10
Alec trabalhou ao meu lado em silêncio, os corpos sendo consumidos pelas chamas enquanto o calor da fogueira dançava em nossas peles pálidas. Ele estava concentrado, os olhos fixos no fogo como se encontrasse alguma espécie de verdade oculta entre as labaredas. Eu, por outro lado, deixei meus pensamentos vagarem, saboreando a calma momentânea.
— Como estão as coisas em Volterra? — perguntei, minha voz tranquila enquanto meus olhos se mantinham nas chamas, absorvendo o cheiro de madeira e carne queimando.
Alec sorriu, um toque de malícia em seus lábios.
— Felix continua apanhando para minha irmã.
Eu soltei uma risada baixa, desviando o olhar para ele.
— Injusto, Jane não o deixa nem se aproximar.
Ele deu de ombros, divertido.
— Ele não poderia. Morreria antes de sequer tentar. — Sua expressão ficou séria por um momento, mas seus olhos carregavam algo que eu não conseguia decifrar. — Aro confia em você, sabe disso, certo? Ele me enviou porque realmente acredita no melhor rastreador que já encontrou.
Havia algo na forma como ele disse isso, um peso que eu escolhi ignorar.
— Pensavam que estava morto? — perguntei, quase rindo.
Alec inclinou a cabeça ligeiramente, seus olhos ainda presos em mim.
— Foi uma possibilidade. Você não nos deu nenhum sinal, sumiu do radar. Para Aro, isso é... alarmante.
Neguei com um aceno de cabeça, um sorriso brincando em meus lábios.
— Está tudo em seu devido lugar, meu amigo. Tudo como deveria estar. Nenhum dos Cullen sabem sobre mim em Forks. Nenhum.
Ele arqueou uma sobrancelha, como se ponderasse minhas palavras.
— Por quanto tempo até os lobos sentirem sua presença?
— Não me importa. Pretendo ir embora antes disso.
Alec desviou os olhos do fogo, sua postura relaxada, mas o olhar ainda avaliador. Ele nunca relaxava completamente, mesmo ao meu lado.
— Então, tudo está "em seu devido lugar", não é? — ele repetiu, um toque de ironia na voz.
Eu ergui as sobrancelhas, um sorriso pequeno brincando em meus lábios.
— Você parece duvidar, Alec.
Ele deu de ombros, mantendo o olhar fixo nas chamas.
— Não duvido de você, mas conheço Aro. Ele sempre espera mais do que diz. Sempre há uma segunda intenção, mesmo quando você acha que já entregou tudo.
Dei uma risada baixa, colocando as mãos nos bolsos.
— Aro sempre tem suas intenções.
Ele balançou a cabeça, mas não discutiu. Havia uma longa pausa entre nós, apenas o som do fogo preenchendo o silêncio.
— E você, Alec? — perguntei, mudando o tom para algo mais casual. — Como é estar longe de Jane? Deve ser uma experiência nova.
Ele me lançou um olhar, o canto da boca se curvando em um sorriso seco.
— Silêncio. É isso que é. Estranho, mas... suportável.
Eu ri.
— A ausência de Jane é algo que muitos considerariam uma bênção.
— Cuidado com o que diz — ele respondeu, mas o tom era brincalhão. — Você pode ser o favorito de Aro, mas Jane tem seus próprios métodos para resolver disputas.
— Não duvido disso — retruquei, voltando meus olhos para o fogo. — Mas, convenhamos, ela não seria Jane se não fosse tão... intensa.
Alec sorriu, mas havia algo mais profundo ali, algo que ele raramente deixava transparecer.
— É isso que a torna insubstituível.
Houve mais uma pausa, e eu percebi que Alec estava mais à vontade do que o normal. O fogo, talvez, tinha esse efeito, transformando momentos sombrios em algo quase... reconfortante.
— Você acha que voltaremos a Volterra tão cedo? — ele perguntou de repente, sua voz cheia de uma leve curiosidade.
— Isso depende — respondi, um brilho de diversão nos olhos. — Você está com saudades de casa?
Ele riu, um som seco.
— Apenas curioso.
— Curioso. Claro. — Soltei uma risada baixa. — Vamos ficar aqui o tempo que for necessário. E quando voltarmos, será como se nunca tivéssemos saído.
Alec assentiu, pensativo, enquanto o fogo começava a se apagar.
Quando cheguei aqui, acabei matando um dos garotos da escola. Foi uma distração. Um deslize, talvez. Mas, sinceramente? Não me arrependo. O problema agora era me livrar do corpo sem perder tempo precioso.
— Preciso que você se livre do corpo para mim. — Minha voz saiu baixa, controlada, mas direta.
Alec me encarou com aquele olhar irritado que ele reservava para situações onde era arrastado para o caos que eu inevitavelmente criava.
— Não estou aqui para te servir como escravo, Demetri. — Ele rebateu, os olhos estreitando em descontentamento.
— Estou ciente disso. Pense nisso como... uma ajuda entre amigos. — Toquei os ombros dele, um gesto casual, quase fraternal, mas com o peso de uma ordem disfarçada. — Preciso verificar como os amigos de Renesmee estão. Não posso me dar ao luxo de perder tempo com este obstáculo. Consegue fazer isso por mim?
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, claramente ponderando. Alec estava aqui para me ajudar a conduzir nossa missão, e, se eu me afundasse, ele também se afundaria.
— Uma última vez, Demetri. Depois disso, você mesmo limpa sua bagunça. — Sua voz carregava irritação, mas a aceitação estava ali, implícita.
Dei um sorriso, quase agradecido.
— Atrás da escola. Você vai ver.
Alec resmungou algo inaudível antes de se virar, visivelmente descontente, mas cumprindo a tarefa como sempre fazia. Ele desapareceu na escuridão, com passos rápidos e irritados, deixando-me sozinho.
E era exatamente disso que eu precisava: solidão. Porque, com Alec ocupado, eu finalmente tinha a oportunidade perfeita.
Meu sorriso cresceu enquanto tirava o pequeno presente do bolso, girando-o entre os dedos. Renesmee precisava entender que, mesmo quando ela não me via, eu estava lá. Sempre presente, sempre observando.
Ah, a doce arte de deixar minha marca. Alec, sempre tão perto, como uma sombra persistente, mas uma sombra útil, devo admitir. Cada passo ao seu lado era calculado, mas na distração dele, eu aproveitei. Um presente, como uma assinatura indelével, algo que Renesmee jamais esqueceria. Ela não podia. Eu não permitiria.
Essa pequena Cullen estava gravada em mim tanto quanto eu estava nela, e eu faria questão de tornar isso eterno. Era uma dança, um jogo que eu dominava como ninguém. Manipular seus pensamentos, torcer seus desejos para que apontassem apenas para mim... Era viciante, como a melhor das caçadas. Mas esse vício? Ah, ele ameaçava o foco que eu deveria manter.
Informações. Aro queria informações. Era esse o propósito, não? E mesmo assim, toda vez que eu a imaginava, toda vez que lembrava do que compartilhamos, algo dentro de mim gritava que não importava quantas respostas eu levasse de volta ao meu mestre. Ela era a verdadeira conquista.
Alec permanecia ao meu lado, uma constante irritante e reconfortante. Sua presença ajudava a me manter no controle, a mascarar as intenções que borbulhavam sob a superfície da fachada gelada.
— Acho que está mais do que na hora de irmos vê-la.
Ele sorriu daquele jeito irritante que era tão natural para ele.
— Estava esperando o momento que fosse dizer isso, meu amigo.
Observei enquanto ele se afastava da porta principal do castelo, seus movimentos lentos.
— Tenha cuidado. Não podemos chamar atenção dos lobos, muito menos dos Cullen. — Meu sorriso era um corte frio, tirando qualquer esperança de uma possível luta. Precisávamos ser discretos.
Ele revirou os olhos, como se eu estivesse tirando toda a diversão da brincadeira.
— Não, a menos que eu quisesse uma guerra... — O duplo sentido era claro, e não pude evitar um sorriso seco em resposta.
Ah, Alec. Sempre tão previsível, mas igualmente necessário. Eu sabia que podia contar com ele para sustentar o véu de lealdade que Aro exigia, mas também sabia que ele se tornaria uma pedra irritante no meu sapato quando o assunto fosse Renesmee. Ele era um soldado perfeito, mas sua moral peculiar — se é que podemos chamar assim — tornava meus métodos... problemáticos aos seus olhos.
Afinal, Alec não era cego ao jogo que eu estava jogando com a pequena Cullen. Ele entendia a superfície, claro, mas jamais poderia compreender as camadas mais profundas, os fios que eu puxava com paciência para enredá-la em minha teia. Ele queria resultados diretos, respostas rápidas. Eu queria algo muito mais sofisticado: controlar não apenas os segredos que ela escondia, mas também os que ela ainda nem sabia que guardava.
E era aí que ele se tornava um obstáculo.
Mas é claro, eu não precisava da aprovação dele. Apenas da presença conveniente que ele representava. Enquanto Alec servia de distração para qualquer olhar curioso, eu poderia continuar a afiar as lâminas invisíveis que fariam de Renesmee Cullen não apenas um alvo, mas um prêmio inestimável.
Sim, ele era uma pedra no meu sapato. Mas pedras podem ser removidas, ou ao menos contornadas, se você for esperto o bastante. E, convenhamos, quando se trata de esperteza, Alec ainda tinha muito a aprender comigo.
— Onde está sua capa? — Alec perguntou, ajeitando a dele com um gesto preciso, sempre meticuloso, sempre tão... Alec.
— Retirei. Precisava ser discreto. Lembra? — Respondi, lançando-lhe um olhar de lado, como quem relembra o óbvio.
Ele sorriu, aquele sorriso que dizia mais do que qualquer palavra. Alec não precisava falar para eu saber que ele já suspeitava de algo.
— E como foi, Demetri? Desde o momento que chegou nesta cidade. Descobriu alguma coisa?
Descobri. Descobri coisas que ele jamais entenderia. Mas Alec não precisava saber disso.
— Nada. — Respondi, minha voz firme, mas casual, enquanto cruzava os braços. — A família Cullen vive nessa existência patética e sem rumo. — Fiz uma pausa, deixando o tom despreocupado escorrer de cada palavra antes de continuar: — Renesmee é apenas uma garotinha tentando viver. Ao menos foi essa a minha visão.
Ele sorriu novamente, balançando a cabeça com incredulidade, como se minha resposta fosse algo divertido.
— Deveríamos matá-la.
Minha cabeça virou para ele num estalo, e meus olhos o encararam como uma lâmina recém-afiada.
— Não!
Ele arqueou uma sobrancelha, desafiador.
— Não?
— Aro não pediu por isso. — Rebati, a dureza em minha voz clara como gelo. — Não vamos ir contra uma ordem direta.
Alec me estudou por um momento, seus olhos buscando alguma brecha, alguma justificativa para ignorar minha afirmação. Mas, como sempre, ele sabia quando recuar. Levantou os braços em um gesto de rendição teatral, seu sorriso agora mais discreto.
— Tudo bem, como Aro desejar.
Renesmee não seria tocada. Não por enquanto. Ele via Renesmee como um alvo descartável, um obstáculo insignificante. Eu via algo muito maior. Algo que eu não permitiria que ele destruísse.
Enquanto Alec caminhava ao meu lado pela floresta, o som ritmado de nossos passos fazia eco na minha mente. Cada movimento dele era uma lembrança incômoda de que sua presença, apesar de útil, era também um peso. Ele queria informações sobre Renesmee, e, claro, eu sabia o que isso significava. Alec era metódico, frio, mas impulsivo demais quando se tratava de um alvo que chamava sua atenção. E, dessa vez, esse alvo era meu.
Eu não poderia permitir que ele permanecesse tão perto por muito mais tempo.
— Se quer informações, sei quem talvez possa te entregar todas elas com o tempo. — Minha voz cortou o silêncio.
Ele virou-se levemente para mim, o olhar frio se estreitando com uma curiosidade que ele mal conseguia disfarçar. Era tão previsível às vezes.
— Pelo pouco que vi, Renesmee arrumou uma jovem amiguinha. — Continuei, o tom deliberadamente casual. — É uma garota humana. — Fiz uma pausa dramática, deixando a informação pairar no ar antes de lançar o golpe certeiro: — E não há nada melhor do que uma humana cheia de informações, Alec.
Ele inclinou a cabeça, os olhos cintilando com aquela malícia que eu conhecia bem.
— O que está sugerindo?
— Cole nela. Assim como eu colei nos Cullen, sem ser visto. Mas você sabe, sou um rastreador. Ser discreto está no meu DNA. — Virei-me para ele, permitindo que meu olhar o atingisse como uma faca. — Já você... não é exatamente conhecido pela sutileza, não é?
A provocação foi clara, e ele reagiu do jeito que eu esperava: com aquele sorriso pequeno e ameaçador que dizia "cuidado com o que você diz."
— Muito engraçado, Demetri. — Ele murmurou, mas havia uma ponta de irritação na voz que ele não conseguia esconder.
— Estou apenas sendo honesto. — Retruquei, erguendo os ombros como se minhas palavras fossem apenas um fato incontestável. — Cole na garota. E, desta vez, Alec, não seja visto.
Ele me encarou, os olhos estreitando, analisando cada palavra como se estivesse tentando decifrar algum jogo oculto. Finalmente, ele inclinou a cabeça, um sorriso sem humor se formando em seus lábios.
— Me mostre quem ela é.
Meu sorriso se alargou, mas dessa vez havia algo mais sombrio. Alec achava que estava no controle agora, que eu havia entregado a ele uma peça-chave do quebra-cabeça. Mal sabia ele que tudo isso fazia parte do meu jogo.
Deixá-lo ocupado com a humana? Uma distração perfeita. Enquanto ele gastava seu tempo rastreando a garota, Renesmee continuaria exatamente onde deveria estar: sob minha vigilância. E Alec? Ele nunca veria o que realmente estava acontecendo. Isso era algo que eu fazia melhor do que ninguém: manter o controle enquanto os outros achavam que tinham um pedaço dele
— Antes de conhecer a garota, quero conhecer o nosso alvo — ele disse.
— Então preciso te apresentar a ela — respondi.
Claro, Alec não percebeu a verdadeira intenção por trás das palavras. Apresentá-lo a Renesmee? Sim, mas nos meus termos.
Meus passos aceleraram, a urgência crescendo como uma chama que eu mal conseguia conter. Renesmee estaria em casa, no conforto da cabana dos Cullen. Alec seguia logo atrás, silencioso, mas atento. Eu sabia que ele estava estudando tudo, tentando decifrar meus movimentos. Um desperdício de esforço, realmente. Ele jamais entenderia.
E então a vimos. A cabana surgiu à nossa frente, envolta em sombras e serenidade, um cenário tão patético quanto os Cullen que a habitavam. Mas antes que pudesse fazer qualquer observação sarcástica, a porta se abriu. E lá estava ela.
Renesmee.
Ela brilhou como um raio de luz em meio à escuridão, radiante de uma forma que parecia quase irreal. Por um momento, até eu hesitei, perdido na visão dela. Cada movimento, cada detalhe — como ela empurrava os cabelos para trás, o rubor em suas bochechas, o brilho em seus olhos. Era impossível desviar o olhar.
E então, ele apareceu.
O maldito lobo.
Eu senti a presença dele antes mesmo de vê-lo. Aquele cheiro, aquele ar arrogante e desleixado que só os lobos carregavam. E enquanto minha mente começava a calcular as maneiras mais lentas e dolorosas de arrancá-lo da existência, Renesmee se moveu.
Ela correu. De braços abertos. Para ele.
A cena que se desenrolou diante de mim foi um soco no estômago, seguido de uma faca retorcida no peito. Os braços dele se fecharam ao redor dela, e eu vi a expressão dela mudar — aquele sorriso, aquele brilho... tudo por ele. E então, como se isso não fosse insulto o suficiente, ela o beijou. Não um beijo qualquer. Foi intenso, faminto, desesperado. Como se ele fosse tudo que ela precisava para respirar.
O mundo ao meu redor ficou em silêncio. Só havia aquele momento. O animal. O intruso. O obstáculo.
Ao meu lado, Alec, sempre tão oportuno, sussurrou:
— E agora as coisas ficaram interessantes... O lobo...
Eu não respondi imediatamente. Minhas mãos se fecharam em punhos, tão fortes que era um milagre não terem rachado. Minha mente, por outro lado, estava trabalhando em como arrancar aquele lobo da existência de maneira mais dolorosa possível.
Meu foco mudou completamente. Não era mais sobre informações, sobre o que Aro queria. Não. Isso era pessoal. Esse maldito cão tinha algo que me pertencia, algo que eu já havia começado a moldar, a reivindicar. E ele ousou...
Alec percebeu a mudança em mim, mas, como sempre, manteve-se no seu lugar. Ele sabia quando não me provocar, quando não testar os limites. Porque, no final das contas, todos sabiam que quando eu colocava um alvo na mente, ele não sobrevivia por muito tempo.
E o lobo? Ah, ele descobriria da maneira mais dolorosa possível o que acontece quando alguém se mete no caminho de Demetri Volturi.
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