
Capítulo 3: 'Chuva'
/Jungkook/
Passei a noite inteira em claro como já previa.
Vários pensamentos atormentavam minha cabeça, o fato de que minha mãe me achasse problemático e quisesse impor algo que eu nunca poderia ser era o que mais me perturbava.
Não sou um cara sociável, amigável e bondoso ao extremo, nunca fui. Eu sou o filho que espera bondade e respeito quando não ofereço nenhum dos dois, e não me sinto na obrigação de fazer isso, sou o filho egoísta.
Meu irmão é exatamente o que minha mãe gostaria que eu fosse, nas entrelinhas no caso. Meu irmão era bom, respeitoso e honrado, e mesmo assim não aguentou a pressão toda sobre ele e fugiu, sendo agora taxado como a decepção da família Jeon.
Pergunto-me se tivesse feito o mesmo seria lembrado desta forma, e chego a conclusão de que sim.
E quer saber? Está tudo ótimo para mim.
Ignoro os olhares em cima de mim. Um Jeon desde pequeno era acostumado a ser rodeado de olhares de aprovação, mas eu particularmente odeio isso.
Me aproximo da mesa em que Jimin e Jennie estão sentados, em silêncio.
- Bom dia. - Resmungo sem muitas saudações e me sento ao lado deles, descansando a cabeça sobre a mesa, exausto.
- O que deu em você hoje? - Jennie pergunta com a voz aguda e puxa meus cabelos para ver meu rosto, tenho certeza de que ela acha tudo isso uma bela graça.
- Eu não dormi, só isso. - Resmungo outra vez e Jennie solta meu cabelo fazendo meu rosto atingir a mesa outra vez, mas nem dor sinto, estava cansado demais para isso.
- Não irá ver a sua nota? Os resultados saíram. - Jimin pergunta, parecendo hesitante ao perceber que há algo de errado.
- Por que? - Murmuro com desdém.
- Já sei a resposta.
- Exibido. - Jennie sussurra.
- Está tudo bem? Por que não respondeu minhas mensagens ontem a noite?
Jimin é como um irmão para mim, sei que ele se preocupa, mas as vezes é um pé no saco.
- Quebrei meu celular. - Respondo rouco pelo sono.
- Como? - Ele parece querer ter certeza do que eu acabei de dizer, mas minha paciência já se esgotou.
- Ele simplesmente quebrou, tudo bem? Não se preocupe, vou responder suas mensagens importantes quando conseguir concertar a minha vida. - Vocifero.
O silêncio se estende por alguns segundos e então ouço o barulho do banco se arrastando.
- Fica tranquilo, quando conseguir arrumar sua vida seu amigo de merda ainda vai estar aqui pra salvar sua pele de novo. - Ele pega sua bolsa antes de jogá-la no ombro e se afastar da mesa.
- Tá estressadinho hoje? O que aconteceu? - Jennie pergunta como se tivesse acabado de testemunhar o melhor show de comédia da sua vida.
- Não é nada. - Dou de ombros e me afasto da mesa assim como Jimin.
(...)
O horario de almoço no Colégio era sempre movimentado, por isso sempre prefiri ficar no campus de trás, lá havia sempre poucas pessoas e era sempre calmo.
Não vi mais Jimin depois da aula de biologia, ele simplesmente havia sumido. Por isso decido ignorar os acontecimentos de hoje mais cedo por enquanto.
Encostei em uma das árvores do campus para ler, como fazia todos os dias. E hoje eu precisava descobrir o motivo de toda a irritação daquela garota por mim. O livro da capa amarela tinha o título A Esperança e contava a vida da própria autora quando ainda era uma criança.
Era divertido em algumas partes, um tanto melancólico em outros. Mas ainda não havia notado o grande motivo para a irritação da loirinha. Era apenas um livro comum.
- Hey! - Um grito soou estridente, mas ignorei. - Eu estou falando com você, Jeon Jungkook!
Mãos puxaram a gola da minha camisa e o livro escapou de minhas mãos imediatamente. A tela de um celular foi colocada em meu rosto.
- É você?! - O garoto moreno que agarrava minha camisa gritou.
Olhei para tela do celular. Então me dando conta de que ele era o namorado da garota da foto no celular, que por causa de um maldito ângulo parecia me beijar.
Não conti o riso.
- Quem é você? - Perguntei sarcástico.
Não demorou muito para que ele se irritasse.
- É você ou não? - Ele aperta minha camisa, rangendo os dentes.
- E se for? - Sorri lentamente.
- Porra cara, eu vou acabar com você. - Ele ergueu o punho.
Três. Dois. Um.
- Mas que baderna é essa ?! - Sr. Lee, o diretor, chegou alterado e jogando as mãos para o alto. - Senhor Jeon, perdoe-me por isso. - Sr. Lee quase implorou com a voz, o garoto soltou minha roupa imediatamente.
- Como? - Ele gritou, parecendo desacretidado. - Esse cara aqui beijou a minha namorada!
- Nada se resolve com socos, Bae. Não vamos nos meter em problemas desnecessários, não é Sr. Jeon? - Sr. Lee me oferece um sorriso amarelo e eu balanço a cabeça, confirmando.
Lee juntamente a dois alunos tiram o tal Bae dali. Pisco para ele.
Ser um Jeon tem suas vantagens.
( ... )
No fim da tarde decidi voltar a pé para casa, sabendo como os meus pais odiariam a ideia de que eu esteja andando sem meu carro ou o motorista da família. No entanto, isso me pareceu uma péssima ideia quando a chuva começou a cair.
A única opção foi entrar no lugar mais próximo, a biblioteca. Porém não acho que tenha resolvido muito, meus cabelos pingavam e minhas roupas já se encontravam encharcadas.
- Deus, Jungkook! - Senhora Min exclamou espantada ao me ver. - Vou pegar algumas toalhas, não saia daí! - Avisou antes de sair do hall rapidamente.
Sra. Min sempre foi doce comigo. Me deu o apoio necessário quando meu irmão foi embora, para que eu não ficasse entediado e triste o tempo inteiro, coisa que meus próprios pais não conseguiram dar ao seu filho de apenas nove anos na época, pois estavam preocupados demais com o que pensariam sobre a Família Jeon depois de todo escândalo.
Minutos depois eu estava seco e com uma toalha sobre os ombros, tomando um chá que a Sra. Min havia preparado. Ela estava em sua mesa, olhando fixamente para porta e parecia preocupada.
- Algum problema, Sra.Min? - Pergunto tomando um breve gole do chá.
Ela olha-me de relance, parecendo cada vez mais incomodada.
- Lisa. - Ela murmura entrelaçando os próprios dedos em um tic nervoso.
- Lisa? - Arqueio as sobrancelhas.
- A garota de ontem a tarde. - Ela me lança um olhar de repreensão, como se já soubesse exatamente o que eu havia feito.
Quase me sinto culpado.
- Trabalha aqui e já deveria ter chegado.
Então ela vem aqui quase todos os dias? Hum. Interessante.
Após alguns minutos ouço as altas portas de madeira sendo abertas e um vento violento adentrar na biblioteca.
Era ela.
Estava com os cabelos desgrenhados por conta do vento, as roupas úmidas e a ponta do nariz vermelha. Seus olhos amendoados pareciam um pouco inchados. Apertei a mandíbula de leve.
Senhora Min se levantou e foi para os fundos sem dizer nenhuma palavra sequer, provavelmente para pegar mais toalhas. Ela se aproximou de mim.
- Boa tarde. - Ela murmurou com a voz rouca e passou reto por mim, sem fazer a menção de olhar em meu rosto. Mas então ela parou no meio do caminho, deu um giro e olhou em meus olhos. Parecia ter me reconhecido, pois me olhou com tédio antes de dar as costas e sair.
Rancorosa ela, não é?
- Boa tarde. - Respondi-a do mesmo jeito, talvez até mais doce. Ela se senta na poltrona a minha frente, se servindo de chá sem me dar muita atenção.
Começo a encarar seus movimentos sutis, ela funga com nariz com frequência por conta do evidente resfriado, puxando o ar por sua boca rosada, assim como suas bochechas.
- Perdeu algo? - Ela pergunta agressiva, me tirando do transe.
- N-não.
Por que gaguejei?
/Lalisa /
Sra. Min já havia me trazido toalhas suficientes para eu me secar. Fingi estar concentrada em meu chá quando percebi que aquele moleque me encarava.
Ontem, enquanto conversava com Sr. Min, ela me disse que ele frequentava a biblioteca desde pequeno e sempre foi muito inteligente e cortês, mas o que ele fez ontem, para mim, só prova minha teoria de que garotos conseguem ultrapassar níveis absurdos de infantilidade.
E bem, ele se envolveu com a garota errada.
E mesmo que sinta meu orgulho sendo ferido quando penso sobre isso, tenho que admitir que esse garoto é... demais...
Digo, ele me tira meu fôlego com facilidade. Ele tem sorte de ser bonito, porque isso me faz pensar duas vezes antes de socar seu lindo rosto.
Sinto minhas bochechas esquentarem enquanto o mesmo mantém os olhos sobre mim, mas depois o chamei a atenção. Ele é como um maldito desafio para testar minha sanidade e paciência.
Eu ainda estou com muita raiva dele, e tenho quase certeza de que ele sabe disso.
Ficamos calados durante longos minutos em um silêncio desconfortável, até o som um tanto extravagante do meu celular cortar o ar.
O atendo rapidamente ao ver que é Jisoo.
- Jisoo? - Chamei. Vozes animadas foram escutadas do outro lado.
- Oi!
Eram Jisoo e Chaeyoung, vulgo minhas melhores amiga para toda vida.
- Loira Paranóica Problemática? Está tudo bem? Está chovendo muito. - Era Jisoo que falava agora.
- Cala a boca, Jisoo. - Chaeyoung resmungou, em seguida ouvi o som de um tapa e um grito agudo.
- Fecha a boca. Então Lili, quando você volta?
- Porque aqui tá difícil...
Ouço um barulho estridente de vidro se quebrando do outro lado.
Deus.
- Caramba, Chaeyoung! O que você fez?Lalisa, a luz acabou aqui em casa , tá Um Breu aqui, a Chae quase explodiu o fogão quando estava fazendo miojo, e ainda conseguiu fazer errado, estamos com fome.
- Eu não posso voltar agora, está chovendo demais. - Suspiro ouvindo alguns cochichos. - O que foi?
A risada histérica de Jisoo que preencheu o silêncio me fez pular.
- Você está completamente fodida quando ela descobrir que você quebrou...
- Ainda está na ligação, anta acéfala!
- O que você quebrou, Chaeyoung?
Eu esperava de pés juntos e mãos para o céu que não fosse o meu novo espelho.
- Nadinha Lili, pode voltar para casa quando quiser, sem pressa. Bye bye!
- Chaeyoung? Chaeyoung!
A maldita desligou.
Desvio o olhar em direção aos olhos intensos que me encaram em diversão.
- O que foi? - Vocifero. - Tem algo na minha cara?
- Não. - Seu sorriso é sarcástico.
Aquilo é a gota d'água.
Capítulo revisado✅
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