SÉTIMO
Desci as escadas da casa de Grace com passos lentos, observando a picape laranja estacionada ao lado de fora, reluzindo sob a luz fraca do dia. Não era a minha escolha usual, mas a situação exigia rapidez, e a picape das irmãs Swan serviria para o que precisávamos.
Segurei as chaves em minhas mãos, sentindo o peso frio do metal entre meus dedos enquanto caminhava até o veículo. Me aproximei da porta do motorista e, sem hesitar, entrei no banco da frente. Grace seguiu logo atrás, mas o silêncio entre nós era quase insuportável. Ela estava quieta, seus olhos presos em algum ponto distante, perdida em pensamentos que eu não poderia ler, mas podia imaginar. Ela estava séria, talvez ainda processando tudo o que estava acontecendo, cada decisão forçada, cada momento roubado de controle.
Eu odiava isso. Odiava que tivesse que ser assim, que as circunstâncias a obrigassem a seguir um caminho que ela não escolheria por si mesma. Mas era necessário. Edward já estava cuidando de Bella, levando-a para nossa casa, onde arranjaria um jeito de tirá-la da cidade. Eles não parariam até encontrá-la, até que estivesse morta. Mas Grace... não. Grace estaria segura, sob meu olhar atento, sob minha proteção.
Afinal, era isso o que deveria ser. Ela pertencia a esse lugar, ao meu cuidado, ao meu poder. Nada nem ninguém poderia tocá-la ou feri-la enquanto estivesse ao meu lado. Nada.
Eu segurava o volante com firmeza enquanto dirigia, os faróis da picape iluminando o caminho diante de nós, mas minha mente estava a mil. Eu não podia levar Grace para nossa casa, seria óbvio demais. O cheiro dela, seu rastro... tudo nela seria um convite irresistível para qualquer um que a quisesse. O gosto que ela teria... Por um momento, minha mente vagou para ela.
O silêncio dentro da cabine da picape estava presente até que a voz de Grace o cortou, me puxando de volta para a realidade.
— Para onde vamos? — Ela pergunto.u.
Eu mantive meus olhos na estrada, respondendo com a única verdade que podia dar a ela naquele momento.
— Ainda não sei.
Ela bufou, claramente irritada com a falta de clareza.
— Você me tirou da minha própria casa sem saber onde vamos!? — Sua voz subiu uma oitava, e as bochechas dela ficaram levemente rosadas de frustração. — Eu nem ao menos peguei roupas!
Sua irritação me divertia, mas mantive o tom calmo, sem me deixar abalar.
— Posso comprar um guarda-roupa inteiro para você, isso não será um problema.
Ela se virou para mim, a boca entreaberta em choque, como se não pudesse acreditar na ousadia da minha resposta. Eu a encarei de volta, observando a forma como ela processava minhas palavras. Seus olhos castanhos escuros, os únicos mais bonitos que eu já tinha visto.
— Ao menos minha irmã vai ficar comigo? — Ela perguntou, agora com um tom mais suave, quase uma súplica.
Suspirei, já sabendo que essa era uma parte difícil de explicar, mas necessário. Eu precisava mantê-las separadas.
— Não, Grace. A melhor opção para você e para Isabella é que fiquem separadas. — Minhas palavras saíram diretas, sem rodeios. — Os assassinos vão atrás de vocês, e se pegarem as duas juntas, será dois coelhos de uma vez só.
Ela desviou o olhar, mordendo o lábio inferior, o rosto agora sério. Eu sabia que essa decisão a magoava, mas era o único jeito de garantir a segurança dela. Ficar juntas as tornaria um alvo muito mais fácil.
— Não posso ficar longe da minha irmã. — A voz dela saiu firme, quase desafiadora, enquanto cruzava os braços.
— Precisará. — Respondi sem hesitar, mantendo o olhar fixo na estrada à frente. Ela precisava entender que o que estava em jogo era muito maior do que sua teimosia infantil.
— Mas não quero! — A indignação na voz dela era clara. — Eu vou ficar na casa da sua família, e ela vai sair da cidade. Não é justo ficarmos longe! E outra, são apenas humanos, pessoas que meu pai e a polícia dão conta!
— Você não vai para minha casa. — Minha voz foi fria, final. Eu não permitiria isso.
Ela ergueu a sobrancelha, surpresa, claramente esperando uma resposta diferente. Sua boca se abriu, pronta para disparar outra série de protestos, mas eu já estava à frente disso.
— Para onde está me levando, então? — A desconfiança em sua voz era nítida, e eu sorri internamente. Eu gostava de vê-la assim, inquieta, tentando manter o controle, mas sabendo que no final, tudo estava nas minhas mãos.
— Existe um lugar. — Apertei o volante, meus olhos focados na estrada. — O primeiro lugar que morei quando coloquei meus pés em Forks. Seguro o suficiente. Você vai para lá.
— Seguro o suficiente? — Ela bufou, descrente. — E como você pode ter certeza disso?
— Porque só eu sei onde é. — Respondi, enquanto a olhava de relance.
Ela mordeu o lábio, sem responder imediatamente. Eu podia ver o conflito nos olhos dela, a hesitação em confiar em mim. Por mais que James fosse um caçador, teríamos tempo. O lugar ficava longe de qualquer coisa, e se ele chegasse aqui... Eu o mataria.
— Isso não está certo... — Ela murmurou, mais para si mesma do que para mim.
— Não precisa estar certo. Só precisa ser assim. — Respondi com um meio sorriso, voltando meus olhos para a estrada.
O celular de Grace começou a tocar, quebrando o silêncio tenso entre nós. O nome de Isabella Swan apareceu na tela, brilhando como uma lembrança dolorosa do laço que ela estava prestes a deixar para trás. Grace atendeu prontamente, e eu pude ouvir a preocupação na voz de Bella do outro lado da linha, refletindo o mesmo nervosismo que dominava a jovem ao meu lado.
Os olhos de Grace rapidamente se encheram de lágrimas enquanto ela tentava confortar a irmã. Ela murmurava palavras de consolo, pedindo para Bella se cuidar, tentando desesperadamente soar forte, mas a dor era evidente. E justo quando parecia prestes a revelar nosso destino, o sinal do celular desapareceu completamente, cortando a conexão.
— Estamos chegando. — Falei, enquanto dobrava para a esquerda na estrada esburacada. Ela olhou para mim, como se procurasse por algum conforto ou garantia, mas eu não ofereci nada.
Grace enxugou as lágrimas rapidamente, enquanto olhava para a estrada à frente. Ela sabia que não podia mudar o que estava acontecendo, mas eu podia sentir a batalha interna dela, lutando contra a situação, querendo mais respostas. Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, ela entenderia. Grace não teria escolha.
Assim que entrei na rua estreita, a casa apareceu lentamente no horizonte, envolta pela tranquilidade das árvores ao seu redor. O ar ali era diferente, limpo, sereno, e o lago no centro, refletindo o céu e as copas das árvores, parecia um portal para outro mundo. A madeira da casa, envelhecida com graça pelo tempo, ainda estava intacta, exatamente como eu a havia deixado na última vez que estive aqui. Era um refúgio, um pedaço de mim que eu nunca compartilhei com ninguém, nem mesmo com Esme. Esse lugar era só meu, uma extensão da minha mente. Meus instrumentos do hospital, os livros que estudei por décadas, cada detalhe esperando por mim, preservado como uma cápsula do tempo.
Grace desceu da picape lentamente, seus olhos se arregalando enquanto ela absorvia o cenário ao seu redor. Eu a observei enquanto ela girava a cabeça, encantada com a beleza do lugar. Sua respiração parecia mais leve, como se o peso de tudo que havia acontecido até agora tivesse se dissipado por um breve momento. E eu sabia... ela estava caindo na armadilha do deslumbramento, deixando-se levar pela aparência de calma que o ambiente transmitia.
Era de tirar o fôlego, realmente. Mas também era isolado, escondido do mundo. Um lugar onde ninguém a encontraria. Um lugar onde ela só teria a mim.
— É lindo, não é? — Falei, saindo do carro e me aproximando lentamente dela, minhas mãos nos bolsos enquanto observava sua expressão.
Grace assentiu, ainda encantada com o lago e as árvores que rodeavam a casa.
— É... diferente de tudo que eu imaginei. — Ela sussurrou, como se temesse quebrar o encanto.
Eu me aproximei mais, parando ao seu lado.
— Você estará segura aqui. Ninguém sabe da existência deste lugar, nem mesmo... — Pausa. — Nem mesmo pessoas que você poderia esperar que soubessem.
Ela me olhou com uma mistura de curiosidade e desconfiança.
— Por que me trouxe aqui, Carlisle? De verdade.
Eu a encarei, sem desviar os olhos.
Fiquei em silêncio, absorvendo cada detalhe enquanto ela aguardava minha resposta. Grace, tão inocente e ao mesmo tempo cheia de um magnetismo que eu não poderia ignorar. Seu rosto levemente rosado, as bochechas marcadas pelo frio ou talvez pela tensão, o ar entrando e saindo de seus lábios desenhados, suaves como uma tentação impossível de resistir. Ela mantinha as mãos entrelaçadas, uma tentativa patética de autocontrole, mas o gesto apenas tornava suas fragilidades mais evidentes. Seus ombros encolhidos denunciavam o desconforto, o medo talvez, mas havia algo mais profundo ali, algo que ela não entendia.
Tudo nela me cheirava a pecado. Cada traço do seu corpo parecia gritar para ser descoberto, como se estivesse esperando, desesperada, para cruzar essa linha invisível.
Eu sabia que ela sentia. Grace podia não admitir, mas aquele silêncio prolongado, aquele olhar fixo que trocávamos... ela sabia que algo maior estava em jogo aqui. Não era só sobre proteção, não era só sobre salvá-la.
— Você sabe por que está aqui, Grace — murmurei finalmente, minha voz baixa, rouca, enquanto me aproximava ainda mais. — E isso é o suficiente por agora.
Assim que abri a porta, uma brisa suave e fresca nos envolveu,. O silêncio era quebrado apenas pelo som constante da água correndo na pequena fonte no centro da sala, um murmúrio que preenchia o ar com uma tranquilidade quase hipnótica. As luzes suaves, cuidadosamente dispostas para criar um ambiente acolhedor, acendiam-se automaticamente, banhando o espaço em um brilho dourado.
Grace entrou devagar, hesitante, seus olhos curiosos absorvendo cada detalhe. A madeira escura das estantes, os livros organizados meticulosamente, os móveis minimalistas, mas de bom gosto. Era um reflexo do que eu era – reservado, e talvez um pouco solitário. Ela caminhava silenciosamente, os dedos passando de leve sobre as superfícies, como se tentasse entender a casa através do toque.
Observei enquanto ela explorava, mantendo-me em silêncio, deixando-a à vontade para se adaptar àquele novo cenário. Em certo momento, ela parou no meio da sala, os olhos se voltando para mim, ainda incerta sobre o que deveria fazer ali.
— Preciso de roupas — disse ela, sua voz soando quase tímida, como se aquilo fosse algo simples demais em meio à estranheza da loucura que nossas vidas estavam.
Por um breve momento, fiquei parado, analisando-a, antes de responder com tranquilidade.
— Pode pegar as minhas.
O desconforto evidente atravessou seu rosto. Ela franziu a testa, a surpresa misturada com uma hesitação óbvia.
— A-as suas? — gaguejou, incrédula, como se o pensamento de usar minhas roupas fosse algo inusitado demais para ela.
Eu a encarei com firmeza. Sabia o efeito que minhas palavras causariam, o pequeno choque que isso provocaria nela, mas era exatamente o que eu queria. Ela precisava se acostumar a estar envolta pelo meu mundo, pelo meu espaço.
— Sim, dobrando no corredor da esquerda, tenho um closet cheio de camisas. Fique à vontade para escolher.
Ela me olhou por um longo momento, como se estivesse decidindo se argumentaria ou se simplesmente aceitaria. No fim, apenas assentiu com a cabeça, sem palavras, e seguiu para o corredor que eu havia indicado. Seus passos eram leves, quase inaudíveis, mas eu os seguia com o olhar.
Enquanto ela desaparecia pelo corredor, fiquei parado na sala, sentindo a quietude tomar conta novamente. Caminhei até o telefone, disquei o número da minha casa d então Esme atendeu, era exatamente com ela que eu precisava falar, eu estava quase implorando para terminar logo com isso.
— Sim? — Ela atendeu, a ligação péssima pelo sinal.
— Esme.
— Carlisle? — Sua voz se tranquilizou. — Edward está saindo da cidade com a garota. Ela sabe o que somos. — Esme revelou, e meu peito se apertou.
— Estou com a Grace.
— Eu sei...
Me calei.
— Eu sei Carlisle. Se sua felicidade não está ao meu lado, procure por ela até o último dia da sua vida. — Ela sorriu. — Mas não confunda amor, com obsessão.
— Do que está falando? — Questionei.
— La tua cantante... — Esme sussurra.
Fiquei em silêncio, minha mente quase engolindo qualquer pensando.
— Apenas saiba disso. Obsessão não é amor. — Ela sorriu. — Aproveite. Seja feliz.
Ela desligou.
"La tua cantante..." As palavras de Aro ecoaram em minha mente, como se ele estivesse ali, ao meu lado, sussurrando o significado por trás delas. Ele sempre falava com tanto fascínio sobre essa conexão rara e irresistível entre um vampiro e sua "cantante" — uma pessoa cujo sangue cantava para ele de uma forma única, uma tentação quase impossível de resistir. Era raro, ele me disse. Quase lendário, o vínculo que isso criava.
Eu nunca imaginei que poderia encontrar a minha.
Mas ali estava ela, Grace, tão inocente e completamente alheia ao que sua simples presença significava para mim. O aroma dela invadia meus sentidos, cada respiração minha era um tormento, um lembrete constante do quanto eu a desejava, não apenas fisicamente, mas no nível mais primal que um vampiro poderia experimentar. O sangue dela era um convite, uma melodia que eu não poderia ignorar.
Aro mencionava o quão perigoso era, o quanto isso poderia transformar um vampiro. Havia histórias de vampiros que perderam a razão, que foram consumidos pelo desejo insaciável de provar o sangue de sua cantante, destruindo tudo ao redor para satisfazer essa necessidade. E eu entendia agora, com uma clareza dolorosa, o que aquilo significava.
Ela não fazia ideia do poder que tinha sobre mim.
Alguns minutos depois, Grace voltou. Quando apareceu na sala novamente, vi que vestia uma das minhas camisas. O tecido, muito maior do que o necessário, caía sobre o corpo dela de maneira desajeitada, mas estranhamente sedutora. A camisa roçava suas coxas, deixando parte de suas pernas à mostra, enquanto o colarinho escorregava para o lado, revelando seu ombro. Ela parecia desconcertada, claramente fora de sua zona de conforto, mas, ao mesmo tempo, havia algo incrivelmente atraente em sua vulnerabilidade.
Meus olhos a seguiram de cima a baixo, sem disfarçar. Ela ficou parada por um momento, quase esperando uma reação minha. Então, finalmente, rompi o silêncio.
— Ficou bem em você — comentei, minha voz baixa, intencionalmente calma. — Muito bem.
Ela não respondeu imediatamente. Seus olhos desviaram para o chão, suas bochechas tingidas de um leve tom rosado, como se não soubesse como reagir àquele comentário.
Grace se acomodou no sofá, com os olhos perdidos na vista, observando o céu mudar de tonalidade, enquanto o dia lentamente se entregava à noite. Sentado a uma distância segura, eu me permiti um momento para apenas observá-la.
A suavidade de seus traços e a intensidade de seu olhar a tornavam ainda mais encantadora.
Com um movimento automático, peguei uma bebida e estendi para ela.
— Talvez isso ajude a relaxar, — pensei, como se a ideia de um gole pudesse suavizar a dureza da realidade.
Ela hesitou por um segundo, mas logo levou o copo até os lábios. Assim que a bebida tocou sua boca, uma expressão de repulsa se formou em seu rosto, mas mesmo assim ela não hesitou em beber tudo. Era uma atitude corajosa, ou talvez impulsiva — não sabia ao certo.
Antes que eu pudesse processar, ela já havia pedido mais, e com um leve gesto, a bebida logo a seguiu.
Grace continuava a beber, e a atmosfera ao nosso redor começou a mudar. Havia uma leveza em seus movimentos que não estava ali antes, uma vivacidade que me pegou de surpresa. Assim que se levantou, percebi que seus pés pareciam se confundir com o chão, como se ela estivesse dançando em uma realidade própria, distante do perigo que a cercava.
Seus olhos brilhavam, uma alegria que há muito não via. O rádio antigo estava em um canto, coberto de poeira, mas não importava. Ela parecia determinada a aproveitar aquele momento. Segurou uma das fitas, hesitou por um instante, e em seguida a deixou escorregar de suas mãos, ouvindo-a bater no chão com um leve plop. Com um sorriso travesso, colocou a fita no rádio e a música começou a tocar.
A dança começou desajeitada, mas havia uma beleza na autenticidade do momento. Grace girava, balançando os quadris com uma leveza que me fez sorrir. A camisa que usava, muito maior do que seu corpo, caía elegantemente sobre seus ombros.
Ela subiu em uma cadeira, e eu não pude deixar de me encantar com a audácia dela. A música envolvia a sala, e eu estava preso à cena, apenas observando. A expressão dela era pura, como se a dança fosse uma forma de escapar de tudo — dos assassinos, do medo, talvez de mim também.
Porém, em meio à diversão, tudo mudou. O sorriso dela se desfez em um instante quando perdeu o equilíbrio. O tempo pareceu desacelerar enquanto a vi cair, como se o mundo inteiro estivesse em câmera lenta. Ela colidiu contra a mesa de vidro, e o som do impacto ecoou pela sala, seguido pelo som de vidro se quebrando. Em um piscar de olhos, corri até ela.
— Grace! — minha voz ecoou na sala.
Ela estava deitada sobre a mesa, a expressão de dor logo se manifestando em seu rosto.
— Vai precisar de pontos, tudo bem? — perguntei, agachando-me ao seu lado e examinando o ferimento.
Ela tentou rir, mas era uma risada nervosa, quase desesperada.
— Acho que não sou tão boa dançarina assim, — respondeu, sua voz falhando enquanto tentava se levantar.
— Não se mexa, você se machucou.
Eu segurei seu braço ferido, observando como o sangue começava a escorrer.
— Vamos, preciso cuidar disso, — murmurei.
Dirigi-me rapidamente para onde guardava algumas coisas do hospital. A visão do sangue de Grace estava me afetando de maneiras que eu não conseguia controlar. Era um impulso que eu lutava para reprimir. Segurei algumas coisas necessárias para fazer os pontos e preparar um bom curativo.
A cada passo que dava em direção a ela, o cheiro doce e tentador do sangue se tornava mais intenso. Minha boca salivava, e eu sentia meu corpo estremecer, as mãos tremendo com a necessidade de me controlar. Nunca havia perdido o controle dessa maneira antes, e a ideia de fazer isso agora, quando ela precisava de mim, era inaceitável. Eu não podia me permitir ser dominado por instintos.
Quando voltei para perto de Grace, a vi com o braço coberto de sangue.
— Segure minha camisa — ordenei.
Grace, sem hesitar, esticou o braço e segurou a parte da camisa que eu lhe oferecia.
Com o braço estendido e segurando a camisa, ela me permitiu o acesso ao ferimento. Me aproximei, o cheiro do sangue dela quase me fazendo perder a concentração. Encarei o ferimento com seriedade, focando na tarefa em mãos.
— Você precisa ficar parada — disse, minha voz soando mais ríspida. Eu comecei a limpar o corte, usando a gaze e os suprimentos que havia pegado. — Isso vai doer um pouco — avisei, com a intenção de preparar Grace para o que viria. Ela fez uma careta, mas manteve o olhar firme.
— V-voce já amou alguém? — Grace perguntou, sua voz trêmula, quase um sussurro, enquanto eu passava a agulha por sua pele, uma tarefa que, de repente, parecia muito mais íntima do que eu havia planejado.
— Sim — respondi, mantendo o foco no que estava fazendo, mas as lembranças do passado começaram a surgir, desafiando minha concentração.
— E-e como é? — Sua curiosidade era evidente, e eu podia ver o brilho de expectativa em seus olhos, mesmo que a dor a fizesse contrair um pouco.
— Quando você se deliciar nos prazeres do amor, jovem Grace... — Comecei, deslizando minhas mãos suavemente por seu braço, tentando transmitir um pouco de conforto. — Vai ser quando menos esperar...
Meus dedos tocaram sua pele, e uma corrente elétrica percorreu meu corpo, fazendo com que eu hesitasse por um breve momento. O toque era tão simples, mas os pensamentos que invadiam minha mente não eram.
— Mas será tão intenso, e unicamente verdadeiro que te fará beirar a insanidade — continuei.
Grace piscou algumas vezes, sua expressão de fascínio lentamente se misturando com uma sonolência.
— Insanidade — ela repetiu, um sorriso brincando em seus lábios enquanto seus olhos se fechavam lentamente, como se as palavras tivessem uma qualidade hipnótica.
— Você precisa descansar — disse, tentando afastar a névoa que se formava em minha mente.
Segurei o corpo dela em meu colo, subindo as escadas com cuidado, enquanto seu corpo quente envolvia o meu completamente frio. A cama estava pronta. Em um instante, Grace estava dormindo lindamente, a respiração suave e ritmada, como se estivesse em um sonho tranquilo, longe de todos os perigos que a cercavam.
Eu me sentei ao seu lado, observando cada detalhe de seu rosto sereno. Os cabelos caíam em ondas suaves sobre o travesseiro, e sua expressão revelava uma paz que eu desejava preservar.
— Você me deixa louco... — murmurei, a frase saindo quase como um suspiro. Era uma confissão não apenas sobre o efeito que ela tinha sobre mim, mas também sobre a confusão que essa garota me trazia. — Você me tem em suas mãos, para usar como quiser...— continuei, mais para mim mesmo do que para ela.
Quando me virei para sair do quarto, uma sensação de alívio e inquietação invadiu meu ser. Mas antes que eu pudesse dar o primeiro passo, Grace segurou minha mão. Ela estava acordada.
— O que você disse? — Sua voz estava suave, sonolenta, mas havia uma curiosidade que cintilava em seus olhos.
— Dois capítulos postado hoje! Esse eu não consegui revisar, qualquer coisa me avisem!! ❤️🔥
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