TRIGÉSIMO QUINTO
O motor do carro rugia, ecoando na estrada deserta enquanto meus olhos permaneciam fixos no horizonte à frente. Cada segundo que passava era uma tortura, cada quilômetro uma batalha entre minha paciência e a urgência implacável que queimava em meu peito. Minha mente estava clara, mais focada do que nunca.
La Push.
Era o único lugar que fazia sentido. Não importava o quanto tentassem se esconder, eu sabia. Quem quer que tivesse levado Grace estava lá. As peças se encaixavam de maneira óbvia, cruel, como se tivessem sido feitas para me desafiar.
Os lobos.
Eles queriam uma guerra? Pois agora tinham tocado na única coisa que poderia verdadeiramente me destruir.
Minhas mãos seguravam o volante com tanta força que ouvi o estalo do couro sob meus dedos. Não importava. Nada importava, exceto trazê-la de volta.
O carro derrapou ao fazer a curva fechada, os pneus guinchando contra o asfalto molhado. Não diminui a velocidade. Não podia. Quando finalmente alcancei o limite da floresta, não hesitei. Freei bruscamente, o som dos pneus arranhando o solo ecoando por segundos que pareciam intermináveis.
Abri a porta antes mesmo de o carro parar completamente, saltando para fora com a urgência de um predador. Minhas pernas se moveram automaticamente, carregadas pelo instinto. Meus punhos estavam cerrados ao lado do corpo, e eu podia sentir a força pulsando neles, como uma promessa de destruição.
A floresta estava escura, mas isso não importava. Eu podia ver. Podia sentir. O cheiro úmido da terra misturava-se ao aroma selvagem que sempre marcava a presença dos lobos.
E então, veio o som.
Um uivo.
Agudo, longo, vibrante, ecoando pela escuridão como um aviso. Ou talvez uma provocação.
Eles sabiam que eu estava ali. Claro que sabiam. E eu queria que soubessem.
Deixei meus olhos se estreitarem enquanto avançava pela floresta. Cada passo parecia mais pesado, carregado de fúria e determinação.
— Se querem guerra... — murmurei para mim mesmo, minha voz baixa e grave, quase um rosnado. — Terão guerra.
Eu sabia que não havia volta, que aquilo seria um confronto definitivo. Mas isso não importava. Nada importava.
Grace estava lá fora, sozinha, assustada, e eu faria qualquer coisa – qualquer coisa – para trazê-la de volta. Se isso significava rasgar a floresta em pedaços e enfrentar cada lobo que ousasse cruzar meu caminho, que assim fosse.
O uivo foi seguido por outro, mais próximo desta vez. Meus passos se tornaram mais rápidos, meus punhos mais cerrados.
Eles pensavam que podiam tocar no que era meu? Que podiam levar ela de mim?
Eles logo entenderiam o erro que cometeram.
Minhas pernas se moviam como se fossem alimentadas por pura raiva e determinação, cada passo mais rápido e violento que o anterior. A floresta parecia um borrão ao meu redor, árvores passando como sombras, o som de meus pés esmagando o chão úmido se misturando ao eco distante de outro uivo. Mais próximo desta vez.
Então, eu a vi.
A cabana.
Ela estava lá, no centro da clareira, uma construção modesta, mas imponente pela aura de tensão que parecia irradiar dela. Tudo em meu corpo dizia que aquele era o lugar. A casa de um deles.
Sem hesitar, continuei avançando. O cheiro dos lobos estava mais forte agora, quase sufocante. Meu instinto me alertava que não estava sozinho. Eu sabia que eles estavam ali, rondando, esperando, mas não me importava. A única coisa que importava era Grace.
Outro uivo cortou o ar, tão próximo que senti a vibração em meu peito.
E foi então que meus olhos a avistaram. Uma mulher. Ela estava parada perto da cabana, surpresa ao me ver.
Assim que a vi, soube que era Emily. Mas a mulher diante de mim já não era a mesma que eu me lembrava. Havia algo mais sombrio em seu olhar, uma determinação amarga que não combinava com o rosto que outrora era conhecido por sua bondade. Ela estava parada ao lado da cabana, e, no momento em que nossos olhares se cruzaram, vi o medo em seus olhos, mesmo que tentasse escondê-lo.
Não hesitei.
Corri em sua direção com toda a velocidade que meu corpo podia suportar, cada passo impulsionado por minha raiva. Antes que ela pudesse gritar ou reagir, prendi-a firmemente em meus braços, como aço dobrado ao redor de seu corpo.
— Fique quieta. — Sibilei, minha voz baixa e ameaçadora, mas firme.
Ela lutou, claro, arranhando, tentando se soltar, mas não tinha chances. Seus gritos eram abafados pelo som das patas que se aproximavam, rompendo a calma da floresta.
Eles estavam vindo.
Não demorou muito até que os lobos surgissem das sombras, enormes e selvagens, suas presenças dominando a clareira. Eles não hesitaram em se posicionar ao meu redor, formando um círculo de ameaça.
E, no meio deles, o alfa. Jacob.
Ele estava na forma humana, mas sua postura carregava a mesma autoridade que ele tinha como lobo. Seus olhos me encararam, queimando com uma mistura de fúria e incredulidade.
— Cullen. — Ele disse, a voz grave e cortante como um trovão. — Solte-a. Agora.
Emily continuava a se debater, mas meu aperto era firme, inabalável. Olhei para Jacob, ignorando os outros lobos que rosnavam ao meu redor.
— Não até que eu saiba onde ela está. — Minhas palavras eram tão afiadas quanto lâminas, carregadas de raiva.
Jacob deu um passo à frente, o ar ao nosso redor ficando ainda mais tenso.
— Ela quem? — Jacob perguntou, sua voz carregada de frustração, mas também de cautela. Ele sabia que estava pisando em terreno perigoso.
Meus olhos se estreitaram, e meu aperto no pescoço de Emily aumentou, arrancando dela um gemido de dor.
— Grace. — Sibilei entre dentes, meu tom um rosnado baixo, carregado de ameaça. — Onde ela está?
Emily tentou falar, sua voz um murmúrio ou fraco, mas eu a mantive firmemente em meu controle. Não tinha tempo para hesitações, para rodeios.
Jacob deu mais um passo à frente, levantando as mãos em um gesto de calma, mas seu olhar estava carregado de tensão.
— Não sabemos onde ela está. — Ele disse, com os dentes quase trincados. — Mas isso não justifica machucar Emily.
Minha risada foi seca, amarga, quase insana.
— Justifica tudo quando estamos falando da única coisa que importa para mim. — Minhas palavras cortaram o ar como lâminas. — E se não me derem respostas agora, isso só vai piorar.
Os outros lobos começaram a rosnar mais alto, avançando um pouco mais, mas Jacob ergueu a mão, ordenando que ficassem no lugar.
— Você está cruzando uma linha perigosa, Carlisle. — Ele disse, a raiva em sua voz crescendo. — Nós não temos Grace, e atacar Emily só vai tornar você o monstro que jurava nunca ser.
Aquelas palavras bateram em mim como um soco, mas eu não recuei. Meu controle estava por um fio, minha raiva queimando mais quente do que qualquer lógica ou razão.
— Não me interessa o que vocês dizem que sabem ou não sabem. — Respondi, minha voz fria como gelo. — Os únicos que tinham pretextos para captura-lá são vocês.
O grito de Jacob ecoou pela clareira, carregado de uma urgência quase desesperada.
— Não pegamos a Grace! — Ele rugiu, seus olhos fixos em mim, cheios de uma raiva controlada, mas também de algo mais: verdade. — Não sabemos onde ela está, Carlisle! Nunca sequer tocaríamos em um único dedo da Grace!
Minha mandíbula se apertou, meu olhar alternando entre Jacob e Emily, que ainda tremia em meus braços. Seu corpo estava rígido, e eu podia sentir o coração dela batendo como um tambor acelerado contra minha mão.
Grace...
Se ela não estava aqui, então onde estava?
Minhas emoções se chocavam dentro de mim como uma tempestade. Raiva, frustração, medo. Meu aperto em Emily diminuiu um pouco, mas minha mente ainda estava tomada pela fúria.
— Não faz sentido! — Gritei, minha voz ecoando pela floresta. — Grace não desaparece! Ela não faz esse tipo de coisa! Alguém a pegou, eu tenho certeza disso!
— Alguém a pegou, Carlisle. — Jacob rebateu, seus punhos cerrados, o corpo inteiro tenso. — Mas não fomos nós! Não somos responsáveis por isso! Agora, solte ela.
A clareira estava em silêncio, exceto pelo som dos lobos rosnando baixinho, como um trovão contido à distância. Eu olhei novamente para Emily, para seu rosto pálido e assustado. Ela não conseguia esconder o medo que sentia, mas também não havia culpa em seus olhos.
Lentamente, meu aperto diminuiu. Deixei que ela se afastasse, cambaleando para longe de mim, mas meus olhos permaneceram fixos em Jacob.
— Se não foram vocês... — Minha voz era baixa, mas carregada de raiva e dúvida. — Então quem foi?
Jacob balançou a cabeça, seu rosto endurecendo.
Paul emergiu das sombras da floresta, ofegante, como se tivesse corrido com toda a força de seu corpo. Seus olhos estavam arregalados, cheios de uma urgência que até mesmo ele parecia não entender completamente.
— A Grace... s-sumiu? — Sua voz quebrou no meio da pergunta, as palavras saindo rápidas, quase desesperadas.
Minha mandíbula se apertou, e eu o encarei com um olhar firme, ainda ardendo em fúria.
— Sim. — Respondi, minha voz grave e cortante.
Paul deu um passo à frente, sua expressão mudando de preocupação para incredulidade e, finalmente, para raiva.
— Não... Merda, como isso aconteceu!? — Ele gritou, a frustração transbordando em suas palavras.
Minha paciência estava por um fio, e o som de sua voz parecia um eco distante em meus ouvidos. Minha visão escureceu por um momento, as bordas do mundo ao meu redor sendo engolidas pela raiva e pela impotência. Estar aqui, perdendo meu tempo, já não fazia sentido.
De repente, meu celular vibrou no meu bolso. Aquele som cortou minha atenção como uma lâmina afiada. Sem hesitar, tirei o aparelho e atendi, pressionando-o contra o ouvido.
— Alice? — Minha voz saiu mais brusca do que eu pretendia, mas o nervosismo em seu tom congelou tudo dentro de mim.
— Carlisle... — A voz dela tremia, um misto de medo e desespero que eu raramente ouvira.
— O que houve? — Perguntei, meu corpo enrijecendo.
— Foi o Aro... — Ela disse, e meu mundo parou.
Fiquei imóvel, as palavras dela ecoando na minha mente, devastadoras e definitivas.
— O quê? — Minha voz saiu como um sussurro, mas carregada de incredulidade.
— Ele pegou a Grace. — Alice confirmou, e naquele momento, tudo ao meu redor desapareceu.
Meu corpo estava estendido contra o chão frio, cada músculo rígido, cada osso doendo com o desconforto constante de estar presa naquele lugar. O ar era gelado e úmido, o tipo de frio que se infiltrava na pele e se alojava nos ossos, impossibilitando qualquer tipo de calor. Eu tremia, mas não sabia se era por causa do frio ou pelo medo incessante que parecia habitar em mim.
Minha mão estava fechada contra o peito, um gesto que eu nem percebi fazer até o momento em que a dor me trouxe de volta à realidade. A outra mão repousava instintivamente sobre minha barriga. Uma barreira? Um gesto de proteção? Talvez fosse um pouco de ambos.
Um filho.
Essa era a única coisa que me mantinha sã, a única verdade que fazia tudo isso valer a pena. Eu estava grávida de Carlisle Cullen, e essa criança, nosso filho, era agora o motivo pelo qual eu precisava continuar lutando. Precisava ser forte, mesmo quando o medo tentava me consumir. Nosso bebê precisava voltar para casa. Para Carlisle. Para a segurança que ele podia nos oferecer.
O som de passos ecoou novamente no corredor de pedra, e eu soube que ele estava vindo. Ele sempre vinha. O homem alto e sombrio que parecia encarregado de me manter viva — ou pelo menos viva o suficiente para os propósitos de Aro.
Abri os olhos com esforço, minha visão turva e minha cabeça pesada. Cada vez me sentia mais fraca. Meus olhos caíram sobre minha barriga, e por um momento, tive a sensação de que ela parecia maior. Teria crescido? Ou era apenas o isolamento me pregando peças?
Antes que eu pudesse me aprofundar nesse pensamento, algo foi atirado contra mim. Uma bolsa de sangue bateu no meu rosto, o impacto leve, mas suficiente para me despertar completamente. O líquido dentro da bolsa ondulou com o movimento, e o cheiro metálico e doce imediatamente preencheu o ar.
Meu estômago se revirou. Sangue.
Levantei o olhar, encarando o homem que estava parado ali com um sorriso satisfeito e cruel no rosto.
— Beba. — Ele disse, com a voz firme, como se estivesse me dando uma ordem.
Meu corpo congelou. Sangue? Meu Deus, era isso que eles queriam que eu fizesse? Minha mente lutava contra a ideia, rejeitando o que parecia ser uma afronta à minha humanidade.
— Não sei se você não percebeu — comecei, minha voz fraca, quase um sussurro. — Mas sou humana. Não bebo sangue.
Ele inclinou a cabeça, o sorriso em seus lábios se alargando, como se eu tivesse contado uma piada particularmente boa.
— O monstro dentro de você precisa comer. — Ele disse, suas palavras carregadas de desprezo e crueldade. — Aro disse que a criança se alimenta de sangue humano. Então beba, querida.
Meu coração disparou. Cada palavra dele era como uma facada. O que ele estava dizendo? Que meu filho... nosso filho... era algo monstruoso?
— Você está mentindo. — Retruquei, mas minha voz falhou, minha convicção se esvaindo antes mesmo que pudesse acreditar em minhas próprias palavras.
— Estou? — Ele perguntou, o tom dele soando quase casual, como se estivesse discutindo o tempo. — Então me explique como você ainda está viva, Grace. Esse bebê está drenando tudo de você. Você não sente? A fome, a fraqueza... Você acha que isso é apenas o cativeiro?
Ele se aproximou lentamente, seu olhar penetrante como lâminas.
— Beba, ou você vai morrer antes de conseguir segurá-lo em seus braços.
Olhei para a bolsa de sangue, meu estômago revirando de nojo e desespero. Ele estava mentindo? Não sabia mais. Mas no fundo, algo em mim sussurrava que ele podia estar certo.
Minhas mãos trêmulas alcançaram a bolsa, minha mente tentando encontrar qualquer resquício de racionalidade. Eu precisava proteger meu bebê. Mesmo que isso significasse ir contra tudo o que eu acreditava.
Segurei a bolsa com força, meu corpo inteiro tremendo, e levei-a aos lábios, fechando os olhos enquanto o gosto metálico tomava conta de mim.
Eu só tinha uma única certeza: Carlisle viria. Ele sempre viria. E quando chegasse, aqueles que nos mantiveram aqui pagariam com tudo o que tinham.
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