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𝙿𝚛𝚘𝚕𝚘𝚐𝚞𝚎

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Dias ruins eram mais comuns em minha vida do que dias bons. Essa era uma verdade que pude concluir ainda quando criança, o que não era nem um pouco justo. Eu era uma sonhadora, uma amante da fantasia, mas o mundo real tirou isso de mim, tirou a minha inocência. Tive que abandonar a coroa de princesa cedo demais para vestir a armadura que o mundo exigia das pessoas para sobreviverem.

Uma sobrevivente.

É, eu sabia muito bem como era ser uma.

Quando minha mãe, a pessoa que eu pensava que mais me amava no mundo, me abandonou ainda criança com o meu pai depois de traí-lo, eu sobrevivi. Quando meu pai não conseguiu mais trabalhar por causa de problemas nas pernas na minha adolescência, eu tive que arranjar um emprego para sobrevivermos. Quando minha mãe abandonou os gêmeos que teve do seu segundo marido comigo assim que fiquei adulta, passei a trabalhar em dois empregos para sobrevivermos.

Tendo uma família consideravelmente pobre, sobreviver era tudo o que eu fazia para que eu pudesse dar uma vida um pouco mais digna ao meu pai e aos meus irmãos pequenos. Sonhos como ir para a faculdade e ter o emprego que eu gostaria para mim eram coisas que sempre estiveram distantes das minhas mãos, mas se tornaram impossíveis depois de tudo.

Dias ruins eram mais comuns em minha vida do que dias bons, era verdade, no entanto, havia certas coisas que serviam de combustível para eu prosseguir: as palavras carinhosas e de encorajamento do meu pai, os sorrisos e abraços dos meus irmãos, os conselhos maternais da minha tia.

Minha família dava sentido a minha vida, a tudo que eu fazia.

Meu celular começou a tocar dentro da minha bolsa, me fazendo dar um pulo em surpresa. Eu não estava acostumada a ouvi-lo tocar. Comprei o celular apenas para emergências, e tive que usar todas as minhas economias para isso. Com meu pai sozinho em casa e meus irmãos passando um tempo com minha tia, era importante que eles tivessem como me contatar caso necessário.

— Oi, tia — atendi, preocupada, após ver o nome na tela. — Está tudo bem? Como estão a Maia e o Miguel?

— Onde você está, Elena? Ainda está no trabalho? Está voltando para casa? — tia Carmem disparou as perguntas.

— Eu trabalhei na lanchonete e no restaurante, mas o meu chefe no restaurante nos dispensou uma hora mais cedo, então estou voltando para casa — respondi, o coração começando a acelerar por ela não ter respondido as minhas perguntas e estar nervosa. — Tia, cadê a Maia e o Miguel? Eles estão bem? Aconteceu alguma coisa?

Seu silêncio inicial me angustiou, mas tia Carmem não demorou a me responder.

— Eles estão bem, estão brincando no quarto. Não os mandei para a escola hoje.

— Por que não? — olhei para os dois lados e atravessei a rua.

— Você viu alguma coisa de estranha aí na cidade ou nos noticiários? — ela perguntou. — Por aqui está passando carros de polícia e bombeiros direto desde manhã, por isso não mandei as crianças para a escola e não fui trabalhar.

— Por aqui também está assim, mas desde tarde. Acho que foi por isso que meu chefe nos dispensou mais cedo, mas não sei o que está acontecendo. Não tive tempo de ver nada nos noticiários.

— O marido da Rebecca chegou agora a pouco do trabalho — minha tia se referiu a vizinha. — Ele disse que soube e viu algumas coisas muito assustadoras, querida, acha que é alguma nova doença. Pessoas estão correndo atrás de pessoas, estão mordendo umas às outras com algo saindo da boca e... elas estão se infectando. Não estão sendo elas mesmas. — ela suspirou. — Eu não sei o que está acontecendo, Elena, mas coisa boa não é.

Arregalei os olhos, virando na rua de casa e tentando assimilar suas palavras.

— E-ele... ele viu tudo isso?

— Viu de dentro do carro enquanto estava voltando para casa. Disse que nunca dirigiu tão rápido na vida — eu podia sentir a angústia na voz da minha tia, o medo que também era passado para mim. — Ele e Rebecca conversaram e decidiram que não é seguro ficar aqui, vão pegar o máximo de coisas que puderem e vão embora. Eles foram gentis e me disseram que vão levar eu e as crianças junto e passarão na sua casa para buscar você e o seu pai.

— Tia... — tentei falar, mas ela me interrompeu.

— Não percamos tempo, querida, temos que agir rápido. Você está chegando em casa? — assim que respondi que sim, ela continuou: — Vá pra casa e tranque a porta, fique segura com seu pai até chegarmos. Não abra a porta para ninguém, só para mim, entendeu?

— Tia, eu estou ficando assustada — falei, mas apressei o passo. Logo avistei minha casa.

— Elena, faça o que eu mandei e se cuida, por favor. Vou preparar as crianças, te ligo quando formos sair daqui.

Então tia Carmem desligou.

Eu fiquei parada por alguns segundos na calçada, o celular ainda na orelha, olhos arregalados e coração disparado. Cada uma das palavras da minha tia martelava em minha cabeça, aumentando o meu medo do desconhecido. Nada do que ela dissera parecia real, mas tia Carmem não se assustava por qualquer coisa, e ela claramente estava aflita na ligação. Se algo conseguiu deixá-la daquele jeito, então eu tinha que me preocupar.

Quando, finalmente, saí do transe, guardei o celular na mochila e corri para casa. Com as mãos trêmulas, peguei a chave de casa na mochila e, depois de demorar um pouco para colocá-la na fechadura, destranquei e abri a porta. Entretanto, deixei a mochila cair do meu ombro assim que me deparei com a cadeira de rodas do meu pai tombada no chão. Não havia nenhum sinal dele.

— Pai? — gritei, aflita, e entrei dentro de casa. Papai nunca saía da cadeira de rodas sem ajuda.

Nenhum barulho, nenhuma voz, nada. A casa estava em completo silêncio.

— Pai? — chamei-o novamente, adentrando ainda mais na casa, passando pela sala e cozinha, indo em direção aos quartos.

A porta do quarto do meu pai era a única no corredor que estava semiaberta, então decidi olhar lá primeiro. Terminei de abrir a porta e acendi a luz para conseguir ver melhor. Meu corpo congelou e meu coração parou, senti como se minha pressão tivesse caído, a visão escurecendo por alguns segundos.

Embaixo do guarda-roupa caído estava o meu pai, mas aqueles olhos que olhavam para mim não eram do homem que me colocou no mundo, que me amava com todo o seu ser. Meu pai nunca me olharia daquele jeito, nunca com nada menos que amor e carinho. Aquele olhar não tinha sentimentos, era primitivo, medonho.

— Papai... — falei em um sussurro.

Seus olhos castanhos carregavam um instinto animalesco como nunca imaginei ver, texturas incomuns manchavam a sua pele dourada, e algo estranho saía de dentro da sua boca, que lembrava tentáculos.

Dei um pulo para trás quando ele começou a se debater com força sob o guarda-roupa, grunhindo e rosnando para mim, parecendo mesmo um animal. Um braço conseguiu escapar, se esticando na minha direção, os dedos contorcidos como se quisesse me agarrar e me machucar.

— Papai — solucei, a voz trêmula, não querendo aceitar o que eu via bem diante de mim.

Eu não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que aquele que estava quase sando debaixo do guarda-roupa não era o meu pai, e, se tudo que tia Carmem escutou fosse mesmo verdade, ele não me daria um abraço acolhedor quando me alcançasse, como sempre costumava fazer quando eu chegava do trabalho.

Assim que seu outro braço escapou do guarda-roupa e o resto do seu tronco foi ficando mais visível a cada segundo, dei-lhe as costas e saí correndo o mais rápido que pude. Bati a porta de casa ao sair, a tranquei e fiquei parada na frente dela, tremendo, sem saber o que fazer.

Segundos depois, escutei passos apressados dentro de casa e grunhidos altos, às vezes quase soando como uma lamentação. Coloquei as mãos sobre a boca para não fazer nenhum som, pois tudo o que me separava do que um dia foi o meu pai era uma porta de madeira.

Alguma nova doença, dissera tia Carmem. Mas não uma doença qualquer, não uma doença como qualquer outra.

Pessoas estão correndo atrás de pessoas, estão mordendo umas às outras com algo saindo da boca e... elas estão se infectando. Não estão sendo elas mesmas.

Forcei ainda mais as mãos sobre a boca, impedindo um soluço.

Não estão sendo elas mesmas.

Chorando em silêncio, sentindo a maior dor que já senti na vida, sentei contra a porta com cuidado, ao lado da minha mochila, ainda escutando os sons animalescos que saíam de dentro de casa. Eu era uma sobrevivente, mas nunca pensei que teria que sobreviver a uma situação como essa.

A mais o que eu teria que sobreviver?

O que mais o mundo tiraria de mim?

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