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Capítulo 44: 'Revelações'


/Jennie/

- Sério, Jisoo, já chega! - Eu praticamente arranco a garrafa de bebida da sua mão. - Você está agindo como a minha vó quando exagera no vinho.

- Me dá um tempo, Jennie - Ela avança sobre mim para tentar pegar a garrafa de volta, falhando quando eu a empurro de volta para o sofá. - Qual é o seu problema?

- O problema é que você está agindo como uma adolescente inconsequente e preocupando a todos. Uma hora você está bem, mas em outra está distante. Me diga o que está acontecendo!

Isso parece o suficiente para que Jisoo desabe para trás e comece a choramingar. Eu vou até ela, abraçando-a pelo ombro.

- Estou me sentindo péssima. - Ela desabafa. - Sabe? Vocês três estão felizes com suas vidas que eu me sinto desencaixada e sozinha. O cara que eu gostava agora está namorando uma garota linda e eu percebi que nunca tive nenhuma chance com ele...

- Ei, ei. O que é isso? Para onde foi seu feminismo e autoestima?

- Pro ralo, Jennie. - Ela faz um barulho alto quando respira profundamente. - Sou um cocozinho.

- Você não é um cocozinho e está sendo estúpida por pensar assim. - Eu a repreendo, tentando manter um tom firme. - Se esse cara já está em outra, parte pra outra! Não é como se o mundo fosse acabar. Aposto  que existem muitos caras interessantes por ai na sua cola.

Jisoo dá uma risadinha anasalada, balançando a cabeça.

- Não é tão fácil assim.

- Quer saber? Nós deveríamos sair algum dia, num encontro só de garotas. Sem se preocupar com homens ou pensar neles.

- Sim, deveríamos. Bem, seria bom se Lisa viesse. Se eu soubesse que ela trocaria nossa amizade para passar o tempo todo com o namorado eu teria repensado na ideia de deixá-la ir.

- Você está sendo estúpida de novo.

Ela revira os olhos, cruzando os braços e me olhando de volta.

- Você não tem um encontro com o seu namorado essa noite?

Tenho um sobressalto e olho para a tela do meu celular. Se eu não me apressar ficarei atrasada. Levanto-me, fazendo um bico e erguendo o indicador em sinal de aviso enquanto pego minha bolsa.

- Essa conversa ainda não acabou!

(...)

- Está gostoso? - Taehyung me pergunta, limpando um pouco de chantilly que escorreu por meu lábio superior quando tomei um pouco do chocolate quente. Eu rio, completamente derretida com todo o seu cuidado.

- Está ótimo.

É uma noite meio fria e antes de sairmos para passear pela cidade decidimos parar em uma cafeteria. Agora que estamos assumidamente namorando, passamos boa parte do tempo fazendo coisas ridículas de casal — coisas que mesmo sem admitir, amo fazer.

Sempre andamos de mãos dadas e ele sempre segura minha bolsa quando eu saio para fazer compras. Ele fez questão de comprar anéis de compromisso com o seu primeiro salário e precisei manter minha pose de durona quando ele veio e se ajoelhou com a caixinha, porque na realidade eu quase chorei.

Taehyung era o garoto que eu nunca procurei, mas que sempre precisei.

- Aquele ali não é o seu amigo? - ele pergunta, apontando discretamente com a colher para uma mesa próxima a nossa.

Ali está Jungkook, mas ele está acompanhado de um homem mais velho, e a conversa — aparentemente — não é tão amigável, então nem penso em me intrometer e volto minha total atenção para o meu namorado.

/ Jungkook /

Meu pai veio atrás de mim pela primeira vez em meses. Eu aceitei vir com ele até uma cafeteria para conversar, afinal, achei que finalmente formaríamos uma trégua, o que foi um pensamento estúpido da minha parte.

Não se faz regras com o sr. Jeon. Você joga o jogo dele. E eu não estava disposto a jogar, nunca estive.

Ele me ofereceu um cargo grande em sua empresa desde que eu voltasse para casa e esquecesse meu relacionamento com Lalisa — parece que as notícias corriam soltas.

Minha resposta foi clara, nada em sua proposta me interessava. Ele sempre soube que eu nunca tive interesse em seus negócios, e me pergunto se ele acha que eu sou como ele a ponto de deixar a mulher que amo simplesmente por um pouco mais de dinheiro.

Eu o deixei sozinho e enfurecido naquela cafeteria. Naquele momento, eu soube que ali era o meu real recomeçou.

(...)

Meus dedos se embrenham nos cabelos loiros dela, fazendo um carinho em movimentos oscilantes. Ela geme e esconde o rosto no meu peito, respirando compassadamente.

- Eu tenho pensado sobre o que você me disse. - Divago, beijando sua testa.

- Sobre o quê?

- Nós nunca conversamos sobre sua infância na Tailândia.

Um silêncio profundo cai entre nós, e eu seguro seus ombros e a afasto para poder ver seu rosto.

- Se não quiser falar sobre isso, tudo bem.

- Não, está tudo bem. - ela fala baixinho, voltando para o meu abraço e traçando linhas imaginárias por meu peito - Eu vive com meus pais na Tailândia durante dez anos, mas quando meu pai recebeu uma proposta de emprego num restaurante famoso aqui na Coréia, nos mudamos.

- E onde está o seu pai?

- Por aí. Ele sempre está por aí.

- Ele não era presente?

- Ele foi, até um certo ponto. Quando meus pais se separaram e ele se casou de novo, acabamos nos afastando. Eu não gostava de ir para casa dele porque sabia que a mulher dele e seus enteados não gostavam de mim, eles me provocavam. Fui morar com a minha mãe, mas houve uma noite... - Então a voz de Lisa engata, e eu vejo seus olhos lacrimejarem.

Seguro seu rosto e a faço olhar para mim. Não suporto vê-la chorar.

- Lalisa, não precisa fazer isso se não quiser.

- Eu quero. - ela engole as lágrimas e continua: - Eu não me lembro de muita coisa daquela noite. Apenas muito fogo e fumaça. Da minha mãe tentando me salvar e o barulho das sirenes. - Ela envolve o pingente de girassol preso em seu colar. - Ela me deu esse colar. É uma das poucas coisas que me restou dela.

- Eu sinto muito. - Não sou bom com palavras de conforto, então apenas continuo a envolvendo em meus braços.

- Não fiquei muito tempo morando com meu pai. Meses depois ele me mandou para um internato de garotas no interior. - Ela treme enquanto parece se lembrar. - Foi horrível. As garotas me odiavam e deixavam isso claro. Foi quando desenvolvi depressão. Jisoo uma professora estagiária na época, nos aproximamos e nos tornamos amigas, e quando terminei o ensino médio ela me ofereceu um quarto em seu Apê. Lá eu conheci Chaeyoung, consegui um emprego na biblioteca...bem, o resto você já sabe.

Tomo seu rosto nas mãos, surpreendendo-a com meus lábios nos seus.

- Sim. - Eu torno a beijá-la, vendo um sorriso se abrir em seus lábios. - Sei bem como essa história termina.




















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