DÉCIMO SEGUNDO
Carlisle passou os lábios pelo meu ombro, uma carícia que antes me arrepiaria, mas agora só me lembrava do peso de tudo que eu havia perdido. Meu corpo já não respondia a ele como antes, minha mente estava longe, muito longe. Eu me agarrei à única coisa que ainda fazia sentido, e naquele momento, não era ele.
Quando senti sua boca deslizar até meu pescoço, algo dentro de mim se rompeu. Era como se eu estivesse sufocando e só tivesse uma chance de respirar. Minha mão voou até o peito dele, e com toda a força que me restava, eu o empurrei para longe.
— DESENCOSTA! — A palavra saiu num grito, como se rasgasse minha garganta. Era a mesma que eu tinha repetido antes, mas agora carregava o peso da minha decisão final.
Ele cambaleou para trás, seus olhos confusos e urgentes, como se ele ainda acreditasse que poderia consertar o que estava destruído. Mas não havia conserto.
— Você não entendeu, Carlisle? — Me levantei num movimento brusco, meus dedos tremendo enquanto eu ajeitava minha roupa, tentando disfarçar a vulnerabilidade que me consumia. — Você não faz ideia do que fez comigo. Não tem noção da merda em que me meteu!
Ele me encarava, sem desviar, como se estivesse esperando que eu amolecesse, que eu voltasse a ser aquela que o perdoaria por qualquer coisa. Mas aquela pessoa não existia mais. Não depois de tudo.
— Você arruinou a minha vida — cuspi as palavras como veneno, sentindo meu peito arder de raiva, dor, e algo pior: desilusão. — Desde o momento que você cruzou meu caminho naquele hospital, você me destruiu. Cada escolha, cada passo que dei desde então foi uma queda livre, e a culpa é toda sua!
Minha voz falhou, mas não de fraqueza. Era a dor, aquela que estava lá desde o começo e que agora explodia, como uma ferida que não cicatrizou. Eu o vi dar um passo na minha direção, mas levantei a mão antes que ele pudesse chegar perto.
— Você tomou a paz de uma adolescente! — As palavras saíram do meu peito como uma confissão de dor. — Você tomou a minha vida pra si e acha, simplesmente acha, que tudo vai ficar bem. Que pode me colocar no seu ombro como se eu fosse uma boneca, quebrada e frágil, e fazer o que bem entende comigo. — Minhas mãos tremiam, e o ódio queimarava na minha garganta. — Mas você não vai!
Minha voz ecoou pela sala, carregada de cada pedaço que ele arrancou de mim. Cada sonho, cada pedaço da minha juventude que ele estava arrancando sem pedir. Eu me sentia como uma marionete que ele achava que podia controlar, mas não mais. Eu não era mais aquela garota ingênua e submissa que ele manipulava com olhares doces .
— Você não vai continuar fazendo isso comigo! — gritei, minhas palavras se tornando tão ferozes quanto a dor que me consumia.
— Grace, querida, me escute... — A voz de Carlisle veio baixa, quase suplicante, enquanto ele dava um passo em minha direção.
— Não. — Minha palavra foi afiada, cortante, e ele parou no mesmo instante, como se meu comando fosse uma ordem inquebrável. — Não chega perto de mim. Não quero ficar suja como você.
Ele franziu o cenho, e por um segundo, pude ver um lampejo de dor em seu rosto, como se minhas palavras realmente o atingissem. Mas eu sabia a verdade. Ele não tinha sentimentos. Não podia, não depois do que fez. Depois de tudo que me tirou. Ele era um mestre na arte da manipulação, sempre soube como parecer vulnerável quando lhe convinha.
— E eu quero que você entenda, de uma vez por todas — rosnei, sentindo a fúria crescer em mim como uma tempestade. — Some da minha vida. Me deixa ser uma adolescente normal, sem esse drama de vampiros na minha cola!
Eu não era a garota que ele pensava que podia controlar. Não era minha irmã, frágil e iludida. Meu sangue ferveu enquanto eu o encarava, cada palavra carregando o peso da minha raiva, da minha liberdade arrancada.
— Eu não sou ela — cuspi. — Não sou minha irmã. Você não vai me dobrar, Carlisle. Não vou ser outra peça do seu jogo.
Carlisle deixou os olhos caírem, seguindo o chão como se estivesse procurando respostas que não existiam, até que os direcionou de volta para mim. Agora, tudo parecia distante, como se ele estivesse implorando por algo que já não podia mais ter.
— Eu não posso imaginar isso, Grace — sua voz saiu baixa. — Eu não posso imaginar um segundo longe de você.
Meu peito apertou, um sentimento amargo se arrastando dentro de mim, mas eu me forcei a manter a calma. Já era tarde demais. Ele não podia mais me prender nesse ciclo. Respirei fundo, tentando manter o controle, e fitei seus olhos com a frieza que eu tinha aprendido a construir.
— Mas vai ter que imaginar. — Minhas palavras saíram duras, cortantes. — E não só imaginar... Você vai ter que praticar, Dr. Cullen. Porque a última coisa que eu quero agora é ficar no mesmo ambiente que você.
Eu ajeitei os botões da minha camisa, um gesto que me ajudava a manter o foco enquanto tudo dentro de mim parecia em pedaços. Era como se cada ajuste na roupa fosse uma maneira de colocar as coisas no lugar, de manter a fachada intacta. Respirei fundo mais uma vez, me preparando para o passo final, para abrir a porta e sair.
— Grace, por favor... — A voz dele quebrou a tensão, mas agora havia um tom de desespero que eu nunca tinha escutado antes. — Por favor, me escute. Não vá... por favor. Estou, eu estou te implorando. Eu não consigo, não sou nada sem você.
Eu senti um nó apertar na minha garganta quando ele caiu de joelhos. Aquela imagem... o grande Carlisle Cullen, de joelhos diante de mim, implorando por algo que ele mesmo destruiu. A visão me atingiu de forma inesperada, como um soco no estômago. Minha mão pousou na maçaneta da porta, mas minhas pernas pareceram pesar, como se algo dentro de mim ainda não estivesse pronta para seguir.
Ele estava ali, ajoelhado, quebrado. E por um segundo, eu senti uma pontada de dor, uma sombra do que já foi. A verdade é que eu nunca imaginei que o veria assim, tão vulnerável. Mas isso não mudava nada. Ele tinha me arruinado, me tirado tudo, e agora, nem suas súplicas poderiam consertar o que estava quebrado entre nós.
Minha mão tremeu levemente sobre a maçaneta, e eu fechei os olhos por um segundo, tentando me blindar contra a tristeza que se arrastava pelo meu coração. Era melhor assim. Mesmo que uma parte de mim quisesse voltar, quisesse acreditar que as coisas poderiam ser diferentes, eu sabia que, no fundo, não havia conserto para nós.
Carlisle permaneceu de joelhos, seus olhos fixos no chão, como se cada palavra que ele dizia fosse um peso impossível de carregar.
— Você é a eternidade que sempre sonhei — ele começou, sua voz rouca, como se cada palavra fosse uma confissão arrancada do fundo de sua alma. — Você é a cor nos séculos mais nublados, você é a vida no meio do caos. Grace, você é o motivo pelo qual eu destruiria o mundo.
Ele não ousou me olhar de imediato, continuava com os olhos no chão, como se estivesse falando com uma parte de mim que ele sabia já ter perdido. Mas suas palavras carregavam um peso que eu não conseguia ignorar, por mais que eu quisesse.
— O seu cheiro me vicia, os seus olhos... — Carlisle finalmente levantou o olhar, seus olhos cravando-se nos meus. — Os seus olhos são as portas para o meu paraíso. E o seu amor... é a coisa mais valiosa que um dia sonhei em ter. Me coloco de joelhos por você, pequena deusa. Só por você. Você que é meu sol e minha lua, meu céu e inferno... A bela mistura entre o bem e o mau. Eu sou seu para comandar, para dobrar e quebrar. Você acha que isso me faz ser insano? Ou você acha que sou louco o suficiente para admitir que, mesmo que meu corpo possa viver séculos fisicamente sem você, eu nunca teria meu coração de volta. Você levou consigo no dia que falou comigo
Eu senti uma fisgada no peito, uma dor que me lembrou de tudo que eu tinha deixado para trás por causa dele. Parte de mim queria acreditar, queria cair em suas palavras. Mas eu sabia, sabia que essa promessa vinha tarde demais. Ele já tinha destruído o que éramos com a sua mentira.
— Mas você não o tem, o meu amor.— murmurei, a tristeza em minha voz refletindo a dor que ele nunca poderia desfazer. — E muito menos terá.
Minha mão ainda estava na maçaneta, fria e firme, como se aquela fosse a âncora que me mantinha de pé. Eu vi o choque em seus olhos, a dor pela rejeição que eu estava jogando de volta para ele. Mas não havia outra escolha. Ele nunca entenderia o quanto me tirou, o quanto me feriu. Eu não podia voltar.
— Eu nunca terei? — A voz de Carlisle se quebrou, uma súplica desesperada que me atingiu como um golpe. Ele ergueu o olhar, seus olhos cheios de dor, como se cada palavra minha fosse um ataque direto ao coração dele. — Não diga isso, por favor, não diga isso. Você pode gritar, pode me ignorar, pode até mesmo me bater, mas não diga que nunca terei o seu amor. Por favor... eu prefiro morrer, prefiro abrir mão dessa eternidade.
A intensidade do que ele disse me paralisou por um momento. Eu podia ver a luta dentro dele, a batalha entre a dor e a esperança, mas eu não poderia me deixar levar por isso. Era doloroso demais.
— Estou sendo sincera, você nunca terá — respondi, a sinceridade pesando em cada sílaba. As palavras saíram frias, mas era a única verdade que eu podia oferecer.
Finalmente, abri a porta, decidida a deixar tudo para trás, a não olhar para mais nada do passado. As memórias de Carlisle ainda ecoavam na minha mente, mas eu não podia me permitir ser consumida por elas. Segurei meu celular com força, ciente de que naquela casa não havia sinal. Assim, comecei a andar pela rua, completamente sozinha. A solidão me envolvia como um manto pesado, mas era a única opção que me restava.
Carlisle havia me trazido com sua velocidade vampírica, e agora, ao olhar ao redor, percebi que estava sem a porcaria do meu carro, como se não bastasse, o maluco me sequestra e ainda me deixa a pé!
Depois de alguns minutos de caminhada, finalmente consegui sinal. Com um toque nervoso, desbloqueei o celular e vi uma mensagem de Jacob na tela.
"Jake me disse que tinha seu número, o que aconteceu?"
Era Paul. Só poderia ser ele.
"Imprevisto. Consegue me dar uma carona?" minha resposta saiu rápida, quase automática.
"Sempre, gata."
Quando li a mensagem de Paul, que ele viria me buscar, um peso enorme pareceu ser aliviado. Coloquei minhas costas em uma árvore e deixei as lágrimas caírem em meu rosto.
A primeira pessoa que gostamos deveria ser algo épico, algo que ficaria para sempre na memória. Um conto que você contaria aos filhos, uma história repleta de sentimentos intensos e momentos mágicos. Mas a minha primeira vez estava se transformando em um pesadelo, e tudo que eu queria era que fosse a última.
Eu odiava Carlisle Cullen. Odiava a forma como ele capturava minha atenção, como sua presença se enraizava em minha mente como uma erva daninha, impossível de arrancar. Odiava o jeito que seus olhos brilhavam com um tipo de paixão que me deixava paralisada, e o calor do seu toque que fazia meu coração acelerar, mesmo quando a razão me dizia para recuar.
O que eu sentia por ele não era amor — era uma tortura, um jogo de xadrez emocional que eu nunca pedi para jogar. E eu o odiava por isso. Odiava que ele tivesse o poder de me fazer sentir coisas que eu não queria sentir, coisas que me deixavam vulnerável e exposta.
E o pior de tudo era a realidade cruel que eu enfrentava: eu o odiava por não poder amá-lo. Era uma verdade amarga que me consumia. Eu queria poder sentir aquele amor arrebatador que ele descrevia, aquela devoção intensa que parecia tão real e pura em sua voz. Mas a cada tentativa de me deixar levar, havia uma parte de mim que gritava para parar, para não dar um passo a mais em direção ao abismo.
Fechei os olhos e deixei que as lágrimas escorressem livremente. E enquanto as sombras da floresta me envolviam, me perguntei se alguma vez conseguiria me libertar do laço que Carlisle havia colocado em meu coração.
Eu odiava não poder tê-lo comigo, e odiava como ele tinha estragado tudo... Eu odiava não poder amá-lo.
Grace havia ido.
E, junto a ela, minha felicidade se esvaiu.
Não havia motivos para que eu retirasse meus joelhos daquele chão; eu nem ao menos tinha razões para me levantar dali.
Preferia passar uma vida inteira com ela do que passar uma eternidade sozinho, vazio.
Percebi que havia me apaixonado por ela no momento em que ouvi sua risada. Quando seus ombros se desmontaram sob a vergonha, percebi, naquele instante, como sua voz me acalmou como uma droga. Foi quando a vi dançando que soube que estava perdidamente apaixonado.
Eu já estava morto.
Grace me reviveu para, então, me matar por completo.
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