DÉCIMO TERCEIRO
Paul chegou, abrindo a porta do carro para que eu pudesse entrar. Sentei-me no banco do passageiro, ignorando as perguntas que saíam de sua boca, como se ele estivesse falando em uma língua que não compreendia. Estava quieta, as palavras pareciam ter se perdido na minha garganta, enquanto os pensamentos se aglomeravam em minha mente como uma tempestade prestes a explodir.
Toda vez que meus olhos se fechavam, a imagem de Carlisle surgia, seus olhos cheios de uma urgência desesperadora, implorando por algo que eu não sabia como oferecer. Era uma tortura, um ciclo interminável de dúvidas e medos que se repetiam a cada momento de silêncio. Meu Deus, como eu queria ter ficado, como eu queria ter tido a coragem de entender o que de fato se passava na cabeça dele. Mas não poderia esperar que agora, ele tomasse uma atitude que deveria ter tomado desde o momento em que me conheceu. Era tarde demais para isso.
Paul me deixou na frente de casa, e eu acenei para ele, um gesto automático de gratidão que mal consegui sentir. Assim que entrei, meu pai abriu a porta.
— Oi, e-eu preparei uma coisa — ele disse. Charlie abriu a porta, gesticulando para que eu entrasse, e eu o segui.
A mesa estava posta, com meu prato favorito, assim como o de Bella. Um sorriso fraco se formou em meus lábios, mas logo meus olhos se encheram de lágrimas. Era uma cena tão normal, tão cheia de amor e carinho, e eu deveria ter me sentido grata, mas a realidade me atingiu com toda a força: eu poderia ser a pessoa mais feliz deste mundo, mas Carlisle havia me arruinado. Ele havia feito com que tudo o que era simples e bonito se tornasse um lembrete doloroso de uma felicidade que parecia tão distante agora.
Sentei-me à mesa, tentando afastar a imagem dele de minha mente, mas a lembrança de seus olhos, aquela súplica silenciosa, me seguiu como uma sombra. O que eu realmente queria?
— Ah pai, não sabe como eu sentia falta desse prato. — Falei, puxando Charlie para um abraço. — E-eu acho que nunca falei isso, ou se falei ainda era uma criança... — Sorri nos braços dele, sentindo o calor seguro que só meu pai podia me dar. — Eu te amo, e meu maior orgulho é ser a sua filha.
— Você não sabe como eu te amo, minha princesa. A única coisa que eu quero nesse mundo é ver você feliz.
Eu seria feliz. Pelo menos, era o que eu dizia a mim mesma. Não por mim, mas por ele. Eu encontraria uma maneira de superar, de seguir em frente sem as loucuras de Carlisle bagunçando cada parte da minha vida. Eu daria um jeito.
Apertei meu pai mais forte, como se, de alguma forma, ele pudesse sentir a confusão e a dor que me consumiam por dentro. Charlie não hesitou, me abraçou com ainda mais força, como se soubesse que eu estava me segurando por um fio. E então, naquele momento, eu simplesmente desisti de tentar ser forte. Desisti de fingir que tudo estava bem.
O choro que eu havia segurado por tanto tempo finalmente me dominou. As lágrimas corriam pelo meu rosto, encharcando a camisa do meu pai. Eu estava nos braços que eram a minha casa. No abraço que sempre foi o meu refúgio. Ali, naquele instante, eu me permiti ser vulnerável, porque sabia que com meu pai eu não precisava esconder nada, sabia que ele me protegeria.
— Tudo bem, Grace... tudo bem... — ele murmurou, acariciando minha cabeça enquanto me segurava firme em seus braços.
Eu só conseguia concordar com um leve aceno, tentando limpar as lágrimas e me afastando devagar. O peso do que eu sentia ainda estava lá, mas nos braços dele parecia um pouco mais suportável.
— Sua irmã, ela... — Charlie perguntou com um olhar de preocupação.
— Está vindo, pai. Ela está vindo — respondi, a voz baixa, mas com a certeza de que Bella chegaria em breve. Ele assentiu, aliviado, embora a tensão em seus ombros não desaparecesse completamente. Sabia que havia mais por trás da minha resposta, mas, como sempre, ele me deu espaço. Eu só precisava de um momento para colocar os pedaços de volta no lugar.
Charlie balançou a cabeça em silêncio, assentindo, enquanto se sentava ao meu lado. Com um gesto carinhoso, ele colocou um hambúrguer no meu prato, algo que costumávamos fazer quando eu era mais nova. Mesmo que eu não fosse mais uma criança, aquela simplicidade me lembrava o quanto eu sempre amei estar perto dele. Não havia outro lugar no mundo que me fizesse sentir tão segura quanto aquele.
— O que aconteceu? — ele perguntou, a voz suave, mas cheia de preocupação.
— Acho que estou com a cabeça muito cheia, só isso — murmurei, tentando desviar o olhar para não deixar transparecer o caos interno.
— Não precisa ficar em Forks se não quiser, Grace — ele respondeu com uma calma que me fez encará-lo novamente. — Sei que está aqui por obrigação, gosta mais da outra cidade do que daqui. Se está infeliz, não precisa ficar.
Seu tom era gentil, mas suas palavras carregavam uma liberdade que me atingiu em cheio. Eu podia escolher outro lugar, mas a verdade era que nenhum me chamava como o meu lar, e ele fazia parte disso.
— Eu posso gostar da outra cidade, mas eu amo você — respondi com firmeza, sentindo as palavras saírem do fundo do meu coração. — Estou onde deveria estar, ao seu lado, pai.
Ele sorriu, um sorriso pequeno, mas que transmitia todo o amor que existia entre nós, e naquele momento, senti que, apesar de todo o caos que minha mente carregava, ainda havia um pedaço de mim que podia encontrar paz.
Charlie segurou minha mão com firmeza, seus olhos carregando uma sinceridade que me pegou de surpresa.
— Então, podemos voltar para a cidade da sua mãe. Não me importo em ir com vocês — ele disse, a voz calma, mas cheia de decisão. — Não há nada para mim nesta cidade mais, Grace. Se sua felicidade pode ser lá, seremos todos então.
Eu pisquei, ainda tentando processar suas palavras. Era surreal ouvir isso de Charlie, que sempre foi tão enraizado em Forks.
— V-você quer ir embora de Forks? — questionei, a incredulidade evidente na minha voz.
Ele balançou a cabeça afirmativamente, o olhar sério, mas afetuoso.
— Sim. O que me diz?
Sentada do lado de fora, deixei meus olhos vagarem pelas árvores ao redor, os galhos balançando suavemente ao ritmo do vento. Era como se as folhas dançassem em um balé silencioso, e por um breve momento, eu me permiti acreditar na ilusão de paz que o ambiente me oferecia. Não conseguia evitar que meus pensamentos se voltassem para tudo o que havia acontecido, para o caos emocional que me envolvia.
Foi nesse turbilhão de sentimentos que o vi. Carlisle. Ele caminhava em direção à casa, seus passos lentos e pesados como se cada um fosse um fardo que ele não estava preparado para carregar. O homem que antes exalava confiança e segurança agora parecia esgotado, quase irreconhecível.
Nossos olhares se cruzaram por um momento, e senti um aperto forte no peito. Esse não era o Carlisle que eu conhecia. Algo nos olhos dele estava errado, profundamente errado. Havia um vazio ali, um abismo onde antes havia vida e luz. Era como se algo essencial dentro dele tivesse sido arrancado, deixando para trás apenas uma casca. Ele estava destruído, de uma maneira que eu nunca tinha visto antes.
Num reflexo, me levantei rapidamente, um nó de preocupação tomando conta de mim. Será que algo havia acontecido? Ele parecia... quebrado. E eu me perguntava o que poderia ter causado tamanha mudança. O que teria atingido Carlisle dessa forma? Ele sempre fora tão firme, tão inabalável. Mas ali, diante de mim, estava um homem desmoronando.
Ele apenas me olhou por um instante, e aquele olhar me rasgou por dentro. Seus lábios se curvaram em um sorriso, mas não havia vida naquele gesto. Era vazio, falso, sem qualquer traço da confiança habitual. Carlisle passou por mim sem dizer uma palavra, como se eu fosse apenas um obstáculo a ser superado em seu caminho. E então, entrou na casa, onde Bella e Edward ainda estavam.
Fiquei ali, parada. A sensação de que algo terrível estava prestes a acontecer crescia dentro de mim, me sufocando. Eu queria fazer algo, queria falar algo, mas as palavras não vinham. Só o silêncio me envolvia.
Eu o segui quase por instinto, incapaz de deixar Carlisle sozinho com a dor que transparecia em seu semblante. Algo estava errado, muito errado. Ele não era mais o homem que conhecíamos, e a cada passo que ele dava, eu sentia o peso invisível que o arrastava para um lugar escuro.
Assim que entrei na casa, o vi parado, seu olhar fixo em Bella. O silêncio na sala era sufocante, e o tempo parecia ter desacelerado. Quando ele finalmente levantou o rosto para encarar Bella, entendi tudo. O impacto que aquele momento teve sobre ele era óbvio, como se algo invisível tivesse rasgado seu peito aberto diante de nós. Seus olhos, antes vazios e sem vida, agora estavam carregados de um sofrimento profundo.
Ele não estava vendo apenas Bella. Ele via Grace. Em cada traço, cada expressão, cada gesto. Bella era um reflexo constante da mulher que ele tinha perdido, e aquilo o destruía lentamente, pedaço por pedaço.
Eu senti um aperto no peito, como se pudesse compartilhar daquela dor por um breve momento. E então, tudo ficou claro para mim. Grace havia colocado um ponto final. Ela havia terminado tudo, deixado Carlisle à deriva em um mar de mágoas e arrependimentos. Ele estava tentando seguir em frente, tentando ser forte, mas era evidente que o sofrimento estava estampado em cada movimento, cada palavra.
Carlisle respirou fundo, e sua voz quebrou o silêncio como uma onda suave, mas cheia de dor oculta.
— Obrigado, Bella, por sua compreensão conosco. Desde o começo, sua paciência e apoio têm sido admirados por mim. — Suas palavras eram polidas, quase automáticas. Ele sorria gentilmente, como costumava fazer, mas eu conhecia aquele sorriso. Era uma máscara, uma fachada bem construída.
Bella hesitou, visivelmente desconfortável com o elogio. Seus olhos passaram de Carlisle para mim, buscando algum tipo de confirmação de que estava tudo bem. Mas, mesmo sem palavras, ela parecia entender que havia algo mais por trás daquele agradecimento.
— Claro, Carlisle, você sabe que sempre pode contar comigo... — Bella respondeu, com cautela.
Edward, que estava ao lado de Bella, permaneceu em silêncio, mas seus olhos estreitos indicavam que ele também percebia algo de errado. Carlisle não era o mesmo, e Edward, sempre tão atento aos detalhes, não deixaria isso passar despercebido.
— Como você está, Carlisle? — perguntei, interrompendo o silêncio tenso. Eu sabia que a pergunta poderia ser intrusiva, mas não podia evitar. Eu precisava ouvir da boca dele o que realmente estava acontecendo.
Carlisle se virou lentamente para mim, seus olhos se encontrando com os meus. Havia algo mais sombrio em seu olhar agora, algo que ele estava tentando esconder, mas que parecia pulsar logo abaixo da superfície.
— Estou bem, — ele respondeu suavemente, mas sem qualquer convicção. — É apenas... muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo.
— Isso tem a ver com Grace, não é? — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava.
Ele hesitou por um instante, e a sombra em seus olhos pareceu crescer.
— Ela... optou por se afastar, — ele admitiu finalmente, a voz quase falhando. — E não posso culpá-la por isso.
Bella franziu o cenho, confusa.
— Grace? Mas... por quê? O que aconteceu entre vocês?
Carlisle sorriu, mas dessa vez foi um sorriso triste, desprovido da leveza habitual.
— Ela decidiu que não podia mais continuar. Talvez fosse inevitável. Talvez... seja o melhor.
— Isso está te destruindo.
Ele olhou para mim, e por um momento, a fachada desmoronou. Havia um vazio ali, um buraco profundo que ele não conseguia preencher.
O silêncio se instalou novamente na sala. Edward se mexeu desconfortavelmente ao lado de Bella, mas não disse nada. Sabia que não havia nada que pudesse ser dito naquele momento.
— Carlisle, — Bella começou, sua voz gentil. — Eu sei que deve ser difícil, mas... talvez isso tenha acontecido por um motivo. Talvez seja uma chance de recomeçar, de seguir em frente. Grace é difícil, nem ao menos me contou o que estava acontecendo entre vocês.
Ele balançou a cabeça lentamente, como se as palavras dela não pudessem chegar até onde ele estava.
— Minha irmã é difícil, precisa entender isso, — Bella respondeu, a frustração começando a se infiltrar em sua voz.
Carlisle respirou fundo, seus olhos se perdendo por um instante. Ele parecia estar tentando encontrar o equilíbrio entre a dor que sentia e a compaixão que sempre demonstrou.
— Isabella... — ele começou, e eu podia sentir a intensidade de suas emoções à flor da pele. — Sua irmã é a coisa mais linda que eu já vi desde o dia em que abri meus olhos. Difícil é viver e não poder amá-la. Talvez um dia você entenda isso.
Bella mordeu o lábio, como se ponderasse as palavras de Carlisle, seu olhar alternando entre ele e eu.
O celular de Isabella tocou, e todos nós paramos, a tensão no ar se intensificando. Carlisle olhou para o aparelho como se sua vida dependesse daquela ligação. A expressão dele, implorando para que fosse ela.
— Grace? — Bella atendeu rapidamente, sua voz alta e clara, mas logo mudou completamente.
O tom de sua voz se transformou, e eu percebi que algo estava errado. A expressão de Bella passou de curiosidade para um estado de desespero.
— Não! Não quero, não vou! — Ela respondeu, sua voz tremendo. O desespero era nítido. Bella parecia lutar contra algo muito maior do que ela, e a maneira como suas palavras saíam a deixava à beira de um colapso.
Então, com um gesto abrupto, ela desligou. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.
Bella passou as mãos pelo rosto, como se estivesse tentando afastar a realidade que a cercava. Era claro que a ligação a afetara profundamente.
— Grace e meu pai vão embora de Forks... E agora eu acho que é para sempre, — Bella finalmente disse, sua voz carregada de dor.
Carlisle parecia ter recebido uma faca em seu peito. Ele ficou paralisado, os olhos arregalados, como se estivesse tentando processar a gravidade das palavras de Bella. A expressão no rosto dele era de desespero.
— O que? — ele murmurou, a voz falhando.
Carlisle simplesmente sumiu do nosso campo de visão, correndo para só Deus sabe onde. Logo encarei Edward, que estava incrédulo, a expressão dele uma mistura de choque e preocupação.
— E-Ele quer... — Edward começou, a voz hesitante e baixa. — Ele quer se entregar para o Aro!
Aquelas palavras ecoaram na sala como um trovão. A ideia de Carlisle se entregar ao líder dos Volturi era impensável.
— Não, isso não pode ser verdade! — eu disse, quase em um sussurro, tentando processar a gravidade da situação. — Ele não faria isso.
Edward balançou a cabeça, seu olhar distante e angustiado.
— Ele acredita que mereça ser punido... Esme, ele vai se entregar para os Volturi.
— Amo a paz dessa fanfic!
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