TRIGÉSIMO TERCEIRO
Coloquei Grace atrás de mim instintivamente, um gesto automático de proteção. Podia sentir o cheiro dos lobisomens lá fora, forte e inconfundível, invadindo o ar com sua intensidade selvagem. Meu corpo ficou rígido, cada músculo preparado para o inevitável confronto. Não havia dúvida do porquê de estarem aqui. Era vingança, uma retaliação pelo que acreditavam ser um ataque ao tratado. Fazia sentido para eles. Para mim, era apenas uma tragédia, uma sequência de mal-entendidos e animosidades que nunca deveriam ter chegado até este ponto.
Mas uma coisa era certa: Grace não pagaria por isso. Eles poderiam descarregar toda a sua fúria, exigir reparações, até mesmo ferir meu orgulho. Mas eu jamais permitiria que ela fosse envolvida. Não enquanto eu estivesse ali.
O som da porta sendo aberta interrompeu meus pensamentos. Uma figura alta e magra apareceu, e, ao erguer o olhar, vi o rosto de Jacob, marcado por sua juventude e o peso de uma responsabilidade que parecia grande demais para ele. Atrás dele, uma presença ainda mais familiar: Billy Black, sentado em sua cadeira de rodas, seus olhos sérios e carregados com uma determinação fria.
Minha expressão endureceu. Mantive Grace firmemente atrás de mim, minha mão pairando em um gesto protetor, quase imperceptível, mas claro para quem prestasse atenção. Meu olhar oscilou entre Jacob e Billy, avaliando suas intenções, procurando qualquer indício de que poderíamos resolver isso de maneira pacífica. Mas eu sabia que, se a violência fosse o caminho que escolhessem, eu estava preparado para enfrentá-los — por ela.
Grace era minha prioridade. E isso não mudaria.
– Pode se desarmar, Carlisle, viemos em paz – disse Billy, sua voz firme, mas carregada de um tom que pretendia ser conciliador. No entanto, suas palavras não foram suficientes para diminuir a tensão que crescia dentro de mim. Eu não confiava neles, nem por um segundo. Minhas mãos permaneceram ligeiramente erguidas, meu corpo interpondo-se entre Grace e os intrusos.
– Estou bem assim – respondi, minha voz firme, com um toque de frieza. – Podem me dizer por que decidiram atrapalhar o momento com minha noiva?
Foi então que Paul apareceu. Ele surgiu ao lado de Jacob, e imediatamente percebi a mudança em sua expressão. Seus olhos, escuros e intensos, encontraram Grace quase de imediato. Era como se eu não estivesse ali, como se minha presença fosse insignificante diante da conexão que ele claramente sentia por ela. Sua tristeza era evidente, quase palpável. Não era só frustração; era algo mais profundo, mais pessoal.
– Noiva? – Paul perguntou, sua voz carregada de incredulidade e dor. Ele não tentou esconder o impacto das minhas palavras. Seus olhos brilharam, fixos em Grace, como se buscassem nela uma confirmação ou, talvez, uma negação.
– Noiva. – Ela respondeu rapidamente.
Eu sabia o que aquilo significava. Paul sempre sentiu algo por Grace. Era óbvio agora, ainda mais com sua reação ao saber que ela se casaria comigo. Para ele, isso não era apenas uma notícia. Era uma ferida aberta, e eu podia ver que, embora estivesse tentando se controlar, o conflito interno o consumia.
Grace o respondeu de maneira direta, sem vacilar, olhando nos olhos de Paul como se estivesse selando algo definitivo. Suas palavras foram claras, uma afirmação poderosa que fez meu peito inflar com uma mistura de orgulho e alívio. Pela primeira vez, escutei da boca dela aquilo que já sabia, mas que agora parecia ainda mais concreto.
Minha noiva. Sim, querida, minha.
Paul hesitou por um instante, como se tentasse absorver o impacto do que ela disse. Então, um sorriso fraco surgiu em seu rosto, forçado e cheio de resignação. Ele deu um passo para trás, deixando a dor escorrer pelos olhos antes de recuar para a segurança da sombra de Billy e Jacob.
– Espero que seja feliz – disse ele, a voz baixa, mas firme, antes de se calar completamente e desaparecer da conversa.
Billy passou as mãos pelo rosto, claramente desgastado. Por um momento, o peso da liderança e da perda que carregava se manifestou em sua expressão cansada.
– Sam está morto – ele anunciou, direto e frio, como quem jogava uma pedra em águas calmas.
As palavras pairaram no ar como um trovão abafado, mas inevitável. É claro que estava morto. Eu o matei.
Billy continuou, implacável:
– Teremos um novo alfa, um novo tratado.
A formalidade de suas palavras parecia deslocada, como se tentasse desviar do peso emocional do momento. Minha mandíbula se apertou, e soltei um suspiro lento, tentando conter a irritação crescente.
– E não existia outro momento para falarmos sobre isso? – questionei, o tom cortante.
Minha paciência já estava desgastada, e a presença deles apenas reforçava a inconveniência de tudo aquilo. Eles tinham invadido meu espaço, interrompido meu momento com Grace para falar sobre política tribal e tratados.
– Jacob assumiu o posto de alfa agora – respondeu Billy, ignorando completamente minha pergunta, como se o meu descontentamento fosse irrelevante para ele. – Temos um novo tratado, uma nova proposta.
Seus olhos fixaram-se nos meus, como se quisessem medir minha reação. Minha sobrancelha ergueu-se quase instintivamente, o gesto carregado de incredulidade e desinteresse. Eu não confiava neles, muito menos em qualquer proposta que envolvesse alterar um tratado que, mesmo com falhas, mantinha um equilíbrio precário por décadas.
– Um novo tratado? – perguntei, meu tom carregado de ceticismo enquanto cruzava os braços.
Jacob deu um passo à frente, o olhar intenso e determinado, embora sua postura ainda fosse a de alguém jovem demais para o peso que carregava. Seu cheiro, uma mistura de humano e lobo, era impossível de ignorar. Ele parecia nervoso, mas havia algo mais: orgulho. Talvez por finalmente ter assumido o papel que sempre fora de Sam.
– O tratado antigo está desatualizado – disse Jacob, ignorando minha provocação. – Não funciona mais para nenhum de nós. Precisamos de novas regras. Algo que funcione, que evite mais mortes.
Mais mortes. As palavras ecoaram, carregadas de peso. Ele queria ser razoável, ou pelo menos parecia querer. Mas eu sabia que não era tão simples assim. Nada com lobisomens jamais era.
Voltei meu olhar para Grace por um breve momento, absorvendo a calma que ela trazia mesmo em meio ao caos. Então, virei-me novamente para eles, meus olhos encontrando os de Billy, depois os de Jacob.
– Continuem – respondi, minha voz calma, mas carregada de autoridade. – Quero ouvir o que têm a dizer. Mas deixem algo muito claro: este tratado só será aceito se garantir a segurança de Grace e de todos que amo. Isso não é negociável.
— Jacob não quer que Grace, muito menos Bella, se machuquem neste meio — começou Billy, com a voz firme, mas carregada de exaustão. — Além disso, Charlie ainda é nosso amigo. Não queremos que nada de ruim aconteça a ele também.
Ele suspirou, como se buscasse forças para continuar.
— Sam estava fora de si nos últimos momentos de vida — ele admitiu, o peso da confissão evidente em cada palavra. — Não era mais a mente de um verdadeiro alfa. Ele ameaçou a vida de Grace... e, quando estava delirando, ameaçou a vida de Charlie também.
Meu olhar imediatamente foi para Grace ao ouvir isso. Ela respirou fundo, a menção de seu pai claramente afetando-a. Eu senti sua tensão, e minha mão automaticamente pousou em sua cintura, um gesto discreto de conforto e proteção.
Billy continuou:
— O tratado segue em pé. Vocês não podem cruzar nossas terras, não podem se alimentar dos humanos. Isso não muda.
Ele fez uma pausa, seus olhos encontrando os meus, como se avaliasse minha reação.
— Mas tem algo a mais nisso — ele acrescentou, sua voz mais baixa, quase hesitante, como se o que viesse a seguir carregasse um peso ainda maior.
Ergui o queixo ligeiramente, meus olhos estreitando-se enquanto aguardava. Era óbvio que o tratado não era a única razão para estarem aqui. Havia algo mais, algo que eles ainda não haviam revelado. E seja lá o que fosse, eu estava preparado para enfrentá-lo.
— Algo a mais? — questionei, minha voz carregada de ceticismo enquanto fixava meu olhar em Billy. — Sejam diretos. Não tenho tempo para joguinhos.
Billy respirou fundo, parecendo pesar cada palavra antes de falar. Jacob, ao seu lado, cruzou os braços, a expressão tensa como se discordasse do que estava prestes a ser dito. Mesmo Paul, que estava mais afastado, parecia nervoso, seus olhos evitando os de Grace.
— O novo tratado exige algo em troca — Billy finalmente disse, seu tom cauteloso. — Uma prova de boa fé.
Grace franziu a testa, claramente desconfortável com a ambiguidade. Eu a senti se aproximar de mim, buscando a segurança que eu já estava pronto para oferecer.
— Prova de boa fé? — repeti, a irritação crescendo em minha voz. — Desde quando a confiança entre nossas espécies depende de barganhas?
Jacob deu um passo à frente, os olhos brilhando com uma mistura de determinação e incerteza.
— Queremos ter certeza de que vocês também não vão tomar decisões impensadas — ele disse, ignorando meu tom. — Não como Sam fez. Queremos estabelecer um vínculo que nos permita resolver qualquer conflito antes que outra guerra comece.
Minha paciência estava se esgotando rapidamente.
— E o que exatamente vocês querem de nós? — perguntei, minha voz firme, mas carregada de uma ameaça velada.
Billy não tentou suavizar as palavras, sua aversão por mim era tão evidente quanto o cheiro de seus lobos no ar.
— Carlisle, está na hora de você e sua família irem embora de Forks — ele disse, o tom duro, quase como uma ordem. — Vocês já causaram problemas demais.
Eu mantive minha postura firme, embora sua hostilidade fosse irritante. Ele nunca fez questão de esconder o ódio que sentia por mim e pelos meus.
— Ir embora? — questionei, a voz baixa, mas carregada de frieza. — Depois de tudo o que enfrentamos para manter esta cidade segura?
Jacob deu um passo à frente, tentando respaldar a autoridade de Billy.
— Vocês não mantêm Forks segura, Carlisle — disse ele, a voz cheia de convicção. — A sua presença aqui atrai vampiros que colocam todos em perigo. Sam morreu por causa disso.
— Sam morreu porque ameaçou quem não deveria.
Billy apertou os lábios, seus olhos queimando de rancor.
— Não venha justificar a morte de Sam — disparou. — Você matou nosso alfa, Carlisle. Isso já é motivo suficiente para não aceitarmos mais nenhum de vocês por aqui.
Grace agarrou meu braço, como se quisesse me acalmar, mas também parecia tensa. Ela estava ouvindo cada palavra, absorvendo o ódio que se dirigia a mim.
— Não vou deixar a cidade— afirmei, a voz gelada. — Não importa o quanto vocês me odeiem, ela e minha família são prioridade.
Billy deu um leve sorriso irônico, cheio de desdém.
— Você acha que pode protegê-la aqui? Sua família é uma ameaça tanto para ela quanto para qualquer um em Forks. Queremos você e todos os Cullens fora desta cidade. Se você realmente se importa com Grace, vai fazer o que é certo e levá-los embora.
Jacob interveio, o tom mais calmo, mas ainda firme.
— Não é só por Grace, Carlisle. É por todos. Vocês já trouxeram problemas demais.
Olhei para os dois, o ódio nos olhos de Billy, a determinação hesitante de Jacob. O pedido deles não era um pedido, era uma tentativa de controle, um ataque direto.
— Vocês não querem paz — murmurei, minha voz baixa, mas carregada de desprezo. — Querem vingança.
Billy avançou um pouco, inclinando-se em sua cadeira de rodas, o ódio brilhando em seus olhos.
— Chame do que quiser — disparou ele. — Só quero vocês longe daqui antes que mais alguém morra.
Eu sabia que estava em desvantagem. Mesmo que não fossem atacantes declarados naquele momento, a tensão no ar deixava claro que qualquer movimento errado poderia ser o último. Se houvesse uma briga, eu não sairia vivo. Não naquele cenário, com lobos prontos para reagir ao menor sinal de conflito.
Suspirei, forçando minha voz a permanecer calma, mas firme.
— Ao menos me deem um tempo para sair da cidade — confessei, minhas palavras calculadas. — Preciso preparar minha família e, com isso... — Olhei para Grace, sentindo o peso do que estava dizendo. — Vamos embora.
Billy ergueu a sobrancelha, seu desdém evidente.
— Você vai tentar levar a garota... — disse ele, respirando fundo, como se precisasse se conter.
Minha paciência finalmente se esgotou, e minha voz cortou o ambiente com firmeza.
— Não fale dela como se Grace não estivesse aqui! — retruquei, minha raiva controlada, mas clara. — Ela é minha noiva. Minha futura esposa. E o que acontece com ela não é assunto seu!
Billy voltou seus olhos para Grace, como se a desafiasse a dizer algo. Sua expressão estava carregada de julgamento, mas também de algo mais profundo — talvez o reconhecimento de que ela estava tomando um lado.
— Você tem 15 dias — respondeu ele finalmente, com frieza. — Nada mais.
O silêncio que se seguiu foi opressor. Eles haviam deixado claro: ou eu partia, ou enfrentaria as consequências. Grace estava ao meu lado, mas, mesmo assim, o peso daquela decisão parecia um abismo entre nós e o resto do mundo.
O ambiente ficou ainda mais tenso quando Grace, com uma coragem quase desafiadora, deu um passo à frente, enfrentando Billy e sua hostilidade sem hesitar. Sua voz ecoou pelo espaço, carregada de determinação e um toque de provocação.
— E se não formos? — começou ela, os olhos fixos em Billy. — O que você e esse seu bando vão fazer?
Billy não perdeu tempo em responder, sua voz firme e cheia de rancor.
— Vamos matar cada Cullen e cada vampiro que atravessar a cidade.
A ameaça pairou no ar, pesada, mas Grace, surpreendentemente, soltou uma risada. Não foi uma risada nervosa ou incerta, mas uma risada de descrença e desprezo.
— Vocês se acham fortes... — rebateu ela, a voz carregada de sarcasmo. — Mas não teriam a menor chance.
Billy franziu o cenho, claramente não esperando essa reação. Antes que ele pudesse responder, Grace continuou, sua postura firme, quase desafiadora.
— Se você fosse um homem inteligente, saberia que uma aliança ajudaria sua matilha mais do que imagina. O que faria se um grupo de recém criados invadissem "sua" cidade?
Suas palavras caíram como uma pedra, ecoando no silêncio que se seguiu. A expressão de Billy endureceu ainda mais, enquanto Jacob e os outros lobos trocavam olhares incertos. Era óbvio que Grace havia mexido em um ponto sensível, e ela sabia disso. Sua coragem era admirável, mas também perigosa. E, naquele momento, ela se tornou a voz mais forte no conflito.
Billy estreitou os olhos para Grace, claramente não gostando do tom dela, mas também incapaz de ignorar a lógica de suas palavras.
— Recém-criados? — ele perguntou, sua voz carregada de desconfiança. — De onde tirou isso?
Grace cruzou os braços, a postura confiante e inabalável, algo que me encheu de orgulho e preocupação ao mesmo tempo.
— Carlisle me explicou — respondeu ela, direta. — Vampiros recém-criados são imprevisíveis, fortes e implacáveis. Eles não têm a contenção que um vampiro experiente tem, e se um deles invadir Forks, você vai precisar de mais do que sua matilha despreparada para contê-lo.
Billy respirou fundo, mas sua expressão se endureceu ainda mais.
— Você realmente acredita que precisamos da ajuda de vampiros para proteger esta cidade? — ele retrucou, seu tom carregado de desprezo.
Grace inclinou levemente a cabeça, sua voz agora gotejando sarcasmo.
— Acho que a morte de Sam já provou que vocês não são invencíveis.
A tensão no ar aumentou instantaneamente. Jacob deu um passo à frente, claramente se sentindo provocado, mas Billy levantou a mão, como se pedisse calma. Seus olhos estavam fixos em Grace, avaliando-a com uma intensidade quase desconfortável.
— E o que você sugere, Grace? — ele perguntou, com um tom que parecia mais um desafio do que uma pergunta genuína.
— Uma aliança — ela respondeu, sem hesitar. — Vocês odeiam os Cullen, nós sabemos disso. Mas esse ódio cego vai custar caro se algo maior do que eles aparecerem aqui. Trabalhar juntos é a única maneira de garantir que Forks fique segura, e de proteger cada um que amam.
Billy riu, um som seco e descrente.
— Você acha que confiaríamos em monstros para proteger esta cidade?
Antes que eu pudesse intervir, Grace deu um passo à frente, encarando Billy diretamente.
— Se não confiarem, vão acabar mortos quando a próxima ameaça aparecer. E, honestamente, senhor Black, prefiro não estar por perto para ver isso acontecer.
O silêncio que se seguiu foi carregado. Billy olhou para Jacob, depois voltou sua atenção para mim, claramente ponderando suas opções. Ele sabia que Grace tinha razão, mas admitir isso parecia impossível para ele.
Finalmente, ele bufou, balançando a cabeça com um misto de frustração e relutância.
— Vocês têm 15 dias para sair — repetiu ele. — Se ainda estiverem aqui depois disso, não haverá mais conversa.
E, com isso, ele virou sua cadeira, sinalizando para Jacob e Paul o seguirem, encerrando a discussão sem outra palavra.
Billy mal havia cruzado a porta quando eu ri baixinho, um som seco e cheio de desdém. Grace me olhou de esguelha, um brilho intrigado em seus olhos, mas eu já estava caminhando em direção à janela, observando a floresta lá fora, meu sorriso quase predatório.
— Eles realmente acham que podem nos intimidar, Grace? — perguntei, a voz calma, mas com uma borda afiada. — Billy Black está tão preso à sua moralidade ultrapassada que esqueceu como o mundo funciona.
Ela cruzou os braços, como se ainda absorvesse o impacto do que havia acabado de acontecer.
Ela arqueou uma sobrancelha, claramente lutando contra um sorriso.
— Você está se divertindo com isso, não está?
— Sempre. — Me aproximei, parando a poucos centímetros dela. — Eles acham que estão lidando com um idealista, um médico bem-educado que vai baixar a cabeça e obedecer. Mas você sabe tão bem quanto eu que não sou só isso.
Grace segurou meu olhar por um momento, antes de soltar uma risada breve, balançando a cabeça.
— E o que você pretende fazer, Carlisle? Porque, pelo que parece, temos 15 dias antes que Billy decida jogar todos os seus lobos contra a gente.
Inclinei a cabeça, a analisando como se ela tivesse acabado de fazer a pergunta mais óbvia do mundo.
— Eu poderia sair agora mesmo e acabar com isso. — Minha voz era calma, quase casual. — Levar Billy e sua matilha à ruína antes que sequer pisquem. Mas... onde estaria a graça nisso?
Ela estreitou os olhos.
— Isso é um jogo para você?
— Não exatamente. — Dei de ombros, começando a andar de volta pela sala. — Mas eles decidiram transformar essa situação em um duelo de vontades. E, minha querida, você sabe que eu nunca perco.
Grace soltou um suspiro, o tipo que se faz quando sabe que está prestes a embarcar em algo inevitável.
— Você realmente acha que Billy vai ceder?
Me virei para encará-la de novo, um brilho frio nos meus olhos.
— Billy Black não precisa ceder. Ele só precisa perceber que a ideia de nos enfrentar é uma batalha que ele já perdeu antes mesmo de começar.
Ela me observou por um momento, como se estivesse decidindo até onde confiava na minha confiança. Finalmente, ela assentiu, o fantasma de um sorriso nos lábios.
— Espero que você saiba o que está fazendo.
— Sempre sei, Grace. — Inclinei-me levemente, tocando sua mão com a minha. — Mas agradeço pela preocupação. — Beijei sua testa. — Venha, vou precisar deixar você em casa mais cedo do que imaginei...
Enquanto eu dirigia, o silêncio entre nós era carregado, mas não desconfortável. Grace olhava pela janela, o rosto iluminado pela luz fraca da lua, mas seus pensamentos estavam claramente em outro lugar. Talvez ainda no confronto com Billy e Jacob. Talvez no que viria depois.
Acelerando suavemente pelas ruas de Forks, finalmente quebrei o silêncio, minha voz baixa, mas carregada de significado.
— Você não precisava ter dito aquilo a Billy.
Grace virou o rosto para mim, seus olhos brilhando com uma mistura de desafio e exaustão.
— E o que você esperava? Que eu ficasse ali, quieta, enquanto eles tratavam você como se fosse algum tipo de monstro?
Soltei um riso baixo, sem tirar os olhos da estrada.
— Você está defendendo o homem que literalmente é chamado de monstro por todos eles.
— Talvez porque eu saiba que eles estão errados — respondeu ela, firme. — Ou talvez porque eu odeie quando tentam me dizer o que fazer.
Meu sorriso se alargou, mas havia algo de sombrio nele.
— E, no entanto, aqui estou eu, levando você de volta para casa. Obedecendo minhas ordens.
Ela bufou, cruzando os braços e se afundando no banco como uma criança contrariada.
— Isso não conta. Você é quem insistiu em me trazer.
— Claro que insisti. — Olhei rapidamente para ela, meu tom agora mais sério. — Porque eu sei exatamente o tipo de perigo que você corre ao estar ao meu lado. E, por mais que isso me mate, Grace, eu não vou deixá-la se tornar um alvo.
Ela ficou em silêncio por um momento, e quando falou novamente, sua voz estava mais baixa, quase hesitante.
— E você? Vai me deixar sozinha?
Parei o carro em frente à casa dela e desliguei o motor, girando no assento para olhá-la diretamente.
— Grace, escute-me bem. — Minha voz era quase um sussurro agora, mas cada palavra estava carregada de intenção. — Se algo acontecer a você, se você precisar de mim, eu estarei aqui. Sempre.
Ela me encarou, seus olhos revelando emoções conflitantes. Antes que pudesse responder, eu abri a porta e dei a volta no carro para abrir a dela.
— Vamos, entre. Já passou da hora de você descansar.
Ela desceu do carro sem dizer nada, mas hesitou na porta de casa, virando-se para me olhar novamente.
— Eles não vão me machucar.
Sai do carro rapidamente, eu me inclinei ligeiramente para ela, meus olhos fixando-se nos dela com uma intensidade que a fez recuar levemente.
— Não subestime o ódio de um homem, Grace. Você se colocou ao meu lado, desafiou Billy em público. Para eles, você é tão culpada quanto eu.
Ela ficou em silêncio por um momento, processando minhas palavras, mas depois balançou a cabeça, teimosa como sempre.
— E o que você sugere? Que eu simplesmente abandone tudo e vá embora com você?
Meu sorriso foi frio, mas não sem emoção.
— Sim. É exatamente isso que estou sugerindo.
— Você não pode estar falando sério.
— Grace — minha voz saiu firme, mas com um tom que beirava o desespero. — Você é minha. E, se acha que vou deixá-la sozinha, cercada por pessoas que nos querem mortos, então não me conhece tão bem quanto pensa.
Ela abriu a boca para protestar, mas eu não dei chance.
— Eu vou proteger você, não importa o que aconteça.
Grace ficou em silêncio, seus olhos brilhando com emoções conflitantes. Finalmente, ela suspirou.
— Você é um homem impossível, Carlisle Cullen.
Eu soltei um pequeno sorriso, um traço de alívio suavizando minha expressão.
— E você já deveria saber disso.
Grace deu um último olhar para mim antes de se virar, a luz fraca do alpendre iluminando seus traços delicados. Cada movimento dela parecia lento, como se o momento se estendesse além do tempo. Quando seus dedos alcançaram a maçaneta, ela parou, respirou fundo e, quase como uma confissão, murmurou:
— Eu amo você.
As palavras flutuaram no ar, suaves, mas carregadas de um peso que ela sabia que eu entenderia. Um sorriso enviesado surgiu em meus lábios, e minha resposta veio no mesmo tom, sem hesitar:
— Não mais do que eu.
Ela não disse mais nada. Apenas fechou a porta com um clique suave, deixando-me sozinho no silêncio da noite.
Por alguns segundos, fiquei parado ali, encarando a entrada da casa. O calor do momento já havia desaparecido, substituído por uma sensação familiar de responsabilidade e inquietação. Soltei um suspiro curto, enfiando as mãos nos bolsos do casaco, e caminhei até o carro.
A luz da rua refletia na pintura brilhante do veículo enquanto eu destravava a porta e entrava. Girei a chave na ignição, o motor ronronando como um lembrete constante do próximo passo.
A direção até a casa da minha família foi quase automática, cada curva da estrada sendo tomada sem esforço, mas com a mente em outro lugar. Grace e as palavras dela ainda estavam comigo. Mesmo depois que a porta se fechou, mesmo enquanto a estrada se desenrolava à minha frente.
Assim que a mansão apareceu ao longe, envolta em sombras elegantes, respirei fundo, preparando-me para enfrentar o que vinha a seguir.
Cheguei em casa e estacionei o carro na garagem, o motor ronronando por um momento antes de silenciar completamente. Desci com calma, ajeitando o casaco como quem se prepara para uma conversa longa e, talvez, desagradável.
Ao abrir a porta principal, fui recebido pela visão familiar da minha família reunida. Estavam todos sentados na sala, cada um imerso em sua própria atividade.
Alice foi a primeira a levantar os olhos, sua expressão cautelosa. Edward, como sempre, já me encarava com o rosto tenso, provavelmente tentando captar algo dos meus pensamentos antes mesmo de eu abrir a boca. Ao lado dele estava Bella, lendo um livro em suas mãos. Rosalie mantinha seu ar desinteressado, mas seus olhos me analisavam com precisão.
Sim, éramos a imagem de uma boa família. E talvez isso fosse verdade, de um certo ângulo. O tipo de família que sabia manter a compostura enquanto um furacão passava ao redor.
— Temos algo para discutir — anunciei, fechando a porta atrás de mim com um clique suave, como se isso fosse selar qualquer tipo de normalidade que pudesse ter restado.
— O que aconteceu?
— Billy Black apareceu hoje mais cedo com um ultimato — respondi, sem rodeios. — Ele nos deu 15 dias para sair da cidade.
Alice se levantou num movimento fluido, o alarme evidente em seu rosto.
— O quê? Por que ele faria isso?
Sorri de canto, o tipo de sorriso que nunca tranquilizava ninguém.
— Bem, digamos que ele não ficou muito feliz com o fato de eu ter matado Sam.
O impacto foi imediato.
— Você fez o quê?! — Edward quase rosnou, dando um passo à frente, a tensão irradiando dele.
Esme levou a mão à boca, horrorizada.
— Matou o alfa?
— Isso mesmo — respondi, cruzando os braços e me recostando casualmente contra o batente da porta. — Sam achou que podia me intimidar. Ele apareceu cheio de ameaças, achando que tinha algum tipo de poder sobre mim ou sobre esta família. Mais especificamente... sobre a mulher que eu amo.
Minha voz ficou mais baixa, mais fria, e o silêncio na sala foi absoluto.
— Ele achou que era uma boa ideia ameaçar Grace. Disse que, se não recuássemos, ele faria dela um exemplo.
Observei suas reações, uma por uma.
— Então, sim. Ele não me deixou escolha. Ele cruzou uma linha que não deveria ter cruzado, e eu só finalizei o que ele começou.
— "Finalizou um problema"? — Edward avançou, sua voz carregada de raiva. — Você tem ideia do que acabou de fazer? Isso é guerra! Eles vão atrás de todos nós agora!
Ri, uma risada seca e sem humor.
— Guerra? Sempre tão dramático, Edward. Eles já estavam prontos para guerra. Sam estava esperando o momento certo para isso.
— Isso não é sobre força! — Edward exclamou, a raiva fervendo em sua voz. — É sobre as consequências! Você colocou todos nós em risco!
Encarei-o com firmeza, minha voz baixa e letal.
— Todos nós já estávamos em risco.
Rosalie falou, sua voz cortante.
— E Billy acha que simplesmente vamos embora?
— Exatamente.
— O que você pretende fazer? — Emmett perguntou, finalmente interessado, um sorriso quase predatório brincando em seus lábios.
— O que for necessário.
— Eu previ essa guerra... — Alice falou, a voz baixa, mas carregada de um peso que só ela parecia entender. — Eu previ os lobos nos atacando... Eu vi.
Todos os olhares se voltaram para ela. Sua postura rígida e os olhos perdidos em algo que nenhum de nós podia enxergar diziam mais do que suas palavras.
Caminhei até ela, parando ao seu lado. Toquei seu ombro com firmeza, deixando minha voz sair firme, mas calma.
— Então, minha filha, lutaremos juntos até o fim.
Por um momento, Alice permaneceu em silêncio. Então, lentamente, ela assentiu, seus olhos encontrando os meus com determinação renovada.
— Se é isso que vem... que venha. — Sua voz estava mais forte agora.
Carlisle me deixou em casa, o som do motor desaparecendo lentamente enquanto ele se afastava. Fechei a porta atrás de mim, e a casa parecia mergulhada em um silêncio opressor. As luzes estavam apagadas, e por um instante hesitei no escuro, os olhos tentando se ajustar.
Com alguma dificuldade, encontrei o interruptor e acendi a luz da entrada. A claridade foi uma bofetada suave, mas não dissipou a tensão que ainda percorria meu corpo. Tudo ainda parecia pesado, sufocante, como se as paredes guardassem ecos daquela discussão.
Eu seria sua esposa. Estava tudo indo perfeitamente bem. Pelo menos, era o que dizia a história que eu repetia para mim mesma. Mas quem eu estava tentando enganar? Não passávamos um único momento sem algo para resolver, um problema a ser enfrentado, uma ameaça pairando no ar como uma sombra que nunca desaparecia.
Suspirei, tentando afastar esses pensamentos enquanto caminhava pelo corredor. Meus passos ecoavam baixos pelo piso, e a solidão da casa parecia amplificar cada som. Estendi a mão e apoiei-me levemente na parede enquanto tirava os sapatos, um de cada vez, deixando-os no chão sem qualquer cerimônia.
Tudo o que eu queria era o refúgio do meu quarto, um momento para me recompor, para processar tudo o que havia acontecido. Mas até isso parecia um luxo inalcançável naquela noite.
Quando entrei no meu quarto, meus dedos ainda estavam tremendo levemente enquanto procurei pelo interruptor. Assim que a luz iluminou o ambiente, meu coração praticamente parou.
O rosto de uma mulher loira e pálida estava diante de mim, seus olhos de um vermelho profundo que pareciam perfurar minha alma. Ela estava parada ali, como se já fizesse parte do quarto, seu sorriso pequeno e calculado estampado no rosto, irradiando perigo.
Arrepios correram pela minha espinha, e dei um passo para trás, tentando manter a voz firme.
— Quem é você!? — Questionei, recuando lentamente para a porta por onde havia entrado.
Ela não se moveu, mas o sorriso em seus lábios se alargou um pouco, de um jeito que fez minha garganta se apertar.
— Sou Jane. — A voz dela era calma, quase doce, mas carregada de algo sombrio e frio.
Antes que eu pudesse reagir, senti a presença de alguém atrás de mim.
De repente, um pano áspero foi pressionado contra meu rosto. O cheiro forte invadiu minhas narinas, e minha visão começou a embaçar quase que instantaneamente.
Minha mente tentou lutar contra o apagão iminente, mas em segundos, tudo se tornou escuridão.
Meu corpo doía, como se tivesse sido jogado contra uma parede e deixado ali por horas. Minha mente estava enevoada, e demorei alguns segundos para perceber onde estava. Pisquei algumas vezes, tentando clarear minha visão e me situar.
Era um poço. Ou algo parecido. As paredes eram feitas de pedras antigas, úmidas e cobertas de musgo, e as correntes que pendiam delas eram ainda mais velhas, enferrujadas, mas assustadoramente sólidas. Eu estava presa, e nada fazia sentido.
Tentei me mover, mas o peso das correntes nos pulsos tornou o gesto doloroso. Pisquei novamente, focando na cena à minha frente. Um grupo se aproximava, passos calculados e precisos ecoando pelo espaço apertado. Era surreal, como um pesadelo que minha mente não conseguia processar completamente.
— Querida Grace... — A voz suave, quase gentil, me fez erguer o olhar imediatamente.
Aro Volturi.
Ele se aproximava com aquele sorriso enigmático, os olhos escuros brilhando de um jeito que não trazia conforto, apenas um frio aterrorizante.
— Carlisle deixou você desprotegida, e não podíamos recuar agora... — disse ele, inclinando-se para passar os dedos gelados pelo meu rosto.
A sensação era repulsiva, mas eu estava paralisada, incapaz de afastá-lo.
— O que você quer comigo?! — Minha voz soou rouca, quase desesperada.
— Me desculpe por todo aquele caos... Eu precisei.
Franzi o cenho, tentando entender.
— Do que está falando?
Aro sorriu mais amplamente, como se estivesse saboreando cada momento.
— Ah, me perdoe. — Ele deu uma leve risada, o som ecoando nas paredes de pedra. — O alfa daqueles lobos morreu por conta daquela briga com Carlisle. Mas digamos que o sangue dele o tenha debilitado, não matado.
Meu coração acelerou.
— O que você quer dizer com isso?
— Quando um dos meus vampiros o mordeu novamente, ainda no chão daquela floresta, foi a sua sentença de morte. — Ele inclinou a cabeça, como se explicasse algo trivial. — Eu precisava que ele morresse, precisava que minha querida Alice previsse apenas isso... Por enquanto.
Senti um frio na espinha, e meus olhos instintivamente se voltaram para o chão.
— O que...?
— Sinta-se em casa, querida. — Ele tocou meu rosto mais uma vez, dessa vez com um carinho insuportável. — Porque agora esta é a sua nova moradia.
As palavras caíram sobre mim como uma pedra, esmagando qualquer esperança que eu ainda pudesse ter tido.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro