VIGÉSIMO SÉTIMO
O peso no ar era sufocante. Sam continuava parado à minha frente, um muro de músculos e ameaça, seus olhos queimando como brasas vivas. Eu sabia que ele me odiava naquele momento – cada palavra minha era como um fósforo aceso jogado no barril de pólvora entre nós. Eu podia sentir a energia pulsando de seu corpo, a respiração pesada, os punhos cerrados ao lado do corpo, como se ele estivesse a um passo de explodir. Mas eu não ia ceder, não ia baixar a guarda, por mais que ele tentasse me intimidar com sua presença avassaladora.
Meu coração batia rápido, mas o medo não ia me parar. Em algum lugar dentro de mim, uma coragem teimosa florescia. Carlisle era alguém importante, e eu jamais deixaria que o machucasse – não enquanto eu tivesse voz para lutar. Esse era meu limite. Olhei firme nos olhos de Sam, tentando fazer com que ele entendesse que suas ameaças não passariam de palavras vazias.
— Você ouviu, Sam, — repeti, mais devagar desta vez, minha voz saindo baixa e carregada de determinação. — Se tocar nele, será guerra.
Vi o rosto dele se contorcer, os lábios trêmulos de raiva, mas ele se manteve imóvel, uma montanha de frieza e controle. Atrás dele, Jacob assentia, como uma sombra silenciosa, aprovando tudo o que Sam dizia. Olhei de relance para ele, e meu sangue fervia ainda mais. Jacob, com aquela lealdade cega e infantil... Desde quando ele realmente pensava por si mesmo? Desde quando não passava de um seguidor, sem opinião própria, pronto para agir sob o comando de Sam?
Era irritante. Eu queria gritar, queria sacudi-lo e perguntar por que ele simplesmente seguia o alfa, sem questionar nada, mesmo que isso significasse se voltar contra pessoas que ele conhecia. Era como se, para ele, nada mais importasse. Ele preferia seguir ordens, aceitar o que o grupo decidia, como um lobo obediente. E Paul, bom, não era muito diferente.
Eu me mantive firme, respirando fundo, sentindo a tensão subindo. A minha mente gritava que eu não era páreo para eles, que eu era apenas humana. Mas, naquele momento, eu sentia que nada – nem mesmo a força deles – seria capaz de me parar.
O ar parecia mais pesado a cada segundo que eu mantinha meus olhos fixos em Sam. Ele se mantinha impassível, mas havia algo ameaçador no jeito como me encarava, os músculos tensos, como se estivesse se segurando para não agir. Eu sentia cada palavra dele como uma lâmina, cortante e decidida, reforçando o perigo do que estava por vir.
— Eu sinto muito, Grace, mas se você ficar no meio disso, vai acabar se machucando, e sinceramente não quero que isso aconteça — disse ele, cada palavra carregada de uma calma forçada, quase cruel. Os olhos dele pareciam perfurar a minha alma. — Foi Carlisle Cullen que tentou o tratado, foi ele que correu atrás para que tudo fosse assim. A ofensa é ainda maior quando pensamos que ele mesmo o quebrou. Estávamos em paz, e agora, como você mesma disse... será guerra.
Engoli em seco, absorvendo cada sílaba. As palavras dele ecoavam dentro de mim como um prenúncio de desastre. Sabia que precisava agir rápido, tirar Carlisle e os Cullens da cidade antes que tudo desmoronasse. Mas também sabia que, se ele soubesse o motivo, ficaria e enfrentaria Sam, custasse o que custasse. Isso eu não podia permitir. Eu preferia arder sozinha em silêncio do que deixá-lo enfrentar esse risco.
O sarcasmo brotou de mim quase como um instinto de autopreservação, um jeito de disfarçar o medo crescente.
— E o que te faz achar que vai conseguir matar o Dr. Cullen? — perguntei, forçando um riso cínico. — Seu ego de lobo malvado te faz se sentir superior?
Me aproximei, cada passo meu carregado de provocação, tentando esconder o pavor que tentava se infiltrar nas minhas veias.
Sam ergueu uma sobrancelha, um lampejo de fúria cruzando seu rosto antes de ele sorrir de lado, um sorriso frio e desafiador.
— Eu o mato, quer ver? — disse, um brilho ameaçador em seus olhos. A ameaça era clara e direta, sem disfarces.
Minha raiva explodiu. Quem ele pensava que era para falar daquele jeito sobre Carlisle? Sam não passava de um cão arrogante, um obstáculo insignificante entre eu e quem eu mais queria proteger. Antes que pudesse pensar nas consequências, meu corpo se moveu por conta própria. Cerrei o punho, cada músculo do meu braço tenso com o impulso, e soquei o rosto dele com toda a força que consegui reunir.
O impacto foi imediato – para mim. No instante em que meus dedos colidiram com sua pele, um choque agudo de dor irradiou pela minha mão, atravessando meus nervos como uma corrente elétrica. Era como se eu tivesse socado concreto, uma parede fria e inabalável. Sam sequer se moveu, o rosto dele permaneceu imóvel como se eu não tivesse feito nada. Mas eu... meu corpo gritou.
– Porra... – murmurei, a voz saindo trêmula, quase um sussurro entre os dentes cerrados.
A dor latejava em cada dedo, como se meus ossos estivessem se despedaçando devagar, um por um. Fechei os olhos e segurei a mão com força, tentando conter as lágrimas que ameaçavam cair, não só pela dor, mas pela humilhação.
O som grave e forte de Jacob chamando meu nome atravessou minha confusão, e olhei na direção dele. Por um instante, parecia que ele ia se aproximar, talvez até oferecer algum apoio. Mas Sam o deteve, estendendo uma mão firme contra o peito de Jacob, como se dissesse silenciosamente que eu precisava enfrentar aquilo sozinha.
– Não – respondeu Sam, sem desviar os olhos de mim. – É bom que ela sinta. – Ele deu um passo à frente, a voz baixa e fria, carregada de um desprezo que me cortava por dentro. – Isso vai acontecer com mais frequência se ficar no meio desta briga. Se salve, e tire essa família da sua vida.
Cada palavra era como uma sentença, algo irrefutável. Ele sabia o que estava me pedindo – mais que isso, sabia que estava me forçando a escolher entre o que eu sentia por Carlisle e o perigo iminente que se aproximava como uma tempestade.
Essas foram as últimas palavras dele antes de desaparecer na floresta com passos fortes e decididos, levando consigo os outros lobos, incluindo Paul, que sequer olhou para trás. Assim que eles sumiram entre as árvores, o silêncio ao meu redor pareceu aumentar a dor em minha mão. Foi nesse instante, quando a ameaça finalmente partiu, que a realidade me atingiu. Não consegui mais segurar as lágrimas. Senti minha garganta apertada, um nó que se desfez em soluços abafados enquanto eu deixava o corpo cair de joelhos no chão.
A dor na minha mão pulsava insuportavelmente, uma dor que agora não era só física, mas parecia refletir tudo o que eu sentia – medo, frustração, uma raiva amarga e sufocante. Olhei para a mão ferida, agora começando a ficar roxa, a dor queimando como uma brasa, assim como meu ódio pelo Sam.
Com os joelhos fincados no chão e as lágrimas queimando meu rosto, ouvi ao longe o som da voz do meu pai. Em segundos, ele estava ao meu lado, agachado, tentando entender o que tinha acontecido, os olhos cheios de preocupação e medo.
— Grace!? — Charlie exclamou, segurando minha mão com delicadeza, mas mesmo assim, a dor explodiu em ondas, fazendo-me gritar involuntariamente.
— P-pai... o Sam... amigo do Jacob... ele e os amigos... eles... — As palavras saíram em soluços sufocados, minha voz falhando a cada tentativa de explicar.
Charlie franziu o rosto, sua preocupação se transformando em algo mais sombrio, os lábios se apertando numa linha fina.
— Eles o quê!?
— Eles vieram me incomodar. Pai, eu... eu soquei a cara dele, e agora... — Levantei a mão com dificuldade, exibindo os dedos inchados e a pele cada vez mais arroxeada, que pulsava com uma dor quente e latejante.
Ele olhou para minha mão por um instante, e vi o brilho de fúria crescendo nos olhos dele, uma escuridão que eu raramente via no meu pai.
— Sam... Acho que sei quem é — murmurou com a voz grossa, segurando-me pela cintura para me ajudar a levantar. O braço dele ao redor de mim era firme, quase protetor, mas os olhos estavam fixos à frente, como se ele já tivesse traçado um plano. — Ele machucou você?
Balancei a cabeça afirmativamente, incapaz de dizer mais nada. O aperto na garganta parecia sufocar qualquer palavra.
Charlie rangeu os dentes, o rosto endurecendo em uma expressão que eu só via quando algo realmente o irritava.
— Vá para casa, querida — ordenou, a voz baixa e com um tom gelado que me fez estremecer. — Eu vou colocar esse maldito atrás das grades.
A fúria no olhar dele era implacável, como uma promessa silenciosa. Sabia que ele não descansaria enquanto não confrontasse Sam, e por mais que eu quisesse dizer que estava bem, que ele não precisava fazer nada, percebi que era inútil. Essa raiva era dele tanto quanto era minha, e meu pai não deixaria passar. Ao menos com o alfa deles preso, eu teria algum tempo.
Com passos lentos e firmes, Charlie me conduziu até em casa. Cada movimento dele era tenso, os olhos escurecidos por uma raiva intensa. Assim que chegamos, ele me acomodou no sofá com cuidado, mas não sem uma pressa preocupada. Em seguida, sua mão rapidamente encontrou o chaveiro sobre a mesa, seus dedos apertando as chaves com força.
— Vamos ao hospital — declarou, os olhos fixos na minha mão machucada, como se pudesse arrancar a dor de mim só com o olhar.
Meus olhos se arregalaram em pânico. Entrar naquele hospital, com a mão desse jeito, era como entregar Sam à morte. Carlisle jamais deixaria isso passar em branco; ele caçaria Sam até o fim, e eu sabia que nada mais importaria. Tudo o que fiz para o manter fora desse conflito seria em vão.
— Você ouviu, Grace. Vamos! — Charlie disse, sua voz afiada e firme.
Neguei prontamente, sacudindo a cabeça. Sentia o nó apertando minha garganta, mas sabia que, se fosse ao hospital, estaria condenando Sam, e trazendo a fúria de Carlisle.
— Não adianta negar. Você vai entrar naquele carro agora, é uma ordem do seu pai! — A voz dele soou mais dura, inflexível.
A mão trêmula, minha respiração falhando, percebi que nunca tinha dito não ao meu pai antes. Cada palavra saía com dificuldade, como se eu estivesse à beira de desmoronar.
— Pai, eu estou bem...
— Agora, Grace! — Ele gritou, a voz se erguendo pela primeira vez, reverberando pelo cômodo, deixando claro que sua paciência tinha se esgotado.
Diante do tom autoritário e a fúria que estampava cada linha do seu rosto, percebi que não havia espaço para discussões. Relutante, abaixei a cabeça e me levantei, sentindo o peso do olhar dele em mim. Eu estava dividida entre a dor física e o medo do que viria a seguir, mas sabia que qualquer resistência era inútil. Obedeci, engolindo o temor que crescia no peito.
Charlie me conduziu até o carro, a determinação em seus olhos ainda mais clara, enquanto eu lutava contra o próprio medo de tudo o que estava por vir. Ele ligou o motor com um arranque rápido e, em seguida, começou a dirigir em silêncio, a estrada à nossa frente parecendo se esticar interminavelmente.
Eu estava tão absorta nos meus próprios pensamentos, tentando me manter calma, que quase não percebi quando ele falou.
— Grace, por que você não me contou o que estava acontecendo? — Ele perguntou, a voz carregada de frustração. — Se você estivesse apenas me dizendo, tudo poderia ser diferente.
Eu mantive os olhos no caminho à frente, as palavras presas na garganta. Como eu poderia explicar o que estava acontecendo, quando tudo era tão... insano?
— Eu... eu não queria que você se metesse em tudo isso — respondi finalmente, a voz baixa, quase um sussurro. — Sam e os outros, eles... não são quem você pensa que são. Você não entenderia.
Charlie olhou rapidamente para mim, sua expressão perplexa, mas logo voltou a focar na estrada. Ele estava claramente tentando entender, mas não conseguia encaixar todas as peças do quebra-cabeça.
— Não são quem eu penso que são? — Ele repetiu, o ceticismo claro em sua voz. — Você está falando de Jacob, certo? Ele não parece uma ameaça para mim.
Eu queria dizer mais, mas o peso da verdade me sufocava. Como poderia explicar que Jacob, Sam, e os outros não eram apenas amigos e conhecidos, mas... lobos? Como poderia lhe dizer que aquela "ameaça" era algo muito maior do que ele poderia imaginar, algo que ele jamais acreditaria?
— Não é tão simples, pai. — Eu olhei para ele, sentindo o peso daquelas palavras. — Eles são... diferentes. Você não entende, mas um dia vai entender.
Charlie suspirou, seu olhar fixo na estrada agora com uma mistura de preocupação e algo que parecia ser desespero. Ele estava lutando contra o que eu estava dizendo, tentando dar sentido a tudo aquilo, mas, no fundo, não sabia o que fazer com a informação.
— Eu só... — ele começou, a voz tensa, como se procurasse algo, uma explicação lógica. — Eu só quero que você esteja segura, Grace. E agora eu quero que Sam pague por ter feito isso.
Eu queria que ele soubesse, queria poder lhe contar tudo. Mas, mesmo agora, com a estrada vazia à nossa frente, sentia que contar a verdade seria mais perigoso do que ele jamais poderia imaginar. Sam, Jacob, Paul, todos eles eram muito mais do que simples amigos, e isso significava que ele nunca mais veria as coisas da mesma forma.
— Eu sei, pai. Eu sei. — Respondi, os olhos cheios de incertezas.
A tensão no carro era tão forte quanto a dor na minha mão, e eu me sentia dividida. Ele ainda não sabia, ainda não tinha ideia do que estava lidando. E eu não sabia quanto tempo conseguiria esconder a verdade.
O silêncio de Charlie parecia esmagador, cada segundo se alongando em um peso quase tangível. Com um olhar preocupado, ele observou minha mão inchada, e depois de um tempo murmurou com um tom grave que eu poderia ter fraturado algum osso. Suas palavras fizeram o pânico que já fervilhava em mim crescer ainda mais. Eu sabia que ele estava certo; a dor era intensa, e o inchaço deixava minha mão com uma aparência distorcida e inchada, os dedos quase rígidos.
Conforme o carro se aproximava do hospital, minha mente se enchia de pensamentos desesperados. Carlisle estaria lá. Se visse minha mão assim, ele imediatamente saberia que algo estava errado — e sua reação seria tão certeira quanto implacável. Sam, Paul, Jacob... eles estariam em perigo. Eu queria me agarrar a qualquer desculpa para não ir, qualquer saída que me permitisse evitar o que viria a seguir.
Charlie finalmente estacionou o carro em frente ao hospital. Senti um calafrio percorrer minha espinha enquanto ele desligava o motor e descia do carro. Ele caminhou até meu lado e abriu a porta, me ajudando a sair com uma firmeza que me deixava sem escolha. Eu sentia meu coração batendo tão forte que quase doía, um ritmo frenético que não conseguia controlar. Cada passo em direção à entrada parecia um passo em direção a um abismo, algo que não poderia desfazer uma vez que cruzássemos aquela porta.
Charlie, com a mão em meu ombro, me conduzia com uma determinação inabalável, sem perceber o tumulto que se passava dentro de mim. Meus pensamentos se atropelavam em uma confusão, tentando calcular as consequências. Eu só conseguia pensar no olhar de Carlisle, na severidade que eu sabia que estaria ali assim que ele visse meu estado. Ele nunca deixaria Sam impune.
Meu pai se dirigiu à recepção, e, em vez de pedir atendimento para mim, solicitou diretamente que chamassem o Dr. Cullen. Eu podia sentir o desespero subindo pela garganta. Tentei conter o impulso de protestar, mas o pânico me fazia morder o lábio. Eu praguejei em pensamento de todas as maneiras possíveis — aquilo não podia piorar, mas parecia que estava prestes a desmoronar de vez.
Olhei para minha mão ferida, a pele inchada e dolorida, como se observá-la de novo pudesse me dar algum controle sobre o que aconteceria a seguir. Quando ergui o olhar, ele já estava ali, surgindo no corredor e vindo em nossa direção. Carlisle. Os olhos dele eram firmes e sérios, mas havia uma urgência neles que me fez estremecer. Seu rosto era uma máscara de preocupação que só aumentava conforme se aproximava.
E então, meu pai, com um tom resoluto e direto, falou:
— Foi o Sam, o cara de La Push, que fez isso.
A expressão de Carlisle mudou imediatamente. Seus olhos, antes focados e intensos, escureceram de um jeito que eu nunca tinha visto. Pareciam janelas para algo sombrio, como se, de repente, todo o controle e a calma que ele sempre exalava estivessem ameaçados. Era como se a própria morte tivesse tomado o lugar em seu olhar, fria e implacável.
Senti um arrepio percorrer meu corpo.
Carlisle deu um passo à frente, seu olhar furioso praticamente cravado em mim. A expressão dele era sombria, seus olhos, duas poças de tempestade prestes a explodir.
A tensão no ar era quase insuportável. Senti minha garganta se fechar ao ver a fúria contida nos olhos de Carlisle, uma raiva que ele parecia lutar para manter sob controle, mas que ameaçava escapar a qualquer momento. O modo como ele repetiu a pergunta, o tom sombrio e o rosnado baixo que escapou de sua boca, fez meu coração bater ainda mais rápido.
— Sam fez isso? Ele colocou as mãos em você?
A resposta parecia presa na minha garganta. Eu queria dizer algo, mas tudo que consegui fazer foi engolir em seco, minha voz falhando. Antes que eu pudesse me forçar a falar, Charlie interveio.
— Grace estava me contando que acabou batendo no rosto dele. — Ele explicou, a expressão séria. — Acho que ela machucou a mão neste ato.
O som da minha própria voz foi quase um sussurro quando tentei acalmar Carlisle, meu tom carregado de uma mistura de medo e exaustão.
— Carlisle... por favor... — sussurrei, tentando soar firme, mas minha voz tremeu. — Isso só vai piorar.
Mas meu pedido pareceu acender algo ainda mais sombrio nele. Ele se inclinou para mais perto de mim, os olhos faiscando com uma frieza mortal que nunca havia visto antes, uma expressão que me fez arrepiar.
— Piorar? — A palavra saiu de sua boca quase como uma acusação, cuspida com tanta força que eu me encolhi. — Por que você queria bater nele!? O que ele fez!?
Charlie concordou com Carlisle dessa vez, sem nem hesitar, ignorando qualquer problema que pudesse ter tido com o fato de Carlisle ser alguém com quem eu tinha sentimentos. Pela primeira vez, meu pai parecia mais focado em me proteger do que em questionar as intenções de Carlisle. Ele se voltou para mim, a determinação em seu rosto deixando claro que ele também queria respostas — e justiça.
— Você vai cuidar da mão dela. — Charlie ordenou, dirigindo-se a Carlisle com uma autoridade que raramente usava. — Grace pode ter fraturado, verifique como ela vai ficar primeiro. Eu vou atrás do Sam.
Olhei de Carlisle para Charlie, um pouco atordoada pela rapidez com que eles entraram em um acordo. Carlisle assentiu com a cabeça tão rapidamente que me surpreendeu. Ele olhou de volta para mim, e em seu olhar havia algo que me deixou simultaneamente segura e ainda mais consciente da intensidade que emanava dele.
— Eu fico com ela.
Foi tudo muito rápido. Em questão de segundos, Charlie já estava saindo do hospital com passos determinados, deixando-me a sós com Carlisle. Meu coração ainda batia acelerado, e a ausência de palavras só tornava o silêncio mais pesado. Carlisle, porém, não desviou o foco. Seus olhos analisavam minha mão com uma concentração absoluta, como se todo o resto tivesse desaparecido.
Ele segurou minha mão com cuidado, seus dedos hábeis tocando cada osso e articulação com uma leveza surpreendente, mas mesmo assim firme. Eu prendi a respiração, tentando não me mexer enquanto ele examinava.
— Não quebrou. — Ele murmurou, sem tirar os olhos da minha mão. — Você deslocou.
Antes que eu pudesse reagir ou perguntar o que isso significava, senti um movimento brusco, e uma dor aguda rasgou minha mão. Foi tão repentino e intenso que senti como se uma lâmina estivesse perfurando minha pele. A dor, porém, logo começou a diminuir, ficando mais fraca, embora ainda pulsasse. O alívio começou a aparecer, mas meu rosto ainda mostrava um leve traço de desconforto.
— Obrigada... — murmurei, tentando esboçar um sorriso, mas o incômodo ainda marcava minha expressão.
Ele permaneceu em silêncio, imóvel, os olhos fixos na minha mão. Carlisle parecia distante, mas ao mesmo tempo incrivelmente presente, como se estivesse perdido em pensamentos profundos. A intensidade no rosto dele era algo que eu nunca tinha visto antes — um misto de raiva contida e preocupação que parecia crescer com cada segundo de silêncio.
Ele estava quieto. Quieto demais. E aquilo me incomodava, me fazia querer dizer algo para quebrar o peso daquela expressão sombria que ele carregava.
Segurei a mão dele, sentindo o toque firme e frio dos seus dedos contra os meus. Tentei suavizar o momento, um sorriso fraco escapando pelos meus lábios enquanto buscava os olhos dele.
— Vamos para a nossa ilha? — murmurei, tentando afastar a tensão. — Queria aproveitar mais o lugar...
Mas ele não respondeu. Seus olhos, normalmente tão calmos e acolhedores, estavam sombrios, carregados de uma frieza impenetrável e de um ódio contido. Eu já o tinha visto enfurecido antes, mas isso... Era algo além, algo que me fez estremecer.
— Carlisle? — tentei chamá-lo de volta, esperando por uma resposta, qualquer sinal de que ele estava me ouvindo.
Mas ele apenas repetiu, a voz baixa e dura:
— O que ele falou?
— Carlisle... — comecei, querendo quebrar aquela barreira, mas ele me interrompeu, seu tom mais severo do que nunca.
— Vá para casa.
Eu pisquei, confusa, sem entender o que estava acontecendo.
— O quê?
— Vou pedir para que alguns dos meus filhos fiquem com você — ele afirmou, já se afastando, os olhos ainda presos em algo distante. Com movimentos decididos, tirou o jaleco, preparando-se para sair.
— Onde você vai? — Minha voz saiu um pouco mais fraca do que eu pretendia, o medo misturado à confusão.
Ele me olhou de relance, mas o olhar carregava uma determinação fria que não deixava espaço para dúvidas.
— Matar um lobo.
— Demorou, mas eu acho que saiu! Até a próxima! 🖤
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