Capítulo 5: 'Aeroporto'
/ Jennie /
Estar entediada em um banco de aeroporto numa madrugada de sábado parece algo fora do comum e anormal? Isso mesmo, aeroporto, aquele lugar insuportável cheio de gente indo e voltando.
Por que estou aqui? Bom, é por uma boa causa. Uma causa que envolve manter um idiota e um caipira inteiros.
Sim, caipira. Com todas as letras.
Jimin disse que um amigo muito antigo estava vindo a Seul para se adaptar a vida moderna, já que viveu praticamente sua vida inteira em uma fazenda, e que agora estava vindo para cidade grande em busca de um emprego e uma nova perspectiva de vida.
Eu já posso ouvir o sotaque cafona e jeito sem escrúpulos.
Jimin disse pra eu pegar leve com o tal caipira, isso porque ele sabe que eu não sou uma pessoa nem um pouco paciente ou que tem o costume de ficar calada quando vejo algo que não gosto. E digamos que seu amigo seja um...um baita besta lerdo.
Disse para ele que daria o meu máximo, bom...pelo menos tentaria. Poderia estar em casa assistindo Netflix ou ter ido dar uma volta no Walmart? Essa foi obviamente minha primeira opção. No entanto Jimin acabou me convencendo quando se ofereceu para pagar meu almoço durante a semana inteira. Bem, foi mais uma negociação.
Jungkook até disse que viria, mas acabou desistindo de última hora como sempre e usou a mesma desculpa de estar ocupado. Não consigo imaginar com o quê, ele nunca sai de casa ou faz algo lá dentro. Nem mesmo na tão famosa biblioteca ele esteve indo direito.
Como eu sei disso? Eu fui até lá, mas a única coisa que encontrei foi uma garota cantando e dançando junto a um cabo de vassoura. Acho que está explicado por que ele parou de frequentar aquele lugar.
Ou talvez seja o motivo por ele estar cada vez mais distante.
/Jungkook/
Acordei cedo mesmo depois de não ter conseguido pregar os olhos pela maior parte da noite por conta da excitação.
Sabia que essa manhã a biblioteca abriria mais cedo e estava disposto a irritar a problemática durante o dia inteiro, e para melhorar, convidei uns colegas de sala.
Vesti jeans, uma camisa social e um suéter verde musgo por cima, levei as mãos aos cabelos, tentando os alinhar em frente ao espelho. Não sei porque eu estava tentando ser apresentável, aliás, não me importava com a opinião dos meus colegas, muito menos com a de Lalisa.
- Onde vai? - A voz de minha soou no alto da escadaria, mas não fiz questão de olhar em sua direção, pois sabia o que encontraria.
Aquela pose de que acha que pode me controlar.
- Sair. - Respondi e apressei o passo, tentando impedir que a mesma continuasse com o interrogatório.
( ... )
Entrei no prédio velho da biblioteca novamente, não cheguei a visitar o lugar desde que a problemática confessou seus sentimentos de puro rancor a mim.
Vi a mesma dormindo em cima de sua mesa assim que entrei, seus cabelos estavam bagunçados e espalhados sobre uma pilha de papéis.
Um pouco de saliva de sua boca escapava pelo canto de seu lábio, uma situação deplorável.
Me aproximei da mesa e bati a mão ali. Sua cabeça antes apoiada em seus braços levantou imediatamente, o olhar em alerta e assustado.
Sua primeira reação quando me viu foi como todas as outras, uma mistura de sentimentos. Limpou o canto dos lábios com as costas das mãos e com o olhar indignado sobre mim, seu cabelo já não estava tão bagunçado.
- O que você quer? - Perguntou coçando os olhos, do seu jeito intenso e rancoroso de sempre.
- Bom dia pra você também. - Ignorei. - Trouxe seu livrinho. - O joguei em cima da mesa e ela o pegou com pressa, parecendo checar se ele estava exatamente igual ao que foi tirado de suas mãos a uma semana. - É muito bom, gostaria de levar de novo se puder.
- Sai pra lá. - Resmungou, abraçando o livro enquanto fazia um biquinho, consideravelmente fofo.
Não. Idiota.
Desfiz meu sorriso rapidamente, voltando a minha faceta habitual.
- Convidei uns amigos para vir aqui, então, por favor, fique no seu devido lugar e não nos atrapalhe. - Avisei.
- Olha só, ele tem amigos. - Zombou, mas ignorei. Não eram meus amigos afinal, eram apenas colegas. - Não se preocupe, não vou querer saber e nem tenho a intenção de conhecer seus amiguinhos.
Dei de ombros e me afastei para ir ao hall de leitura. Após alguns minutos eles já haviam chegado e estávamos sentados em um círculo íntimo, lendo e conversando sobre assuntos acadêmicos, já como eramos os melhores e responsáveis por manter as boas aparências ao Colégio.
Parecia tudo tranquilo demais, Lalisa estava distante e nem parecia se dar conta da nossa presença.
Tudo indo perfeitamente bem até um deles se sentar ao meu lado e sussurar para mim. Era Jackson, o irmão gêmeo de Jennie.
- Quem é a gatinha ali? - Ele me pergunta, apontando discretamente para problemática, que lê com atenção ao que parece ser alguns documentos.
- É uma funcionária daqui. - Respondo, sem dar muita atenção e logo desviando o olhar.
- Qual o nome dela?
- Por que não vai perguntar? - Respondo sem paciência para as dúvidas insignificantes de Jackson.
Eu apenas não imaginava que ele realmente concordasse em fazer isso.
- Certo. - Ele simplesmente se levantou e foi até mesa de Lalisa. Curvou-se até estar na mesma altura que ela e começou a aplicar suas técnicas de interesse. Por algum motivo, aquilo não me deixou nada feliz.
Ele...Ela... Estão me atrapalhando muito!
Os dois soltavam risadas baixas e Lisa ofereceu a ele um sorriso que nunca havia sequer mostrado a mim, mesmo tendo conhecido Jackson a menos de cinco minutos. O resto de nós não escutava ou sequer prestava atenção, estavam concentrados em seus livros. Já eu não conseguia, estava prestando atenção na conversa.
Patético.
- Jackson. - Suspirei, chamando a atenção de alguns ali. - Está aqui para ler ou para flertar com a funcionária?
Pude ouvir algumas risadas de deboche em seguida e sorri de ladino, voltando a ler quando o silêncio se formou. Jackson voltou a sentar conosco depois de alguns segundos, com uma expressão envergonhada e inquieta.
Olhei de relance para Lisa, que me encarava sem pudor e com os olhos semi cerrados. Quis rir, mas me segurei.
Depois de pararmos a leitura começamos a conversar, estava indo tudo bem e nada fora dos trilhos, até Kunpimook, o intercâmbista tailandês, chamar um certo alguém.
- Ei, garota. - Acenou, chamando a atenção de Lisa. - Por que não senta aqui com a gente? - Ele sugere animado.
- Não posso, estou em horário de trabalho. - Ela responde com um sorriso amigável.
Não venha. Pensei.
- É, ela está. - Tento desviar o assunto rapidamente, falhando quando percebo que as garotas parecem animadas com o convite.
- Qual é? Você parece tímida, vamos nos divertir um pouquinho. - Kunpimook se levantou em um impulso do sofá e caminhou até Lisa, oferecendo a mão assim se aproximou.
Lisa hesitou em segurá-la por vários segundos, mas não dirigiu seu olhar a mim, apenas colocou sua mão sobre a de Kunpimook. Meu sangue ferveu.
Ele a puxou para se sentar ao lado dele no pequeno sofá, seus ombros roçavam assim como seus joelhos, ainda assim ele não pareceu se contentar com todo o contato, pois colocou o braço por cima do ombro dela. Bem sociável ele, não é?
- Oh, você tem uma beleza tão exótica. - Yeri comentou maravilhada, fazendo Lisa corar.
Meu coração pulsou com força.
- Sim! - Irene concordou da mesma forma. - Você não parece ser daqui, você tem namorado? - Irene pergunta curiosa, quase me fazendo gargalhar, que...que pergunta idiota!
Nunca havia visto esse lado da minha sala, eles são tão sérios no colégio e tão bobos aqui fora.
- Não, não sou daqui...e também não, não tenho. - Respondeu com um sorriso sem graça nos lábios.
Quando Kunpimook vai tirar a droga dessa mão de cima dela?
- Eu deveria te dizer que isso é uma pena ou uma dádiva? - Jackson respondeu, a encarando do modo mais obsceno possível. Senti um nó em minha garganta, a palavra imprópria estava na ponta da língua.
- Eu te conheço de algum lugar...você é a amiga da Kim Jisoo, certo? - Nayeon perguntou quase berrando.
- Sim! - Lisa se animou. - Moramos juntas.
Todos eles continuaram a conversa animadamente, e eu estava levemente irritado com aquilo tudo, apenas observando e escutando as coisas estúpidas que saíam de suas bocas. Já quase dormindo no sofá, finamente vi a chance de acabar com toda aquela palhaçada.
- Eu ainda não consigo acreditar. Você é tão linda e divertida, os caras devem se jogar diariamente em cima de você e eu vivo pedindo por pelo menos um, nunca pensou em se relacionar com um coreano? - Questionou Irene.
- Sim, ela é realmente bonita. - Cortei o silêncio pela primeira vez, trazendo a atenção de todos para mim. - E eu não sei porque tão bonita, mas você me parece desconfortável, Lisa. Preferia estar em outro lugar?
- Do que você está falando, Jungkook? - Irene me pergunta, franzindo o cenho em evidente confusão.
- Nada. - Dou de ombros. - Lisa, esse não é o seu horário de trabalho? Sra. Min não iria gostar de te ver aqui, não é? Você precisa ganhar dinheiro se quiser se manter. - A provocação que fiz não foi tão notória, talvez a arrogância e a impaciência, no final não importa mesmo.
- É, é mesmo! - Lisa se levantou de supetão, oferecendo um sorriso reconfortante a todos, não parecendo estar abalada. - Foi bom conhecer vocês, diferente de algumas pessoas aqui. Voltem aqui sempre que quiserem, vou gostar de receber vocês.
Todos assentiram um pouco inquietos, mas notei quando Lisa piscou para Jackson antes de sair, ele respondeu da mesma forma. Apertei a mandíbula.
- Qual o seu problema? - Jackson suspirou assim que Lisa fugiu do meu campo de vista. Olhei para ele, entediado.
- O quê? - Quase ri. - Não me diga que se apaixonou pela problemática. - Dei de ombros outra vez. - Ela é uma idiota.
O silêncio se instalou entre todos nós por alguns segundos, até Kunpimook puxar sua mochila e jogá-la em seus ombros.
- Eu acho que vou embora. - Se afastou sem dizer uma palavra a mais.
- Eu também. - Murmurou Jackson em seguida, fazendo a mesma coisa.
Vai tarde, amigo
Minutos depois, apenas Yeri e eu sobrávamos, em silêncio ela permaneceu me encarando, até se levantar.
- Sabe, Jungkook. - Pronuciou. - Eu realmente espero que você possa mudar e pague por suas palavras algum dia. - Se afastou.
Acho muito difícil.
- Lisa! - Chamei por seu nome, mas não obti resposta, levantei-me em um impulso para ir atrás dela.
A encontrei na pequena sala dos fundos, escutando música com os fones enquanto passava um esfregão e polia o chão de madeira, os puxei sem que ela notasse minha presença, fazendo-os cair no chão com estalos.
- Ei! Eu estava escutando música! - Virou-se irada e com a voz rouca para mim, pude ver seus olhos vermelhos e marejados, sua face estava pálida comparada a sua pele bronzeada. Toda minha raiva por algum motivo sumiu naquele momento e as palavras entalaram na minha garganta.
- Por que você está chorando? - Perguntei ao retomar a fala, franzindo o cenho.
- Eu não estou chorando, eu tenho alergia. - Tentou limpar os olhos marejados com a manga do suéter que usava.
- Não faça isso, pode irritar seus olhos. - Murmuro baixo, distanciando o seu braço que escondia as orbes amendoadas. - Já comeu hoje? Você parece pálida.
- Não. - Respondeu baixo.
- Então vamos comer. - Sugeri.
- Você é estranho. - Hesitou. - Por que está tentando ser legal?
Revirei os olhos antes guiá-la para fora da sala.
- Ainda vou ter muito tempo pra agir como um idiota com você, ser legal uma vez ou outra não vai fazer diferença.
- Bom, se você se esforça para ser um idiota comigo, está fazendo um ótimo trabalho.
- Todo mundo tem que ser bom em algo, eu sou bom em tudo.
/Taehyung /
Quando pousei em Seoul entusiasmo me consumiu, já havia visitado a capital várias vezes, mas nunca pra ficar. Sem contar que agora iria morar com o meu melhor amigo e recomeçar uma nova vida após a morte do vovô e da vovó.
Estou aqui principalmente para buscar um emprego, tentei virar fazendeiro como meu avô, mas isso não se encaixou muito no meu perfil. Gostaria de ser fotógrafo ou algo relacionado a fotografia. Tinha certeza de que estava no caminho certo.
Estava pegando minhas malas quando ouvi o grito irreconhecível vindo de alguns metros de mim. Era ele. Sai correndo em sua direção assim que o encontrei com o olhar, o dei um abraço apertado, fazia mais de cinco anos em que não nos víamos. Me desfiz do abraço ainda sorrindo, Jimin tinha mudado muito, exceto sua altura, ele sempre foi o baixinho favorito. Olhei para o lado e vi que ele não estava sozinho.
- Taehyung, essa é Jennie. Jennie, esse é o Taehyung.
Capítulo revisado✅
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