas. Ele não estava errado, e eu sabia disso. Mas cada palavra parecia cortar como uma lâmina, trazendo à tona todas as dúvidas e inseguranças que eu tentei ignorar. Carlisle era mais velho, e tinha uma família para cuidar.
— Pai, eu sei que não vai ser fácil. Sei que as coisas podem dar errado, e que eu posso me machucar. Mas eu... eu preciso pelo menos tentar. Porque se eu não tentar, se eu desistir agora, vou passar o resto da minha vida imaginando como poderia ter sido.
Charlie me olhou com uma mistura de dor e algo que parecia ser orgulho, embora eu soubesse que ele não queria que eu visse isso.
— É o que você quer? — Ele perguntou, em um tom sério, buscando a verdade em cada palavra.
Eu assenti, sentindo meu coração bater mais rápido.
— Sim, pai. Eu sei o que estou arriscando, mas também sei que nunca senti isso por ninguém. Ele... ele me faz sentir viva de uma forma que eu nunca senti antes.
Por um momento, ele desviou o olhar, e eu percebi que suas mãos estavam levemente trêmulas. Ver meu pai, alguém sempre tão forte e seguro, naquele estado me fez perceber o quanto isso estava afetando ele também.
— Eu só quero que você seja feliz. E, se acredita que isso é o certo, que ele é o certo... — Ele suspirou, como se estivesse se despedindo de um pedaço de mim que ele já sabia que não teria de volta. — Só prometa que vai se cuidar. Que, se algo der errado, você vai saber onde encontrar aquele abraço que é sua casa.
Uma lágrima finalmente escapou, e eu me aproximei, segurando sua mão com força.
— Eu prometo, pai. Eu nunca vou te abandonar, eu juro.
Ele assentiu, apertando minha mão.
O abraço de Charlie me envolveu com uma familiaridade reconfortante, aquele toque protetor que só ele sabia dar. Senti sua mão no meu cabelo e o beijo suave na testa, como ele sempre fazia quando queria me lembrar que, independente de tudo, eu era sua filha. E eu sabia que, por mais complicada que essa situação se tornasse, nunca iria abandoná-lo. Meu pai era o alicerce de tudo na minha vida, e nada iria mudar isso.
— Esme me falou sobre vocês. — Ele murmurou, quebrando o silêncio.
Eu suspirei, apertando seus braços ao meu redor.
— Eu imaginei.
Ele riu baixinho, mas não de forma amarga; havia uma ternura genuína no som.
— Ela me falou sobre o amor, e como ele pode ser bonito quando sentido. — Ele recuou para olhar meu rosto, com um sorriso que parecia meio resignado, meio divertido. — É claro, ela estava trabalhando a minha mente para essa informação bombástica!
Eu não pude evitar um sorriso trêmulo. Era quase como se ela estivesse, em algum nível, me dando sua bênção através de Charlie, preparando-o para aceitar algo que eu sabia que seria difícil para ele e para ela.
— Acho que, depois de um tempo, eu percebi que o amor não é uma coisa que a gente controla. Só... acontece.
Eu senti meu coração se aquecer. Ele realmente estava tentando entender, tentando me apoiar da melhor forma que podia.
— Pai, eu nunca quis esconder nada de você, nem te magoar. — Eu disse, minha voz baixa e sincera. — Sei que é difícil de aceitar, mas eu só... só queria que você soubesse que ele realmente me faz feliz.
Charlie assentiu, seus olhos brilhando com uma compreensão que me surpreendeu.
— Eu sei, Grace. Eu só preciso de um tempo pra me acostumar. Só... prometa que vai lembrar de quem você é e de onde veio, não importa o que aconteça. — Ele apertou meu ombro com carinho. — E que vai me contar, seja bom ou ruim.
Eu sorri, sentindo o peso no meu peito finalmente aliviar um pouco.
— Prometo, pai.
Charlie suspirou, passando a mão no rosto, como se estivesse processando tudo de uma vez. Eu sabia que ele ainda tinha dúvidas, e o peso da situação parecia se refletir em cada linha de expressão em seu rosto.
Sabia que, para ele, isso era mais do que aceitar ou entender; era uma questão de proteger minha felicidade, mesmo que o caminho que eu estava escolhendo fosse incerto.
—Eu te amo. — Apertei sua mão, sentindo a gratidão e o alívio transbordarem. — Isso significa muito pra mim.
Ele assentiu, deixando escapar um sorriso pequeno, mas genuíno.
— E eu também acho que o Dr. Cullen deveria me conhecer, Grace — disse ele, a voz com aquele tom que misturava seriedade e brincadeira. — Não como o amigo que ele está acostumado, muito menos como xerife...
Sorri, entendendo exatamente o que ele queria dizer. Era o jeito de Charlie de dizer que, independentemente de tudo, ele continuava sendo meu pai e que ainda queria, de algum modo, me proteger. Mas a ideia dele conhecendo Carlisle com outros olhos.... bom, isso era algo que eu nunca tinha imaginado. A cena se formou na minha cabeça, e, sem querer, ri um pouco. Aquele homem tão sério e reservado, sendo apresentado como uma espécie de interesse romântico, e não apenas o respeitado Dr. Cullen. O pensamento era tão absurdo que chegava a ser cômico, mas, ao mesmo tempo, havia uma estranha tensão por trás dessa possibilidade.
Charlie riu baixinho junto comigo, como se também se divertisse com a ideia, mas, logo, sua expressão mudou. Ele ficou sério de repente, o olhar pensativo, quase introspectivo. Era como se tivesse sido tomado por uma onda de preocupação, um lembrete de que essa situação era mais complicada do que parecia à primeira vista.
Eu sabia o que aquele olhar significava. Ele queria ter certeza de que eu estava segura, de que esse "novo relacionamento" era realmente algo bom para mim.
Charlie permaneceu sério por um momento, os olhos fixos em mim como se estivesse avaliando cada detalhe do que eu acabara de dizer. Ele respirou fundo antes de falar novamente, a voz agora sem nenhuma sombra de brincadeira.
— Grace, só quero ter certeza de que você sabe o que está fazendo. — Ele me olhou de um jeito que só um pai preocupado consegue, um misto de proteção e dúvida. — Esse relacionamento... com o Dr. Cullen... você acha mesmo que é o melhor para você?
Senti um leve nó na garganta. Eu sabia que ele estava apenas tentando proteger meu bem-estar, mas as palavras dele fizeram o peso da situação parecer ainda mais real. Eu respirei fundo e, sem perder o sorriso, tentei tranquilizá-lo.
— Eu entendo suas preocupações. E, sim, eu sei que é complicado e... diferente. Mas Carlisle é... ele é especial, sabe? — Olhei para Charlie com a esperança de que ele visse a sinceridade no que eu estava dizendo.
Ele assentiu lentamente, mas não parecia totalmente convencido.
— Ainda assim, eu acho que ele precisa saber... saber o que significa para você. — Sua voz estava baixa, quase introspectiva. — E eu preciso ver isso com meus próprios olhos.
Sorri, tentando aliviar a tensão.
— Tudo bem, pai. Eu posso conversar com Carlisle sobre isso... só espero que você não vá assustá-lo demais. — Acrescentei, tentando quebrar o clima com um toque de humor.
Charlie soltou uma risada curta, mas seus olhos mantinham aquela firmeza protetora.
— Vou tentar, mas você sabe como sou — respondeu ele, com um pequeno sorriso que mostrava ao menos um pouco de alívio. — Ele que se prepare.
Apenas assenti, decidindo não prolongar a conversa. Mas antes que eu pudesse responder, a campainha ecoou pela casa, cortando o silêncio e fazendo meu coração dar um salto. Charlie olhou para mim, como se eu tivesse uma resposta, como se estivesse esperando por alguém. Mas eu não estava. A ideia de que pudesse ser Bella passou pela minha mente, mas ela tinha sua própria chave e não faria sentido bater.
Charlie se levantou e foi até a porta, enquanto eu ficava ali, tentando imaginar quem poderia ser. Mal ele abriu a porta, e lá estava Paul, parado com aquele ar despreocupado que sempre carregava. Droga. O que ele estava fazendo aqui? Eu não sabia se queria respostas para essa pergunta.
Charlie olhou para trás, apontando com um leve aceno.
— É para você, Grace.
Levantei-me devagar, tentando esconder a surpresa – e o leve constrangimento – que senti ao vê-lo ali. Fui até a porta, lançando um olhar rápido para Charlie, que parecia confuso e intrigado com a situação, e me aproximei de Paul.
— O que você está fazendo aqui, Paul? — murmurei, tentando manter a voz baixa.
Paul apenas deu de ombros, aquele sorriso provocador no rosto.
— Precisava falar com você. Achei que não se importaria.
Olhei para Paul, tentando manter a calma enquanto sentia o olhar curioso de Charlie nas minhas costas. Não era o melhor momento para uma conversa dessas, mas Paul parecia completamente alheio à tensão no ar.
— Bom, talvez eu me importe um pouco — sussurrei, tentando indicar que esse não era o lugar nem o momento.
Ele apenas sorriu, como se aquilo fosse um desafio. Charlie apertou os lábios, visivelmente desconfortável, mas, depois de um momento, se afastou um pouco, me lançando um olhar de aviso. Respirei fundo, puxei Paul para fora de casa, fechando a porta atrás de nós para garantir um pouco mais de privacidade.
— O que você quer, Paul? — perguntei, tentando controlar o tom de voz.
Ele me olhou, finalmente mais sério, como se estivesse se preparando para o que ia dizer.
— Precisamos conversar sobre você e os Cullen. As coisas... mudaram, Grace.
— Como assim, mudaram? — perguntei, cruzando os braços enquanto encarava Paul, tentando entender o que ele realmente queria dizer.
Ele respirou fundo, olhando para os lados como se certificasse que estávamos sozinhos.
— Existe uma linha, Grace, uma linha que os Cullen não podem ultrapassar — disse ele, com o tom mais grave do que eu estava acostumada. — E Carlisle... ele cruzou essa linha. Duas vezes, talvez mais.
Minhas sobrancelhas se uniram em uma expressão de incredulidade.
— O que exatamente você quer dizer com "cruzou a linha", Paul? Carlisle nunca fez nada para prejudicar ninguém.
Paul soltou um suspiro, claramente irritado, mas também tentando manter a calma.
— Grace, tem coisas sobre esse mundo... coisas sobre a nossa gente... — Ele parou, como se estivesse se perguntando se deveria continuar. — Os Cullen e o que eles representam... não são como a gente. Eles... — Paul parou de novo, procurando as palavras. — Só quero que você entenda que estar perto deles pode ter consequências. Tem segredos entre nós, entre a nossa... comunidade, que você ainda não conhece.
Olhei para ele, ainda mais confusa e um pouco irritada.
— Que segredos? Que tipo de comunidade é essa que vive à parte? Do que você está falando?
Paul respirou fundo, claramente em conflito.
Paul me lançou um olhar sério e, antes que eu pudesse protestar, segurou meu braço com firmeza, mas de um jeito cuidadoso.
— Vem comigo. Preciso te mostrar algo.
A surpresa me paralisou por um instante, mas eu acabei seguindo-o enquanto ele me guiava pela lateral da casa e depois para dentro da floresta próxima. Ele parecia determinado, com o olhar fixo à frente e a postura rígida. Eu não sabia para onde ele estava me levando, mas a intensidade no rosto dele me impedia de fazer perguntas.
Finalmente, paramos em uma clareira, longe o suficiente de qualquer um que pudesse ver ou ouvir. Paul se virou para mim, a expressão mais séria do que nunca.
— Grace, eu sei que nada do que eu disse faz sentido. Mas, depois disso, você vai entender.
Paul respirou fundo, e então algo começou a mudar de maneira alarmante. Primeiro, ele fechou os olhos e um tremor atravessou seu corpo, como se tentasse conter uma força imensa e indomável. Seu rosto, ainda humano, estava tomado por uma concentração feroz, os músculos se retesando e o corpo se dobrando levemente, como se algo estivesse prestes a explodir de dentro dele.
De repente, um som quase inaudível — o de ossos mudando de lugar — fez minha respiração prender, e eu dei um passo para trás. Os ombros de Paul começaram a se expandir, sua coluna se curvando de um jeito impossível para um ser humano. Ele fechou as mãos em punhos, mas em segundos seus dedos começaram a engrossar, alongando-se, enquanto garras surgiam de onde antes estavam suas unhas.
Então, com um movimento rápido e fluido, sua pele começou a ser coberta por uma espessa pelagem marrom. O pelo tinha diferentes tonalidades de marrom, misturando-se em nuances que iam do grafite ao prata, e que davam a ele um ar quase majestoso, mesmo em sua selvageria. Quando Paul finalmente terminou a transformação, onde antes havia um jovem, agora estava um lobo enorme, com patas fortes e uma postura firme, pronto para qualquer coisa.
A transformação levou apenas alguns segundos, mas parecia que o tempo tinha parado. Eu não conseguia processar o que tinha acabado de ver — não era apenas Paul. Era um ser de força bruta e beleza crua, um lobo imenso com olhos que ainda mantinham aquela intensidade inconfundível dele. Ele me observava, sem qualquer ameaça, como se esperasse minha reação.
Meu coração batia tão rápido que eu mal conseguia ouvir meus próprios pensamentos. O lobo à minha frente — Paul, ou o que quer que ele fosse agora — me observava, os olhos fixos em mim, como se estivesse esperando minha reação. Minhas mãos tremiam, e por um instante, eu não sabia se deveria correr ou gritar.
Finalmente, encontrei minha voz, embora fosse apenas um sussurro.
— P-Paul... é você mesmo? — minha pergunta parecia ridícula, mas eu precisava ouvir alguma confirmação.
O lobo inclinou a cabeça levemente, como se estivesse reconhecendo minha voz. Ele então deu um pequeno passo à frente, abaixando um pouco a cabeça, em um gesto quase submisso, tentando me mostrar que não havia ameaça. A visão de um animal tão imenso, com aquele olhar cheio de compreensão, era ao mesmo tempo assustadora e... quase tranquilizadora.
Respirei fundo, tentando acalmar meu coração, e dei um passo hesitante em sua direção. Estiquei uma das mãos, os dedos ainda tremendo, enquanto me aproximava lentamente.
— Como... como é possível?...
Eu senti o mundo girar ao meu redor, como se tudo que eu sabia até aquele momento estivesse sendo reescrito. Vampiros, lobisomens, o que minha vida havia se tornado?
No entanto, o sorriso sumiu tão rápido quanto veio quando meus olhos captaram um movimento no canto da floresta. Emergiu dali uma figura.
O homem que apareceu na borda das árvores tinha uma presença impressionante. Eu não o conhecia, mas pela maneira como Paul havia mencionado o nome dele antes, eu sabia que só podia ser Sam. Ele carregava uma autoridade silenciosa. Paul foi até ele, colocando-se ao lado do outro homem, como se reconhecesse o comando de Sam de uma forma automática.
Sam não desviou o olhar de mim, e sua voz era fria e implacável.
— Paul revelou o segredo, — ele disse, sem nenhuma introdução. — Agora você está ciente de que iremos atrás do Cullen. A quebra do tratado não pode ser deixada impune.
Minha mente girava com o significado das palavras dele, e o medo começou a se instalar.
— Espera... o que você quer dizer com "iremos atrás do Cullen"? — Minha voz saiu quase em um sussurro, enquanto tentava entender. — Carlisle não quebrou nenhuma regra.
Sam estreitou os olhos, sua expressão inflexível.
— Ele ultrapassou o limite que deveria respeitar — disse Sam, sua voz carregada de reprovação. — Cada aproximação, cada passo mais perto é um risco. O tratado foi criado para evitar isso.
— Mas... Carlisle e os Cullen sempre respeitaram! — insisti, tentando entender.
Sam cruzou os braços, observando-me com um olhar que parecia avaliar cada uma das minhas palavras, como se estivesse buscando algum entendimento dentro da minha confusão.
— Vou pedir para que você não se meta nestes assuntos. — Sam falou com um tom que soou quase paciente, mas era mais resignado. — O tratado é foi criado para ser respeitado — ele lançou um olhar breve a Paul. — Proteger nossa terra e nosso povo, destes malditos vampiros.
Senti uma mistura de pânico. Tudo o que ele dizia parecia cheio de implicações, mas nada daquilo era claro para mim. Eu só sabia que estava tentando defender alguém que era importante para mim.
— Eu entendo que vocês querem proteger a comunidade, mas... Carlisle é uma pessoa boa. Ele não é uma ameaça. Não faz sentido perseguir alguém que só quer manter a paz.
Sam balançou a cabeça, e uma sombra de cansaço cruzou seu rosto.
— Qual a paz você acha que Carlisle está tentando manter? — Ele questionou. — Invadindo meu território, duas vezes?
As palavras de Sam cortaram o ar com uma intensidade que me fez dar um passo para trás. Eu não estava preparada para a frieza com que ele me desconsiderou, nem para a acusação que ele lançava sobre Carlisle. "Invadindo nosso território, duas vezes", ele disse, e isso ressoou em minha mente como um eco ameaçador. Aquele tom de julgamento, como se fosse simples, como se o erro fosse algo incontestável, me fez sentir como se fosse uma intrusa nessa conversa.
— Foi um erro! — Eu disse, quase sem pensar, a resposta saindo de minha boca antes que eu tivesse tempo de ponderar. Eu sabia que Carlisle não tinha a intenção de desrespeitar ninguém. Ele nunca foi esse tipo de pessoa. Mas quando as palavras saíram, notei que elas estavam fracas, vazias diante da dureza com que Sam as rejeitava.
Sam apenas me encarou com aquele olhar, tão pesado, tão cheio de uma autoridade que eu mal podia suportar. A irritação começou a borbulhar dentro de mim. Cada palavra que ele disse parecia ter um peso maior do que a anterior.
— Como eu já lhe falei, não se meta, Grace. — A voz de Sam foi como uma lâmina afiada, cortando qualquer possibilidade de discussão. Ele estava sério, implacável. — Deixe que os adultos se resolvam.
Aquelas palavras me atingiram como um soco no estômago. Não só me excluía da conversa, mas me fazia sentir como se minha opinião não tivesse importância alguma, como se eu fosse apenas uma criança que deveria ficar em silêncio enquanto os "adultos" tomavam decisões.
Como ele podia pensar que eu ficaria de braços cruzados enquanto todos ao meu redor lidavam com algo tão importante?
Eu sentia a raiva queimando em minhas veias, as palavras saindo com uma ferocidade que nem eu sabia que possuía. Quando finalmente falei, minha voz não era mais a de uma jovem assustada tentando entender tudo ao seu redor. Não. Era a voz de alguém que estava disposta a fazer o que fosse necessário para proteger quem gostava. E ninguém, nem Sam, iria me impedir.
— Você não vai tocar no Carlisle, nenhum de vocês vai. — Eu rosnei, com o peito arfando de raiva, o sangue pulsando nas têmporas.
Sam não pareceu intimidado, o que só me fez ficar mais irritada. Ele deu um passo à frente, desafiador, como se estivesse esperando uma reação. Ele achava que isso me faria recuar, talvez, que me faria hesitar. Mas não. Eu não hesitaria. Eu estava cansada de ser tratada como se não tivesse voz, como se minha opinião não importasse.
— E o que você vai fazer? — A voz dele saiu baixa, mas cheia de uma autoridade esmagadora. Ele não tinha medo. Eu podia sentir isso.
Respirei fundo, e com os punhos cerrados ao lado do corpo, me aproximei ainda mais, meu olhar nunca saindo de seus olhos.
— Se quiser tocar nele, vai precisar me matar primeiro. — Rebati.
Eu o encarei diretamente, sem desviar o olhar, como se desafiasse qualquer um deles a reagir.
Eu sabia que ele não esperava que eu fosse tão longe. Eu não esperava isso de mim mesma. Mas eu estava disposta a tudo para proteger Carlisle.
— Está se colocando no meio de uma guerra Grace. Isso vale realmente a pena para você?
— Vale quando Carlisle está envolvido. — Olhei em seus olhos. — E se quiser fazer qualquer coisa com ele, vai precisar me matar... E não acho que você queira ficar com sangue humano nas mãos. Não é?
— Sabe que isso não vai parar a minha alcateia, não é? — Ele debochou.
— Então se prepare para a guerra.
— Não toca no nosso loirinho Sam 😭
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