Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

° Chapter 37 °

E enfim chegou o grande momento!!!

(que se não fosse pelos problemas que me rondam, teria acontecido bem mais cedo but anyway!)

Já peço desculpas se a leitura for cansativa pra alguns porque o cap tá realmente imenso.. mas dei o meu melhor pra que valesse a pena cada segundo

E o cap 38 está em andamento 💃🌚💫 então pelo tamanho desse, vai compensar a demora um pouco hihi

E ah, só pra explicar logo. Vou postar nesse livro acho que mais uns 3 caps só. Fechar no cap 40 e então criar outro livro pra eu poder focar na infância da baby tranquilamente e no modo como thiam pretende criar ela, as novidades que descobrirão, os acontecimentos..

Eu até queria continuar nesse mas ficariam muitos caps e isso poderia comprometer a vontade dos leitores novos de ler a obra pq isso as vezes acontece. E acho que ia bugar tbm meu cell com uma obra com tantos capítulos assim skskksk enfim acho que é só isso wolfies, obrigada por todo esse tempo cmg e a paciência de vcs principalmente ❤️❤️

Não se esqueçam de que pode comentar a vontade, surtar, espernear KAKAKSMSN quero muito saber a opinião de vocês e como se sentiram lendo os momentos, vai ser tiro, porrada e bomba hein!

Boa Leitura! 😆🐺

~~~~x~~~~

Beacon Hills. (07/03/2017) |Sábado|

Embora seja cansativo continuar tentando o tempo todo mesmo quando pareça que atingimos o limite. O resultado de todo o esforço sempre acaba dando as caras no final. Pode ser um conselho bem roteirizado se pararmos para pensar, porém é a mais simples e pura verdade. Basta tirar um tempo afim de organizar os pensamentos conflituosos, planejar metas futuras. Basicamente quase como uma meditação.

As mudanças internas acontecem quando menos esperamos, e até podemos não notá-las de primeira. Mas a sensação de conquista é a mais satisfatória assim que tiramos um segundo para olhar para trás. E vemos, que somos muito mais do que os incontáveis períodos desgastantes. Certamente, cada um da alcatéia conseguia enxergar isso. Ainda que em perspectivas diferentes. O tempo sabia ser generoso com aqueles que executavam sua parte.

— Agora.. apague a fogueira! — Stiles ditou ao longe um tanto alto para Adam. O sol atrapalhando um pouco a enxergar o híbrido parado em frente a um espaço no chão com madeiras em chamas. O menor assentiu enquanto buscava fôlego e erguia a mão dando um joinha em resposta. Os olhos azuis voltados para o elemento quente em nítida concentração. — Nossa que calor.. — O Stilinski resmungou puxando um pouco a blusa na área do peitoral, desejando mais uma vez poder tirá-la de seu corpo. Se não fosse por um certo lobisomem possessivo observando-os. Não sabia o que havia de errado com Derek ultimamente.

— Já disse pra ignorar ele e tirar logo isso. — Isaac comentou num tom baixo e risonho ao se inclinar mais para o lado do humano. Agradecendo mentalmente por estar de regata. Conferiu de maneira vaga Adam que manipulava com cuidado o fogo, antes de apagá-lo no ar a medida que a bola que se formou fora diminuindo. Lahey sorriu orgulhoso, lançando um olhar incentivador ao menor. Seu amigo melhorava a cada dia.

— Ele tem estado estranho. Mais quieto que o normal e rosnando por qualquer coisa as vezes. — Stiles deu de ombros tentando disfarçar que aquilo o intrigava. Passou as costas da mão na testa, limpando as partículas de suor enquanto sinalizava para Adam continuar com o próximo elemento. Isaac franziu as sobrancelhas curioso cruzando os braços, dando sua total atenção ao Stilinski por alguns instantes. — Sinceramente não tenho ideia do que seja isso. E não é a lua cheia porque sei que ele não se afeta como antes. — Ele suspirou fundo coçando a nuca, seu olhar tornando-se distraído brevemente antes de bufar e arrumar a postura. — Ai não dá, vou tirar isso. Pede pro bruxinho ali fazer chover se possível, por favor. — Disse num tom brincalhão e cansado para então levar as mãos até a barra da blusa junto ao casaco. Uma risada alta vinda de Isaac preencheu seus ouvidos.

— Ouvi, Stiles! E pode deixar. — Escutou a voz empenhada de Adam ao longe após tirar o moletom, ficando somente com a calça jeans. Foi a última coisa que captou antes de literalmente sentir respingos em seu rosto a princípio que foram aumentando a intensidade gradativamente. Stiles olhou para cima esboçando um sorriso aberto devido a surpresa, largando a roupa no chão próximo a seus pés. Isaac também não estava diferente, observando o fenômeno com nítido fascínio em sua feição.

— Okay, com certeza ele tá se tornando meu sobrenatural favorito. — Stiles declarou animado parecendo uma criança que acabou de ganhar um presente. Abriu os braços afim de receber mais da água em seu corpo. Isaac riu fechando os olhos por um momento e então sacudiu a cabeça, passando a mão sobre os cachos agora úmidos jogando-os para trás. Stiles praguejou quando os pingos atingiram sua face. Logo voltou sua atenção para Adam novamente, não disfarçando estar fascinado. — Quem diria que eu estaria treinando um híbrido a essa altura do campeonato e tudo está correndo bem. — Resmungou convencido ao analisar. Limpando o excesso de água do rosto, logo apoiando as mãos na cintura mantendo o olhar no horizonte. Era surreal de assistir.

Adam possuía um semblante sério neste instante, as mãos erguidas no alto e os olhos com uma coloração azul oceânica voltados para o que manobrava no ar dessa vez. Empenhava-se para manter a concentração; postura alinhada, sentidos aguçados na medida certa. Quem visse de fora poderia pensar que executava com tanta facilidade, suas expressões mal mostravam reação. Além de estar sentindo toda a intensidade do elemento frio e refrescante praticamente percorrendo em suas veias. Exigia tanta energia de si para elevar a água e deixá-la pairando, ainda mais de um modo que imitasse a chuva. Estava cansado sim, mas exausto não.

Nós estamos treinando ele, senhor fiz academia e agora vou esfregar na cara de todo mundo. — Isaac rebateu com falso desgosto. Esboçou um sorriso travesso ao dar uma cotovelada de leve no antebraço do humano, indicando o físico do mesmo. Stiles piscou franzindo a testa e virando a cabeça na direção do cacheado. — Realmente, vocês mudaram muito por aqui. — Deu ênfase de um modo exagerado. Voltando o foco em seguida para Adam, executando um sinal com a mão dizendo para fazer uma pausa.

— Os treinamentos com o bando tinham que resultar em alguma coisa, não é? — O humano rebateu retórico ao estranho elogio, tentando camuflar o breve sentimento de acanho que sentiu adotando uma pose modesta. Isaac ergueu as mãos num sinal de rendição, o sorriso brincalhão nos lábios rosados. Stiles negou com a cabeça se divertindo, juntando sua peça de roupa do chão mesmo que já estivesse encharcada a essa altura. — E além do mais.. estar preparado sempre junto aos outros continua sendo uma vantagem boa. — Acrescentou num murmúrio, soltando o ar pelo nariz em nítido cansaço. Um ar reflexivo tomando conta do ambiente.

— Não soube mais nada pelo seu pai sobre como anda as vigias no aeroporto ou algo assim?! — Adam questionou um tanto alto para o Stilinski a medida que vinha de encontro aos dois mais velhos numa breve corrida. O bruxo igualmente suado e talvez meio pálido devido ao esforço extra durante aquela manipulação extrema. Isaac no mesmo instante lançou um olhar repreendedor para o híbrido por notar esse detalhe. — Eu sei, eu sei. Só quis deixar mais divertido.. — Resmungou o francês se adiantando em se defender. Assemelhou-se a uma criança pequena principalmente após fazer um beicinho por ser contrariado. Lahey revirou os olhos, puxando-o para perto.

— Deixa de ser divertido quando me deixa preocupado. — Rebateu o mais alto enquanto passava a mão pelos cabelos úmidos e bagunçados do mais novo tirando-os da testa. Logo entregando uma garrafa com água para ele. Stiles riu baixinho para aquilo. Constatando que Isaac era pior que uma mãe e isso todo mundo tinha que concordar. O Lahey olhou de relance para o Stilinski, estreitando as orbes. — Cala a boca. — Mandou tentando conter o riso.

— Eu nem disse nada. — Argumentou cinicamente. Voltando a atenção para Adam que os encarava sustentando um sorriso de canto nos lábios enquanto se hidratava. Stiles cruzou os braços. — E respondendo a sua pergunta. Não, nada de suspeito ou incomum. Até porque a maioria dos rostos novos que aparecem por lá estão só de passagem.. — Suspirou tristonho e inquieto. O francês parou de beber água, assumindo uma postura pensativa junto a Isaac. — Fui conferir com a equipe mais do que eles gostariam de suportar. Meu lado compulsivo funciona bem, mas as vezes odeio ele.. — Confessou em tom baixo na última parte, levando a atenção para seus tênis surrados. Adam e Isaac se entreolharam compadecidos do amigo.

Stiles estava decepcionado sim, mas também sentia que não era tudo em vão. E não seria somente por conta do histórico da cidade ao longo dos anos na vida do bando. Era quase como uma.. intuição para algo ruim. O que o tornava ainda mais obcecado. Precisava se acalmar e sabia disso, o que o fazia tentar se distrair quase todo o tempo. Estar sozinho com sua mente as vezes era a pior coisa a se fazer.

— Mas.. continue com essa mesma atenção. — Adam disse subitamente preenchendo o silêncio, levando a mão direita de encontro ao ombro de Stiles que levantou a cabeça. — Afinal nem todos vigiando são realmente atentos todo o tempo. — O híbrido deu ênfase em um aviso verídico. Ainda que não quisesse preocupar mais o outro. Não queria mentir. Isso levou o humano a pensar mais um pouco novamente. Isaac concordou num aceno de cabeça lento, brincando com a barra da regata.

— De qualquer jeito. Se algo passar da vista deles.. saberemos mais cedo ou mais tarde. — Stiles concluiu com pesar passando a mão na testa. Apertando com certa raiva seu moletom em mãos. A agonia não era algo que pudesse controlar no momento. Porém, precisava se lembrar que manter a calma era fundamental se quisesse ser ouvido e não visto só como um surtado. O humano suspirou fundo após a reflexão. — Eu vou entrar. Acho que esse sol tá fritando o resto dos neurônios que me restam. — Resmungou esboçando um rápido sorriso de canto. Tentando parecer alguns porcento indiferente mas óbvio que estava longe disso.

— Quer.. que a gente vá com você? — Adam questionou dando um passo a frente. Sua feição incerta deixando-o mais adorável, se isso era possível. Surpreendendo o humano sem conseguir evitar. O francês era bem atencioso e Stiles não estava acostumado ainda. Isaac que somente assistia, riu baixinho. Aubert deu uma leve recuada, parecendo tímido. — Ou não..

— Eu acho que vocês podem treinar mais um pouco. Preciso organizar minha mente antes que eu surte. E acredite, ninguém quer ver isso. — Finalizou adotando uma expressão séria de forma teatral. Adam ergueu as sobrancelhas meio preocupado, trocando de relance um olhar com Isaac que deu de ombros. Logo Stiles riu anasalado caminhando até o menor e bagunçando os cabelos dele. — Tô brincando. Mas obrigado mesmo assim. — Deixou um último carinho na cabeleira antes de se afastar. Dando uma breve corrida na direção das escadas que levavam a conhecida porta de acesso ao andar deles no loft.

Adam observou o humano ao longe por alguns segundos antes de se voltar a Isaac. Notando que ele não era o único atribulado com essa situação. Respirou fundo bebendo água mais uma vez, movendo seus pés para perto do Lahey que desviou o olhar para ele.

— Antes que pergunte. Sim, ele sempre foi assim. — Isaac assegurou em meio a uma risada fraca. Adam o acompanhou enquanto passava a mão pelos fios levemente suados, analisando o sol que se escondia aos poucos por entre as árvores no horizonte. — Mas querendo ou não. Vocês estão certos, e o que nos resta é ficarmos atentos. — Mordeu o lábio inferior numa expressão frustrada por ter que admitir. Inspirando o ar devagar. Aquilo era de deixar qualquer um de mãos atadas, mas também a única alternativa no momento. — Aliás, tudo bem? Sei que a próxima lua cheia é daqui um dia.. — Coçou a nuca meio inquieto com isso.

— Sabe que só dou aqueles ataques na segunda lua do mês. — Adam lembrou o maior que esboçou um semblante engraçado ao se recordar da informação. O híbrido emitiu uma gargalhada baixa, bebendo mais água. — Que no caso, vai acontecer só em outubro. Pelo menos espero que nada manifeste até lá.. — Murmurou a última parte com certo medo. Levando o foco para uma parte ao longe da grama queimada por causa de um breve acidente que conseguiu consertar rápido dessa vez.

Isaac o lançou um sorriso compreensivo, antes de puxá-lo devagar para um abraço bem-vindo sem dúvida. Adam se viu retribuindo de imediato, deitando a cabeça contra a clavícula do cacheado. Poderia estar um calor irritante de abafado. No entanto, não se via capaz de recuar assim dos carinhos do outro. Talvez, fosse um pouco carente.

— Seja como for. Você está progredindo bem com os treinamentos. Logo nem vai se lembrar de como é perder o controle. — Afirmou o Lahey com convicção. Pressionando os lábios contra os cabelos do menor, que riu baixo relaxando os ombros.

— Espero esquecer de uma vez aquele último incidente então.. — Murmurou o híbrido, embora carregasse uma ponta de humor em sua voz. Isaac riu baixo negando com a cabeça, deixando outro beijo demorado na testa do menor. Adam fechou os olhos apreciando para então se afastar com muito custo. — Okay, chega. Essa é minha última rodada no treinamento com o elemento ar. Preciso de concentração. — Disse forçando um tom sério, o que só arrancou uma gargalhada do cacheado que ergueu as mãos em sinal de rendição. — Mas.. só mais um beijo pra dar sorte? — O tom sugestivo só incentivou o Lahey rir mais.

— As vezes dúvido sobre você realmente ter dezenove anos. — Murmurou risonho dando curtos passos até o híbrido. Segurando cada lado do rosto do mesmo e depositando um selar estalado na testa. Adam corou violentamente abaixando a cabeça na tentativa de ocultar um sorriso sem jeito. — Eu tô mentindo? — Isaac soou retórico, perdendo o momento em que o outro conseguiu executar uma manipulação energética discreta.

Uma rajada forte ainda que mínima veio de encontro ao rosto do cacheado que arrepiou até os fios enrolados com força. Isaac piscou algumas vezes tentando se recompor, isso antes de assumir uma feição indignada. Adam riu sapeca para o estado do mais alto. Não perdendo tempo em se afastar antes que levasse um sermão.

— Agradeço! Tá quente mesmo, otário! — Isaac rebateu não se importando em ocultar seu aborrecido. Vendo o amigo ao longe somente rindo. Lahey bufou arrumando os cabelos. — Não sei porquê tá na lista de pessoas que podem tocar nessa perfeição. — Seu tom modesto ocasionou numa risada irônica. Mas que não veio de Adam.

— Acho que esse tempo com os europeus te deixou meio metido, não acha? — Reconheceria essa voz em qualquer lugar. Isaac esboçou um sorriso aberto, virando-se rapidamente nos calcanhares para encarar o alpha atrás de si. — Eu ia vim cedo pra ver o treinamento desde o início, mas Deaton precisou de uma ajuda extra na clínica hoje. — Deu de ombros lançando um olhar envergonhado ao mais alto claramente se desculpando. Isaac revirou os olhos.

— Você veio, e isso é o que importa. — Disse o cacheado com um olhar terno sem que ao menos notasse. Scott sentiu um breve rubor tomar conta das bochechas mas resolveu ignorar, logo aproximou-se mais. O loiro enlaçou a cintura do menor, puxando-o contra seu corpo antes de depositar um selinho demorado nos lábios rosados. O alpha esboçou um sorriso ladino entre o ato, passando os braços pelo pescoço do Lahey. — Então, como você está? — Perguntou com interesse genuíno assim que cessaram. Fazendo uma carícia suave com os dedos pelos cabelos escuros de McCall que se inclinou mais para o toque.

— Meio paranóico, mas bem. — Respondeu dando um meio encolher de ombros. Logo rindo baixo descontraindo um pouco, ainda que isso não tenha desmanchado a feição preocupada de Isaac. O alpha não fugiria dessa. Scott desfez devagar o sorriso brincalhão ao notar, abaixando o olhar logo depois para brincar com a gola da regata do outro. — É só.. estranho que tudo tenha parado de repente. É uma sensação chata.. — Confessou após suspirar fundo, sentindo um carinho em sua nuca. Lahey assentiu compreendendo, guiando em seguida a cabeça do menor para que deitasse em seu ombro. Scott sorriu para aquilo, abraçando o tronco do mais alto. — Mas enfim.. como o bruxo do bando está indo nos treinamentos? — Soou meio abafado contra a pele de Isaac, mas não deixou de ser explícito a vontade de mudar o foco dessa conversa. Isaac respeitou isso.

— Ele tá indo bem a cada dia. Até fez graça com o elemento ar. — Disse entredentes meio raivoso não disfarçando a chateação do momento anterior. O que arrancou uma risada baixa de Scott. — Queria ver se ele queimasse minha cara.. — Isaac não poupou o tom dramático. Esboçando um beicinho manhoso. McCall revirou os olhos afastando o rosto do esconderijo no abraço. Analisando a feição do maior.

— Ele não faria isso. Não importa o quanto fosse engraçado. — Scott zombou arqueando as duas sobrancelhas sugestivamente ao relatar. O cacheado entreabriu os lábios indignado. — Brincadeira, brincadeira. — O alpha se apressou. Negando com a cabeça depressa, enquanto mais risadas escapavam. Logo segurou o rosto do outro roubando mais um selinho demorado do Lahey, que relaxou de modo instantâneo ao retribuir. — E eu vi o que ele fez. E sabe, não ficou tão ruim assim. — Foi sincero apesar da diversão em seus olhos. Isaac riu desdenhando, sentindo os dedos do alpha penteando seus fios enrolados ainda arrepiados. — Acho legal vocês serem tão próximos.. — Acabou por comentar durante a vaga distração. Assistindo o mais alto adotar uma expressão surpresa. Scott franziu a testa. — O quê?

— Nada só.. fico feliz que entenda minha relação com ele. Adam já passou por tanta coisa. Sou a única família dele agora. — Isaac foi breve. Esboçando um sorriso amoroso que fora retribuído pelo McCall. Executou um carinho firme na cintura do moreno por debaixo da blusa, abraçando-o mais perto dele se possível. Não deixando de perceber como a temperatura corporal do alpha era elevada. Scott encolheu de leve os ombros em nítido acanho. Permitindo-se encostar sua testa contra a do beta. — Eu..

O loiro nem teve oportunidade direito de terminar o raciocínio. Um grito ao longe chamou a atenção dos dois. Logo o cacheado virou a cabeça espantado, deparando-se com a figura de um Adam desajeitado tentando espantar um cervo que acabou surgindo do nada. O animal se aproximava do híbrido devagar, mas não parecia estar sobre a influência do francês. Isaac lançou um olhar de desculpas para Scott, que apenas lhe deu um aceno mínimo de cabeça.

— Vai ajudar ele. — Disse McCall incentivando-o. Soltando os braços ao redor do tronco do maior. Isaac respirou fundo hesitando, mas então deixou um beijo estalado na bochecha do moreno antes de correr na direção do bruxo que parecia cada vez mais apavorado.

O alpha cruzou os braços analisando a situação, rindo um pouco daquela bagunça. Pelo menos até o momento em que o cacheado abraçou o francês por trás para sussurrar algo no ouvido do mesmo. Em seguida o cervo começou a se distanciar, logo sumindo no meio do mato tão rápido quanto apareceu. Adam não tardando em buscar conforto nos braços do Lahey.

Scott engoliu em seco abaixando o olhar, tentando sufocar a irritante sensação da insegurança e irritação rondando seu peito. Os pensamentos inoportunos falando alto em sua mente. Era só uma reação natural de muito tempo afastado do loiro. Não era nada demais assim como aquele abraço entre o híbrido e seu Isaac.

O alpha piscou sacudindo a cabeça. Havia mesmo surtado internamente? McCall bufou descruzando os braços e arrumando a postura. Ergueu a cabeça, observando Isaac refazer o trajeto com Adam praticamente grudado nele. Scott respirou fundo. Era ignorar para passar. Um novo lema atribuído na vida dele.

*

— Quando disse que sempre estaria do meu lado. Não pensei que fosse desse jeito.. — Theo comentou lamentando. A testa franzida em desgosto. Enquanto tentava se concentrar no que pretendia terminar. No caso, terminar de usar o vaso sanitário em paz. Ouviu uma breve risada sufocada atrás de si, o que só aumentou seu aborrecimento. — Cala a boca. Você é o estranho entre nós dois nesse relacionamento, definitivamente. — Bufou sendo firme em seu argumento, enquanto segurava sua calça moletom na parte de trás.

Encontrava-se de costas para o namorado, este que residia apoiado no batente da porta do banheiro. A situação evoluiu para isso desde o mês passado, e claro as incontáveis malditas idas só para fazer xixi. E sinceramente, nesse meio tempo Theo se nomeou o ser mais paciente do universo. Sua filha lhe testando de um lado, e o pai dela do outro.

— Eu tava curioso mesmo sobre como você conseguia.. — Liam se interrompeu abruptamente assim que o chimera se vestiu por completo nas partes baixas, lhe lançando o dedo do meio como resposta em seguida antes de acionar a descarga. O beta riu de forma silenciosa, observando o namorado ir lavar as mãos com certa agressividade. — Desculpa.. mas foi fofo.. — Dunbar não se aguentou. Emitindo uma risada meio alta antes de prensar os lábios com força. Theo encarou o mais novo por cima do ombro. O clássico olhar mortal.

— Não seria fofo se eu mijasse em você na próxima vez. — As palavras soando de maneira ácida em contraste a feição desdenhosa do chimera em aviso. Liam mordeu o lábio inferior abaixando o olhar, notando o mais velho se aproximando pela sombra da silhueta. Theo revirou os olhos. — Vai, pode rir. Tô muito cansado pra socar você agora.. — Resmungou após ajeitar um pouco a camisa folgada que trajava. Por acaso sendo de Liam, este que soltou um riso baixo enquanto assistia o chimera rumando até a cama.

— Mas... falando sério agora.. — O beta iniciou a medida que o acompanhava, segurando a mão direita de Theo afim de ajudá-lo a se sentar no colchão sem muito esforço.

— Você sabe falar sério, é? — O chimera ironizou com um ar divertido. Acomodando as costas contra os travesseiros assim que Liam os arrumou rapidamente. Viu o beta lhe mostrar a língua num ato birrento antes de mover os pés dando a volta na cama para deitar ao lado dele. — Já até imagino quais serão os maus hábitos da Lori futuramente. — Comentou divagando, enquanto observava o namorado vir a seu encontro. Liam o lançou uma piscadela junto a um sorriso travesso, passando em seguida o braço por seus ombros. Theo se aconchegou contra ele, logo buscando a mão esquerda do namorado para pousar em sua barriga. Okay, estava viciado nos carinhos. Era oficial.

— Ela terá ótimos hábitos, vai por mim. — Liam garantiu adotando um ar modesto, o que sinceramente não combinava com ele nem um pouco. Theo riu baixo negando com a cabeça, recebendo um selinho repentino do namorado. Sentia a mão do mesmo movendo-se devagar em seu ventre proeminente. O que o relaxou como desejava. — E.. o que eu queria perguntar. Era se você está bem. Sentiu alguma falta de ar ou outra coisa? — Questionou mantendo seu timbre calmo, notando o momento em que o chimera entrelaçou seus dedos por cima da mão durante as carícias que executava. Liam sorriu ladino deixando um beijo na testa do gestante. Algumas coisas complicaram.

No início da semana passada a ansiedade do chimera teve tendência a piorar num nível um tanto espantoso na concepção de Liam. Embora ele tenha buscado orientações e encontrado respostas dizendo ser algo normal. Ainda permanecia preocupado quase de forma constante. Theo estava de trinta e quatro semanas de gestação. Em outras palavras, quase prestes a concluir o oitavo mês. E ficar ansioso nessa etapa era compreensível.

Porém, Theo começou a ter faltas de ar quase o tempo todo. Precisando que Liam ficasse massageando seu peitoral em alguns momentos durante o dia ou até que caísse no sono quando no período da noite. E sem contar nas insônias insuportáveis. Lori poderia estar perfeitamente quieta no decorrer da madrugada. O chimera simplesmente não conseguia relaxar, desligar sua mente um pouco. Por mais que Liam o acolhesse, conversasse. O desafio não deixava de ser um desafio. No entanto, as coisas conseguiram se acalmar minimamente.

— Falta de ar não mais, e graças a você. — Theo garantiu esboçando um sorriso gentil em agradecimento. Liam retribuiu não deixando de ficar meio acanhado, mas também aliviado. — Acho que mal tô acreditando que já chegamos até aqui.. — Guiou a atenção focando em sua barriga, observando o aspecto avantajado que aprendeu a se acostumar, mas principalmente a amar. Um sorriso mínimo surgiu nos lábios do chimera. A mão de Liam ainda executando os carinhos. — Até ontem era do tamanho de um morango, e agora olha só. — Ele riu baixinho gostando do sentimento que preencheu seu peito. Puxando mais a blusa para expor totalmente o abdômen. Liam sorriu de imediato, não resistindo e logo depositando um beijo sobre a pele macia.

— Tô em dúvida entre dizer que passou rápido, ou que também parece uma eternidade porque falta pouco ainda.. — Liam comentou após um suspiro preguiçoso. Pousando com cuidado a cabeça na barriga do namorado, mantendo os olhos no rosto do chimera enquanto sentia os carinhos que o mesmo executava em seus cabelos. Theo concordou num aceno breve, ficando pensativo de repente assim que desviou o foco para um ponto qualquer no quarto. Liam franziu a testa curioso, traçando desenhos imaginários pela pele do mais velho afim de chamá-lo a atenção. Logo conseguiu. — Tudo bem? — Perguntou não disfarçando a leve preocupação. Colocando-se sentado novamente.

— Sim. Eu só.. pensei numa coisa que sua mãe me disse. — O chimera murmurou ainda com o olhar longe, indicando que sua mente não voltara direito para o presente. Liam piscou surpreso demostrando interesse, acomodando-se mais perto do namorado. Theo viu aquilo como um pedido mudo para continuar. — “A criatividade é uma combinação de disciplina e ânimo infantil.” — Citou as exatas palavras, esboçando um sorriso ladino assim que a voz doce de Jenna veio a sua cabeça.

— Robert Greene. — Liam logo reconheceu o autor, não deixando de abrir um sorriso empolgado. Theo assentiu rapidamente, pousando as duas mãos sobre a barriga e acariciando-a distraído. O beta pendeu a cabeça para o lado, parecendo nostálgico. — Ela adora os livros dele. E vive fazendo citações. Essa é uma das minhas favoritas. — Confessou não deixando de notar aquele sentimento de quando parece que voltamos a ser crianças outra vez. Dunbar acordou do transe assim que sentiu o chimera buscando sua mão, entrelaçando seus dedos. Theo possuía um sorriso contido, como se estivesse escondendo algo. Liam arqueou uma das sobrancelhas.

— Tenho que admitir que essa citação veio em boa hora, porque.. me fez perceber o quanto quero voltar a me envolver com carros de novo. Ser.. um design de carros. — Raeken disse de uma vez, mantendo seus olhos verdes apontados para Liam, meio que perguntando o que ele achava. Sua feição tímida apenas contribuindo para que o mais novo sorrisse mais. O beta não podia acreditar.

— Eu sabia que você ia voltar atrás um dia.. — Acabou por murmurar orgulhoso, inclinando-se rápido porém com cautela para frente afim depositar um selinho demorado no chimera. Este que sorriu devido a reação dele. Liam passou a acariciar a coxa do mais velho, sustentando um olhar sonhador. Theo adorava aquela energia dele. — Afinal, tudo o que sei sobre carros até agora, foi você quem me ensinou. Deve seguir seus instintos. Até porque.. você é um mestre nos desenhos, e não adianta mentir. — Concluiu dando um meio encolher de ombros. Theo esboçou um sorriso envergonhado, coçando a nuca.

— Não é pra tanto, vai. E faz tempo que não rabisco nada. — Raeken ressaltou após passar a mão no rosto levemente, tentando disfarçar suas bochechas ruborizadas. Liam revirou os olhos desconsiderando, fazendo o gestante bufar. — Okay.. eu mando bem. — Usou um tom convencido. O beta riu assentindo, olhando de relance para a barriga do chimera. Theo seguiu o mesmo rumo, sorrindo ladino. — E.. se a Lori quiser, vou fazer questão de ensinar a ela tudo o que possa saber sobre modelos de carros, como eles funcionam.. — Ele divagou na linha de raciocínio, os olhos fixos no abdômen. Foi uma hora perfeita, pois a filhote decidiu chutar repentinamente. Theo emitiu uma gargalhada baixa. Sua filha era mais comunicativa do que ele já foi em vinte e um anos de sua vida.

— Então, combinado pelo visto. Você nos carros e eu.. com ela no Lacrosse. — O mais novo assumiu um tom bobão subitamente na última parte, aproximando o rosto outra vez da barriga do outro. Theo abafou uma risada, sentindo Lori se agitando numa rapidez impressionante. — Você vai jogar Lacrosse com o papai? Eu prometo transformar você na melhor jogadora do time. — Ele cantarolou baixinho de maneira brincalhona, como se negociasse. — Quem sabe você não usa meu número nove também? Claro, só uma sugestão. — Pressionou os lábios de leve contra a pele, deixando beijos tímidos pela área. A filhote executou um chute próximo aos lábios de Liam, que riu tendo um breve susto. O chimera não se aguentou. Era adorável demais para ter que segurar a risada.

— Eu acho que ela desenvolveu alta inteligência, porque não é possível.. — Theo comentou num tom risonho, sua feição num misto de fascínio e incredulidade. Liam passou a palma pela barriga do chimera numa carícia suave, esperando mais alguma ação mas nada veio a seguir. — Não tô ficando maluco, ela responde a gente. — Afirmou o mais velho com convicção, pedindo através do olhar para que o namorado executasse o carinho novamente. Nada aconteceu. Raeken pensou por alguns instantes. — Liam.. rosna. Mas de forma mansa. Só pra eu ver uma coisa. — Pediu com uma expressão determinada. Um sorrisinho dançando em seus lábios.

— Uhm.. okay. — O beta disse meio incerto. Deitando-se de bruços em seu lado da cama. A boca próxima ao abdômen do outro. Ele deixou mais um beijo no local, antes de fechar os olhos por breves segundos. A respiração de Liam tornando-se profunda. Logo o rapaz abriu as pálpebras, relevando as orbes brilhando no clássico amarelo vivo. Theo esboçou um sorriso automático para aquilo, exibindo seus dentes bem alinhados. Perguntava-se quando que veria sua bebê fazendo o mesmo.

O rosnado veio de maneira gradativa, preenchendo o silêncio do quarto. Liam foi aumentando a intensidade com cautela, e parecia soar tão diferente para a surpresa do chimera. Era cuidadoso, respeitoso. Lembrava algo como um ronronar intenso. Raeken quase sentiu que poderia adormecer somente ouvindo o namorado.

— Beleza, ela não tá muito afim de provar que estou certo. — Theo murmurou divertido negando com a cabeça. Ainda meio afetado pelo rosnado do outro. Isso antes que Lori se agitasse de maneira repentina, deixando a área do umbigo de seu pai meio pontuda. Liam piscou abismado tentando assimilar, voltando a forma humana rapidamente. O mais velho riu alto passando o braço esquerdo por trás da cabeça usando como apoio. — Liam.. acho que essa mocinha tá com o bumbum pra cima. — Comentou risonho. Usando a mão livre para pressionar de modo leve a lateral da barriga. Aprendeu com Melissa durante as ultras. Uma tática caso a bebê ficasse em posições mirabolantes. Não seria muito bom deixá-la do jeito que desejar.

— Calma, pani no sistema alguém desconfigurou. — Liam disse em meio a uma risada, pressionando com cuidado o lado esquerdo do abdômen do chimera. Observando a breve ondulação que apareceu. Theo esboçou uma careta rápida, suspirando. — Ela fez algo? — Perguntou desmanchando a expressão descontraída.

— Só se ajeitou mas parece ter me dado uma cabeçada por dentro. Nossa. — Theo se fingiu de ofendido, rindo anasalado ainda processando. Levou as duas mãos para segurar a barra de sua camisa larga. Liam emitiu uma risada baixa. — Tudo bem, filha. Pode dormir tranquila. Não vamos mais incomodar. — Disse sussurrando antes de cobrir com o tecido o aspecto avantajado. Liam sorriu com ternura enquanto ajeitava a roupa do namorado. — Eu disse. Acho que nem precisaremos pagar a faculdade dela. — Brincou.

— Ah, claro. — O beta ergueu as sobrancelhas ironizando. Logo se arrastando pelo colchão deitando devidamente perto do namorado. Theo retirou um pouco dos travesseiros, dando alguns para Liam que deitou sobre eles. Logo o chimera se acomodou de lado indo se aconchegar no peitoral do mais novo. Sua barriga sendo protegida entre eles. Dunbar abraçou o gestante deixando um beijo na testa do mesmo. — Vai cochilar, é? — Disse baixinho. Theo somente assentiu com a cabeça devagar.

— Cansado. — Respondeu sendo monossilábico. Esfregando a lateral do rosto pelo peitoral do beta feito um gatinho. Liam sorriu levando a mão até os cabelos do namorado, iniciando um cafuné. — Não me deixa dormir muito.. — Resmungou quase beirando a inconsciência. O mais novo só cantarolou algo em concordância, mantendo Theo perto dele e enterrando o nariz nos cabelos macios.

Seu lobo estava ansiando pelo cheiro do gestante quase todo o tempo. E para sua curiosidade, encontrava-se mais forte que de costume.

*

— Não me morde! — Malia disse meio alto enquanto gargalhava. Tentando escapar do aperto de Adam que se empenhava em imobilizar a coiote na cama. Falhando miseravelmente, é claro. — Você vai chorar se receber um soco meu, tô avisando. — Ela soou séria, mas logo vacilou um sorriso assim que o híbrido esboçou um beicinho. — É sério, chega de cócegas, coisinha chata. — Ela empurrou de leve o francês para o lado antes de se ajeitar. Ignorando o fato de estar descabelada agora, o que arrancou uma breve risada do garoto. — Pior que criança.. — Resmungou revirando os olhos. Deitando de lado e apoiando a cabeça no braço. Adam fez o mesmo ficando de frente para a Hale.

— Tenho espírito de criança. Lide com isso. — O francês rebateu esboçando um sorriso fechado de maneira cínica. Vendo Malia debochar ao negar com a cabeça, antes de puxá-lo pela nuca devagar. Deram um selinho demorado que se aprofundou por consideráveis segundos. O híbrido se acalmou da agitação automaticamente.

— E altura de uma também. — Ela murmurou após separar seus lábios, não perdendo o momento em que a feição do garoto mudou para uma emburrada. Malia riu depositando um beijo rápido na bochecha corada do francês. — Desculpa, não deu pra resistir. — Disse em meio a risos.

— Minha altura é um dos meus charmes, então.. realmente não dá pra resistir mesmo. — Rebateu modesto dando um meio encolher de ombros. Malia esboçou uma vaga careta zombando do menor, embora concordasse mas não admitiria em voz alta. Apenas levou a mão direita para acariciar os fios castanhos. Observando o olhar sapeca do híbrido. — Minha mãe pensava que eu seria alto por causa do meu pai mas.. algo deu errado. — Ele deu uma risada fraca. Aconchegando a cabeça contra o travesseiro. Um silêncio até confortável se instalou entre eles. Com Adam concentrado em observar os detalhes no rosto da Hale que achou aquilo curioso. Nunca fora olhada assim antes.

— Você ainda se lembra bem deles, não é? — Ela perguntou usando seu melhor tom gentil, buscando ser cautelosa em primeiro lugar. O que era novo, e até se estranhou mas gostou disso. Adam só concordou com a cabeça num aceno tímido, ficando pensativo por alguns segundos. Malia entreabriu os lábios protelando sobre o que dizer, resolvendo só entrelaçar seus dedos com os do francês.

— Eles foram incríveis enquanto estiveram aqui. — Adam confessou. Sua feição nostálgica tranquilizando um pouco a coiote que permanecia atenta apenas escutando-o. Odiaria que ele chorasse por culpa dela. — Mas o mais importante, me ensinaram que ser diferente tá tudo bem. Não nos torna nem melhores ou piores do que ninguém. As pessoas que como sempre, nunca estão dispostas a saírem da zona de conforto para explorar mais caminhos. — De fato. Ela teve que concordar e muito com as palavras dele. Adam suspirou fundo quase cabisbaixo, mas logo sorriu fraco em seguida ao sentir os dedos de Malia acariciando sua bochecha.

— Você ia detonar todos os aspirantes a caçadores junto da Monroe na época do Anuk-ite. — A coiote disse soando convicta. O que arrancou uma breve risada do francês. Ela ergueu as sobrancelhas ao notar que o outro duvidava. — Tô falando sério, todo mundo ficou maluco por causa daquela criatura. E outros.. já eram bem antes disso aparecer. — Deu de ombros parecendo meramente pensativa até não se importar mais. Adam adotou um semblante intrigado.

— E foi assim que vocês passaram a ser aceitos? — Perguntou genuinamente interessado, pousando a mão direita sobre o dorso da Hale que ainda permanecia em seu rosto. Malia franziu de leve a testa em incerteza.

— Não somos aceitos cem por cento como gostaríamos, mas.. acho que pode ser tachado assim. É. — Ela deu uma breve risada, mas era nítido que tentava ocultar o desconforto só de cogitar o que se passava nas mentes dos habitantes daquela cidade. A coiote não tardou em negar com a cabeça afastando aquilo, em seguida puxando o híbrido pela cintura para mais perto de si. Adam riu anasalado pelo pequeno susto.

— Fiquei aliviado quando aquela maluca morreu. — O francês confessou. Após aconchegar a cabeça sobre os peitos da Hale, uma nova mania. Ela riu baixinho levando a mão até os cabelos dele. — Na Europa se tornou um inferno. Teve um período em que precisei ficar escapando deles.. — Comentou com certa raiva no timbre enquanto brincava distraído com um fiapo na blusa da outra. Malia franziu a testa sentindo um incômodo no peito, temendo que ele dissesse o que se passou em sua mente. — Quase morri várias vezes. Mas pelo menos deixei alguns inconscientes.. — Finalizou de maneira indiferente. Embora por dentro não se sentisse assim, muito menos Malia. E isso o garoto notou com o rosnado da mesma que preencheu seus ouvidos.

Ele ergueu a cabeça um pouco apoiando o rosto na clavícula dela. Tentando conter o sorriso bobo devido a expressão carregada de ódio que a garota sustentava. Seus olhos castanhos se mantinham fixos num ponto qualquer na parede do quarto, nem sequer notando o francês atento a ela. Pelo menos até Adam resolver beijar seu pescoço.

— Eles estariam ferrados se eu estivesse lá. — Ela resmungou em aviso tentando se manter séria, embora o chupão súbito que ganhou não tenha ajudado muito. — Espertinho.. — Disse entre um suspiro. A irritação se esvaindo aos poucos.

— Não vale mais a pena da atenção pra isso. — Argumentou. Bastante concentrado em marcar um pouco a pele na clavícula da Hale, mas incrivelmente sem envolver malícia. Ela direcionou o olhar a ele assim que aquilo se encerrou, não demorando a capturar os lábios rosados do híbrido por um momento. — Já tô ficando mal acostumado com você aqui quase todos os dias. Fique sabendo.. — Ele sussurrou contra os lábios da coiote, que riu baixinho voltando a se ajeitar no colchão.

— Por falar em se acostumar. Você nunca me disse qual é seu elemento favorito. — Malia parecia realmente curiosa, mas ao mesmo tempo a mudança repentina no foco do assunto fez algo inundar o peito de Adam. Era a mesma maldita sensação que já cansou de sentir. A insegurança. No entanto, ele disfarçou o melhor que pôde. Dando de ombros numa pose despreocupada, pensando numa resposta.

— Adoro manipular a água. Isso é fato, mas com certeza sou mais inclinado pro fogo. — Ele disse de maneira pensativa. Um sorriso suave em contraste ao olhar animado. Se sentia mais vivo toda vez que se conectava com os elementos, e agradecia por isso. Antes de tudo, apenas era um vazio incômodo no peito. Talvez, esse tempo todo só precisava ter trabalhado mais suas outras habilidades. Ativá-las por completo. Isso se tivesse conhecimento delas antes.

— E o quão bom você está? — Malia questionou lançando-o um olhar travesso, como se o desafiasse silenciosamente. Era notório que sim, mas não com o intuito de intimidá-lo. Adam arqueou uma das sobrancelhas de modo brincalhão, afastando-se da coiote brevemente apenas para poder alcançar algo na mesinha ao lado da cama. Malia logo reconheceu ser uma vela aromática média.

Adam deixou um pequeno espaço entre eles na cama. Segurando a vela no campo de visão de ambos. O híbrido respirou fundo algumas vezes afim de acalmar sua mente, concentrando-se no que queria que acontecesse para então visualizar. Malia alternava a atenção entre o objeto e Adam.

Ele abriu os olhos instantes depois, suas íris em completo laranja misturado a tons clássicos das cores quentes de uma fogueira. Não demorou para imperceptíveis faíscas surgirem na ponta da cordinha envolvida pela cera. A vela logo acendeu como se fosse uma lâmpada. Malia entreabriu os lábios maravilhada, segurando o pulso de Adam e trazendo a vela para perto de seu rosto.

— Você fica muito cansado com isso? — Ela comentou ainda fascinada, embora seu tom preocupado fosse real. Adam concordou num aceno mínimo mas fazendo um sinal vago com a mão dizendo ser mais ou menos antes de se deitar novamente. A Hale soprou a pequena chama, colocando a vela na mesinha de seu lado. — De qualquer forma, você tá se saindo bem. — Murmurou com seu melhor tom atencioso, voltando a mesma posição que antes. Ainda que Adam encarasse o teto dessa vez. A coiote mordeu o canto do lábio inferior enquanto pensava. Optando por só seguir seus instintos. — Sei o que tá pensando. — Afirmou num tom neutro. O francês teve um leve sobressalto nos ombros.

— Eu? E-Eu não.. — O híbrido desistiu, assim que ganhou um daqueles olhares dela. Ele apertou os lábios olhando para o teto tentando pensar em como era estúpido. Não sabia se a coiote podia ler mentes também. — Okay, vocês da família Hale têm um dom pra intimidar, não é?

— Basicamente. — Respondeu convencida. Um rápido sorriso passando em sua feição. O francês bufou uma risada sem graça mantendo os olhos nela. Malia crispou os lábios pensando um pouco. — Olha, optar não apressar as coisas agora. Não quer dizer que eu não goste de você, okay? — Ela explicou sendo o mais gentil possível. Levando a mão esquerda aos fios bagunçados do francês que permanecia ouvindo. Ainda que estivesse inquieto. Exalando fraco a insegurança. Malia suspirou, sentindo-se estranha por não se irritar, afinal ele era alguém pegajoso. Porém, estava até gostando. — Só.. gosto de como as coisas estão levando, sabe. E rotular pode acabar.. bagunçando as coisas, talvez. Vamos nos conhecer, respeitando seu tempo também. — Ela se embolou nas palavras, mas o híbrido parecia estar compreendendo.

— Tudo bem, sério. Sei que posso ter sido meio.. intenso demais. — Adam murmurou encolhendo de leve os ombros. Desviando as orbes azuis do rosto da coiote por alguns instantes. — Não tenho ideia de como conduzir algo assim, mas.. só saiba que sua companhia tornou toda essa mudança brusca, numa experiência mais leve pra mim. — Admitiu, focando sua atenção a ela outra vez. Lutando para deixar de lado o fato de suas bochechas possivelmente rosadas agora. Malia sorriu não se contendo.

— Bom saber. E na verdade, você foi grudento mesmo. — Disse sendo direta, sua expressão um tanto séria fazendo o menor engolir em seco. Adam desmanchou a feição descontraída, quase trazendo seu corpo para mais do seu lado na cama. Pensando que se afastar da Hale seria mais confortável. Mas então, ela acrescentou depressa. — E a novidade? Você é a primeira pessoa que não me irritou com isso. Porque geralmente.. sou meio difícil. — Confessou esboçando um sorriso ladino para aliviar aquele clima. Assistindo com satisfação o brilho fofo voltando aos poucos para os olhos do híbrido. Ela negou com a cabeça. — Vem cá. — Abriu os braços. O francês não hesitou. Abraços eram o ponto fraco dele. — Nossa, seu pesado.

— Mentira. Você aguenta uma árvore. Até parece que sou pior. — Rebateu num resmungo, esforçando-se para não soar manhoso mas falhou sem ao menos notar. Malia riu anasalado arrumando o garoto em cima de seu corpo. A cabeça dele pousada na sua clavícula com o nariz próximo ao pescoço, eles escolhiam quase sempre por ficar assim. Ela iniciou um cafuné lento pelas madeixas, ouvindo-o suspirar. — Viu, não peso nada.. — Comentou num timbre preguiçoso.

— Leve como uma pena. — Ela ironizou falando no ouvido do híbrido, que se encolheu de leve ao sentir cócegas. Realmente, parecia que segurava uma criança nos braços. E era até intrigante o modo como estava gostando. — Mas então.. está tudo bem mesmo? — Apenas quis conferir. Adam ergueu o olhar e ela ocultou o quanto ficou maravilhada com o azul ainda mais claro da íris devido a luz do quarto.

Adam somente inclinou o rosto. Colando seus lábios com os dela num beijo calmo mas ao mesmo tempo envolvente. Rouperam após alguns segundos.

— Isso responde a pergunta? — O híbrido disse num murmúrio. Esboçando um sorriso ladino de maneira tímida. Malia umedeceu os lábios.

— Acho que preciso analisar mais. — Ela puxou o francês pela nuca com certa calma. Não demorando para explorar a boca do outro assim que os lábios se tocaram. Sentiu as mãos firmes do híbrido apalpando sua cintura, logo tendo que assimilar o movimento ágil do mesmo em seguida. Notou estar no colo do mais novo. O calor irradiando de seus corpos.

A porta do quarto abriu de repente causando um estrondo alto. Adam e Malia deram um sobressalto, a coiote quase caindo da cama se não fosse pelos reflexos rápidos do francês que a agarrou na cintura. Os corações acelerados. Não tinham ideia se tinham a capacidade de ter um infarto, mas com certeza esse foi um quase.

— Não esquece que também durmo nessa cama, Adam. — Isaac comunicou num tom sério, a medida que caminhava concentrado na direção do guarda-roupa no outro lado do quarto. O cacheado olhou de relance para o amigo, que engoliu em seco ainda processando aquela invasão. A Hale sentada ao lado dele meio perdida e tentando conter o riso. — O quê? Só vim pegar minha jaqueta. Scott tá me esperando. — Deu de ombros. Vasculhando as roupas nos cabides com certa força.

— Precisava matar a gente do coração? Era só bater na porta. — Adam possuía um beicinho indignado, quase fazendo Lahey esquecer a breve irritação. Porém, não se livrou dela por completo ao se lembrar da existência de Malia. — Tudo bem? — Questionou preocupado. Esgueirando-se para a beira da cama. — Parece chateado..

— Nada, eu só.. — Isaac travou no raciocínio. Não sabendo bem como continuar sem parecer um maluco territorialista. Apenas negou com a cabeça deixando de lado. — Se divirtam aí e troquem os lençóis caso vocês.. me entenderam né. — Foi o mais breve, embora atrapalhado como sempre. O híbrido corou na mesma hora, assentindo devagar. O mais alto não conteu um sorriso suave, aproximando-se do menor e depositando um beijo rápido na testa do mesmo. — Tchau, meu bem... Malia. — Sua mudança no semblante fora tão notória quanto em sua voz. A coiote se segurou ao máximo para não rir.

Isaac rumou até a saída ainda sem expressão. Fechando a porta num baque silencioso dessa vez. A Hale deixou escapar uma breve gargalhada, o que levou Adam a fazer o mesmo.

— Ciumento, não? — A coiote soou sarcástica ainda entre risos. Adam ergueu as sobrancelhas, enfatizando a intensidade da informação.

— Você nem imagina. — Murmurou esboçando um sorriso sapeca. Lembrando das infinitas situações em que Isaac emburrava a cara, espantando os garotos ou garotas para longe dele. — Mas espera.. — Sua mente resolveu ressaltar algo. Ele redirecionou o foco a Malia, que possuía a testa franzida.  — O que queria me contar mesmo? — Tombou a cabeça para o lado em confusão, parecendo um filhote.

— Ah sim! — Ela estalou os dedos ao se recordar de um certo detalhe. Ficando mais perto do francês até chegar no ouvido do mesmo. Cochichou o mais baixo que conseguia, com medo de que Derek ouvisse. Adam arregalou de leve os olhos em surpresa. Estava tudo pronto. Ele mal acreditava.

— A mansão!? — Exclamou sem querer. Malia praguejou. Ele cobriu a boca desesperado em seguida juntamente a ela que agiu por impulso.

— Sim, mas fica calado. Quero mostrar primeiro a uma pessoa antes que Derek ou qualquer um do bando veja. — Ela explicou baixinho. Vendo o híbrido assentir com a cabeça. A coiote afastou a mão devagar da boca do menor. — E vai ser hoje logo, porque tô ansiosa e ele pode acabar finalmente saindo desse loft pra fazer alguma coisa e aí minha surpresa, já era. — Disse meio acelerada. Adam piscou ainda digerindo a informação. Nem acreditava que a lendária mansão das histórias que ouviu da coiote, estava então de volta.

— Orgulho de você. — Adam murmurou timidamente, sendo perceptível a sinceridade. Malia sorriu.

*

Naquele escritório era comum escutar quase de tudo. Gritos, reclamações, ameaças, ordens. E a das mais absurdas que ocasionavam em terrores internos nos funcionários que precisavam executá-las. Katherine nunca foi uma mulher que se importava em medir a língua, ser leve ou censurada. Gostava de praticidade, organização. Sentimentalismo era perda de tempo. E quando tudo caminhava de seu jeito em abundância. Ela conseguia ter reações comuns como todo e qualquer ser humano saudável. Pelo menos algumas raras vezes.

Era inusitado sem dúvida. E Josh certamente não estaria acostumado tão cedo. Encontrava-se apoiado no batente da porta aberta, observando-a com a testa franzida em desconfiança. Havia acabado de encerrar mais um treinamento, as crianças da ala E sendo até que tranquilas dessa vez mas não é como se não fosse capaz de obrigá-las a obedecer caso tivesse trabalho. Ele suspirou.

A cientista estava a minutos, se não horas, mexendo em uma espécie de dispositivo do tamanho de um iPad mas totalmente preto e design mais grosso nas laterais que o normal. Ela ria baixinho totalmente concentrada, vez ou outra tateando a tela com o dedo indicador. Aquele olhar traiçoeiro nas orbes azuis sempre calculistas. O lobisomem deu um passo para frente enfim entrando. Ela não demorou a levantar o olhar, parando de rir imediatamente. Josh arqueou uma das sobrancelhas. Instabilidade nas emoções, claro.

— O que quer? — Tentou trazer seu papel de séria, intimidadora. Depois de minutos sendo observada rindo. Josh não conteu muito bem o sorrisinho ladino, porém permaneceu com a compostura. Katherine franziu a testa, acomodando o braço esquerdo no descanso de ferro da cadeira de couro. O aparelho firme na outra mão. — Vamos, alguma urgência? — Soou antipática para variar. O agora titulado ômega apenas bufou entediado, rumando até a mesa da mulher e puxando uma cadeira para se acomodar. — Espera, a quanto tempo estava..

— Tempo suficiente. — Respondeu de prontidão. Os braços cruzados sobre o peito. A expressão impaciente. Katherine revirou os olhos deixando um quase imperceptível sorriso escapar, ajeitando-se na cadeira numa pose mais relaxada. Josh pendeu a cabeça para o lado, a curiosidade em seu olhar. — O que tá aprontando, Katherine? — Sua voz rouca causando uma sensação tentadora de falar na outra. Mainsvell mordeu o lábio inferior levando o foco a mesa por alguns segundos, o que não passou despercebido pelo outro. O lobisomem mudou o semblante, parecendo genuinamente impressionado. — O quê.. isso é..

— Exatamente. — Ela sorriu ardilosa aos poucos. Puxando a cadeira com rodas mais para frente, seus cotovelos apoiando na mesa de vidro. Segurou com cuidado o dispositivo em mãos, apenas virando-o na direção contrária. Josh se aproximou mais no mesmo instante, seus olhos focados no que a tela exibia. Ele entreabriu os lábios chocado. Seu coração acelerando devido a breve adrenalina que lhe atingiu. — É hoje, Josh. Está tudo pronto e, principalmente. A caminho. — Ela deu ênfase a última palavra. Seus olhos transbordando empolgação. Enfim, teria o tão desejado resultado em suas mãos.

— Falta quanto tempo em média até chegarem lá? — O rapaz perguntou não se importando em disfarçar muito o tom eufórico. Sua atenção ainda completamente voltada ao percurso digital sendo traçado. Katherine ficou pensativa por uns minutos, calculando mentalmente.

— Bom, se eu estiver certa. E estou, claro. — Josh lutou contra a vontade de revirar os olhos ao ouvi-la. — Levará apenas.. oito horas. E até lá.. o serviço principal já vai ter sido finalizado com sucesso. — Ela possuía um sorriso largo no rosto. Coisa rara de se ver na concepção de qualquer um. Josh piscou meio atordoado com as informações ainda, mas com uma sensação satisfeita. O plano que ajudou a bolar, estava sendo executado.

— Então, a criança..

— Sim. — Katherine se adiantou. Mudando sua postura na mesa para uma mais relaxada, sem a típica tensão nos ombros elegantes. Josh piscou vezes seguidas meio atônito. O trajeto no visor avançando cada vez mais. — Ela nascerá hoje. Ele já deve está com oito meses mesmo. Será perfeito. — Deu de ombros desviando o olhar para as unhas. Analisando as cutículas bem feitas.

Josh redirecionou o foco para a cientista vagamente. Recostando as costas na cadeira acolchoada, trazendo em mãos o aparelho levemente pesado. Parecia tecnologia militar, ou até melhor. O trajeto longo sendo ilustrado por uma linha grossa, cor verde neon brilhando. O fundo preto destacando as outras informações.

Realmente, estavam quase lá. Cada vez mais perto de Beacon Hills.

*

— Theo! Já falei que não quero você descendo a escada sozinho! — Liam ralhou com o mais velho, que apenas bufou fraco terminando de descer os dois últimos degraus. Passos lentos e cuidadosos. De qualquer jeito precisava esticar as pernas. Havia tirado um ótimo cochilo, o que mais o beta queria? — É sério, me dá agonia. — Ele murmurou soando quase como um choramingo. Observando o namorado se sentar com cuidado no sofá.

A barriga dessa vez resolvendo não estar tão pesada como horas atrás. Poderia possuir um tamanho razoável desde as últimas semanas, porém ainda acabava com as costas do Raeken em alguns momentos. Liam suspirou fundo como se estivesse prestes a dar uma bronca, mas então recebeu aquele olhar do chimera. Os olhinhos do gato de botas. Golpe baixo.

— Você tem sorte por ser fofo. — Disse o beta entredentes. Sentando no espaço vago do estufado ao lado do namorado. Theo riu baixo de maneira convencida, acariciando a barriga com a mão esquerda. Tentando arrumar uma almofada no meio de sua coluna com a outra. Liam logo se aproximou. — Calma, vai um pouco pra frente. — Pediu gentilmente, colocando o objeto macio no local desejado. Theo agradeceu após se aconchegar, apoiando os pés na mesinha de centro. Dunbar ajeitou-se olhando vagamente para a TV desligada, suspirando fundo. — Desculpa. Sei que posso tá sendo.. meio sufocante ultimamente.. — Comentou pensativo. Perdendo o momento em que Theo o lançou um olhar incrédulo.

— Do que tá falando? — O mais velho questionou de maneira paciente, guiando sua mão direita para buscar a do beta. Entrelaçou seus dedos num aperto firme, movendo o polegar sobre o dorso da do namorado. Liam focou o olhar naquele carinho, erguendo a cabeça novamente para encarar o chimera. — Liam.. você tá sendo ótimo. Como sempre.. — Disse esboçando um sorriso ladino. Dando uma leve puxada na mão do beta em um pedido mudo para que se aproximasse mais. — Deita aqui. Só cuidado com a nossa pequena. — Avisou apontando para seu colo. A barriga proeminente roubando um pouquinho do espaço. Liam riu baixo antes de se virar. Aconchegando a cabeça nas coxas do namorado. — Acho que só preocupei você demais. — Concluiu dando de ombros, afundando os dedos na cabeleira castanha do beta.

— Mas você não tem culpa. E sempre vou me preocupar já que é minha família desde que socamos um ao outro. — Disse com um sorriso travesso, o tom risonho contagiante que levou Theo a rir junto. O chimera pousou a outra mão sobre o peitoral do namorado, que a pegou sem hesitar enquanto prosseguia. — Me lembro bem. "E você quebrou meu nariz. Duas vezes, cicatrizou e quebrou de novo." — Ele tentou engrossar um pouco a voz, o que não deu muito certo. Embora o beta nunca irá admitir que possuía a voz naturalmente meio fina. O que Theo explicitamente amava, este que ria de maneira silenciosa com pequenas lágrimas nos cantos dos olhos. — O quê? Tô mentindo? — Questionou tremulando a voz num riso fraco. Mal conseguindo manter sua seriedade.

— Está, porque foram três. — O chimera rebateu após buscar fôlego. Buscando se acalmar para não agitar muito Lori, que parecia prestar atenção no papo. As vezes se mexendo até, mas bem sutilmente. Liam deixou uma rápida carícia na barriga do namorado, encarando-o nos olhos. — Foi naquele dia, que percebi como você lida bem com números quando irritado, não é? — Zombou não perdendo a oportunidade. Sustentava um ar sacana em suas orbes verdes. Vacilando um sorriso amoroso.

Liam franziu as sobrancelhas, sua expressão mudando para indignação em segundos. Theo riu baixo negando com a cabeça, abaixando-a um pouco logo depois ficando a centímetros do rosto do namorado. Depositou um selar demorado nos lábios rosados do beta, que não hesitou em retribuir. Relaxando de maneira automática.

— E eu percebi suas habilidades impecáveis como ator. — Rebateu Dunbar em um murmúrio cínico, após romperem o contato íntimo. Theo arqueou uma das sobrancelhas lançando-o um olhar modesto, seu sorriso fechado e simples naquele charme o qual Liam nunca se cansaria de admirar. O mais novo levou os dedos para tocar suavemente a bochecha do chimera, executando um carinho por ali. — Você sempre foi uma caixinha de surpresas. Até hoje ainda é. — Acrescentou meio perdido em pensamentos. Ocupado demais em contemplar as íris verdes a sua frente. Theo sorriu ladino.

— E você também não fica pra trás. — Disse sincero com sua típica convicção no tom. A confiança estampada em seu semblante. Liam aconchegou mais a cabeça sobre as coxas do mais velho, sentindo-o embolar os dedos devagar em seus fios castanhos. — E agora.. nos resta esperar pra descobrir o que nossa caixinha aqui, — Theo indicou de relance com o olhar a própria barriga. Não demorando a sentir a mão do namorado pousando nela outra vez. — Tem pra nos surpreender. O que com certeza, é muita coisa. — Comprimiu os lábios respirando fundo. A breve ansiedade não passando despercebida. Liam logo encostou com cuidado sua bochecha direita contra o abdômen proeminente, dando uma espécie de abraço no chimera junto a sua filha. Theo sorriu fraco sem evitar. — Se ela for tão carinhosa quanto você, talvez eu repense sobre deixá-la ou não de castigo por todos os chutes. — Declarou baixinho numa falsa ameaça, como se falasse somente com Lori. Seu polegar ainda executando carícias lentas pela face do namorado, que abafou uma risada súbita.

— Então, acho que eu serei o pai favorito. — O beta concluiu. Um sorriso radiante e travesso nos lábios. Esfregou de leve o rosto pela barriga do mais velho de modo preguiçoso, e até meio territorial. Theo ergueu as sobrancelhas, em uma advertência silenciosa. Liam se encolheu ao notar, adiantando-se em sair dos devaneios. Abaixou o foco fugindo do olhar um tanto sério do chimera. — Era brincadeira, amor. Foi mal. — Murmurou. Formando um beicinho involuntário. Mexia nos dedos do mais velho parecendo cabisbaixo. Theo revirou os olhos brevemente. De fato, não tinha como resistir ao pai da filhote nem se quisesse.

— Me dá mais um beijo, vai. — O mais velho chamou puxando de leve a mão de Liam. Suavizou a feição sem muito esforço. O beta mirou os olhos azuis amuados para ele, mas de um jeito teatral. Theo o conhecia bem demais para cair na jogada, porém tinha que admitir ser adorável demais para estragar. Abaixou a face tendo seus lábios colidindo com os do outro novamente. Segurou nas bochechas do namorado, formando um biquinho cômico no mesmo. — Tá tentando me manipular com essa carinha fofa, é? — Murmurou estreitando os olhos. Liam o lançou uma piscadela em diversão.

— Pelo menos confessou que sou fofo. — Retrucou satisfeito, executando a clássica dança com as sobrancelhas. Theo sorriu negando com a cabeça. Retirando com os dedos alguns dos fios longos caídos na testa do namorado. — Acho que não vamos escapar das primeiras manipulações da Lori, não é? — Esboçou uma vaga careta insegura ao questionar. Sua voz incerta. Theo deu de ombros inclinando o canto dos lábios num sorrir calmo.

— Provavelmente. Mas no fim, vou me divertir descobrindo de qualquer jeito. — O chimera garantiu em meio a um suspiro. Seus olhos voltando-se a barriga proeminente. Podia sentir os cautelosos movimentos da filhote, talvez se ajeitando ou acordando. Gostaria tanto de saber. Liam notou o repentino desvio de foco do mais velho, logo esboçando um semblante carinhoso. — Você me ouviu, baixinha. Não tem como escapar de mim agora. — Riu anasalado antes de voltar a atenção para o rosto de Liam. — Vamos conseguir, não é? — Comprimiu os lábios evidenciando a breve angústia. O beta buscou a mão direita do gestante, entrelaçando seus dedos e pousando-a juntas sobre a barriga.

— Vamos sim. Principalmente você. Já é um pai incrível, basta analisar sua trajetória até aqui. — Liam o lançou um olhar atencioso. Beijando o dorso da mão do chimera. Theo o agradeceu através do olhar. Uma sensação confortante no peito ao notar a sinceridade na voz do mais novo.

Caíram num silêncio tranquilo quando menos esperaram. Apenas preocupados em observar um ao outro, as vezes esboçando sorrisos preguiçosos enquanto Theo executava um cafuné contínuo no beta. Nem havia possibilidades de não se assustarem com a batida forte repentina que soou na porta de entrada logo atrás deles.

O gestante ofegou pelo susto, franzindo a testa e virando a cabeça. Bufou quando não conseguiu ao menos farejar para acabar logo com o mistério sobre quem fosse. Liam ajeitou a postura ficando alerta. Rosnando baixo a princípio, até decifrar o cheiro do lado de fora.

— É a Malia. — Murmurou Dunbar, as sobrancelhas franzidas em curiosidade. Theo não estava diferente, virando um pouco o corpo para encarar a entrada da casa. Seguiu com o olhar os movimentos do namorado que deu a volta no sofá. — Não precisa levantar, amor. — Se adiantou em dizer, pois conhecia bem a figura. O chimera reprimiu um resmungo. Apoiando o braço esquerdo no encosto do sofá, servindo de apoio para seu queixo. Sua típica expressão emburrada.

Liam sorrio de soslaio para o namorado, logo abrindo a porta. Deparando-se com uma Malia estranhamente sorridente, uma energia agitada que não era do feitio dela. O beta quase saltou para trás. O que fez Theo rir baixinho.

— Okay, sei que não avisei sobre absolutamente nada. Mas vou ser direta. — Ela começou dando alguns passos e entrando na residência. Liam a examinou ainda confuso, arqueando uma das sobrancelhas. — Preciso que ele venha comigo. — A coiote disse sem rodeios. Apontando para o chimera no sofá, que arregalou de leve os olhos em surpresa. Liam tombou a cabeça para o lado incerto, sua cara nada boa. Malia suspirou. — Por favor, vai ser rápido. Preciso mostrar algo pra ele. É importante. — Estava quase implorando para o espanto dos dois. Theo ao longe entreabriu os lábios, ainda não se movendo.

— Preciso realmente sair daqui? — O gestante deixou claro sua indisposição no tom de voz, e obviamente em sua feição. Malia revirou os olhos cruzando os braços contra o peito, trocando um rápido olhar com Liam que segurava o riso. Theo respirou fundo. — Tá bom. Mas sabe o quanto essa menina pesa? — O mais velho tentou mais uma vez escapar dessa. A Hale bufou debochando.

— Como eu disse vai ser rápido. — Ela insistiu em seu ponto. Tentando ser criativa em sua última cartada. Theo esboçou um beicinho desconfiado. A garota mordeu o interior da bochecha em impaciência. Ainda não sabia ao certo como ser gentil com alguém além de Adam. O que era até curioso mas não tinha tempo para pensar nisso. — Eu.. não vou soltar seu braço enquanto andamos, assim a probabilidade de você cair vai ser menor do que quando sozinho. — Sugeriu esperançosa. O chimera pareceu mais hesitante, porém tentou disfarçar no último segundo ao encarar Liam. O beta sim estava com um pé bem atrás nessa ideia.

— E vai levá-lo aonde? Malia, não inventa coisa a essa altura do campeonato.. — Liam passou a mão pelo rosto ao se apoiar na porta. Tentando buscar forças para agir de modo pacífico. Não havia necessidade de ceder aos instintos de seu lobo com relação a Theo e sabia disso. Mas admitia, que estava por um triz. Malia prensou os lábios pronta para argumentar novamente. — Ele está de oito meses, acha mesmo que vou ficar tranqui-

— Liam! — Uma voz surgiu de repente atrás da coiote no lado de fora. Assustando de imediato o beta, mas com certeza mais a coiote que se virou rosnando intensamente. Quase atacando o indivíduo, isso antes de ver se tratar de um Mason para lá de nervoso. Corey havia se colocado na frente do humano em defesa, mas não estava diferente. Malia bufou retraindo as garras e presas, dando passagem para o casal que não hesitou em adentrar. — Liam, me desculpa.. mas a sua mãe me driblou e...

Me deixe falar com ele de uma vez, Corey! Se não eu juro.. — Liam se encolheu de forma automática ao captar parcialmente os gritos da senhora Dunbar no celular. O objeto ainda que pressionado contra o peitoral do camaleão, era possível escutar de maneira abafada. Theo trocou automaticamente um olhar alarmado com o namorado, pousando a mão sobre a barriga. O beta suspirou fundo voltando-se ao melhor amigo.

— Me dá. — Disse e logo executou um movimento rápido. Pegando o dispositivo das mãos de Bryant. O aplicativo de vídeo chamada estava aberto, fazendo-o se deparar no mesmo segundo com a feição furiosa de sua mãe junto a seu pai. O moreno aparentava mais confusão comparado a Jenna. Liam engoliu em seco dando alguns passos para trás ficando próximo às escadas de frente a porta, tirando qualquer possibilidade de verem Theo no sofá. — Mãe, o que houve..

Não me venha com essa! Sei muito bem que não está em Nova York até agora, e antes que diga que é por conta daquela obra na faculdade. Já finalizaram a tempos, — Ela nem esperou o beta assimilar a situação devidamente, indo despejando como sempre fez desde sua infância. Era uma mulher difícil sim, porém na maioria das vezes sábia da melhor maneira que podia. — Filho, o que tá acontecendo. Por favor, sabe que pode contar com a gente.. — Jenna acrescentou após respirar fundo, incrivelmente mais calma do que exatos segundos anteriores. Liam sentiu os olhos marejando, desviando o foco para Theo novamente. Aquilo era sufocante para ambos.

— Liam, eu juro que foi sem querer. Ela jogou verde.. — Mason murmurou após aquele breve silêncio conflituoso. Abaixando a cabeça enquanto era abraçado pelos ombros por Corey. Malia ao lado deles mal sabia que ação deveria tomar primeiro, então apenas escolheu caminhar devagar na direção de Theo. Estendeu a mão na direção do gestante, que surpreendentemente agarrou seus dedos. Em busca de consolo. A coiote se colocou mais perto.

— Tudo bem, Mason.. — Liam disse num fio de voz. Visivelmente abalado com tudo ainda, encarando quase sem piscar o visor ligado do aparelho celular. Ele buscou fôlego, mirando as orbes aflitas na direção de Malia. Levou o dispositivo contra seu peitoral após desligar o microfone da chamada por alguns instantes. Não estava raciocinando direito, talvez. — Malia, toma conta deles, por favor. — Sua voz era firme, e mostrava o nível de sua resistência a ideia de deixar o namorado ir. Embora fosse preciso agora. — Eu resolvo isso. Mas vocês podem ir. — Engoliu em seco sentindo seus instintos quererem ir contra a essa afirmação.

— Tem certeza? — Theo se pronunciou pela primeira vez. Após quase paralisar de pânico internamente. Ele se ergueu do sofá com ajuda de Malia, sua mão esquerda descansando de modo protetor sobre sua barriga avantajada. Liam assentiu devagar lançando um olhar carinhoso ao mais velho. — Eu volto logo tá? — Garantiu, mesmo que uma voz em sua cabeça dissesse para não ir adiante com isso. No entanto, provavelmente era consequência de estar muito tempo dentro de casa.

Liam se aproximou do namorado em passos quase bambos, depositando um beijo rápido na testa do mesmo. Malia não demorou a conduzir o chimera até a porta. Ajudando-o a descer os degraus do deck de madeira que residia no acesso da frente. Não se separando de Theo até então depois disso. Liam os verificou uma última vez, antes de se voltar aos amigos.

— Vão ter que me ajudar nessa. — Disse sem pestanejar. Praticamente apelando através de seu olhar enquanto escutava as reclamações de Jenna. — Eu tenho um plano. Juro que queria contar sobre a Lori, mas.. não é o momento. Não por celular. — Corey e Mason se entreolharam assentindo. O humano fechou a porta da residência atrás deles. Caminhando rente ao beta após se desvencilhar do namorado. Liam liberou o microfone do app com os dedos trêmulos. Mason segurou a mão esquerda do melhor amigo, Corey se pôs do outro lado. A câmera sendo segurada num campo de visão que enquadrasse os três ali.

Tomara que tenha uma boa explicação, Liam Eugene Dunbar! — A mulher loira ralhou, sua feição transbordando preocupação mas principalmente raiva. Dessa vez sozinha encarando eles, embora ainda pudesse ouvir a respiração até que calma de seu pai. O médico estava sentado atrás do notebook, e sabia disso. — Filho, sério. Você me deixa de mãos atadas quando não fala. E sabe muito bem que infelizmente, ainda não tenho bola de cristal. — Ela soltou uma risada fraca na última parte, tentando amenizar a energia tensa que certamente ela instalou. Liam se sentiu pequeno de repente, a vontade de chorar batendo com tudo. E isso Jenna percebeu, aquela mulher superava uma águia as vezes. — Amor, vamos. Conta pra mamãe.. — Usou a gentileza. Era quase como padrão, desde a infância do beta. Conhecia todas as etapas, mas ao mesmo tempo não se deixava levar pela raiva durante as crises de TEI quando ela fazia isso. Uma gênia sem dúvida.

Liam suspirou fundo apertando a mão de Mason, revendo a breve ideia que poderia soar bem idiota mas não estava com a criatividade aflorada para pensar melhor. Nessas horas que adoraria ter o raciocínio rápido de seu namorado, isso sim continuava intacto. Por mais que o mais velho não admitisse agora.

— É uma história longa. Mas só não contei porque não quis preocupar vocês que já têm o suficiente para dar conta aí. — Liam iniciou com cuidado. Monitorando basicamente quase todas as palavras que saíam de sua boca. Jenna esboçou uma feição indignada, trocando um rápido olhar com David. O beta umedeceu os lábios deixando mais um aperto na mão de Mason, ouvindo o amigo praguejar devido a força que notou estar dobrando a intensidade. Liam se desculpou com o olhar vagamente. — Foi o seguinte..

*

Aeroportos são praticamente sinônimos para tumulto. E as vezes quase impossível não se deparar com situações complicadas ou para lá de constrangedoras. Brigas aqui e ali de crianças, adultos e até idosos. Detectores de metais desmascarando dos mais cômicos até os mais perigosos e surpreendentes objetos. O ser humano pode ser bem criativo quando quer. E nesse belo final de tarde não estava sendo diferente para nenhum dos policiais de Beacon.

Parrish havia gasto suas últimas horas instruindo a equipe. Sempre manter os olhos abertos, averiguar os passageiros na área de desembarque mas principalmente nas de embarque quando passassem pela verificação do passaporte seguido do detector, que apitava alto como um inferno para seus ouvidos sensíveis só para ressaltar. Era cansativo sem dúvida, mas só de pensar que toda e qualquer falta de atenção no momento poderia mudar tudo ao bando. Isso com certeza servia de apoio para Jordan não se distrair com uma mísera mosca, como um de seus oficiais por exemplo.

— Eu não vou falar pela quarta vez, Andrew! — O hellhound chamou atenção do homem moreno, que arrumou a postura automaticamente. Voltando a olhar para os lados. Parrish quase revirou os olhos, mas permaneceu com a pose simpática. Precisava se quisesse não voltar a ter a mesma fama de antes quando descobriram suas habilidades extras. Não só as dele claro. Alcatéia McCall que o diga. — Não fique só aí parado. Ande próximo ás filas, verifique nem que seja pelo menos com canto de olho os mínimos movimentos dos passageiros que estão entrando e saindo. Por favor, você sabe que é melhor do que isso. — Disse sem se importar de estar sendo direto. Apoiando as mãos no coldre de sua calça. O outro rapaz assentiu, adiantando-se em se mover. Parrish suspirou pesado. — Nem parece a equipe cheia de marra que vejo dentro da delegacia todo dia de manhã. — Bufou deixando alguns dos pensamentos saírem por sua boca. Mal notando não estar sozinho.

— Acho que ele deve está nervoso. Talvez eu não seja a única nova por aqui. — Uma voz doce e aveludada soou atrás de Jordan, que saltou em reflexo pondo a mão no cano de sua arma automaticamente. A moça de cabelos loiros escuros e ondulados deu um passo para trás, rindo baixo. — Desculpe, eu devia ter avisado. Eu acho.. — Riu fraco meio incerta. Uma das mãos erguidas em um escudo instintivo que os separava. Parrish reclinou o canto dos lábios sorrindo de relance ainda tentando se recuperar do susto.

— Noah nem me avisou que havia uma oficial nova. — Jordan possuía a testa franzida. Não baixando a guarda totalmente. A garota que trajava o mesmo uniforme que os vários homens ali, deu de ombros voltando a posição profissional. Olhando ao redor. Era alta, quase da mesma altura que ele, e intimidava com certeza. Algumas pessoas passavam quase se esquivando dela.

— Me chamo Brooke, e na verdade fomos apresentados. Mas você parecia bem ocupado no dia, então.. — Ela o lançou um sorriso amigável, mas que serviu como gatilho para se lembrar de alguns dias atrás. Especificamente semana passada. Parrish quis se bater por não ter reparado em quase nada ao se redor nos últimos dias, ainda que fosse compreensível por estar preocupado com o bando. A garota pareceu notar após segundos, pois se apressou em dizer algo. — Tá tudo bem, não precisa se martelar com isso. Todos estão bem agitados ultimamente.. — Ela comentou num timbre despreocupado. Os olhos castanhos sérios focados em observar ao longe. Jordan ajeitou a postura executando o mesmo rapidamente.

— Mesmo assim. Peço desculpas. Muita coisa na cabeça, a propósito, sou Jordan Parrish. — Disse meio acanhado antes de estender a mão discretamente. A garota riu baixo aceitando o cumprimento, voltando a posição anterior. Sua expressão era bem séria para alguém que transmitia uma vibe tão.. delicada.

— Brooke Dallas. — Ela murmurou comprimindo os lábios meio sem saber o que informar a mais. Então somente optou por manter o foco nos passageiros indo e vindo. Arrumou o rabo de cavalo frouxo, os fios ondulados caindo em seus olhos as vezes. — Soube que.. houve um surto de distribuição de armas por aqui a alguns anos. É por isso que hoje estamos aqui? — Tentou puxar assunto. A atenção ainda voltada para o movimento ao redor. Pela visão periférica viu Parrish concordar em um aceno de cabeça mínimo. O que indicava que sem dúvida uma parte desse boato era confidencial. Brooke suspirou. — Esses humanos nunca aprendem.. — Resmungou entredentes. O cão do inferno virou de supetão a cabeça na direção dela.

— Você não é.. — Jordan nem precisou terminar. Apenas viu de relance os olhos da garota brilhando no amarelo forte mais do que conhecido por ele. Olhou para os lados vagamente em uma verificação rápida, arqueando de leve as sobrancelhas. — Loba? — Ela negou. Lançando um olhar desaprovador para uma criança que quis subir nas esteiras de bagagens ao longe. Vendo o ser pequeno voltar atrás ao ser pego no flagra.

— Coiote. — Respondeu simples, formando uma linha nos lábios carnudos num sorriso calmo ao olhar de canto para Jordan. Apesar da postura centrada e a feição serena que dava-lhe seriedade o suficiente para a ocasião. Aquilo abalou um pouco a primeira impressão de casca grossa.

Ela levou as mãos para segurar cada lado de seu coldre preso a cintura. Parrish a analisou mais uma vez, movendo os pés junto a garota assim que a mesma iniciou uma breve caminhada afim de ir monitorar os outros metros quadrados do lugar, os quais foram solicitados pelo departamento da delegacia. Parrish averiguou mais uma vez a sua volta antes de se deixar focar na oficial.

— Então tá explicado por parecer tão jovem. — O cão do inferno comentou. Esboçando um sorriso amigável para após se distrair olhando  atrás de Brooke. Pensando ter visto algo suspeito ocorrendo pelas filas. A oficial torceu para ele não notar a careta incerta que passou por sua feição. Claro que falhando certamente. — Desculpe.. eu disse algo errado? — Parrish questionou com uma preocupação genuína, as sobrancelhas franzidas. A coiote curvou o canto dos lábios para baixo num semblante conformado.

— Foi uma reação automática, não me leve a mal. — Ela quem parecia estar se desculpando de repente, meio sem graça. Ponderou em se explicar a princípio, para poder olhar ao redor minuciosamente por alguns segundos. Jordan fez o mesmo, embora a curiosidade. Brooke prosseguiu. — Muitos homens já me disseram isso, mas sempre com segundas intenções.. — Esclareceu num tom cansado, ainda que fosse nítido o desgosto. Parrish entreabriu os lábios em compreensão, assentindo devagar. — Não que você esteja.. eu só..

— Eu entendi. Fica tranquila. — O cão do inferno riu baixinho encolhendo de leve os ombros. Percebendo a outra relaxar logo em seguida a postura. — E não se preocupe. Não sou um babaca sem noção com as mulheres. E além do mais.. — Ele ergueu discretamente a mão direita, revelando o dedo anelar onde residia um anel prata. Brooke arqueou as sobrancelhas desenhadas parecendo comovida.

— Gostei da honestidade, líder. — Ela bateu de leve as palmas. Esboçando pela primeira vez em minutos um sorriso suave e espontâneo, voltando a pose profissional aos poucos porém mais descontraída. Jordan teve que admitir internamente que ela poderia sorrir mais vezes. — Pelo menos por aqui parece ter pessoas legais..

— Acho que depende do ponto de vista, mas em partes sim. — Parrish riu anasalado tentando não se lembrar de certos momentos com os inúmeros caçadores incovenientes que já enfrentou. Brooke emitiu uma risada baixa em concordância ao desviar o olhar do hellhound, que durou poucos segundos pois logo avistou algo meramente suspeito. Jordan não tardou em seguir o foco dela. Analisando ao longe um rapaz que caminhava em passos apressados, esbarrando nas pessoas sem se importar. — Vamos passar..

— Como ninguém não quer nada e ver o que acontece, entendido. — A garota disse quase com se fosse uma máquina. Seu timbre áspero totalmente diferente de instantes atrás. Parrish assentiu satisfeito executando um sinal mínimo com a mão discretamente para Brooke que se posicionou ao lado dele. Logo apertaram o passo.

Examinaram juntos a linguagem corporal do indivíduo. Brooke alertando e repassando as devidas orientações para os outros homens da equipe pelo walkie talkie no ombro. Embora quisessem avançar de uma vez e interrogar – principalmente Parrish – não arriscariam optar pela imprudência desse modo e correr o risco de perdê-lo de vista sem antes aproveitar para tirar qualquer coisa a limpo. Ainda mais ressaltando o fato de não terem ideia sobre com o que estavam lidando a meses em sigilo.

— Vai. — Jordan disse num murmúrio, sabendo que Brooke o ouviria perfeitamente. Ela assentiu mantendo o andar estável. Rumando na frente indo de encontro ao rapaz que parecia perdido no próprio mundo. A altura e porte físico dela com certeza facilitaram bastante, pois apenas com um esbarrão de ombro fez o suspeito se desequilibrar. Caindo por cima da mala fazendo-a abrir um pouco. Sorte a movimentação ter diminuído naquela parte do aeroporto.

— Nossa, como sou distraída. — Dallas exclamou a medida que ajudava o homem a levantar, este que pareceu não perceber sua falta de preocupação no tom. Ela limpou rapidamente o casaco do indivíduo de traços europeus. Parrish se colocou logo atrás dele, encurralando-o silenciosamente.

— Não, tudo bem. — Foi notório a maneira como o cara suavizou a expressão assim que se deparou com o rosto de Brooke. A coiote se segurou para não revirar os olhos. Ainda que a intriga somente tenha aumentado ao notar os batimentos cardíacos acelerados do passageiro. — M-Mas agora tenho que..

— Antes vai cumprir com o procedimento. — Jordan o interrompeu, fazendo-o se virar abruptamente assustado. Pelo visto o homem estava desnorteado demais para sequer se dar conta da presença do hellhound logo atrás dele. Parrish não demorou em dar o comando aos outros da equipe que o rodeavam durante este meio tempo.

— Espera! O que.. não! — O passageiro se alterou resmungando. Debatendo os braços ao ser imobilizado por trás pelas mãos dos oficiais. Ele bufou irritado enquanto o empurravam, surpreendendo a todos assim que golpeou com precisão o nariz de um dos policiais com sua nuca. Conseguindo se livrar por míseros segundos do aperto. Até Brooke liderar essa.

A garota se colocou na frente do suspeito, quase recebendo um soco o qual desviou de prontidão. Segurou o braço que por pouco não lhe acertara e o entortou, desferindo uma joelhada certeira nos testículos do fugitivo que gritou se abaixando. A coiote o segurou pela nuca deixando a pele na área bem avermelhada, guiando-o a força até os homens que o pegaram não perdendo tempo em rumar até a sala privada para interrogatório.

Dallas soprou para o lado um dos fios perfeitamente ondulados que caíra sobre seu rosto. A liga que antes os prendia num rabo de cavalo, se perdeu pelo piso em algum lugar. Ela bufou olhando pelo chão. Parrish riu impressionado.

— Essa doeu até em mim. — Comentou após respirar fundo, tentando engolir em seco a angustia por detectar outra ameaça. Ainda sem reparar muito por onde Brooke se locomovia, concentrado em observar a distância se tudo estava em ordem com o resto da equipe assim que adentraram a sala. Pelo menos até ouvir um pigarrear.

— Acho.. que não foi em vão mesmo toda essa cena. — A coiote comentou. Seu tom carregado de tensão enquanto se erguia aos poucos com algo em mãos. Os cabelos volumosos sendo jogados de qualquer jeito para cima. Parrish se aproximou rápido dela, sendo segurado pelo braço e arrastado para um ponto cego. — Isso parece.. tecnologia militar.. — Ela franziu a testa enquanto manuseava a luva. — Caiu da mochila dele quando o derrubei. — Encarou o rosto de Parrish, entregando o objeto para ele.

— Parece mas não é totalmente. Já vi antes uma dessas semelhante, mas agora comparando. Essa é com certeza sofisticada. — O hellhound coçou a nuca sentindo a respiração pesar na última parte. Umedecendo os lábios durante a breve análise da luva.

Era preta com detalhes em verde escuro nas partes superiores dos dedos, revestida em couro por fora mas na área da palma havia uma espécie de sensor em forma de placa. Que mostrava num tom fraco uma luzinha vermelha, que não se destacava no momento devido a toda claridade do aeroporto.

— Falar com o Sheriff, não é? — Brooke perguntou cuidadosa ao desviar o foco do aparelho nas mãos de Jordan, para o rosto do mesmo. O olhar do cão do inferno denunciando sua inquietação, como se guardasse algo mais. O jeito nervoso enquanto terminava a análise da luva. — Jordan.. — Ela iria tentar mais uma vez. Quando levou um susto.

— Oficial Parrish! — Alguém gritou pelo local a procura deles, ocasionando num eco horrível que brevemente chamou a atenção dos passageiros. O hellhound pareceu despertar voltando a pose profissional. Apertando o passo junto a Dallas até o caminho onde levava ao início do corredor ligado a sala privada.

— Diga. — Disse firme e autoritário. Seu semblante enfatizando a ansiedade em saber o que havia de errado. Brooke se colocou ao lado do cão do inferno, adotando a mesma postura. O outro official parecia ainda assimilar o que seja lá que ocorrera, estava pálido. — Me diga, official Joseph! — Ralhou de uma vez.

— E-Eles estava.. nós tínhamos o revistado antes de qualquer coisa. Não vimos que ele tinha.. — O rapaz moreno passou as mãos pelo rosto, o olhar perdido voltado para o chão. Virando a cabeça para trás em seguida rumo a porta a alguns metros deles. Brooke ignorou aquela enrolação, aguçando seus sentidos. Não demorando a estar tão chocada quanto o rapaz. Havia captado um odor forte, odor pungente que geralmente pertencia aos cadáveres. — Ele tinha uma pílula e..

— Ele morreu, não é? — Dallas questionou sem cerimônia. Encarando fundo nos olhos castanhos do official, que assentiu fracamente.

Eles executaram uma breve corrida até a sala privada, abrindo a porta com certa força fazendo-a bater contra a parede. Logo se depararam com o corpo do suspeito estirado na mesa. A boca suja com uma espécie de espuma branca. Os olhos abertos sem vida. Parrish parecia ter perdido a voz por alguns instantes tentando raciocinar. O que estava acontecendo..

— Avise o Sheriff que precisamos conversar com ele assim que chegarmos lá. — Apenas disse para Brooke, embora estivesse vidrado no corpo. Não demorou para se forçar a ter foco. Mirando as orbes verdes para Joseph. — Chame o médico legista, e certifique-se de que ninguém entra ou sai daqui. Entendido?

O homem se apressou em cumprir as ordens. Movendo-se dali rapidamente. Jordan sentiu uma mão pousar em seu ombro, não tardando em virar a cabeça. Brooke possuía as sobrancelhas franzidas em apreensão. Parecendo hesitante.

— Já avisei a ele. Mas antes.. acho que preciso ser honesta com você. — Ela disse após suspirar fundo, afastando a mão do hellhound. Jordan cruzou os braços contra o peito. A expressão séria a medida que analisava minuciosamente a garota.

*

Estavam numa caminhada tranquila a quase sete minutos, embora a mente de Theo fosse o oposto do momento. Tentava relaxar a todo custo ainda que seu raciocínio não parasse desde que pôs seus pés para fora de casa, mas parecia estar preso num looping mental. A voz de Liam e sua sogra ecoando vez ou outra. Ele não sabia bem o que cogitar primeiro ou o que poderia fazer depois.

O chimera suspirou fundo esfregando a mão direita sobre sua barriga meio oculta debaixo do moletom que pegou as pressas. Olhou ao redor tentando se distrair um pouco com o verde agradável das árvores altas, o farfalhar das folhas. Sentiu a brisa fresca tocar seu rosto, o que fora até calmante. A essa altura já havia adentrado uma trilha até agora sem muitos obstáculos.

Malia ao lado dele deixou um aperto gentil em seu braço entrelaçado ao dela. A coiote sorriu ladino quando ganhou a atenção do gestante, que retribuiu da melhor maneira possível apesar da preocupação com o namorado martelando sutilmente. O silêncio entre eles não era desconfortável, mas a Hale precisava amenizar aquela tensão. Podia não ser tão boa com as palavras, mas não custaria nada ir tentando.

— Sei que não vai ajudar muito agora. Mas o Liam é esperto e vai saber como conduzir a situação. Acho que ele não contaria assim desse jeito sobre a Lori.. — Ela disse com certa cautela após pensar. Os olhos ainda voltados para o chão afim de continuar checando o trajeto, pisando com cuidado nas raízes e pedras que apareciam. Theo não soube bem o que responder de início, ao se distrair com um pequeno barranco que surgiu logo a frente. Ele praguejou frustrado. Malia se adiantou em fazer algo, ignorando a vaga culpa por trazê-lo ali. — Vem, você não vai cair. Não comigo aqui. — Garantiu emitindo uma risada baixa, vendo o outro relaxar. Não demorou a se colocar na frente do chimera e estender a outra mão para ele. Theo aceitou segurando firme, e ambos desceram sem problemas.

— As vezes não sei se manter esse segredo por agora é o melhor do que a ideia de contar. Mesmo que os avós dela estejam a distância ainda. — Theo confessou num murmúrio após respirar fundo, abaixando o olhar por alguns segundos como se buscasse solução no meio das folhas secas em abundância próximas aos seus pés. Ele mordeu o lábio inferior. — É cômico como me sinto mal por ter que omitir uma informação... ou melhor, esconder minha filha da única avó dela.. — A culpa era palpável pairando em suas palavras.

Malia se arrumou ao lado do gestante, puxando-o para perto calmamente. Uniu seus braços de novo antes de lançar um olhar compreensivo a ele. Quem visse de fora até poderia pensar que a Hale só fez isso para impedir uma possível queda. Porém era mais do que isso.

De um modo irônico e engraçado, ela queria cuidar dele. E Theo se sentia a vontade com a coiote neste momento. O que honestamente, nunca imaginou que pudesse ocorrer.

— Você e Jenna se tornaram próximos. É por isso que detesta a situação, acertei? — Ela soou incerta por trás do tom atencioso, enquanto mantinha o ritmo calmo de seus passos. Olhando para frente e estreitando um pouco os olhos devido aos raios solares baixos por entre os troncos. Theo elevou a cabeça para encarar a lateral do rosto dela, não ocultando a certa surpresa em sua feição que a outra não notou.

— É.. acertou. — Concordou baixo voltando a encarar o trajeto a diante. Apertando um pouco o braço da Hale afim de se manter equilibrado ao dar passos longos, desviando de algumas pedras com folhas e galhos. Ela esboçou um leve sorriso fechado olhando-o pela visão periférica. Logo guiando a mão esquerda e pousando-a gentilmente sobre a do chimera. Theo piscou tentando processar aquele gesto, permitindo que a tensão se esvaisse um pouco. — Eu só.. não quero magoá-la. Ou fazer parecer que eu não fiz questão que soubessem. — Acrescentou após respirar fundo. Encarando vagamente as árvores ao redor tentando se distrair enquanto acariciava a barriga com a mão livre.

— Ela no fundo vai saber que essa não foi a real intenção de vocês. Tá tudo muito novo ainda. E pelo o que lembro Jenna é bem divertida e carinhosa, não? — A coiote questionou o mais cautelosa que conseguiu. No entanto, logo franziu a testa, distraindo-se. Ouviu uma breve movimentação a esquerda. Theo apenas cantarolou alguma coisa em concordância, até se ver em alerta também. Malia rosnou baixo olhando ao redor, farejando. — Quieto, fica quieto. — Ela pediu de maneira baixa e apressada, embora não quisesse fazer alarde. Theo virou a cabeça para os lados ficando imóvel, apertando a mão da Hale que retribuiu o ato. — Não sei ao certo o que tá rondando a gente, então não se afaste. — Murmurou ainda com os instintos agitados. Examinando cada metro que os rodeava.

O chimera engoliu em seco tentando manter seus batimentos estáveis, juntamente a respiração. Sentiu Lori chutar de leve próximo a seu baixo ventre. O que com certeza confirmou uma de suas várias teorias sobre sua filha. Ao que tudo indicava ela pressentia o perigo, ou entendia quando estava assustado.

Theo olhou rápido para a direita assim que captou o som de um galho se partindo. Malia produziu um rosnado intenso. O chimera mordeu o interior da bochecha enquanto acariciava seu abdômen por cima do moletom. A atenção presa nas árvores, examinando-as por entre os troncos. O coração de ambos quase parou assim que descobriram o responsável por esses ruídos.

— Ai meu cacete.. — Theo praguejou num murmúrio após seu corpo sobressaltar na hora em que um cervo surgiu saltando para fora do arbusto próximo coberto de folhas secas amontoadas. Malia rosnou avançando um passo, o que ocasionou na fuga do animal. A coiote brilhou os olhos no clássico azul, fazendo uma mínima menção em correr rumo ao bicho. Porém, o gestante intensificou o aperto no braço dela a tempo. — Não! Por favor, não sai daqui. — Pediu afobado, negando devagar com a cabeça. O chimera soltou o ar que nem sabia estar segurando. Malia suspirou voltando sua fisionomia humana aos poucos para dá suporte ao outro novamente. — Sério que ia brincar de pique pega com um cervo e me deixar aqui? — Questionou indignado após revirar os olhos.

— Foi mal, mas ele tava pedindo por isso. — Ela rebateu em seu melhor tom convincente. Franzindo a testa em irritação enquanto recolhia as presas. Pondo-se mais perto do Raeken que riu baixo incrédulo. A coiote bufou uma risada. — O quê?.. — Soou confusa.

— Tá ouvindo, Lori? Sua tia ia nos abandonar pra correr atrás da comida que você odeia. — Theo murmurou carinhosamente, agora mais calmo. Seus olhos voltados brevemente para o abdômen coberto sustentando um brilho divertido em seu olhar. Malia emitiu um som ofendido enquanto retomavam a caminhada aos poucos. O gestante ergueu a cabeça para encará-la, ela parecia impressionada com algo. — Que foi? Ela realmente não gosta de cervo. Afirmo pelo fato de vomitar só sentindo o cheiro horrível da carne. — Ele esboçou uma vaga careta, arregalando de leve os olhos para enfatizar. Malia gargalhou negando com a cabeça.

— Me magoa, mas não é isso. Só gostei desse lance de... Tia. Acho que nunca pensei que esse título viria pra mim um dia. — Ela confessou, meio que divagando. Lançou um sorriso suave e afetuoso na direção do chimera, como se o agradecesse. Ele retribuiu sorrindo mínimo, de uma maneira fofa na concepção dela.

— Bom, considerando que nunca passou pela minha cabeça estar com essa barriga algum dia.. — Começou em meio um riso sem graça. Malia abafou uma risada, levando o outro a sorrir largo não se contendo. — Ou.. ter o título de pai. Acho que sei como se sente. — Finalizou erguendo de leve as sobrancelhas e suspirando fundo logo após. Acariciando a barriga com a mão esquerda livre em uma breve massagem. Sua menininha se mexia um pouco. Malia sorriu ladino observando o outro, admitindo o admirar por seguir firme desde então. Ela apertou só mais um pouco o passo. — Sério, já estamos quase lá? Ela tá começando a pesar de novo. Meus pés vão inchar por sua culpa, mulher.. — Theo lamentou fazendo uma expressão sofrida. Malia sorriu fraco compreensiva.

— Vire-se e veja, reclamão. — A coiote os parou de repente, segurando firme Theo que tombou levemente para frente. Um sorriso sorrateiro e misterioso dançando em seus lábios. O chimera arqueou uma das sobrancelhas analisando-a de cima a baixo, antes de enfim virar a cabeça para a esquerda. Ele mal acreditou no que viu.

A infraestrutura larga e alta que ocupava uns bons metros quadrados do terreno todo. Tudo muito bem limpo e restaurado. A tintura branca ainda por terminar mas que se espalhava por boa parte da frente e laterais. Theo se recordava vagamente dos relatos sobre essa mansão, mas principalmente o lado obscuro. Ele entendia definitivamente bem Derek. E com certeza, algumas pessoas não têm ideia da força que possuem até precisar dela. O gestante buscou fôlego, subindo a ladeirinha meio íngreme com Malia em seu encalço.

— Como? — Theo soltou ainda surpreso, seus olhos verdes abismados. Vidrados na residência de aparência magnífica e elegante. A coiote riu baixo subindo mais rápido, levando as duas mãos para cintura do outro de maneira gentil afim de conduzi-lo para serem mais ágeis. Raeken gargalhou baixo. — Obrigado. Mas sério, como isso aconteceu tão rápido? — Encarou a Hale. Ela deu de ombros ainda enlaçando a cintura dele, enquanto observava o lugar.

— Nem foi tão rápido assim. Pode não parecer, Theo. Mas com relação a essa obra, acho até que demorou demais. — Ela entortou os lábios numa expressão meramente pensativa, recordando-se de todo o trabalho duro e agitação. O chimera piscou atônito ainda assimilando. Enquanto mantinha sua mão direita em seu baixo ventre, usando-a de apoio.

— Foi um belo trabalho. Tá incrível. — Theo comentou com um sorriso genuíno. Admirando os detalhes das janelas largas e as paredes de tijolos, que davam todo um toque vintage a tudo. Malia suspirou mais tranquila, desviando a atenção para o chimera. — Mas ela tá diferente da original, não é? Sinto que tem umas coisas novas aqui e ali.. — Murmurou distraído.

— Acertou. Não queria que fosse igual pra um recomeço diferente. — Ela disse mordendo o lábio inferior, esfregando as costas de Theo antes de soltá-lo. — Espero que o Derek goste.. — Murmurou meio insegura, soltando o fôlego. Seu nervosismo mais do que perceptível no ar. E para a surpresa do Raeken, seus poderes foram capazes de captar um pouco dos sinais químicos.

— Aposto que vai. Acho que ele e o Stiles vão adorar esse espaço todo. Ou.. qualquer lugar que não tenha o Peter. — Theo concluiu dando um meio encolher de ombros. Malia quase se engasgou tentando reprimir um riso. O chimera a lançou um olhar cínico. — Ele diz ter um apartamento sei lá onde e nunca vai pra lá. — Ressaltou risonho. Malia concordou.

— É, meu pai tá ficando velho e gosta de importunar os outros. Tudo normal. — Malia murmurou levando as mãos para os bolsos do short jeans numa pose relaxada. Porém, Theo não deixou de notar o breve carinho no modo como a outra soou. O gestante não conseguiu não apreciar isso.

— Acho legal a relação de vocês. Apesar de todo o.. passado complicado. — Raeken mediu as palavras sendo cuidadoso. Não vendo nenhuma reação negativa vindo da outra. Ele suspirou fundo mordendo o lábio inferior, retomando o foco para a mansão. Movia sua mão em carinhos constantes em sua barriga. E a coiote o analisou por alguns segundos, torcendo para não dizer bobagem. Ainda era nova nessa coisa de ser atenciosa.

— E sua relação com a Lori vai ser melhor ainda. — Ela rebateu num timbre calmo, preenchendo o silêncio. Theo a encarou não se importando em ocultar como as palavras mexeram com ele, felizmente de um jeito bom. — Ela já ama você desde o útero, Theo. E isso eu não preciso nem assegurar, né? — Malia soou divertida. O gestante desviou o olhar após sentir as bochechas esquentando. — Só tenha em mente que uma hora.. vai precisar contar sobre o passado. Mas que o presente.. é prioridade. — Afirmou numa sinceridade palpável. Seu olhar leve e postura centrada enquanto observava a estrutura, aproveitando a brisa fresca que vez ou outra passava por eles. — É irônico que isso venha de mim. Já que você me deu uns tiros e eu demorei pra superar a raiva.. — Ela riu descontraída realmente não se importando tanto assim com o evento de anos atrás. No entanto, Theo quase se encolheu de vergonha.

— Sabe que.. eu realmente sinto muito por aquilo. Eu.. — Ele começou meio desajeitado. Logo induzindo Malia a perceber a besteira por tentar fazer uma piada. A coiote não demorou a negar com a cabeça devagar, segurando com cuidado os ombros do chimera para que ele diminuísse o ritmo.

— Não, não. Chega. Passado lembra? — A Hale questionou retoricamente. Assistindo o gestante engolir em seco ainda meio desconfortável com a ideia de não precisar se explicar. Malia tombou a cabeça para o lado num semblante compreensível. Apertando de leve os ombros do outro meio que pensando no que fazer. — Vem cá. — Disse, logo após puxando com cuidado o chimera para perto. Mal acreditando no que fazia. E Theo também estava na mesma, pois demorou a retribuir. — Não sei se isso tá ajudando, foi mal.. desculpa pela piada idiota. — Ela riu fraco tentando tornar o clima mais ameno. O gestante permitiu-se emitir uma gargalhada baixa, se aconchegando mais no abraço dela. O território não parecia tão ameaçador, afinal. — Amigos, então?

— Amigos. — Afirmou após um suspiro. Soando meio abafado por estar com a boca pressionada contra o ombro dela. Sentiu que um peso a mais foi retirado de seus ombros. Malia sorriu satisfeita ao notar os bons sinais químicos irradiando dele. — E acho.. que a Lori também gostou disso. — Ele comentou rindo anasalado. Malia afastou o abraço com cuidado ainda que possuísse certa empolgação. Levando o olhar diretamente a barriga dele. Theo sorriu para esse jeito da outra. — Quer sentir? — Sugeriu a medida que analisava o fascínio no olhar da Hale, que redirecionou o foco a ele. A resposta foi óbvia.

Theo apenas se manteu em silêncio. Afinal, atos sempre diziam mais que palavras. Ele segurou o pulso da coiote gentilmente, guiando a mão até que a palma encostasse na superfície de sua pele após erguer um pouco o moletom. Malia arqueou as duas sobrancelhas totalmente maravilhada, não demorando a captar o chute próximo a área que tocava só que um pouco mais a cima do umbigo. A Hale deixou um sorriso escapar, elevando suas orbes castanhas para encarar Theo.

— Definitivamente, essa experiência é mágica. — Malia comentou esboçando um sorriso ladino. Theo assentiu devagar adotando uma expressão tola. De fato admitia, que nunca esteve tão feliz. E claro que, Liam e Lori tinham altos créditos nisso.

Contudo, o momento foi interrompido por um farfalhar alto que soou por entre a mata, ocasionando numa tensão automática na coiote e o chimera. Um alvoroço peculiar se fez presente, seguido de alguns ruídos que se assemelhavam a galhos se quebrando. Cada vez mais altos e fortes. Ambos moviam as cabeças checando afobados os metros quadrados que os cercavam.

Malia rosnou de maneira instintiva, sacando as garras sem pestanejar durante isso. Theo sentiu sua respiração tremulando um pouco, não tardando em abraçar sua barriga em proteção instantânea.

— Malia.. me diz que é o cervo de minutos atrás.. — Ele murmurou suplicando quase inaudível se não fosse pela audição sobrenatural da Hale. Ela exibiu as presas rosnando outra vez para seja lá o que fosse, tentando pensar e captar o problema ao mesmo tempo em que buscava a mão do gestante. Somente naquele gesto, o Raeken compreendeu a resposta que não queria ouvir.

Theo respirou fundo aceitando o conforto, mantendo os olhos verdes amedrontados atentos às árvores. Não se importando muito com as garras da outra que cortaram a lateral de sua palma. Olhava ao redor quase que atordoado, nesse meio tempo executando uma tentativa atrás da outra de ativar seus sentidos básicos. Bufando irritado instantes depois por falharem justo neste momento, seu coração acelerou de antecipação. Estava vulnerável.

Malia colocou-se ainda mais na frente dele assim que outro ruído soou a direita, dessa vez que lembravam passos. No entanto, com certeza não estavam preparados para o que veio a seguir.

Houve um disparo. Malia rosnou de maneira intensa instantes depois, fazendo com que atiçasse até mesmo os pássaros. O chimera não sabia ao certo quando tudo começou a ocorrer em câmera lenta. Ele somente conseguiu discernir que estava caído, sua coxa sangrava e ardia como um inferno. Sua respiração tornou-se ofegante não ajudando muito a manter o raciocínio ou visão focada. Usou seu braço direito de apoio para a queda, evitando que sua barriga sofresse algum baque.

— Nossa! Isso foi até fácil. — Uma voz masculina desconhecida se destacou no meio da confusão de sons, parecia comemorar. Theo franziu a testa arfando, esboçando uma careta dolorida ao tentar se erguer. — Ah, coitado. Deve estar com muito peso aí, não é? — Uma risada irritante soou após essa frase. Não demorou para o chimera finalmente enxergar com clareza a silhueta de um homem caminhando em sua direção, este que portava uma arma quase maior que seu antebraço. — Vamos agilizar as coisas, está bem? Você tem algo que nos pertence e vinhemos pegar. Sem mistério. — O cara disse simplista. Sua expressão apática. Apertou mais o passo após arrumar o equipamento em mãos.

— Se afasta!! — Theo gritou rosnando num modo totalmente animalesco. Em uma frequência que nem mesmo ele sabia ser capaz de produzir. Os olhos do chimera brilharam forte no clássico amarelo, suas presas aos poucos sendo exibidas junto as garras. Ele rosnou de maneira profunda novamente. O rapaz recuou apontando a arma. — Eu juro que se chegar perto, eu te faço em pedaços.. — Ameaçou entredentes. Ajeitando seu corpo com dificuldade sobre as folhas e pedras, enquanto protegia seu abdômen com o braço direito.

Seus olhos percorreram a área vagamente, localizando Malia que lutava executando golpes árduos com mais dois caras ao longe. O homem a sua frente riu desdenhoso, encaixando o rosto próximo a mira a cima da arma.

— Não se estiver inconsciente. — Concluiu erguendo de leve as sobrancelhas em nítido desafio. O dedo já bem posicionado no gatilho. Precisava somente de um mínimo movimento para ser ativado.

Theo engoliu em seco ignorando o nó que se formou na garganta, se arrastando mais para longe o máximo que conseguia. O sangue de sua coxa trilhando em abundância pelo chão enquanto se empenhava. Tentou reunir forças para se transformar por completo e quem sabe correr para buscar ajuda. Mas parecia que a cada segundo ficava mais tonto e sem fôlego. Era patético demais em sua concepção. 

— Espera! Eu não tenho nada que pertença a voc.. — O chimera sentiu o pânico dominar seu foco, após então unir todas as peças subitamente. Ele levou a mão até a barriga, sentindo o coração disparar. O rapaz a sua frente riu debochado negando com a cabeça, divertindo-se. Andando até ele de um modo casual. Theo deveria saber, que nada seria fácil para ele, afinal. Ainda mais agora. Ele não devia ter saído de casa, mas principalmente ter baixado a guarda. — P-Por favor, não.. — Ele disse num fio de voz embargado. Não se importando em ocultar o desespero. — Ela é minha, minha filha. Vocês não podem simplesmente...

— Uhm, já estamos fazendo. — O homem adotou uma feição confusa teatral no início antes de assumir o costumeiro olhar vazio. Firmando a arma em mãos, fazendo Theo se encolher de maneira automática. Protegendo o abdômen. O fardado riu curioso, analisando o gestante. — Sério? Isso não é só um bebê. Sério que não tem ideia do que ela é? — Proferiu incrédulo encarando o outro por alguns segundos. Somente recebendo o rosnado furioso do chimera como resposta. — Tanto faz, chega de brincadeira. — Disse impaciente, posicionando o cano da arma agora bem apontada ao Raeken. Este que tensionou olhando para os lados, vendo nenhuma chance de escapar de um jeito ágil. Ele abaixou o olhar se encolhendo, mantendo o foco em sua barriga proeminente.

— Eu sinto muito, filha. Me perdoa.. — Theo murmurou num tom trêmulo deixando um soluço escapar. A primeira lágrima escorrendo por sua bochecha, seguida de outras. No entanto, o tiro que estava prestes a levar. Atingiu abruptamente uma das janelas no segundo andar da mansão. O chimera piscou atônito ouvindo os cacos de vidro caindo. Ergueu a atenção para a cena a sua frente logo depois.

Malia havia agarrado a arma e desviado a mira com tudo. A fúria mais que perceptível em cada mínimo ato dela contra o homem. Ela usou o cano do armamento para golpear o rosto do rapaz, em seguida quebrando o objeto de ferro em seu joelho. Não hesitou em desferir suas garras contra o peitoral e abdômen do desconhecido mais de duas vezes logo após, fazendo-o gritar se curvando. A Hale o chutou na face, assistindo o corpo cair sem vida. Voltou-se depressa a Theo, que a essa altura estava quase lá para se por de pé.

— Eu sei que você consegue sair daqui. Por favor, vai! — A coiote o encorajou agitada, segurando o braço dele dando uma rápida ajuda para erguê-lo. Sem pensar muito ela rasgou a lateral da blusa com os dentes, amarrando o pedaço generoso do tecido ao redor da coxa do chimera que reprimiu um praguejar. — Desculpa, mas agora..  Não! Theo, atrás de mim! — Ela gritou se movendo rápido apesar dos machucados, pondo-se na frente do gestante de imediato.

Havia avistado a poucos metros do chimera um dos outros homens que agora cercavam a saída mais próxima do atalho que pegaram anteriormente. Em suas mãos pistolas carregadas direcionadas à eles. A coiote nem teve tempo de cogitar isso ser só uma distração.

Logo o grito abafado de Theo soou atrás dela, que não demorou em virar a cabeça. Suas orbes azuis brilhantes se arregalaram com a circunstância. A Hale se empenhou em avançar, quando sentiu algo pontudo e amolado ir de encontro às suas costas. As ondas de choque vieram com força fazendo-a cair, porém isso não a impediria tão fácil. E eles sabiam disso. No que dependesse dela, era óbvio que esses intrusos já estariam mortos e seria em questão de segundos. Entretanto, eles já tinham outros planos em mente para ela.

Theo se debatia aborrecido no aperto de um dos caras que o arrastava para seja lá onde. Por dentro desejando para que não tocassem em sua filhote. Uma mão coberta com uma luva preta cobria sua boca. Ele tentou diversas vezes cortar o sujeito com suas garras, todavia, sua cura que até então trabalhava incessantemente afim de expulsar a bala de sua coxa. Atrapalhava adquirir alguma potência para os reflexos rápidos.

E a sensação de impotência só piorou assim que injetaram algo na lateral de sua cintura. Raeken rugiu alto como se fosse a última vez, logo agitando-se de maneira violenta para os lados. O que ocasionou na parte de trás do crânio dele batendo contra o nariz do marmanjo que o mantinha no aperto. O sangue jorrou no mesmo instante. O homem alto gritou irritado, empurrando Theo para longe que foi pego pelo outro capanga antes que atingisse o chão novamente.

— Seu filho da.. — O fardado nem conseguiu completar o insulto. Levando a mão esquerda ao nariz que pingava. Theo apenas rebateu rosnando de maneira raivosa, exibindo suas presas inferiores. O cara levantou o punho pronto para acertá-lo no rosto. Porém, foi repreendido.

— Vai ser igual aquele idiota que quase tirou a fonte de vida do ítem? Sério? — O sujeito indicou com a cabeça o funcionário morto pelas mãos de Malia. Lançando um olhar impaciente na direção do colega mais alto, que recuou o braço ainda com a carranca. — Não podemos mais perder tempo. Vamos! Acabaram aí?! — Agilizou retomando a sua postura profissional, vendo os outros caras ao longe assentirem. Antes de começarem a se afastar deixando o corpo da coiote mais visível diante a luz solar fraca.

O sujeito não tardou em segurar Theo pelo pescoço para que pudesse controlar o quanto o gestante poderia se mover, mas também como ênfase de que só poderia assistir e não revidar. Raeken suspirou trêmulo sentindo que seria engolido pelo pânico a medida que analisava a distância a estatura de Malia imóvel. Ou por especialmente estar sendo acorrentado tanto nos pés como nos pulsos. Novas lágrimas banharam suas bochechas outra vez. Uma fita fora colada em seus lábios depois disso.

Malia assistia tudo com o coração apertado. A fúria apenas se acumulando a medida que os caras iam se locomovendo mais e mais. Não demorou para a tal injeção que viu de relance, fazer efeito no meio do trajeto. Theo desmaiou em poucos minutos assim que estavam numa proximidade boa da van preta que chegou invadindo a mata de repente, saindo dali tão rápido quanto apareceu.

A Hale rosnou baixo, pressionando as garras em sua coxa direita com todo o resquício de força que restava após diversos segundos investindo em tentativas. Precisava ser rápida, precisava avisar a todos. Tinha que limpar o veneno de kanima de seu sistema agora. Theo e Lori precisavam de todos.

*

— Então.. você tá me dizendo.. — Parrish engoliu em seco tentando organizar as informações em seu cérebro ainda. Embora mal conseguisse raciocinar o que acabara de ouvir. Detalhes perturbadores os quais o pegaram desprevenido. E sinceramente, Brooke não o culpava. Ele esfregou o rosto. — E-Espera.. a quanto tempo estão tentando coletar mais respostas? — O hellhound se inclinou mais na cadeira. A coiote mordeu o lábio inferior, coçando a nuca.

— Bem.. desde que eu entrei na organização? Já vai fazer quase três anos. Mas no total, cinco anos.. — Murmurou não escondendo a decepção de ter que afirmar esse fator frustrante. Jordan comprimiu os lábios negando com a cabeça, desviando o foco do rosto dela. — A organização que está do nosso lado foi criada em menos de um ano. Mas tivemos que manter a discrição até hoje. Não dá pra dar bola fora.. aquela cientista é uma lunática que não conhece a definição da palavra limites. — Ela disse de maneira firme, apertando a madeira da mesa do Sheriff onde encontrar-se apoiada em frente ao outro. Não se importando em deixar a raiva transparecer no tom. — Foi por isso que aquele homem morreu. Pra não dá informações. Os funcionários têm uma espécie de fidelidade doentia à ela. — Brooke bufou revirando os olhos. Parrish ergueu a cabeça voltando a encará-la.

— Aquele cara.. era um médico bem qualificado. Sabe o que eles vieram fazer aqui? Afinal, você deve ao menos saber a intenção deles já que está aqui pela missão. — O hellhound foi direto em seu ponto. Olhando de maneira profunda nos olhos da coiote. Precisava convencê-la a abrir a boca sobre tudo se fosse preciso. Pois se as suspeitas que rondavam sua mente estivessem certas, nada poderia acabar bem depois de hoje.

— Sei o que está fazendo. E poupe seus truques comigo. Mas saiba, que não tenho todo o contexto. Eles são meticulosos. Demorou meses até que conseguíssemos algo sólido nisso tudo. — Ela começou permanecendo com a postura firme e tom profissional. Andando pela sala num modo pensativo. Parrish somente acompanhava os movimentos dela. Depositando toda sua atenção a cada mínimo detalhe que soava da boca da agente. — Mas sobre o que vimos hoje. Vim para impedir seja lá o que eles tenham em mente. Um novo rapto, um novo ítem. Não sabemos, mas temos conhecimento de que existe uma coisa. Algo que Katherine têm se esforçado o triplo para conseguir. — Dallas explicou brevemente enquanto gesticulava um pouco. Seu semblante sério tornando o clima ainda mais retesado. Não que Jordan já não estivesse desde que a mesma revelou quem era de fato.

No entanto, o hellhound sentiu seu corpo travar assim que ouviu a última parte. Seu coração disparando após as peças se encaixarem. Ah não, as vezes odiava estar certo. Brooke o analisou minuciosamente com a testa franzida, movendo seus pés devagar para perto do oficial. Que não hesitou em focar a atenção nela novamente.

— Acho que sei o que eles vinheram pegar. Ou melhor, quem. — Parrish se levantou da cadeira meio afobado. Se aproximando da porta mas parando com a mão rente a maçaneta ao se recobrar de um detalhe chato. Ele suspirou fundo pensando rápido, logo virando a cabeça para encarar a coiote por cima do ombro. — Consegue driblar o Sheriff Stilinski, não é? Ele sempre fica no pé dos novatos. E eu preciso te levar até o alpha agora. Sem enrolação. — Disse num tom tranquilo, porém era perceptível a inquietação pela sua respiração. Pelo modo como a olhava. O que pareceu ajudar a convencê-la. — Por favor, sei que não fazia parte dos planos e que priorizar a discrição é fundamental. Mas... estamos realmente de mãos atadas pelo visto. — Confessou de uma vez. Deixando sua feição alarmada aparente depois de horas afundado numa falsa calmaria.

Brooke apertou os lábios pensativa. Arqueando uma das sobrancelhas grossas analisando o hellhound uma última vez, antes de enfim assentir em seguida quase como uma continência. Ela deu um passo a frente agarrando a maçaneta, abrindo a porta sem se importar muito com o pessoal agitado pela delegacia.

— Sorte sua que sou ótima com desculpas. Geralmente só deixo as pessoas inconscientes logo. Não gosto muito de conversar. — Ela disse de forma despreocupada, quase com preguiça ao dar um meio encolher de ombros. Deu passagem para Jordan seguir na liderança, este que não disfarçou o semblante abismado. A coiote riu anasalado apenas preparando-se assim que viu Noah caminhando na direção dela. Parrish suspirou.

— Ótimo, despista ele. Explico melhor no carro depois. — Foi tudo o que sussurrou à agente. Assumindo logo após uma postura relaxada em disfarce. Seguindo para outro rumo.

*

— Eu acho que eles acreditaram sim. — Corey ainda insistia em seu ponto. Mantendo sua típica expressão otimista enquanto encarava os rostos frustrados a sua frente. Mason se segurava para não mandar o namorado calar a boca. — Sério, Liam conseguiu mentir na cara dura. Não foi tão ruim. — Deu de ombros cruzando os braços contra o peito logo depois. Suas costas descansando no estufado do mine sofá no canto da sala.

Liam apenas permanecia esfregando o rosto e negando com a cabeça devagar. Os cotovelos apoiados nos joelhos, o semblante com decepção nítida escondido nas mãos. Mason ao lado dele apertava de leve os ombros do melhor amigo em um consolo improvisado, pois assim como o beta conhecia a mãe que tem. O humano partilhava do mesmo raciocínio. Jenna poderia até confiar na palavra de alguém a princípio, mas ela também sabia enganar tão bem quanto.

— Corey, você viu a cara dela. Provavelmente sabe que tô escondendo alguma coisa e não quis contar. — Liam disse num tom meio chateado e cansado, que soou abafado por trás de suas palmas. Ele bufou retirando as mãos do rosto, esfregando o cabelo de maneira irritada. — E ela tá certa. Eu tô escondendo. Escondendo minha filha dela.. — Lamentou rosnando baixo. Apertando os olhos um pouco ao notar como aquilo soou horrível apenas saindo de seus lábios. Ouviu Mason cantarolar algo em negação ao seu lado, logo se aproximando mais dele.

— Mas é por um bom motivo e você sabe. — Mason ressaltou num tom firme. Passando o braço direito pelos ombros do Dunbar, que lhe enviou aquelas orbes azuis normalmente cheias de brilho, agora nubladas pela preocupação que o acertou em cheio. O humano prosseguiu. — Quando for a hora certa. Ela vai entender mesmo que queira socar sua cara no segundo seguinte. — Continuou mantendo o timbre cuidadoso e sério de início, isso antes de Liam emitir um riso baixo não conseguindo se conter. Corey negou com a cabeça rindo anasalado pela honestidade do namorado, que prosseguiu conduzindo o clima do melhor modo possível. — Conhece sua mãe, e eu também a conheço desde.. sempre. Então, sabe o que tô falando. — Ergueu de leve as sobrancelhas. Liam sorriu ladino para ele, deitando a cabeça no ombro do melhor amigo.

Sentia a tensão em seus músculos se dissipando aos poucos, pois se conhecia bem sua mãe, sabia que a mulher loira podia ser durona e meter medo quando preciso. Mas ela sempre buscava ficar ao lado dele nos momentos difíceis. Esperava estar um pouco certo na expectativa dessa vez.

— Eu só.. não quero decepcioná-la de novo. Já fiz isso demais. E ela e meu pai confiaram em mim pra ficar por conta própria aqui em Beacon.. — O beta desabafou meramente, enquanto gesticulava com uma das mais num nítido tic nervoso. Mason apertou os lábios numa feição compreensiva apenas ouvindo-o, trocando um breve olhar com Corey. Logo segurou a mão esquerda do amigo afim de induzi-lo a desacelerar. Liam engoliu em seco negando com a cabeça. — Eu só faço tudo errado.. — Murmurou pesaroso, enquanto brincava com os dedos do Hewitt. Corey após alguns segundos negou com cabeça encarando os dois garotos, arrumando de repente a postura no outro sofá. O que chamou a atenção do Dunbar. O chimera possuía um olhar determinado.

— Uma coisa você fez certa. — Corey disse de maneira convicta. Liam franziu de leve a testa. — A Lori, ela com certeza não é um erro. E, é. Pode não ter sido num momento bom pra ninguém. Mas já aconteceu, e agora resta apenas aproveitar o momento. Porque apoio, você tem de sobra. — Ressaltou num timbre tranquilo e paciente. Notando Mason esboçar um sorriso carinhoso na direção dele como agradecimento. Bryant continuou. — Você sabe o que é melhor pra sua filha. E Jenna como mãe, vai entender isso uma hora ou outra. Então agora, para de ficar se cobrando desse jeito, okay? — Pediu de um modo firme. Liam piscou surpreso. Não sabia que precisava ouvir tais palavras neste instante até ter elas preenchendo seus ouvidos.

— Obrigado. Aos dois. — Disse quase que num fio de voz. Mas a sinceridade era palpável. Mason direcionou um sorriso gentil ao beta, antes de bagunçar de leve os cabelos do mesmo. Liam fechou os olhos rindo mais descontraído.

— Somos seus amigos, e claro que padrinhos da sua filha também. Não precisa agradecer. — Mason comentou de um jeito modesto. Fazendo Corey revirar os olhos mas concordar de imediato. Liam emitiu uma gargalhada baixa deixando um aperto carinhoso no ombro do humano. Respirando fundo depois. Sentia-se mais leve até.

— Vou ligar pra Malia, avisando que já podem voltar. Theo deve tá a raiva em pessoa por ter sido arrastado pra fora de cas.. — Liam se interrompeu assim que seu celular tocou em cima da bancada da cozinha. O toque estridente e familiar preenchendo a residência. O beta franziu a testa caminhando em passos meio rápidos. Não demorando a agarrar o dispositivo.

Arqueou uma das sobrancelhas em curiosidade assim que viu o nome Derek Hale brilhando no visor. Levou o aparelho até a orelha após clicar no botão verde.

— Oi, pode falar. — Disse um tanto intrigado mas de modo manso. Apoiando o corpo contra a bancada. No entanto, logo voltou a ficar alerta assim que recebeu o falatório frenético de Stiles em seus tímpanos. Liam franziu a testa agoniado. — Wow! Stiles, fala devagar! Não tô entendendo merda nenhu.. — Sentiu como se tivesse perdido a voz. Tudo a sua volta se desligando subitamente ao receber a informação, porém de uma maneira nada confortante.

Seu coração acelerou desenfreado, suas pupilas dilataram rapidamente e não tardou a brilhar suas orbes num ato instintivo. A tensão retornando a seu corpo com tudo. Não, ele não ouviu isso. Não pode ter escutado certo. Não podia ser. Ele clamou várias vezes em sua mente perturbada, onde a seguinte frase ecoava.

Malia tentou impedi-los, mas o Theo.. ele sumiu.

Liam não ouvia mais nada ao seu redor além dos instintos gritantes de seu lobo praticamente corroendo seu ser. Os batimentos cardíacos pesados, o nervosismo cortando-o de dentro para fora quase como uma lâmina quente. E sem contar na culpa que pulsava em seu sangue.

Ele apenas conseguiu discernir que correu, apertou o passo o mais depressa que lhe foi permitido. Isso não ficaria assim, ele iria descobrir exatamente o que houve. Cada detalhe, e principalmente. Traria seu namorado e filha de volta. Iria garantir de quem quer que tenha ousado tocar neles, não visse mais a luz do dia.

*

A van se movia com uma certa velocidade na rua deserta. O asfalto meio mal acabado naquela área da cidade, dificultando o trajeto cuidadoso que Katherine havia exigido aos seus homens. Embora algumas falhas tenham ocorrido nessa etapa do plano, o resto se encaminhava para um possível sucesso. Felizmente o improviso se encaixou quando preciso.

O líder do grupo de funcionários, Luca, permanecia atento atrás com mais quatro caras. Totalmente voltado a Theo, que até então encontrava-se apagado. Os olhos castanhos do homem sequer piscavam direito, ocupado em checar o visor do monitor hospitalar preso no canto direito do automóvel. Os batimentos cardíacos do gestante permaneciam estáveis até então, mas todo cuidado era pouco.

— Conseguiu contatar ele ou não, Calum? — O latino loiro perguntou em seu tom grave e impaciente. Ao mesmo tempo em que arrumava os fios conectados ao peitoral de Theo. O cara no banco do motorista bufou, virando o volante com certa força na hora de dobrar uma rua. — Cuidado, seu idiota! Sabe que essa van tem tudo solto praticamente. — Disse raivoso para o tal. Sinalizando com o olhar para o outro rapaz próximo a ele que segurava firme a maca de ferro, permanecesse atento na função.

— Ele deve ter enfiado o celular no rabo. Deu tudo caixa postal! E olha que ele provavelmente chegou primeiro que nós. — Calum respondeu aborrecido. Apoiando o cotovelo esquerdo na porta do automóvel, descansando o rosto na palma ao negar com a cabeça. Seu olhar sombrio, agora pensativo e tenso. — A discrição já era. — Ressaltou subitamente. Para que os outros não comemorassem cedo. Voltou a segurar o volante com as duas mãos, apertando o acolchoado.

— E três de nossa equipe também. — Murmurou o homem ao lado dele no banco do passageiro, conhecido como Will. Poderiam ser apenas codinomes, mas era necessário para a comunicação em segurança quanto as verdadeiras identidades. Ou seja, ficava por isso mesmo. Ali não importava muito a intimidade, e sim o nível de profissionalismo. — Aquela coiote desgraçada.. — Disse entredentes. Suas mãos grandes contraídas em punhos. Luca na traseira da van, revirou os olhos. Checando uma última vez o monitor conectado ao chimera antes de mudar seu foco.

— Pelo menos você não levou um arranhão na panturrilha. — O líder comentou como quem não quer nada. Ajeitando-se melhor no chão do veículo que balançava um pouco. O ferimento latejava, mas não tinham tempo para isso no momento. Evan, que permanecia com os dedos firmes nas barras da maca, praguejou alto quando a van tremeu. A maca quase indo abaixo se não fosse por Luca na lateral. — Olha a porra da rua, Calum! Merda. — Resmungou sibilando de dor. Ouvindo a concordância despreocupada do agente dirigindo. Bufou. — Landon, verifica a coxa dele. — Mandou, direcionando a ordem para um rapaz negro atrás de si nos bancos, este que logo se esgueirou para perto de Theo. Luca respirou fundo, enxugando o suor na testa. — Não tínhamos permissão pra usar força letal a hora que desse vontade, mas como sempre.. o imbecil do Brian tinha que bagunçar tudo. — Disse em desgosto. Sustentando um semblante sério.

Assistia seu colega desenfaixar a coxa direita do chimera. Expondo a pele com restante de sangue seco, e ocasionalmente o buraco deixado pela bala já retirada na base do improviso. Estava até esse tempo, meio em carne viva, porém parecia curar lentamente. O que não levou nenhum deles a raciocinar sobre isso ser um sinal nitidamente preocupante. O rapaz inclinou o canto dos lábios para baixo ao analisar, constatando normalidade. Porém, esperando que Luca se pronunciasse.

— Deve ser por conta do tranquilizante. Katherine disse que um dos efeitos seria retardar um pouco a cura. Deixa enfaixado isso aí. — Ele abanou a mão na direção do ferimento. Landon assentiu voltando a cobrir a ferida, dando um breve aperto afim de grudar bem o esparadrapo. Surpreendendo-se quando a perna de Theo saltou de leve em reflexo a provável dor que sentiu devido a pressão. Luca franziu a testa intrigado, observando o rosto do Raeken se contorcer minimamente. Mas não acordando na hora.

— Esse tranquilizante.. não duraria pelo menos uns dois dias até ter que repor a segunda dose durante o trajeto pra América do Sul no helicóptero? — Ronan, o rapaz responsável por injetar o veneno de kanima em Malia, se pronunciou um tanto agitado. Ainda mais assim que uma hipótese cortou seu raciocínio após observar melhor o monitor. Moveu-se devagar para não esbarrar em ninguém. Logo trocando de lugar com Landon que não retrucou. Iniciou uma breve averiguação no gestante, usando seus conhecimentos da época de enfermeiro. Examinou-o externamente, dando foco para o abdômen avantajado. Não demorando a notar um certo detalhe, que o fez travar. — Luca, me dê sua mão. — Disse sério e direto. A medida que tentava processar.

— Quê? Por que? — O Luca tinha as sobrancelhas franzidas em desconfiança. Olhando de cima a baixo o outro. O agente nervoso soltou uma lufada de ar impaciente. Antes de agarrar o pulso do latino loiro com rapidez, colocando a palma contra o baixo ventre de Theo. Ele ficou confuso por uns instantes, somente mantendo a mão parada. Ronan negou com a cabeça, lamentando por não poder meter um soco em seu colega.

— Apalpa a barriga dele. Não sente? — Ronan encorajou o líder num tom firme acompanhado do semblante óbvio. Mirando suas orbes claras na direção dele. Luca suspirou cedendo, voltando-se a barriga do chimera, agora mais concentrado. Tateando a área de maneira leve, devido ao aparelho de cardiotocografia que cuidava dos batimentos da bebê a cada segundo. Luca franziu a testa, elevando o olhar vagamente para Ronan.

— A barriga dele tá.. dura. Como se os músculos estivessem tensos.. — Foi então, que um estalo ocorreu na mente do rapaz fazendo-o se interromper. Ronan apenas deu a confirmação a ele através do olhar. Luca arregalou os olhos. — M-Mas espera! Como.. nós não demos o.. — O líder deixou o silêncio pairar por alguns instantes após raciocinar. Virando a cabeça lentamente na direção do quinto membro da equipe, Augustus. Que alternou a atenção para os rostos dos demais assim que percebeu o olhar mortal sobre si. — O que foi que você fez.. — Ralhou. O homem ergueu as mãos em sinal de rendição.

— Como assim? Apenas injetei o tranquilizante que o Brian havia me entregado horas antes.. — Se deu conta do erro no mesmo segundo. Assistindo Luca comprimir os lábios em aborrecimento. Quase pulando nele se não fosse por Evan. Augustus praguejou passando a mão pelos cabelos por debaixo do boné de estampa camuflada escura. — O desgraçado.. ele..

— Ele deu a porcaria da substância responsável por induzir o parto! — Luca deu um rápido soco no braço esquerdo do colega, que reprimiu um resmungo. A inquietação dominando todos. — Só usaríamos depois. E os frascos são totalmente diferentes, como você não percebeu? — Disse quase gritando. O outro rapaz ficou sem ação a princípio.

— Estávamos na correria. E esse cara não parava de se debater! Era tudo ou nada! — Apontou vagamente para Theo. Luca o xingou um pouco mais, em português para ser específico.

Ronan do outro lado do veículo bufou cansado daquilo. Só virou o rosto para verificar os monitores, deixando nítido em sua feição o alarde na mesma hora ao estudar o gráfico exibido no visor. Compreendendo aqueles sinais mínimos.

Nem precisou alertar aos outros. Os aparelhos se encarregaram disso depressa. Apitando um tanto alto, indicando alterações bruscas nos batimentos de Lori primeiro. Assim como os de Theo em seguida, que apesar de se manter imóvel, a dor que sentia consumindo seu baixo ventre era refletida em seu ritmo cardíaco. As contrações haviam começado.

— Você é um idiota! — Calum gritou. Seu olhar enraivecido destacando-se no espelho retrovisor ao encarar Augustus lá trás. Teriam que raciocinar, e rápido.

*

— Não podemos simplesmente sair farejando! Daqui a pouco vai anoitecer, e sabe lá onde esses imbecis podem estar. E quanto tempo vamos perder com isso! — Malia praticamente gritava o óbvio enquanto todos a sua volta discutiam sem parar sobre diversos meios e planos mais viáveis. Só que não havia vantagem nisso por conta da falta de tempo.

A coiote já não aguentava mais. E embora restasse alguns ferimentos para se curar em certas áreas, sentia que poderia apagar um por um se não houvesse organização de uma vez.

E Adam pareceu ler os pensamentos dela na hora exata. Não hesitando em puxá-la para perto no mesmo instante assim que a Hale fez menção de se erguer do sofá, o que a irritou em partes mas no fundo até.. agradecia por aquela atitude. O francês a ajeitou melhor no meio de suas pernas. Com o intuito de poupa-la do esforço por mais uns minutos. A quantidade da toxina paralisante havia sido forte, e o restante da substância a ser eliminada, a fazia cambalear as vezes.

Derek bufou pesado direcionando o foco a prima, que devolveu a atenção mas só deu de ombros. Deixando claro sua falta de paciência para sugerir qualquer coisa no meio desta muvuca. O Hale deu um breve aceno de cabeça guiando as orbes verdes para encarar os demais inquietos. Descruzou os braços. Logo colidindo sua palma três vezes contra a mesa grande onde antes apoiava o quadril. Produzindo ruídos agressivos. Não demorou para todos diminuírem o ritmo, os olhos voltados ao lobo de imediato.

— Nós já lidamos com situações semelhantes. E não vamos encontrar solução nenhuma se essa bagunça continuar! — Derek disse firme, erguendo as sobrancelhas quando o falatório quase retornou outra vez. Lançou um olhar sério ao namorado, que apertou os lábios se interrompendo rápido. — Stiles, por favor. — A gentileza no modo como repreendeu não passou despercebida, mas sua carranca a tempos não vista, indicava o nível de seriedade. — Com gritaria nada que preste vai vim a mente. — Suspirou dizendo por fim, enquanto analisava os membros. Principalmente Lydia, que apesar de não proferir nada. Andava de um lado para o outro agitada. A feição denunciando preocupação.

O Hale desviou o olhar vagamente para o alpha no canto do loft, encostado no portão entreaberto. McCall depois de tanto tentar cessar o balbúrdio da alcatéia, apenas escolheu se locomover para longe afim de clarear um pouco o raciocínio. Era o líder, e possuía o conhecimento disso mais que gravado em seus instintos. Mas as vezes nem sempre vamos ter o tão desejado controle das situações, quem dirá a maneira como as pessoas reagem.

Scott havia se descontrolado um pouco, admitia. E Isaac foi ágil em ajudá-lo a estabilizar seu lobo. O loiro permanecia atrás do alpha em silêncio até então, ancorando-o num abraço por trás ao mesmo tempo em que vigiavam a movimentação na rua. Os raciocínios de todos corriam acelerados demais, uma completa bagunça. Mas no momento, McCall precisava ter forças para acudir a pessoa ainda mais afetada nisso tudo que estava para chegar. Podia imaginar como Liam se sentia, mas para seu beta com certeza a sensação era três vezes pior.

— Parrish disse que está a caminho. — Lydia informou de repente. Suas mãos meio trêmulas ainda, segurando o celular com os olhos voltados no visor. Vendo mais uma mensagem do namorado chegando. — Disse ser urgente. Ele sabe... sabe que o Theo e a Lori estão em perigo. — Ela completou praticamente num murmúrio. Que por sorte deu para todos captarem. A ruiva sentiu a ansiedade atacando aos poucos, fazendo-a prender os cabelos num coque apertado. Estava para lá de tensa. Com uma expressão assombrada. — Por favor, que ele tenha notícias. Por favor.. — Dizia baixinho para si mesma feito um mantra. Stiles acariciou o ombro da amiga.

— Mas como ele soube? — O humano não conteu a pergunta, seu lado investigativo falando mais alto como sempre. A Martin apenas guiou o celular subitamente para o rosto do Stilinski, que afastou em reflexo a face. Mas não deixando de ler a primeira mensagem seguida das outras antes do cão do inferno ficar offline. Certamente a frase do início deixada pelo policial, chamou sua atenção.

| Vigiar o aeroporto realmente teve suas vantagens. E agora, conheci alguém que pode nos ajudar. Por favor, amor, avise todos. Explico melhor daqui uns minutos.

Stilinski leu em voz alta. Trocando olhares com todos mas especialmente com Scott, que se desvencilhou de forma mínima de Isaac mas não soltou a mão do loiro. O rosto do alpha era um misto de desconfiança e expectativa. Stiles comprimiu os lábios, negando com a cabeça. Os olhos âmbar mirados no chão.

— Quanto mais eu penso que os sobrenaturais estão ganhando algum espaço bom que seja nessa merda de sociedade.. — Resmungou o filho do Sheriff, praguejando baixo e esfregando os rosto. Em seus poucos gestos era nítido o aborrecimento. Não muito diferente de como os outros se sentiam. — Vergonha de respirar o mesmo ar que gente ignorante. — Caminhou devagar distraído para a mesa de madeira próxima a Derek. Apoiando o quadril ali e cruzando os braços, porém logo levando a mão esquerda a boca. Roendo a unha do polegar.

Não levou nem três segundos para sentir o braço de Derek enlaçando sua cintura e puxando-o contra o peitoral dele. O que o humano agradeceu sem dúvidas. Direcionou aleatoriamente o foco para Malia enquanto se aconchegava no lobo, notando sangue meio fresco escorrendo pelo antebraço dela. Franziu a testa analisando aquilo, e o Hale seguiu o olhar do outro.

— Não falei pra tirar essa bala logo daí, Malia? Vai atrapalhar sua cura. E não estamos com tempo vago pra emergências extras. — Disse mantendo a costumeira carranca. Porém, soava mais preocupado, do que como uma bronca. Embora não soubesse ser tão atencioso com os outros como com Stiles. Tentava seu melhor. — Adam, pode fazer isso? — Questionou sem pestanejar. Assistindo o francês limpar um pouco do sangue na pele dela com seus dedos. Logo o menor assentiu não pensando duas vezes. — Ótimo. O kit de primeiros socorros tá numa gaveta no meu quarto. Vão lá. — Instruiu apontando para a escada espiral.

— Nem é pra tanto.. — Malia protestou com sua feição emburrada. Sendo conduzida gentilmente pelo bruxo, que revirou os olhos negando com a cabeça para a teimosia dela. Havia pedido para retirar a bala umas duas vezes antes de Derek se pronunciar. — Eu vi você revirando os olhos. — Resmungou em tom de ameaça. Adam apertou os lábios se encolhendo de leve, mas continuou. — Quando tudo tiver resolvido, você vai ver. — Completou por fim, apertando mais o passo. Aubert suspirou fundo mordendo o lábio inferior, apenas seguindo-a.

— Malia ainda não lida muito bem com culpa.. — Lydia comentou numa explicação breve após ver que a amiga já havia desaparecido pelos degraus com segurança. Um silêncio sufocante se instalou entre eles. Isaac ao longe arqueou uma das sobrancelhas, assim que acomodou seu queixo no topo da cabeça de Scott que estava um degrau abaixo a ele.

— Mas ela não teve culpa nisso.. — O loiro afirmou. A confusão estampada em seus olhos claros. A ruiva o lançou um olhar gentil e sorriso fechado, simples. Lahey compreendeu rapidamente, sentindo os braços de Scott entrelaçando nos dele. — Foi mal, as vezes esqueço do porquê ela acabou desaparecida por oito anos na floresta. — Ele murmurou timidamente, e baixo. Lydia suspirou, sentando-se na ponta do sofá próximo.

— Mesmo que ela saiba que não teve culpa quanto ao acidente da família adotiva. As vezes o sentimento ainda volta junto as lembranças. — Explicou em seu timbre rouco e tranquilo apesar da inquietação por dentro. Recordando-se do cenário em que encontraram a Hale na reserva. O sangue dela, e de Theo espalhados por cima de folhas secas e pedras. Sem contar nos três corpos mais que arrebentados deixados pela coiote, as lesões nada superficiais que até certo ponto os desfigurou. Sorte Noah ter deduzido o que ocorrera ali. Pensando se tratar a princípio de caçadores comuns. Menos uma coisa para lidar por hora. Não havia tempo para explicações dos detalhes. — Mas dessa vez, ela nitidamente fez de tudo pra salvá-lo. Que merda, ela tava tão animada pra...

Um ruído alto de algo metálico caindo contra o concreto no meio da rua soou. Lydia se interrompeu no mesmo instante. Direcionando o foco rumo ao portão aberto do loft. A tensão dominou todos. Scott e Isaac se posicionaram melhor, expondo parcialmente seus lobos. Derek caminhou se acomodando ao lado de Scott, expondo as garras em seguida. Estavam prestes a se antecipar, porém McCall os fez frear colocando os braços no caminho deles.

Ele reconheceria o cheiro de seu beta de longe. Mas principalmente a raiva. No entanto, nada seria capaz de camuflar aquele odor de pânico e confusão vindos do Dunbar. Scott engoliu em seco.

— Se afastem. — Apenas pediu. Sentindo Derek e Isaac obedecerem, apesar do loiro ter hesitado alguns segundos. Percebeu o resto do bando mais atrás executar o mesmo. O alpha suspirou, sua atenção fixa na entrada do local. — Não sabemos como ele..

Por um momento perdeu o dom da fala, assim que suas íris castanhas avistaram a silhueta do garoto adentrando. Com certeza em todos esses anos como lobisomem, nunca havia visto um lobo tão desolado quanto Liam no momento. E certamente, com a emoções bem bagunçadas.

Liam encontrava-se quase irracional. Seus olhos brilhantes com uma aura diferente demais para ser descrita. Suas presas a mostra de um modo totalmente predatório. Ainda mais com o perceptível sangue seco no canto da boca. Scott franziu a testa analisando aquilo, ignorando sua respiração meio trêmula. Constatou ser por conta dos lábios estarem sendo agredidos pelos dentes lupinos, estranhamente maiores agora.

O alpha despertou do choque de forma súbita, após receber um rosnado mais alto do que normalmente soaria. Era como se Liam não os enxergasse de fato ali. E por uns segundos não teve ideia do que fazer a princípio além de não executar movimentos bruscos. Isso antes do Dunbar fazer uma vaga menção em avançar.

Ergueu lentamente as duas mãos em frente ao corpo, brilhando os olhos no vermelho vivo sem pensar muito. Precisava impor sua presença. Mostrar para o lobo de seu beta que os inimigos não eram eles. Todavia, sem ter que usar medidas extremas. O mais novo já estava abalado o suficiente.

— Liam, me escute, por favor. — Pediu sem perder a postura tranquila, transpassando isso da melhor forma em seu tom aveludado. Liam soltou uma respiração profunda em resposta, que mais predominava grunhidos e rosnados raivosos. Não era um sinal positivo, mas ainda era alguma coisa. Ele continuou. — Sei que está furioso, que quer resolver tudo com as próprias mãos pra ter Theo e Lori a salvo.. — Outro rosnado mais intenso foi emitido pelo mais novo, parecendo um rugido baixo. Isaac ao lado de McCall quase se deixou levar pelos instintos de querer proteger seu alpha. Mas felizmente se conteve. — Queremos isso também. Porque somos sua alcatéia, sua família. Vamos fazer o impossível, mas primeiro.. você precisa retomar o autocontrole.. — Pediu devagar, porém num tom firme. A medida que ia movendo seus pés. Os olhos vermelhos focados nas orbes amarelas de Liam. Por um momento, pensou que o outro havia entendido. Até que avançasse com toda força em si.

Liam rosnava forte ao mesmo tempo em que golpeava o moreno diversas vezes, este que apenas usou de seus reflexos rápidos para segurá-lo da melhor maneira contra ele. Ignorando o máximo a dor das garras do mais novo cortando sua pele. Isaac até tentou se aproximar para ajudar o McCall, mas recebeu um olhar repreendedor do mesmo. Que não hesitou em lançar á Derek também. Precisava que todos confiassem nele neste instante em específico.

— Fecha o portão, agora! — Disse alto e meio desajeitado. Sendo atendido rapidamente pelo loiro. Não conseguiu conter o grito que escapou de seus lábios após Liam cravar as garras em seu tríceps. Scott rosnou reunindo forças para mover seu corpo para o lado, tentando cada vez mais imobilizar o garoto. — Derek e Isaac, fiquem atentos quanto aos outros. — Mandou não se importando muito em parecer um idiota por arcar com tudo sozinho. Lá no fundo, sentia que sabia o que estava fazendo. E não recuaria neste instante.

Derek e Isaac se apressaram em voltar para seus lugares anteriores. Notando que Stiles e Lydia haviam se locomovido para a cozinha afim de escaparem de serem possível alvo. O Lahey agradeceu mentalmente por isso, afinal. Já que segundos após redirecionar a atenção ao beta descontrolado, o sentiu colidir contra ele a toda velocidade.

O loiro caiu com tudo. O menor sobre si prestes a rasgar a lateral de seu rosto, entretanto, desviou e não soltou Liam. Ainda que o beta estraçalhasse sua pele em outras áreas. Por mais estranho de constatar, a dor era quase que... nada. De qualquer modo não reparou muito, somente se ergueu agilmente. Derek o ajudou ao agarrar os dois pulsos de Liam em frente ao corpo dele. Deixando as garras longe do Lahey.

Scott correu e foi rápido em passar um par de correntes não muito longo só para ganhar praticidade. Virou Liam de costas e o puxou mantendo-o praticamente encurralado em seu peitoral. Andou para trás até cair sentado próximo a parede do loft. Com o Dunbar em seu colo que ainda lutava para se soltar, mas o alpha era persistente.

— Liam! Você tem que parar! Isso não vai ajudar a trazê-los de volta! — Scott afirmou sério perto do ouvido do menor, que rosnou intensamente tentando mordê-lo. Por pouco não acertando a nuca contra o nariz dele. McCall respirou fundo. Deixando seu lobo mais no controle. — Liam! Chega! — Sua voz soou duplicada. Num modo grave e excessivo. Demorou alguns minutos, até que seu beta parasse de se debater totalmente. Os protestos violentos cessando num processo gradativo.

Restou somente as respirações ofegantes preenchendo o silêncio. E um Liam atordoado de maneira significativa, incapaz de focar praticamente nenhum de seus sentidos em uma coisa só a princípio, por míseros minutos que se assemelharam a horas. Pela primeira vez desde que tinha quinze anos. Era como se.. tivesse retornado àquele garoto assustado que apenas ansiava por jogar Lacrosse e reparar seus erros. Liam engoliu em seco, cedendo seu corpo cansado a cair contra McCall. Prensando os lábios maltratados ao tentar abafar um soluço inesperado.

Scott não hesitou. Acolhendo instintivamente mais o menor em seu aperto. Adiantando-se e desfazendo a bagunça de correntes nos pulsos dele. O tilintar do ferro pesado chocando-se no piso soou assim que as jogou longe. Sentia alívio em partes por ter arrumado meramente a situação. No entanto, sabia que a circunstância continuava a mesma. E a confirmação veio assim que o beta mostrou indícios de que desabaria.

— O que.. — Liam iniciou com certa dificuldade após inspirar o ar devagar. As lágrimas banhando suas bochechas silenciosamente. A essa altura ignorar o choro crescente pesando em sua garganta, não era opção. — O que aconteceu... me diz, agora.. — Choramingou baixinho a última a parte enquanto apertava os dedos de Scott, que trocou de relance um olhar com Derek e Isaac. Notando juntamente a silhueta de Stiles saindo detrás da bancada acompanhado de Lydia. Ele se voltou ao menor rapidamente.

— Aconteceu o que mais temíamos.. — Scott confessou num murmúrio, embora carregasse um aperto no peito por ter que afirmar justo o que menos desejaram. Liam comprimiu os lábios fechando os olhos com força, em nítido medo de ouvir o resto. O agarre firme na mão do McCall somente aumentando. O moreno retribuiu de qualquer modo, escolhendo com cuidado as palavras dessa vez. — Mas vamos trazer eles de volta, okay? Hey, Liam, olha pra mim. — Pediu afobado num tom suave, ajeitando-se para ter acesso novamente ao semblante de seu beta. Que ponderou um pouco em atender o pedido. — Liam, por favor.. — Insistiu. Seu rosto meio inclinado para frente em expectativa. O Dunbar rosnou baixo, cravando as presas no lábio inferior em reflexo antes de erguer o olhar. — Nós não abaixamos a cabeça, lembra? Principalmente você. Sempre lutou com esse seu jeito destemido, ainda que sentisse medo. — Arqueou de leve as sobrancelhas para enfatizar. Liam respirou fundo, procurando organizar os pensamentos. — Nós todos vamos fazer o mesmo. — Garantiu convicto. Suas orbes castanhas fixas nas do beta, que haviam parado finalmente de oscilar no amarelo forte.

Lydia que até então mantinha uma distância segura deles. Logo tomou atitude quanto a se aproximar após alguns segundos. Seus passos cautelosos chamando a atenção de Liam que direcionou o olhar angustiado a ruiva. Stiles entreabriu os lábios cogitando em interrompê-la, mas Derek fez um sinal em negação com a mão.

A banshee se ajoelhou em frente ao Dunbar, levando a mão aos cabelos bagunçados dele que possuíam pequenas folhas espalhadas nas madeixas, as quais ela removeu. Jogou os fios para trás um pouco, deixando uma breve carícia na lateral do rosto do beta. A Martin sustentava aquela aura materna em sua feição.

— Se você sozinho já foi capaz de salvar inúmeras pessoas. Com a gente ao seu lado.. vai ser ainda mais rápido encontrar o Theo e a Lori. — Ela disse devagar. Sua postura e voz confiantes. Liam fungou assentindo minimamente, lançando um olhar agradecido a banshee enquanto saía de cima das coxas de seu alpha.

— Ela tá certa. — Uma voz extra soou no local de repente. Liam virou a cabeça depressa, emitindo um rosnado automático. Parrish ergueu as mãos em frente ao corpo em reflexo, trombando de leve as costas com o portão agora aberto. Por pouco não ocultando a presença de sua colega de trabalho atrás de si. — Desculpe. Tentei chegar mais cedo, mas..

— Ele trouxe ajuda! — Mason chegou agitado completando meio alto e ofegante por ter subido as escadas correndo. Não muito diferente de Corey ao lado dele. Parrish assentiu mordendo o lábio inferior, afastando-se para o lado. Revelou a coiote, que não perdeu tempo em analisar vagamente cada rosto ali.

Brooke recebeu olhares nada receptivos dos integrantes, mas a essa altura, estranharia se não fosse dessa maneira.

Hewitt direcionou uma feição compadecida a Liam. O melhor amigo estava péssimo, e sempre odiaria vê-lo assim. Corey apoiou a mão no ombro do namorado, incentivando todos a entrarem logo. Brooke pigarreou, atraindo o foco de todos para si. Tentaria ser breve o máximo possível.

— A explicação é longa. Mas a solução que tenho para ajudá-los não os fará perder tempo. — Foi direta. Suas orbes castanhas enviando um certo conforto inusitado. Embora estivessem para lá de tensos. Derek suspirou apertando os lábios, cruzando os braços contra o peitoral ao se colocar em frente a garota alta.

— Então, pode começar. — O Hale ditou. Sua costumeira carranca retornando.

Stiles ao longe sentiu um sentimento ruim no peito. Trocou vagamente um olhar com Scott. Os tempos sombrios tinham que retornar justo agora?

*

Aquele ruído suave, maldito som sútil de pingos de água. Mas que ainda assim sempre foi um dos detalhes que Theo mais detestava. Sua cabeça latejava sem dúvida. Sendo uma das primeiras coisas que notou assim que a consciência resolveu retornar aos poucos. A confusão palpável, presente até demais. Sua visão um tanto turva não ajudava em nada. Porém, não demorou para se dar conta de onde estava.

Fedor de esgoto invadiu suas narinas sem demora. Sua espinha gelou automaticamente. A respiração tornando-se ofegante em resposta. Principalmente quando enfim conseguiu abrir as pálpebras. Ele nunca desejou tanto que pudesse desaparecer como agora.

Os túneis não haviam mudado nada. Assim como seu passado deprimente e fúnebre. Certos utensílios permaneciam no mesmo lugar, enquanto outros já quase totalmente corroídos pelo tempo, mal pareciam ter histórias perturbadoras para contar. Theo mordeu o lábio inferior após senti-lo tremer, levando depressa a mão esquerda até o abdômen. Suspirando aliviado sem se conter. Embora, o sentimento não tenha durado muito assim que notou algo estranho e meio úmido entre suas pernas.

Primeiro pensou se tratar somente da água imunda que sempre revestia aquele lugar por culpa dos vazamentos. Afinal, estava no chão gelado a sabe lá quanto tempo, sem contar nas correntes que prendiam seus pés.

— Mas o que.. — Balbuciou em partes meio perdido, passando a outra mão pelo tecido de sua calça moletom meio velha, e olhando pelo piso ao redor de si vagamente. Porém, mal foi capaz de iniciar algum raciocínio. Quando uma dor súbita e violenta se manisfestou em seu baixo ventre.

Theo entreabriu os lábios pelo susto. Fechando os olhos com força e contraindo os dedos dos pés agora descalços. Ele puxou duas lufadas de ar devido ao choque, encarando um ponto fixo qualquer nas paredes enquanto tolerava aquilo. Não, não podia ser..

— Filha, por favor, agora não, não.. — O chimera murmurou num tom embargado e temeroso. Apertando os lábios rosados formando uma linha. Ele resmungou um tanto alto ao abaixar meramente a cabeça, quase deitando seu corpo ali mesmo. Percebia Lori se mexendo uma vez ou outra, mas ao mesmo tempo.. havia algo errado. Ele podia sentir. Theo fungou já ignorando a hipótese de conter as lágrimas. Levantou um pouco a bainha de sua blusa para acariciar a pele por ali com cuidado. — Eu juro.. não era pra ser assim. Não aqui.. — Seu tom falhou na última parte enquanto analisava sua barriga. Só então finalmente lembrando-se do que Melissa explicou uma vez. Claro, o líquido amniótico, era a única explicação. — Puta merda.. — Disse num sussurro alarmado. Esfregando o rosto, e engolindo em seco. Sua expressão desacreditada. Ainda que talvez em algum instante tenha passado pela sua mente aflita, se manter calmo. Não ajudou muito quando captou movimentação extra no local.

Eu sabia! Sabia que com essa parte da tarefa, ele não ia ser capaz! — Uma voz grossa e aborrecida soava pelos quatro cantos da área. O eco apenas apavorando cada vez mais Theo que se encolheu de maneira automática. Fechando os olhos em agonia ao abraçar mais o abdômen, apertando o tecido da roupa entre os dedos. Tentava permanecer o mais silencioso possível, trabalhando no exercício de respiração com o intuito de deixá-la estável. Apesar da dor interna o corroendo ser quase insuportável. Theo choramingou baixinho, soltando o ar devagar pela boca. Firmando melhor seu braço no chão. — Não temos como realizar o procedimento aqui! Não era esse o combinado! — O rapaz ao longe esbravejou novamente. Porém, desta vez parecendo mais próximo.

Não sei se percebeu, Calum. Mas o combinado já era! — Outro alguém rebateu no mesmo tom, com certeza carregando o triplo de raiva que expressava nas palavras. — O Dr. Vincent, morreu! Tá legal? Aquela alcatéia arruinou tudo, já era. O único que temos mais familiarizado em medicina é o Ronan mas nem sei se com ele temos chance agora.. — O rapaz após isso acertou fortemente alguma superfície para extravasar o ódio, o que executou um ruído alto. Theo deu um sobressalto devido ao susto, mexendo-se devagar afim de arrumar a postura. O pânico crescendo em seu peito somente piorando seu ritmo respiratório. Ele ofegou um tanto alto no momento em que as contrações aumentaram a intensidade. Apertou os dedos da mão num punho. Aquela dor, nossa, um tiro doeria mesmo. — Espera, ouviu isso? — O coração do chimera quase parou com aquela pergunta.

Luca, ali. — Theo rosnou ao ouvir os passos se aproximando. Neste instante quis amaldiçoar ainda mais aquele lugar por nunca ter tido cantos descentes para se esconder quando precisou.

Principalmente esse. Estava apenas acomodado na lateral de um freezer médio, que o ocultava da visão dos homens só até metade de seus pernas. O chimera respirou fundo com força, buscando concentração até expor suas garras pelo menos. Foi pontual, pois logo em seguida as silhuetas dos indivíduos apareceram a sua frente com alguns metros de distância.

Theo comprimiu os lábios, trazendo aos poucos suas pernas para cima afim de fazer uma espécie de escudo para sua barriga. Seu olhar ameaçador vidrado nos homens fardados. O rapaz loiro ao longe, riu de escárnio, analisando o chimera. Calum ao dele, fazia o mesmo.

— Sabe que não adianta, não é? — Soou retórico o latino. Se aproximando bem lentamente. Só o suficiente para provocar a ira de Theo, que rosnou alto exibindo as presas. Dando uma mensagem clara de que seriam atacados outra vez por suas garras. Luca arqueou a sobrancelha, trocando um vago olhar tranquilo com Calum. Antes de redirecionar o foco ao gestante em seguida. — Sua bolsa já estourou, idiota. Não tem mais o que fazer a partir daqui. — Disse num tom duro. Notando o quanto o fato abalou o chimera apenas pelos olhos marejados dele, que oscilavam no amarelo forte. O agente manteu sua feição calculista, parando no trajeto e agachando-se para ficar na altura do Raeken. — O plano pode ter mudado nas etapas. Mas o objetivo permanece intacto. — Seu tom alto e arrogante preenchendo os ouvidos de Theo feito facadas. O chimera negou com a cabeça minimamente ao entender o rumo daquilo, encolhendo-se ainda mais. As lágrimas já escorrendo por suas bochechas e misturando-se ao pouco do suor em seu rosto. As dores no abdômen, certamente não ajudavam. Luca adotou um olhar maníaco, assentindo enquanto esboçava a sombra de um sorriso. — Sim, isso mesmo. Nós vamos pegar sua filhinha. E você não vai poder fazer nada. — Deu ênfase na última parte de maneira ácida. Raeken encarou o indivíduo com suas orbes lupinas, rosnando alto instintivamente. Luca riu anasalado. — Patético. — Murmurou antes de se erguer. Virando-se e caminhando na direção de seu outro colega. — Chega. Vamos aprontar logo tudo. E vai ser com você, Ronan. — Sentenciou impaciente. O rapaz deu um passo para trás.

— O quê? Você tem ideia do quão arriscado isso é? Quer que o feto sobreviva como, inteligência? — O nervosismo era perceptível em sua linguagem corporal e tom alterado. Luca esfregou o rosto, parecendo estar executando uma contagem mental para não extrapolar em suas atitudes. Ronan desviou o foco por míseros segundos para Theo, notando a quantidade do líquido da bolsa que ele havia perdido. Suspirou negando com a cabeça. — Eu não sei se consigo fazer isso. — Confessou entredentes. Luca bufou incrédulo. Se aproximando mais do agente.

— Você vai ter que conseguir. Porque meios de manter o ítem vivo é o que não falta. E lembre-se, não é um feto comum. — Contra argumentou ao mesmo tempo que gesticulava com seu braço direito, apontando para o chimera atrás de si. Ronan apertou os lábios ainda ponderando, até que enfim assentiu. De qualquer jeito faria de tudo para não perder aquele emprego, e de quebra não declarar perda total do cargo dos colegas também. Luca acenou com a cabeça deixando um rápido toque no ombro de Ronan. — Okay, eu e os rapazes pegamos alguns materiais na van enquanto vocês..

O latino loiro precisou se interromper bruscamente. Assim que o grito de Theo ecoou pelo local. Calum em reflexo agarrou a arma de seu coldre, mas Luca apenas fez um sinal rápido com a mão pedindo para abaixar pistola a medida que assistia o chimera.

Theo já não se preocupava em conter as exclamações. Seus dedos com as juntas já brancas segurando com toda força a primeira coisa que achou perto de si. No caso, correntes caídas na parede próximas a ele. Só evidenciava aquilo que Ronan havia alertado. As contrações ficariam mais intensas com o passar dos minutos. O líder voltou-se ao rapaz alto, que logo captou a exigência mas principalmente dúvida em seu olhar.

— Temos doze horas. Tempo em média após o rompimento da bolsa. — O agente informou aumentando um pouco o tom de voz, assim que percebeu a chegada dos outros homens. Calum e Luca assentiram, o loiro as vezes alternando de relance o olhar entre os outros e Theo que ainda se contorcia e tentava buscar fôlego. O ex-enfermeiro prosseguiu. — Passando disso o feto lança mão de mecanismos de defesa pra se adaptar á ausência de oxigênio, e isso pode levá-lo a morte. — Alertou de um jeito instintivo, porém logo recebendo uma feição desdenhosa de Luca. Revirou os olhos. — Claro, se fosse um bebê humano. — Acrescentou com menos tensão. Virou a cabeça para o restante da equipe, deixando um toque forte no ombro de Augustus que praguejou encarando-o irritado. — Você vai me ajudar a arrumar tudo aqui dentro nesse meio tempo que os rapazes buscam as máquinas na van. Afinal, a culpa dessa merda é sua. — Ressaltou adotando um olhar cínico, antes de bufar. — Bora! A hora tá passando! — Gritou subitamente, batendo palmas num encorajamento. Os caras não demoraram a se mexer. Permitindo retornar por uns instantes o maldito silêncio.

Theo mal conseguia assimilar. Seu raciocínio a cada segundo acelerando sem intervalos, mas nenhuma ideia do que fazer vinha. Estava impotente mais uma vez, e num momento onde sua filha precisava dele. Justo o que mais temeu desde o início. O mais velho levou as mãos até os cabelos, apertando os fios durante a onda de desespero que tomava seu corpo. O que somente pareceu contribuir para a potência das contrações. Ele chorou alto, como há muito tempo não fazia.

— Eu errei, e-eu sei.. — Murmurou embargado quase se engasgando. Soara abafado por estar com o rosto escondido. Decidindo inspirar o ar com força novamente mas isso não anulava sua respiração trêmula. — Me desculpa, me desculpa, Lori... — Dizia baixinho em meio aos soluços. Levando a mão direita até a barriga afim de deixar carícias na área com cuidado. Mal enxergava devidamente no momento por conta dos olhos molhados. — Eu juro que tentei de tudo, filha.. — Disse após limpar vagamente a bochecha esquerda, não conseguindo terminar. Fechou as orbes automaticamente assim que outra contração veio. Theo socou o chão em reflexo, soltando o ar pela boca. — Mas seu pai não passa de um imprestável agora.. — Lamentou num tom amargo, embora odiasse isso.

O chimera ergueu a cabeça assustado assim que viu um dos homens retornando àquela área dos túneis após míseros minutos de mudez no local. Theo rosnou entredentes, seus olhos cravados nos movimentos da figura sorrateira do troglodita alto que quase lhe socou na reserva. A essa altura, seus instintos ignorando sua vulnerabilidade física pareciam mais do que bem-vindos.

O sujeito sustentava um sorriso ardiloso, a medida que depositava os aparelhos pesados no chão. De repente resolvendo logo em seguida mover os calcanhares rumo a ele. Theo suspirou fundo não desviando o olhar do cara. Agradecendo mentalmente pelas contrações estarem diminuindo por hora.

— Só saiba, que não é nossa prioridade manter você vivo. — O barbudo afirmou com um cuidado cínico na voz. Suas orbes castanhas examinando Theo incessantemente. O chimera esforçou-se ao máximo em ocultar o desespero pela proximidade, falhando um pouco na tarefa no fim. O rapaz riu em deboche, encurralando mais o outro, porém não o suficiente para receber um arranhão que seria certeiro em seu rosto. Ele se esquivou a tempo para trás. Rindo desdenhoso em divertimento. Theo moveu uma das pernas rápido, por um instante esquecendo das correntes, as quais o impediram de executar o chute no meio do trajeto. Will segurou com força o tornozelo do Raeken, fazendo-o paralisar. — Assim que pegarmos sua ratinha. Pode ter certeza de que já sei o que fazer com você. — Disse em seu timbre grave e rouco, aumentando gradativamente o aperto do agarre.

Theo abafou um choramingo no fundo da garganta. Não aguentando mais encarar aquele infeliz. De qualquer modo abaixou o olhar sem muita escolha assim que precisou reunir forças novamente para aguentar outra onda dolorida em seu baixo ventre. Neste instante se perguntava em que momento sua resistência a dor havia ido.

O homem negou com cabeça bufando despreocupado. A impaciência em sua feição. Somente soltou de uma vez o tornozelo do gestante, que praguejou lançando um olhar raivoso na direção do fardado que se afastou finalmente.

Theo buscou ar com o intuito de afastar novas lágrimas. Ainda que isso sequer tenha funcionado. O chimera abraçou a própria barriga com as mãos trêmulas, apesar das contrações a cada segundo mais torturantes. Sabia que tinha que ser forte. Não iria ficar por isso. Não podia ser.

*

— Espera, espera um pouco... — Por um instante Isaac sentiu-se desnorteado como na vez em que o abateram na França. Scott se adiantou em passar o braço pelo tronco do loiro, firmando-o contra seu corpo. Lahey não disfarçou estar agradecido por aquilo. Entretanto, ele prosseguiu ainda tentando digerir tudo. — Então.. na noite em que tudo ficou confuso e eu quase morri. Foi por causa...

— Sim, toda e exclusivamente culpa dela. — Brooke reafirmou no automático. Seu semblante transparecendo para os outros seu nível de profissionalismo, mas também um tanto de frieza. Eles não poderiam culpá-la de qualquer jeito. Isaac ao longe engoliu em seco assentindo. Ela continuou. — Katherine vem coletando sobrenaturais pelo mundo tem alguns anos. Ela é um dos grandes e principais motivos da organização a qual faço parte, ter sido criada com tanta discrição. Essa mulher é simplesmente insana. — Embora seu tom sereno. Era nítido a intensidade de sua raiva só nas palavras. — E graças ao deslize dos funcionários com relação a Isaac. Tivemos mais e mais pistas das intenções dela. Porém, não o suficiente para acabar com isso tudo. — Informou sem parecer tão calculista dessa vez. Demostrando sem notar um pouco de empatia pelo Lahey, que ainda possuía uma expressão atordoada.

— Mas por que nenhum de nós foi informado sobre isso? — Derek questionou num tom indignado. Suas sobrancelhas grossas franzidas e o olhar desconfiado. Stiles não estava muito diferente, literalmente. Era as vezes assustador como ambos adotaram os trejeitos um do outro.

— Na verdade, um membro da alcatéia de vocês foi informado. Porém, ele teve alguns problemas e precisou sumir. Provavelmente se lembram dele, não é? — A coiote alta soou sugestiva. Conseguindo a confirmação disso através da feição de completa surpresa do alpha. Scott mirou as orbes castanhas na direção da garota.

— Chris Argent? — Pareceu um tiro no escuro dizer esse nome depois de anos. Mas era mais que certo. Brooke esboçou um vago sorriso ladino, acenando minimamente com a cabeça. McCall ergueu de leve as sobrancelhas, desviando de relance o olhar para o chão. — Realmente.. ele nunca tira férias. — Comentou mas foi mais para si mesmo. A coiote de cabelos ondulados teve que concordar.

— Ele odeia ficar parado, isso é fato. Por isso é um ótimo treinador e conselheiro. — Brooke disse a medida que caminhava um pouco. A cabeça erguida checando a todos. — Ele não hesitou em entrar no Departamento a Favor das Leis Sobrenaturais assim como eu. E nós meio que embarcamos neste processo no mesmo período por motivos parecidos. Tive o desprazer de ver cedo demais do que Katherine é capaz.. — Seus braços cruzados contra o peito evidenciando sua postura centrada aos outros mas também o desconforto. O resto da alcatéia não disfarçou o espanto quanto a essa novidade como um todo. Porém certeza, aquele pessoal sentia falta do ex-caçador. Ela constatou isso sem muito esforço.

— Então.. essa desgraçada quer usar minha filha? Que a propósito sequer nasceu ainda. — Liam que até o momento permanecia quieto com seus pensamentos acelerados. Se pronunciou de repente. Seu semblante cansado e agoniado só enfatizando mais sua frustração. Sem contar nos sinais químicos irradiando pelo loft. Brooke direcionou um olhar compadecido ao beta, que bufou uma risada sem humor. Negando com a cabeça devagar. — Isso não faz sentido.. não faz.. — Murmurou precisando apertar as mãos em punhos afim de pressionar as garras contra sua palma. Estava quase nas últimas outra vez desde que Brooke havia explicado seu plano. Faltava pouco para seu lobo o dominar se não continuasse segurando.

— Na verdade.. se pensar com calma. Vai ver que infelizmente faz todo sentido, Liam. — Scott afirmou num tom tranquilo ao longe, atraindo a atenção de seu beta rapidamente. Sentiu o coração apertar ao ver os olhos azuis neste instante marejados. — Sabemos o passado do Theo, certo?.. Mas não o passado dos Dread Doctors. — O moreno sustentava um ar reflexivo, enquanto movia os dedos pelos cachos de Isaac que encontrava-se sentado no braço do sofá ao lado dele. Atento a tudo e com o rosto próximo ao abdômen do alpha. — Talvez todo esse tempo que pensávamos ter as principais informações sobre eles, não é nem a metade.. — Explicou cuidadosamente, odiando ser honesto justo agora. Assistindo a aflição dominar o rosto de Liam de maneira silenciosa. Brooke ao longe esboçou um semblante preocupado sem notar.

— Precisamos fazer alguma coisa. — Liam disse um tanto afobado. Alternando o olhar nas feições de cada um ali. Sentindo piorar ainda mais sua inquietação. Seu lobo se corroendo raivosamente. — Eu tenho que ir atrás dele.. eu tenho que.. — O beta esfregou os cabelos em puro nervosismo, as lágrimas acumuladas descendo por suas bochechas. Movia um pouco os pés de um lado para o outro mas sem saber qual atitude tomar exatamente. Sabia que se agisse por impulso, iriam perder tempo até que encontrasse de fato a localização exata. O beta fungou sentindo a respiração falhar, o raciocínio bagunçando novamente. — Eu não posso perdê-los.. não posso.. — Sua atenção permanecia no clássico piso cinza de concreto do loft, suas mãos apoiadas na nuca. Odiava parecer pessimista demais. No entanto, neste momento, o medo era de certo modo colossal.

Scott rapidamente cogitou em se afastar de Isaac afim de acudir seu beta. Porém, Lydia mostrou-se ser mais rápida dessa vez. O que sem conseguir evitar, deixou o alpha satisfeito.

A ruiva se desvencilhou calmamente de Parrish. Aproximando-se em passos casuais de início na direção do Dunbar, que mal notou a movimentação da banshee a sua direita. Ela só buscou uma das mãos do beta primeiro, antes de guiá-lo para que abraçasse seu corpo. Sem cerimônia alguma. Realmente foi nítido o quanto Liam precisava daquilo. Digamos que, de um consolo com essência materna.

O jovem não pestanejou em passar os braços ao redor do tronco da Martin. Apertando-a com cuidado mas o suficiente para expressar aquele turbilhão de sentimentos ruins. Liam escondeu o rosto na curvatura do pescoço dela, fechando os olhos com força. A banshee esfregava lentamente as costas do beta, deixando-o ficar ali o tempo que precisasse.

Tinha noção que seu conforto não substituiria o de Theo, e obviamente não tivesse efeito semelhante. Só.. não aguentava vê-lo naquele estado. Estava empenhada em ajudá-lo de algum modo.

— Vamos depositar esperança no plano da Brooke, okay? Vai dá certo. E esse pesadelo vai acabar da melhor maneira possível, tudo bem? — Ela sussurrava rente ao ouvido de Liam, que havia deitado meramente a cabeça em seu ombro. — Eu sei que no fundo de todo esse desespero no peito, você acredita nisso também. — Afirmou de seu jeito carinhoso. Sentindo Liam assentir de modo mínimo contra sua pele. Embora ainda chorasse baixinho.

— Esse plano tem que funcionar.. — Murmurou após alguns segundos. Seu tom e respiração meio pesados. A exaustão era palpável, mas principalmente por não ter Theo e sua filhote por perto. — Eu prometi protegê-los. Não posso falhar. — Disse após buscar fôlego e fungar um pouco. Afastando-se devagar dos braços de Lydia, que lhe encarava. — Eu.. obrigado. — Tentou sorrir minimamente. A ruiva deixou uma carícia rápida no antebraço do beta. Não diria que estava bem, pois seria explícito a mentira. No entanto, a gratidão sempre era verdadeira.

Brooke que havia optado por apenas observar a cena durante aquele meio tempo. Sentiu que poderia se aproximar finalmente. Ainda que mantendo os passos cautelosos só por precaução. Continha em seus braços um dos modelos clássicos de notebooks militares. Dispositivo já visto por todos e fundamental para o que tinham em mente. Liam dirigiu o olhar a ela, analisando a máquina outra vez.

— Vai dar certo. E.. você terá sua filha e namorado de volta. Tem minha palavra. — Brooke disse firme, mesmo tendo consciência de que não seria muito profissional da sua parte prometer algo desse tamanho. Todavia, nunca esteve tão confiante com um plano quanto com este. — O notebook já terminou a configuração pra rodar mais rápido ainda. Agora, só preciso do garoto que me disseram ser capaz de hackear qualquer sistema. Onde ele está? — Ela questionou gentil da sua melhor maneira. Vendo Liam entreabrir os lábios para lhe dirigir uma resposta, no entanto, não foi preciso prosseguir.

Um ruído soou no topo das escadas em espiral no canto do lugar. Especificamente, passos que vinham se aproximando. Não demorou para que vissem a silhueta de Malia que não tinha a cara nada boa enquanto segurava o braço que anteriormente continha uma bala. Adam veio logo atrás cuidadoso, sustentando uma feição meio arrependida. Não sabiam dizer ao certo no momento.

— Aí está ele. — Derek disse ao indicar com o olhar o francês. Que franziu a testa confuso e um tanto curioso por ter sido mencionado.

Sem dúvidas, o menor não estava preparado para o que veio a seguir. Não quando isso trás a tona todo seu passado dolorido. Adam nunca esteve tão paralisado como agora, seus olhos azuis fixos no rosto de Brooke, que não estava diferente dele. Ambos com feições que expressavam nítido choque. Um silêncio inusitado dominou o loft inteiro.

— Adam.. tudo bem? Parece que viu um fantasma. — Malia segurou com cuidado o braço do garoto após comentar. Ele mal parecia ouvi-la, e sem contar na palidez. A Hale trocou um olhar frustrado com os outros tão perdidos quanto ela. Notando em seguida a respiração do europeu se alterando um pouco. — Adam, pelo amor de d-

O híbrido saiu correndo numa velocidade absurda em direção a garota de cabelos ondulados. Abraçando-a com força e quase fazendo-a cair devido ao impacto de seus corpos. Stiles foi ágil em agarrar o notebook militar antes que atingisse o chão e tudo fosse pelos ares. O humano suspirou fundo em alívio ao voltar para sua posição ao lado de Derek, que possuía as sobrancelhas franzidas em surpresa. Aquilo estava para lá de desconexo.

— V-Você.. você tá viva, Skye.. — Adam Murmurou falho contra a clavícula da coiote, soando quase que abafado enquanto apertava mais os braços ao redor do tronco dela, que o acolhia do mesmo modo. O híbrido inspirou o cheiro da agente, só para ter certeza de que era real. E a garota não se conteu em imitá-lo ao afundar mais o nariz nos cabelos claros do outro. — Eu não entendo.. pensei que estivesse morta... — A voz do menor quebrou um pouco no final. Skye negou com a cabeça rapidamente, guiando a mão direita rumo aos fios bagunçados do francês afim de fazer um cafuné.

— Shh.. tá tudo bem.. — Skye disse suavemente no ouvido dele. Bem o oposto de sua costumeira postura tensa desde que chegou em Beacon. Adam respirou fundo tentando conter as lágrimas, ficando na ponta dos pés para se agarrar mais a ela que riu baixo. A garota beijou a testa do híbrido, acariciando a bochecha agora corada. — Eu pensei o mesmo com relação a você, maninho. — Murmurou a última parte de maneira fraca. Em choque. Encostaram suas testas em seguida. Ambos por uns instantes esquecendo que não estavam a sós.

— Como é que é? — Isaac exclamou um tanto alto mal assimilando o que ouviu. Erguendo seu corpo do sofá numa ação automática e desajeitada. Scott o segurou pela cintura com ajuda de seus reflexos, impedindo-o que avançasse. Lahey estava para lá de enlouquecido. Como ele não sabia disso até então?

— Isaac, eu.. — Adam iniciou tentando construir depressa uma explicação. Porém, os outros membros do bando começaram a se agitar aos poucos ainda mais.

— Espera, seu nome não é Brooke? — Parrish ergueu a mão ao chamá-la. Suas sobrancelhas franzidas em incredulidade. Por um momento, todos ativaram seus instintos territorialistas. Principalmente Liam que rosnou forte, seus olhos amarelos impacientes encarando a garota. Que pela primeira vez parecia nervosa.

— Não, não, não. Gente, por favor. — Skye se adiantou. Seus olhos castanhos alternando em todos os indivíduos presentes. Elevou uma das mãos vagamente para o alto em redenção, enquanto a outra mantinha-se firme em Adam que observava apreensivo os demais. — Esse era meu codinome. Obviamente a DFLS preza pela proteção das nossas identidades. Ainda mais uma infiltrada, como eu. — Explicou em alto e bom som. Sua expressão confiante evidenciando sua sinceridade. Entretanto, a alcatéia permanecia sutilmente em posição de ataque. Ela suspirou. De novo, não os culparia por isso. — Sobre tudo o que eu contei, não menti. E principalmente quanto ao plano. — Gesticulou de modo vago. Mas era perceptível em sua voz e linguagem corporal, a agonia para que agilizassem tudo.

— Chega, eu não aguento mais isso. Dane-se seu nome real, o que veio fazer aqui ou o que seja.. — Liam se aproximou rápido enquanto proferia tais palavras sem se importar em dar pausas para respirar. Seus olhos lupinos fixos na feição de Skye, que não se abalou nem minimamente com o que o beta havia dito. Pelo contrário, carregava preocupação em suas orbes apreensivas. — Só... por favor.. se pode mesmo salvar meu namorado e minha filha. Se tem total confiança.. que esse plano vai funcionar. Então, eu topo qualquer coisa. — Garantiu em meio as lufadas de ar. Seu lobo lutando dentro dele, louco para sair e revirar a mata mais uma vez. Skye assentiu convicta, antes de virar a cabeça lentamente para encarar seu irmão caçula.

— Adam... todos aqui têm fé em você. Isso é notório. — Ela iniciou ao segurar o menor pelos ombros, mantendo o timbre tranquilo por notá-lo ainda atordoado. Não que não estivesse também. Era perceptível em sua expressão de pura contemplação. Estava custando acreditar que havia recuperado pelo menos parte do que restou de sua família. Mas precisava ser profissional neste instante. E resistir a vontade de abraçar seu irmão de novo nunca pareceu tão difícil. Skye respirou fundo. — E sabem que consegue hackear qualquer sistema, pelo que entendi. Ainda que tenha feito isso poucas vezes, eu presumo. Ou estou errada? — Ela inclinou de leve a cabeça para o lado. Induzindo-o gentilmente a falar.

— N-Não, eu... já fiz o bastante pra saber dominar hoje em dia. — O garoto menor se esforçou para respondê-la. Engoliu em seco apertando os lábios afim de tentar manter-se centrado. Mesmo que seus olhos mal piscassem enquanto analisava a mais velha. Skye sorriu minimamente, pousando sua mão direita no ombro dele, que retribuiu de modo discreto o sorriso. Adam não havia mudado quase nada. — O que.. O que preciso fazer? — Ele se adiantou após buscar fôlego. Movendo a cabeça com muito custo para encarar Stiles e Derek a sua esquerda. As orbes azuis agitadas caindo para a figura do notebook militar que descansava na mesa próximo ao casal.

— Antes de qualquer coisa.. — Parrish se pronunciou de repente. Seu tom cansado chamando atenção. O policial vinha ao encontro do francês em passos firmes, carregando nas mãos algo que se assemelhava a uma luva. — Vai precisar disso. — Estendeu o objeto na direção do menor. Adam franziu a testa intrigado pegando aquilo e analisando depressa. Trocou de relance um olhar com Skye que havia dado um passo para trás, mas mantinha-se por perto. — Não dá tempo de explicar tudo do início agora. Só saiba o mais importante, que dentro desta luva na área da palma, tem um ship de ativação. — Disse a medida que guiava Aubert. Fazendo-o ficar frente a frente com o aparelho.

— E ele ativa o quê? — Adam olhou vagamente para Parrish ao seu lado após questionar. Logo voltando o foco para a luva, tateando o material por baixo afim de encontrar alguma abertura no tecido de couro. Não demorou a abrir o notebook de uma vez, vendo acender o visor automaticamente. Expondo os diversos comandos.

— Armas. — Liam se pronunciou subitamente. Aproximando-se mais. Seus passos calmos porém duros assim como sua expressão tensa e séria. Aubert arqueou uma das sobrancelhas olhando para o beta por cima do ombro, antes de redirecionar as orbes rumo a Skye e Parrish ao lado dela. Meio que esperando uma confirmação. Viu a irmã assentir sem hesitar.

— Até que faz sentido.. — O menor comentou num tom relativamente baixo, mas que de modo óbvio foi captado pelos demais ali e não só por quem era sobrenatural. Liam franziu a testa rosnando baixo. Scott e Isaac adotaram expressões semelhantes a do Dunbar. Adam agilizou para não complicar mais. Todos já estavam na defensiva o suficiente e não ficaria se comunicando em códigos idiotas. — Quando fui ajudar a socorrer Malia na floresta com o pessoal. A tecnologia das armas era bem peculiar, o que me chamou atenção. Já que quando pisei em uma sem querer. Simplesmente não disparou, só.. travou. — Ele deu de ombros de leve, mas a tensão era perceptível durante o relato. Liam trocou um olhar inquieto com Scott, esperando o francês prosseguir. — A arma exibiu uma luz vermelha na lateral do cano, indicando a trava. — Disse por fim mas dessa vez seus olhos claros estavam vidrados em fuçar a luva minuciosamente, o que rendeu num resultado rápido. Pois, conseguiu desencapar a parte do objeto que o interessava. Adam sorriu ladino satisfeito. Erguendo o olhar encarando os demais. — Preciso de só alguns minutos. — Confessou intercalando o foco nos rostos a sua frente. Estes que se entreolharam apreensivos.

Liam a pouquíssimos metros atrás do menor soltou uma risada fraca, sem humor. A feição incrédula. Seus pés se moveram agitados mas sem sair do lugar propriamente. Mason se colocou ao lado do melhor amigo, tentando confortá-lo mais uma vez. A dor mais que estampanda naqueles olhos azuis. Adam virou a cabeça para encará-lo. Comprimindo os lábios esboçando uma expressão empática. Podia imaginar como o beta se sentia. Só que nessa situação, a família de Liam tinha chances. Eles não iriam morrer. Não se ele pudesse evitar.

— Consigo em 5 minutos. Eu prometo. — Adam garantiu de modo firme. Seu tom soando cuidadoso e paciente. Liam mal tinha forças para verbalizar a essa altura, então somente reuniu ânimo para assentir mínimo antes de desviar o olhar para os próprios pés. O híbrido suspirou tristonho redirecionando sua atenção para o que interessava no momento. Analisando o notebook a sua frente, logo buscou a luva outra vez. Seus olhos não desviando da tela ao conectar alguns fios do aparelho no dispositivo usando um instrumento próprio para tal tarefa. — Pelo o que analisei aqui, temos chance de não só localizar eles, como também bloquear aquelas armas. — Anunciou de repente com convicção, e pode-se dizer que com um misto de alívio no timbre. Não demorando para ficar absorto a medida que conduzia o processo na máquina. Perdendo o momento da surpresa coletiva de todos por notarem esse lado diferente do garoto tímido.

Um silêncio pesado se instalou depois disso, o que ironicamente despertou Isaac de seu transe ansioso por respostas. Ele esfregou os cabelos tentando desacelerar seus pensamentos. Olhando de relance para a garota, Skye. Era quase como se pudesse ouvir ela dizendo maninho novamente.

O loiro bufou piscando vezes seguidas ao mudar seu foco de Aubert, neste instante concentrado numa das coisas que mais fazia de melhor. Isaac negou com a cabeça. Apesar das revelações fortes e com certeza aborrecimento, não podia deixar de sentir orgulho de seu melhor amigo.

Foi arrancado de seu raciocínio subitamente, assim que sentiu um toque demorado e gentil de Scott em sua mão direita, ato o qual só serviu para o avisar que se afastaria por hora. Lahey sentiu os dedos do alpha escorregando para longe dos seus de um jeito desajeitado, enquanto acenava brevemente com a cabeça. Ainda acompanhando os movimentos do moreno.

Assistiu o alpha caminhar rumo a Liam com cautela. Sentindo algo se aquecer em seu peito com a atitude seguinte de McCall.

Scott somente precisou abrir os braços assim que se pôs de frente para seu beta. Liam não perdeu tempo em se agarrar ao alpha como se sua vida dependesse disso. Dunbar se encolheu no aperto dos braços do moreno, praticamente sumindo no abraço. Permitindo-se desabar toda aquela pose mantida pela raiva.

Isaac constatou ali, que embora não tivesse tido tantas oportunidades para conhecer de fato Liam, nunca o viu tão mal. Com.. seu brilho infantil que poderia ser perceptível para qualquer um, tão apagado. O cacheado alto suspirou, apoiando as mãos na cintura. Intercalando seu foco em Adam as vezes, ainda que a cena ao seu lado doesse.

Talvez, pelo visto aquele clássico instinto que há anos adormecido, finalmente retornou a ele. De quando o bando inteiro sofre, e você sente que seria capaz do pior. Do mais insano ato que fosse para acabar com o sofrimento daquele que é importante.

Você conhece o Theo melhor do que qualquer um aqui. Ele é forte, e nós vamos achá-lo, Liam. — Escutou Scott sussurrar num tom tranquilo e carinhoso rente ao ouvido do beta que parecia intensificar o aperto nele a cada segundo. O mais velho acariciava as costas do menor que emitia um choro abafado pelo ombro do moreno, mas com direito a soluços audíveis que até quem não possuísse a audição tão aguçada assim, teria a capacidade de ouvi-los. — Por favor, respire. Sei que consegue me acompanhar. — Permanecia insistindo. E com a mesma calmaria que Isaac sempre admirou.

Lahey podia não ter ideia e nem uma dimensão sequer de como Liam se sentia. Mas de uma coisa ele tinha certeza, que pela amizade recém construída com Theo. Ele mataria uns filhos da puta se precisasse. Afinal, não seria a primeira e nem a última vez que suja as mãos para proteger quem precisa.

*

América do Sul - Amazonas | Área Isolada |

As mãos dela tensas enquanto apertava as laterais da mesa de madeira. Seus olhos claros que carregavam normalmente indiferença e frieza. No momento, só possuíam fúria. Era um desastre total, ainda mais depois de meses de trabalho duro. Tempo gasto organizando cada etapa de um plano, para no fim. Um único elemento, somente um mísero imbecil fraquejar e acabar com toda a discrição.

Katherine mal podia acreditar no que acabara de ouvir. De como uma oportunidade tão perfeita assim, escapou facilmente por seus dedos como se fosse simples partículas. A cientista foi fechando as mãos em punhos sem perceber. As juntas já brancas se destacando gradativamente.

Ela logo socou sua mesa com toda força, o que ocasionou em alguns objetos indo de encontro ao piso. A respiração ofegante da mesma preenchendo o cômodo, que antes habitava um silêncio sufocante. Pelo menos essa era a perspectiva do funcionário até então quieto só observando-a.

— Traga o responsável por selecionar justo o imprestável do Dr. Vicente West! Rápido! — Ela vociferou virando-se de modo repentino para fitar o sujeito tenso do outro lado de sua sala, este que se encolheu automaticamente. Antes de enfim mover depressa seus calcanhares para fora do local. Katherine bufou forte esfregando os cabelos negros para trás enquanto andava de um lado para o outro. Suas orbes fixas no chão, como se esperasse que algo surgisse dali para resolver tudo. — Eu não acredito que quando finalmente posso ter a evolução do Soro барьер. Alguém simplesmente vem..

— Ah, então é esse o nome do tal soro que você não cansa de falar pelos cantos? — Josh proferiu ao se aproximar. Apoiando-se no batente da porta com uma postura convencida. Sua expressão cínica só contribuindo para aumentar ainda mais o aborrecimento da mulher. — Agora, entendo o ponto. Seu interesse gigantesco pela criança, é por conta do soro torná-la ainda mais diferente. Acertei? Ou melhor, ainda mais diferente de nós. — Cruzou os braços contra o peito. Erguendo de leve as sobrancelhas.

Katherine riu de escárnio negando com a cabeça, ainda que sem humor algum enquanto amarrava os fios escuros num coque desajeitado devido a chateação e pressa. Ela lançou um olhar duro ao lobisomem. Analisando-o de cima a baixo.

— Ainda mais forte, resistente... — Ela foi murmurando em seu timbre cansado. Citando algumas das consequências que os componentes dentro do soro causavam. Seu tom em desdém fazendo Josh cerrar os olhos, impaciente — Mas nada disso importa agora. Não quando a equipe que mandei, já perdeu toda a discrição e comprometeu as chances de por em prática as estratégias que poderiam driblar aquele bando.. — Seu tom subiu certas oitavas ao informar a última parte. Sua pulsação evidenciando o nível da frustração. No entanto, o semblante de espanto mal disfarçado de Josh a fez rir minimamente. De modo sombrio. — Não sou de desistir fácil, senhor Connor. — A seriedade retornou a feição dela tão rápido que o outro quase não acompanhou o que ela insinuava. — São nesses momentos que entramos com os últimos recursos. Ainda que.. o processo dessa vez demore anos. — Manteu a compostura após expor o fato. Lançando um olhar estranhamente sereno na direção de Josh, que arqueou as sobrancelhas curioso. — Continue concentrado em suas funções. Tenho uma reunião a fazer.

Isso foi tudo. Não demorando em vê-la se virar afim de pegar uma prancheta pousada sobre a mesa do escritório. Katherine passou direto por Josh ao atravessar a porta, sem olhar para trás.

Ele piscou algumas vezes tentando assimilar o que ocorrera, a medida que se afastava dali. Não se conteu em observar que, mesmo com o plano totalmente arruinado. Essa calmaria repentina da mulher só indicava algo pior do que quando ela resolvia explodir.

*

Era uma circunstância obviamente para lá de tensa o suficiente que atrapalharia a linha de raciocínio de qualquer um. Porém, ainda assim a mente de Theo se enchia de questionamentos de maneira incessante. Especialmente quanto as ondas de dor que eram enviadas a seu baixo ventre a cada instante. Com certeza se concentravam muito mais na região lombar de suas costas. Mas não importava de qualquer forma. Doía tudo. Ele não aguentava mais.

— Não seria melhor sedar ele logo? E se ouvirem os gritos daqui? — A voz grave de Landon se destacou um pouco, mas não de um jeito hábil. Os gritos agoniados e cansados de Theo eram piores e elevados de maneira considerável. O rapaz negro esboçou uma careta pelo barulho constante enquanto arrumava uns utensílios metálicos velhos. Luca próximo a ele sentado num lance curto de escadas, esfregou o rosto negando com a cabeça.

— É só me entregar uma seringa. Garanto que terei o maior prazer em apagá-lo. — Will se pronunciou entredentes. Seus olhos escuros cheios de fúria fixos no chimera ao longe a medida que locomovia uma maca de ferro que acharam por aquela área, já que seria perda de tempo tentar passar a outra pela entrada estreita. O homem parou arrumando-a no lugar. — Devíamos ter trazido uma focinheira como eu sugeri..

Theo direcionou o foco ao homem de estatura forte após ouvir tal comentário. Rosnando sem hesitar produzindo um ruído grave e forte. Realçou em suas presas o sangue ainda fresco do barbudo que lhe encarava, cujo cometeu o erro de se aproximar demais há alguns minutos. Teria arrancado a orelha toda do homem se não tivessem o puxado para longe de si a tempo.

— Não, a única coisa que você devia ter feito era não provocar um coiote prestes a dar luz. Sabem o básico sobre isso, não é? Pois é. — Ronan rebateu num tom alto ao alternar o olhar entre os demais, evidenciando sua irritação enquanto limpava os instrumentos cirúrgicos que trouxe. Logo em seguida arremessou um pano na direção de Will, que o pegou contragosto levando o tecido para pressionar contra sua orelha que faltava uma boa parte. — E ele é metade lobo, o que duplica o territorialismo, imbecil. — Disse por fim revirando os olhos aborrecido. Detestava ressaltar o óbvio. Voltou ao que fazia ignorando os olhares alheios. Augustus riu fraco sem se conter, terminando de por mais uma máquina no chão. Seu olhar intrigado na direção de Theo.

— É curioso como os instintos, fazem ele esquecer do quão frágil está pra lutar... — Ele comentou ao mesmo tempo em que observava o chimera de baixo para cima. Faltando pouco para finalizar a configuração dos monitores e ligamentos de fios. Augustus pigarreou de repente durante tais afazeres, chamando a atenção dos outros mas principalmente de Ronan. — Se ele pudesse te matar com apenas o olhar, já teria feito e você nem notaria. — Disse o fator com um certo humor no timbre.

— Não posso discordar. — Ronan deu de ombros murmurando despreocupado após desviar suas orbes discretamente rumo a Theo, vendo pelo canto de olho o exato momento que o gestante parou de se contorcer tanto só para direcionar um olhar mortal a ele. Raeken se assemelhava a uma gárgula, apesar de sua respiração ofegante. — Acho que ele não curtiu muito o que tenho em mãos.. — Usou um tom irritantemente casual. O que levou os outros colegas a rirem. Theo rosnou descontente em resposta, quando Ronan ergueu o bisturi já esterelizado. Não demorando a redirecionar o foco a ele. — Tudo pronto aqui, e vocês? — Questionou mantendo uma postura mista em indiferença e diversão. Seus olhos claros voltados ao chimera, que se encolheu de forma mínima.

— Como Luca disse. Você quem manda a partir daqui. — Evan deu um meio encolher de ombros ao sair detrás de um tanque sujo. Trazendo consigo mais algumas correntes. Theo ao longe engoliu em seco arregalando os olhos, buscando ar novamente. — Vamos acabar logo com isso que tempo economizado é ótimo também. — Comentou como ninguém não quer nada ao caminhar para longe daquele canto. Landon revirou os olhos.

— De qualquer jeito vamos ter trabalho, então vamos nos concentrar em fazer o que tem que ser feito e não na pressa. — O rapaz negro lembrou tal informação ao colega, só pegando em seguida uma das correntes que lhe foi estendida. Evan deu a outra parte para Calum, que analisou o estado delas dando-se por satisfeito. Agora, as coisas ficariam bem mais interessantes.

Theo até então somente acompanhava os movimentos deles com o olhar. Mas assim que assistiu Calum iniciar sua aproximação após firmar mais as correntes nos dedos. Seu coração deu uma guinada forte, quase fazendo-o engasgar. Moveu rapidamente as pernas apenas querendo correr dali. Não, ele não podia permitir. Ele tinha que tentar mais.. pela Lori. Ele queria ter.. a chance de ao menos ver o rostinho dela.

— Não adianta fugir, gracinha. Você sabe que é inútil. — Ouviu a voz perversa do indivíduo comentar de um jeito simplista. Os passos chegando cada vez mais perto. Theo não tinha coragem de encará-lo, mas após farejar o cheiro do outro próximo de si. Foi então que desabou. Ele nunca se sentiu tão encurralado. Ansiava por conseguir arrebentar aqueles imbecis e simplesmente sair dali com sua filhote. — Acha que chorar vai aliviar as coisas pra você? Pode ter certeza que admiro sua atitude. — Ironia. Foi tudo o que Theo ouviu. Antes se sentir braços a mais tocando-o.

Seus movimentos foram ágeis, rápidos. Os instintos comandando-o no automático. Só escutou um grito irritado no segundo seguinte após usar as garras para rasgar a pele do rosto do sujeito. Seu corpo sendo erguido de maneira bruta depois. Theo rugiu alto de forma gutural na direção deles. Tendo infelizmente suas mãos imobilizadas no mesmo minuto em que conseguiram o colocar em cima da maca.

Theo se debateu em suas últimas tentativas de escapar, porém não durou muito. Eles não perderam tempo em aplicar algo nele outra vez. Não hesitando em prender suas mãos nas amarras das laterais de ferro. O chimera ofegou choroso, olhando para o teto daquele lugar miserável. Desejando só gritar mais uma vez se possível. Apenas para evidenciar o quanto estava doendo.

Doendo por saber que perderia o que tinha ganhado de mais precioso em seus vinte anos de vida. Por míseros segundos sentiu suas pálpebras pesando, junto ao pânico crescente em seu peito.

Não resista. Sabe que vai acabar cedendo. — Ouviu a voz de um dos homens. Entretanto, a essa altura nem se importava mais em tentar distinguir quem falou o quê. Captou ruídos metálicos, a medida que sentia as mãos imundas deles apalpando sua barriga. Quis rosnar alto mas era como se.. a força estivesse sendo drenada de seu corpo. Fazendo-o cair meramente na inconsciência as vezes. Não queria dormir. Não podia. — Só vai, Ronan. Rápido, se possível. — Essas últimas palavras gelaram sua espinha. Mal deixando-o perceber que já ansiava pela morte de vez. Se era assim, não queria viver em um mundo sem sua filha, sem sua menininha que sequer conheceria.

— Calma, preciso posicionar o bisturi direito. — Ronan ralhou num tom duro ao colega. Certificando-se que Theo apagou de fato antes de voltar os olhos para a área do baixo ventre no abdômen do chimera. Estava calculando onde mais ou menos poderia iniciar o corte. Entrando num estado absorto em meio a concentração. Aliás, não só ele como a maioria dos rapazes ali. Ninguém pareceu perceber após um tempo, certos barulhos incomuns ecoando pelos corredores dos túneis. — Aqui, consegui. — Informou num timbre razoável em comemoração. A lâmina ainda parada no ponto indicado, até começar a atravessar a pele ao ser conduzida. — Tá quase..

Um estrondo violento soou subitamente. Junto a resmungos de dor que Ronan reconheceu se tratar de alguns dos agentes. O latino franziu a testa odiando ter que interromper o processo. Não demorando em erguer a cabeça. Seus olhos se arregalaram diante aos novos rostos a sua frente. As presas afiadas e as íris que brilhavam em azul apontadas a ele. Suas pernas tremeram.

— Devia ter mandado seu amigão aqui, me matar. — Malia debochou esboçando um vago sorriso, que foi tão rápido quanto sua agilidade em quebrar o pescoço de Will. Fazendo o homem de estatura alta e grande cair como um saco de batatas aos pés do outro. Derek logo atrás dela, rosnou intensamente evidenciando sua posição de ataque. Ronan engoliu em seco. — Vocês mexeram com a alcatéia errada. — Ela somente afirmou com sua expressão serena. Não tardando em avançar na direção de Luca, que já residia a arma em mãos, que como o esperado não disparou. Só exibiu a luz vermelha no cano. O que deu abertura para a Hale socá-lo com força.

Corey ao longe surgiu de repente atrás de Landon. Acertando a nuca do rapaz alto usando um pedaço de ferro que encontrou as pressas no meio daquele lixo todo. Apenas quis desnortear o outro a seu favor, para então desferir um chute forte no rosto do homem. Logo ganhando ajuda de Derek para finalizar melhor. Havia melhorado suas habilidades em luta corporal, e não hesitaria em ajudar um amigo.

— Solta isso, agora. — Ronan que até o momento assimilava tudo aquilo. Sentiu-se paralisar ao receber uma respiração quente próxima a seu ouvido, seguido da ordem raivosa. Logo notando as garras do ser rente as suas costas. Sua mão suja do sangue de Theo afrouxou o aperto no bisturi no mesmo instante. O som do instrumento metálico batendo contra o chão ao cair. — Sai de perto do meu namorado e da minha filha. — Dunbar mandou entredentes, mal percebendo usar a voz de seu lobo. Este a cada segundo mais enlouquecido por não ter seu comando obedecido.

Liam iria apenas arremessar o rapaz para longe dali afim de machucá-lo o suficiente para terem mais vantagem ao saírem, porém, seus olhos brilhantes desviaram focando no corte médio aberto no baixo ventre de seu namorado. Tal ferimento que já expelia tanto sangue. A respiração do beta engatou antes de mudar de ritmo, tornando-se mais rápida. A dose extra de raiva chegando em seu sistema. Ele mal se deu conta do que fez.

Cravou as garras com força nas costas do homem. Chegando nas costelas empenhado, até que sentisse em seus dedos o pulmão sendo perfurado. Ronan gritava se contorcendo. E Liam rosnou baixo em satisfação enquanto só agravava ainda mais a situação da lesão no humano. Não pestanejou em jogar para longe o corpo que agora habitava resquícios de vida insignificantes.

Liam ignorou sua mão esquerda banhada do líquido vermelho alheio, só sacudindo-a um pouco afim de se livrar do excesso. Ele caminhou rápido na direção do namorado, analisando-o de forma agitada enquanto os outros lá trás descontavam toda a fúria nos intrusos. A essa altura sabia que nenhum imbecil iria ousar se aproximar dele.

— T-Theo.. — Liam murmurou num timbre trêmulo, assim como suas mãos ao tocar o rosto do gestante com toda delicadeza. Seu desespero era palpável. Ele examinou o mais velho depressa, rosnando aborrecido por ver os pulsos dele amarrados ao ponto de deixar marcas. Cortou de maneira agressiva o material emborrachado com as garras. Voltando para o semblante cansado do Raeken. — Eu sinto muito, sinto muito por isso, meu amor.. — Disse aos poucos adotando um tom embargado. Redirecionando devagar as orbes rumo a barriga do chimera. Liam engoliu em seco levando a mão direita até o local que sangrava, pressionando com cuidado a área. Levou consideráveis segundos até buscar concentração. No entanto, o coração de Lori preencheu seus ouvidos. Ainda que meio fracos os batimentos. Isso o incentivou. — Nós vamos tirar vocês daqui, eu prometo. — Garantiu tentando reprimir o medo por hora. Nem escutou de imediato Corey tentando o alertar.

Uma aproximação brusca se fez presente atrás de Liam, obrigando-o a se virar abruptamente. O mais novo rosnou exibindo as presas para a figura de um dos homens que veio o golpear com uma chave inglesa. Por sorte, não demorou para a silhueta de Isaac surgir logo atrás do indivíduo, dando-o um mata leão certeiro ao puxá-lo para trás. Dunbar soltou o ar em alívio.

Skye que também decidiu se juntar a eles nisso tudo, não poupou ajuda ao desferir um soco no queixo de Evan, fazendo a ferramenta ir ao piso. Tal golpe potente o suficiente para deslocar o maxilar do rapaz como queria.

— Peguei ele. Deixa comigo. — Isaac disse num tom dificultoso pela força que fazia. Intensificando ainda mais o aperto de seu braço ao redor do pescoço do cara, que levou segundos para apagar. Skye tombou a cabeça para o lado confusa, logo após virando o corpo a tempo de impedir que recebesse um soco na lateral do rosto. Ela derrubou outro daqueles agentes, desferindo chutes fortes no estômago do indivíduo só por precaução.

— Por que não matou ele? — Foi direta ao expor sua dúvida enquanto checava mais uma vez o corpo. Voltando-se a Isaac rapidamente, assistindo-o prender o cara desacordado em correntes pertos dos canos.

— Uhm.. como explico.. — Lahey soltou um suspiro ao coçar a nuca, checando uma última vez ao redor deles para ver se os demais que vieram estavam dando conta. — Digamos que.. o Scott não mata. Bom, ele pelo menos nunca matou pra chegar onde está. — O loiro deu de ombros ao explicar brevemente. Skye arqueou uma das sobrancelhas grossas incrédula. — O quê? Pensei que soubesse já que o Pack McCall é praticamente uma celebridade eu acho.. — Resmungou revirando os olhos tentando não parecer impaciente. Desferindo golpes precisos usando as pernas e um nocaute num dos inimigos que resolveu avançar em si.

— Eu sabia mas.. pensei que fosse piada.. — Skye confessou ainda não conseguindo disfarçar totalmente seu choque. Ao mesmo tempo ajudando Isaac a dar conta do cara que parecia querer grudar no encalço do cacheado. — Até porque.. o beta dele matou um. Bem ali. — Ela ressaltou casualmente fazendo um movimento mínimo com a cabeça. Indicando o corpo caído numa poça de sangue nada pequena próximo a uma escadaria média. A coiote rosnou baixo segurando o oponente, comprimindo a carótida do mesmo até que o cérebro ficasse sem oxigênio. O cara amoleceu em seus braços. — Achei que..

— Espera, tá falando sério? — Isaac questionou um tanto desacreditado ao parar para raciocinar o que ela disse. Terminando de recolher o corpo do brutamontes, prendendo-o a uma parede próxima. Se levantou rumando em passos firmes na direção de Skye. — O Liam... ele fez aquilo? — Ele possuía os lábios entreabertos enquanto analisava ao longe o beta mais novo, que não se moveu para longe de Theo desde então. Isaac suspirou fundo, apertando os lábios. Sua feição um tanto apreensiva. — Era de se esperar. O Theo e a Lori são tudo pra ele. — Sentiu um certo gelo passando por sua espinha. Esfregou as mãos nos cachos bagunçados. Odiou ainda mais esta situação.

— Realmente isso era óbvio, mas.. seu alpha sabia disso? — Skye deixou a pergunta no ar. Sendo mais cuidadosa dessa vez. Isaac desviou a atenção para o rosto da mulher de cabelos ondulados. Que indicou com o olhar um determinado canto do local.

Isaac se virou. Bem no exato momento em que Scott encontrava-se quase que hipnotizado pelo banho de sangue próximo a seu beta. Ele encarava aquilo fazia poucos segundos após golpear um dos agentes com força, mas talvez não tenha sido com tanta potência assim. Já que o homem conseguiu se erguer novamente depois de ferir Corey. Atacando Scott por trás em seguida. Lahey rosnou exibindo suas presas no mesmo segundo, avançando sem pensar duas vezes.

Puxou brutalmente o sujeito pelos ombros, sem dúvida deslocando um pouco o osso por não medir sua força. Não que se importasse. Isaac se pôs na frente de Scott em seguida, logo chutando o abdômen do agente. Que caiu contra Skye. A garota segurou a gola da vestimenta do outro, virando-o de frente para si a força e desferindo uns três socos seguidos na face. Não pestanejando em finalizar com uma joelhada intensa na boca do estômago. O inimigo desmaiou sem muitos protestos, caindo de cara no chão.

Skye respirou fundo buscando fôlego por conta da adrenalina. Erguendo a cabeça e soprando uma mecha de seus fios ondulados que havia caído sobre o olho esquerdo. Ela observou a expressão de Scott diante ao contratempo nada novo para si, mas que para ele pelo visto era difícil de se ver. Não deixando de formular várias perguntas em sua mente.

Um alpha não deveria incentivar a autopreservação em casos como este? Mas principalmente, se sentir satisfeito em ver que os membros do bando saíram quase que ilesos devido ao esforço? Ela não conseguia entender.

— Scott, vamos. Scott. — Isaac o chamou num tom controlado e paciente ao segurar as laterais do rosto do McCall com cuidado. Induzindo-o a desviar o foco das mãos ensanguentadas de Liam. As orbes vermelhas meio atordoadas do alpha focaram no rosto de Lahey. — Não podemos perder tempo. Temos que sair daqui. Por favor. — Instruiu num tom moderado ao mesmo tempo que executava carinhos na bochecha do moreno usando o polegar.

Scott pareceu despertar do transe, piscando algumas vezes antes de assentir. O alpha suspirou fundo dando o melhor para recuperar a compostura. Lançando de relance um olhar grato ao Lahey antes de se afastar do toque do maior.

— Malia! Derek! — Chamou rapidamente. Seu tom rouco reverberando. Assistiu os citados terminarem de prender mais um membro daquela equipe asquerosa, como carinhosamente Malia os nomeou. Derek virou a cabeça na direção do McCall, soltando de uma vez o corpo do indivíduo. — Vasculhem a área do lado de fora enquanto ajudamos.. a retirar o Theo daqui. — Disfarçou no último segundo seu timbre vacilando ao sem querer focar no sangue das mãos de Liam outra vez. Sacudiu a cabeça se repreendendo arduamente. — Skye..

— Eu sei. Vou ajudá-lo. — A agente não demorou em dar uma breve corrida na direção de Corey para ampará-lo. Ajudando o camaleão a se erguer após passar o braço esquerdo do mesmo por seus ombros. Bryant havia ganhado um ferimento feito por faca, que por sorte não entrou tanto em seu abdômen. — Tudo bem aí? — Ela questionou a medida que andava sustentando o rapaz, que assentiu esboçando uma careta.

— Vou dá o sinal ao Deaton. Cuida deles, por favor? — Scott praticamente implorou através de seu olhar lupino. Isaac se viu de mãos atadas, não que pensasse em recusar, porém o receio em tentar ajudar novamente ainda o assombrava. E McCall sabia bem, pois prosseguiu. — Não tem o porquê você cometer os mesmos erros agora, quando já aprendeu a lição. Eu... Isaac, eu confio em você, okay? — O moreno afirmou após engolir em seco. Seu tom firme ao pousar a mão direita no rosto do cacheado. Sentindo aquele peso da informação, se dissipar de seu peito. Isaac tinha os lábios entreabertos numa feição pasma. Scott riu anasalado, inclinando-se só para depositar um beijo rápido e casto na boca do beta alto. — Vai, agora. — Murmurou a milímetros da face do Lahey. O que o encorajou ainda mais a ir na direção de Liam.

Scott respirou fundo olhando para cima enquanto buscava o celular no bolso da calça. Mantendo-se de costas para o cenário que ainda não assimilou de jeito nenhum. O alpha bufou tentando regular seus batimentos cardíacos, não perdendo tempo em contadar o druida pela discagem rápida.

Enquanto isso, Isaac usava a melhor de suas abordagens quanto a se aproximar de Theo na maca. Temendo que Liam tentasse o atacar devido aos instintos bem mais aflorados do que jamais viu em outro lobo antes. Ou só nunca presenciou um metamorfo que estivesse prestes a ter um filhote. Lahey apertou os lábios permanecendo com os olhos em Liam, que até então não desviou a atenção do gestante. Talvez, concentrado em pressionar o ferimento aberto de Theo. Que aliás, estava feio demais.

Entretanto, para a surpresa do loiro. O menor não demorou tanto para redirecionar o foco a seu rosto. Isaac sentiu um aperto no peito, assim que se deparou com os olhos marejados do beta. Liam fungou piscando algumas vezes, parecendo reunir forças.

— Me ajuda. Eu tenho que salvá-los.. — A voz do mais novo soou fraca, mas foi o suficiente como permissão para Isaac tomar uma atitude logo. E Liam deu total liberdade a ele. Assistindo sem demonstrar indícios de agressividade, o Lahey trazendo para seus braços um Theo inconsciente. Certificando-se de que precisaria de Liam por perto para controlar o sangramento do ferimento de algum modo.

— Estamos juntos, okay? Uma equipe. — Isaac reforçou esse ponto enquanto acomodava com cuidado Theo em seus braços. Se locomovendo numa velocidade razoável com Liam em seu encalço. Scott se aproximou deles depressa nesse meio tempo. Lançando um olhar para lá de espantado rumo a Theo antes de dizer qualquer coisa.

— Malia e Derek pegaram os carros, e Deaton já arrumou tudo lá na clínica com a ajuda da minha mãe. — Scott anunciou tentando ser breve, mas ao mesmo tempo cuidadoso ao informar o que todos já esperavam há meses para acontecer. No entanto, uma palidez repentina não deixou de se alastrar pela feição de Liam, ainda que se mantesse firme. Scott o lançou um olhar compadecido, apesar.. de tudo. — Não tem nenhum outro desses homens por aí, pelo o que sabemos. Mas é arriscado de qualquer jeito optar pelo hospital agora. Vamos, conheço uma saída mais acessível pra vocês passarem. — O alpha continuou com sua postura centrada. Pois, sabia que auxiliar Liam neste momento seria fundamental. Embora estivesse um poço de nervosismo igualmente.

Isaac apenas concordou num aceno mínimo com a cabeça. Firmando Theo em seu colo para então se empenhar a seguir Scott em seguida. Liam fez o mesmo a medida que acompanhava o Lahey num ritmo semelhante aos passos dele. Precisavam sair o mais rápido possível daquele inferno.

*

— Acha que aqui tá mesmo apropriado, Deaton? Nunca fiz nada parecido antes.. — Melissa já não conhecia outro modo de ocultar toda sua insegurança a essa altura. Enquanto se movia inquieta arrumando as últimas ferramentas que precisariam. — Quer dizer.. já ajudei em inúmeros partos, mas esse.. — A McCall suspirou fundo terminando de ajeitar a maca hospitalar que com muita sorte, conseguiram trazer do hospital sem serem vistos. Ela passou a mão pela testa tentando acalmar seus pensamentos, prendendo os cabelos num rabo de cavalo no processo. Deaton do outro lado da sala a lançou um olhar empático, aproximando-se em passos calmos.

— Eu entendo, e sei que está acostumada com os clássicos partos que exigem de uma equipe maior presente. — O druida disse em seu habitual tom tranquilo. Pousando uma das mãos no ombro de Melissa, que acabou por assentir concordando durante o meio tempo que observava o local. Ele prosseguiu. — Mas acredite quando digo que você junto ao meu amigo nessa cesária, vale o mesmo que uma equipe inteira até. — Ele soou mais descontraído na última parte, o que arrancou uma risada breve dela. Certamente isso ajudava a aliviar um pouco a tensão. — Não estou sendo modesto. Eu confio no seu potencial, Melissa. Assim como o bando, e além do mais, meu amigo vai explicar o que for preciso sobre as diferenças entre o parto de um bebê humano e o de um.. sobrenatural. — Ele assistiu Melissa acenar com a cabeça ainda meio pensativa. Antes de redirecionar os olhos até ele. Carregavam certa curiosidade.

— Esse seu amigo de longa data. Pelo visto já viu muitos casos assim, acredito.. — Soou mais como uma pergunta. Deaton ergueu de leve as sobrancelhas confirmando através da expressão ao cruzar os braços contra o peito. Seus amigos e suas histórias sem fim quanto ao passado individual, assim como ele. O druida refletiu em sua mente.

— Yoshiro Takahashi é um homem de mistérios, mas sim, posso afirmar que como ele sendo um médico obstetra especializado no lado sobrenatural. Já deve ter visto de tudo, mas nem sempre temos tempo pra ele contar a maioria das coisas, então.. — Deaton deu de ombros comprimindo os lábios num sorriso discreto e gentil. Melissa se deu por satisfeita, parecendo que havia perdido boa parte do peso incômodo que habitava em seus ombros desde que Scott os avisou quanto a gravidade do que enfrentavam. Porém, o outro começou a falar novamente. — Mas antes.. há um detalhe que esqueci de mencionar.. — Coçou a nuca acanhado. A enfermeira arqueou uma das sobrancelhas.

— Sempre contando pra todos que sou médico, mas nunca mencionando sobre meus dons extras, não é Alan? — Uma voz grave e divertida soou repentinamente. Vinda da entrada do cômodo onde residiam. O que fez a McCall e o druida virarem a cabeça na direção do ruído no mesmo instante. O homem alto riu anasalado negando com a cabeça, firmando a alça da bolsa que descansava em seu ombro esquerdo. — Pois bem, minha querida, sou um feiticeiro. — Disse sem rodeios, com seu inglês perfeito. Executou uma reverência mínima diante a enfermeira. Melissa não escondeu o choque momentâneo, alternando o olhar entre Deaton e o recém chegado até se recompor um pouco.

— Uhm.. bom, acho que tá explicado como chegou aqui tão rápido. — Ela comentou acabando por dar de ombros em seguida. Deixando claro estar confortável com a novidade de última hora. Yoshiro lançou um olhar impressionado na direção de Deaton, logo após se aproximando para abraçá-lo. Não perdendo tempo em apertar a mão da mulher depois. — Pra ser sincera.. fico até mais aliviada. Afinal, a situação é bem.. delicada. — Não soube encontrar outra palavra para isso. Já que até minutos atrás estava surtando.

— Acredite, estou apar de quase tudo há alguns meses graças ao Deaton, e tenho que concordar. Ele só me pediu para que ficasse atento quando chegasse a hora.. — O japonês olhou vagamente para o amigo, sua mão ainda pousada no ombro do mesmo deixando um aperto fraco no local. Logo redirecionando o foco a Melissa. — E bem.. sinto muito que as circunstâncias sejam essas. No entanto, farei o impossível para que tudo corra bem. — Garantiu sem pestanejar. Com uma seriedade súbita que em outra ocasião seria bem curioso, porém a enfermeira sentiu ainda mais segurança com aquela postura. Ela assentiu grata.

— Espero que possa afirmar de novo isso com essa mesma convicção. Porque.. — Melissa desviou a atenção para a porta de entrada ainda fechada, ouvindo claramente na área da frente da clínica o som inconfundível do motor do carro de Malia, logo em seguida o sonoro cantar de pneus. Yoshiro e Deaton também notaram tal ruído. Os três se entreolharam imediatamente. — É agora. E provavelmente não tá nada bonito. — Ela puxou uma longa lufada de ar para os pulmões antes de mover depressa seus calcanhares na direção da fechadura, girando-a e abrindo sem hesitar. 

Yoshiro assentiu mantendo uma postura determinada enquanto assistia ao longe as figuras de mais indivíduos adentrando o estabelecimento aos poucos, dessa vez fazendo uso da porta dos fundos. Seu semblante sempre transpassando serenidade, até mesmo quando escutou os rosnados de Liam.

Deaton suspirou deixando um toque gentil no braço do amigo, para então se adiantar em ajudar Isaac junto a Melissa, ao mesmo tempo em que explicava em alto e bom som sobre quem seria o médico estranho. Não tinham tempo para um surto territorialista vindo de Liam. Cada minuto era precioso.

— Preciso de ajuda aqui, agora! — Melissa avisou num tom alterado. Após colocar as luvas e uma máscara, logo guiando às mãos para pressionar o ferimento de Theo. Deaton se encarregava de ir conectando as máquinas ao corpo do chimera afim de terem uma noção melhor de como estavam os batimentos dele.

Yoshiro interpretou aquilo como uma permissão genuína para avançar. Não recebendo protestos agressivos vindo do pai lobo da criança. O médico não demorou a assumir seu lado profissional e focado. Instruindo antecipadamente a todos os envolvidos. Ditando quem deveria sair e ficar, ou o quê Liam poderia fazer. Até então, o único inimigo deles, era o tempo.

[•••]

|3:20 AM.|

Seu corpo inteiro doía, como se tivesse sido pisoteado. Mover minimamente um mísero músculo nunca pareceu tão exaustivo. Quase como uma paralisia do sono sorrateira, mas a diferença é que sempre damos um jeito para saber onde estamos ou o que estávamos fazendo antes. Sentia-se leve demais, e isso o perturbava. Como se não fosse certo.

Parecia que sua mente havia reiniciado por uns segundos, e não ajudava nada quando somente via imagens distorcidas por não conseguir abrir as pálpebras tão facilmente, o que trouxe a confusão frustrante. Sua cabeça latejou um pouco na primeira tentativa sutil, porém, não demorou a sentir uma dor agressiva momentânea em seu baixo ventre. Foi algo como um simples estalar de dedos.

As memórias do primeiro momento com Malia na reserva Hale, e então a luta, o sequestro. Flashes do que ocorreu nos túneis. Tudo retornando numa violência semelhante a uma avalanche, juntamente com os rostos daqueles homens que com certeza deixaram marcas duradouras e nada agradáveis em sua mente. Theo franziu a testa agoniado com tanta informação para assimilar. Até insistir outra vez, soltando um suspiro fraco por ser capaz de abrir os olhos mesmo que de modo lento.

A leve claridade com certeza fez arder um pouco suas íris claras com o contato súbito, mas o choque real veio assim que teve a capacidade de analisar ao seu redor. Sua respiração engatou em surpresa.

Os poucos móveis metálicos encostados na parede de concreto cinza, a familiar estante de metal no canto a consideráveis metros dele onde residia os clássicos sacos de ração que já cansou de ver, principalmente quando passou um período curto trabalhando com Deaton.. Caramba. Seus olhos não tardaram em marejar. Ele estava mesmo vivo?

— Theo, hey.. — O chimera nunca agradeceu tanto por ouvir aquela voz. Não pestanejando em virar a cabeça devagar para a direita rumo ao dono do timbre cansado. Sua respiração tremulou ao encarar a feição de Liam. Só então notando que tinha os dedos entrelaçados com os do beta, e pelo visto por um tempo significativo. — E-Eu, eu não... — O beta mal conseguia formular frases coerentes neste momento, então apenas trouxe a mão do namorado para perto dos lábios. Beijando de um jeito suave e demorado o dorso da mesma. Lágrimas escorreram pelas bochechas pálidas do outro após fechar os olhos. Theo esboçou um sorriso ladino quase imperceptível, deixando um aperto leve na mão do mais novo em resposta. — Me desculpa, me desculpa. Eu devia.. devia ter cuidado melhor de vocês.. — Liam murmurou após se recompor minimamente. Sem perceber falhando em medir suas palavras devido ao turbilhão de emoções que o atingiu sem aviso prévio. Logo o resultado disso veio.

De repente, o semblante sereno de Theo se dissipou. E pela primeira vez em anos, o chimera paralisou de medo por breves instantes. Uma voz ecoando em sua mente num lembrete; Sua filha, sua bebê. As mãos do mais velho tornaram-se frias de um jeito notório, o que fez Liam se erguer da cadeira onde se acomodou desde que a cesária havia se encerrado. Não queria ter abordado o namorado desta maneira tão brusca. Novamente neste dia Liam quis se espancar. Não era possível que não fazia nada certo.

— Amor, não. Calma, respira devagar.. — O beta instruiu depressa, usando um tom aveludado e carinhoso ao se colocar mais próximo do outro na maca. Theo possuía um ritmo respiratório relativamente rápido, mas tentou seu melhor para executar o pedido do beta. Liam pousou a mão esquerda sobre os cabelos bagunçados do mais velho, acariciando os fios para trás. — Tá tudo bem, okay? Confia em mim.. — Essas palavras por mais que carregassem uma intenção ótima por trás, apenas contribuiu para intensificar o desespero do chimera.

Ainda mais por perceber um detalhe alarmante assim que levou sua mão esquerda rumo a barriga. Não havia mais o aspecto avantajado que se acostumou por meses a carregar por aí, e logo compreendeu do que se tratava aquele desconforto dolorido em seu baixo ventre. Pontos, eram pontos. Theo fechou os olhos com força querendo simplesmente se desligar da realidade. As lágrimas já formadas descendo por sua bochecha direita. Ele direcionou o foco ao rosto de Liam, reunindo coragem.

— Cadê ela, Liam? — Sua voz saiu mais embargada do que realmente gostaria. Mas a essa altura não se importava em camuflar mais nada. Um nó forte se formou em sua garganta ao receber o silêncio, a feição até então indecifrável do namorado. Ele apertou a mão do beta mais uma vez, engolindo em seco. Olhando bem para as orbes azuis a sua frente. — O-Onde ela tá, por favor, me diz.. — Seu tom trêmulo ao implorar. Um soluço escapou por seus lábios sem que pudesse conter. O pânico sendo mais sufocante do que nunca.

Entretanto, Liam só se inclinou sobre ele, depositando um beijo casto em sua testa antes de pairar o rosto a cima do dele. Parecendo ter uma discussão interna enquanto o observava. E então o beta simplesmente sorriu. Ainda que fechado e meio simples. Não deixou de suavizar sua expressão.

— Ela.. ela é sua cara, Theo. — Liam afirmou de uma vez. Ignorando seu lábio inferior tremer. Concentrado demais em monitorar a reação do chimera. Que por uns segundos apenas permaneceu fitando ele, parecendo não acreditar no que acabou de ouvir. O beta riu anasalado respirando fundo. Acariciando os cabelos do namorado novamente. — Só vira, amor. Por favor. — Pediu gentilmente. Indicando através do olhar a esquerda de Theo, que não perdeu tempo em executar o movimento com a cabeça.

Foi como se o tempo tivesse parado. Ou estivesse num sonho muito lúcido. Theo levou a mão esquerda ao rosto afim de cobrir a boca, ignorando a dor leve do acesso ainda encaixado em sua veia. Uma sensação gelada cortou sua espinha repentinamente. Sua visão embasando por curtos segundos por culpa das lágrimas, até piscar vezes seguidas. Ele mal conseguia acreditar.

A bebê dormia pacificamente, acomodada no que parecia ser um berço hospitalar bem acolchoado. Estava envolvida numa mantinha grossa e branca, o que com certeza ajudava a ressaltar os detalhes delicados de seu rostinho sereno. Theo soluçou baixinho, o ruído sendo abafado por sua palma. O chimera mal piscava de tão abismado a medida que a analisava. Ela era perfeita.

Liam comprimiu os lábios tentando não desabar como fez há horas atrás, esperando por um momento antes de soltar com cuidado a mão do chimera. Dando a volta na maca em passos tranquilos. Theo nem desviava os olhos da filhote, totalmente alheio aos movimentos de Liam até vê-lo parado já em frente ao berço. O chimera redirecionou rápido os olhos na direção do mais novo, que sentiu o coração apertar. Ele nunca soube lidar com os olhos verdes chorosos do namorado.

— Ela provou ser tão forte quanto você, mas isso a gente já sabia, não é. — Liam lançou um sorriso gentil ao mais velho, logo voltando-se a filha. Contando até três para então pegá-la. Sem dúvida até agora morria de medo de fazer isso, mas de qualquer jeito estava aprendendo na marra. Theo somente o assistia sem emitir uma palavra sequer. Observando o jeito delicado como o beta passou as mãos com cuidado por debaixo do corpo da pequena, dando apoio para a cabeça dela antes de erguê-la. A bebê resmungou baixinho. — Shh.. sei que não gosta quando acordam você, eu sei. Mas tem que conhecer quem estava mais ansioso pra te ver.. — Sussurrou num timbre calmo rente ao ouvido minúsculo da outra, ajeitando-a devagar até aconchegá-la contra seu peitoral. Não ponderando em ir para o outro lado da maca afim de dar uma boa visibilidade dela a Theo.

O mais velho foi afastando a palma de seu rosto aos poucos, sua mão nitidamente trêmula. A ponta de seu nariz meio avermelhada devido ao choro silencioso. Liam se sentou na cadeira meio alta ao lado da cama hospitalar, praticamente colado com o chimera. O beta ajeitou a manta ao redor da bebê, que esfregou as mãozinhas pelo rosto.

— Por favor.. se isso for um sonho eu não... não quero acordar. — Theo choramingou na última parte ao negar com a cabeça, fungando um pouco tentando controlar o choro recorrente. O que não deu muito certo já que no mesmo segundo, Lori resolveu abrir os olhos.

O chimera entreabriu os lábios pasmo, alternando o olhar entre o namorado e a filha de tão fascinado. Liam sorriu abertamente também surpreso. O mais velho escondeu depressa o rosto contra as mãos novamente ao sentir que uma onda forte de lágrimas viria dessa vez. Era surreal demais.

— Ela não tinha aberto os olhos ainda. Mesmo depois de ser alimentada... — Liam comentou após emitir uma risada fraca. Disfarçando no último segundo a feição chorosa que passou por sua face. Firmou mais sua mão esquerda nas costas dela. Concentrado em observar a maneira da pequena em olhar tudo, parecendo curiosa. Embora soubesse que recém nascidos não enxergavam nada com clareza, era explícito que ela procurava algo. E o beta sabia muito bem o quê, ou melhor quem. — E só abriu assim que escutou sua voz.. — Completou num tom emotivo, mas a confiança permanecia em suas palavras.

Ele direcionou o foco ao mais velho em seguida. Esperando pacientemente que o mesmo se acalmasse. Afinal, tinha total noção de que apesar da dose de alegria por agora, não estava sendo e nem seria tão fácil assim superar aquele susto. Dunbar se locomoveu meramente para fora da cadeira após tal pensamento. Sentando-se devagar na beirada da maca que por sorte tinha espaço suficiente.

Theo respirou fundo umas duas vezes antes de esfregar o rosto, expondo seu semblante cansado, os olhos meio inchados mas de uma forma adorável na concepção de Liam. Porém, nem toda a exaustão do mundo poderia ocultar aquele brilho um tanto diferente no olhar do chimera. Liam sorriu ladino indicando Lori em seu colo. O mais velho emitiu um breve riso nervoso sem se conter, mas não hesitando em esticar minimamente os braços de um jeito ansioso.

— Pelo visto, você é atenta a tudo como seu pai, não é.. — Theo disse em seu tom rouco. Enquanto o mais novo manobrava com cautela Lori para os braços do chimera, que graças aos instintos bem ativos, soube exatamente o modo melhor para acomodá-la contra ele. Sendo perceptível a maneira protetora como a abraçava. Lori encarava ele, piscando devagar em resposta a voz do Raeken, parecendo assimilar a presença dele. — Tive tanto medo, minha vida. Medo de não poder conhecer você.. — Engoliu em seco fungando mais uma vez, não demorando a passar suavemente os dedos da mão direita pela feição tranquila da menor. Contornando cada detalhe sem pressa alguma. Lori deixou claro está gostando dos toques, pois começou a ficar sonolenta de novo. Uma lágrima solitária escorreu pela bochecha de Theo. — Prometo manter você segura, meu amor. Eu juro.. — Sussurrou. A medida que contemplava a filhote com total atenção. Perdendo-se na arte que eram seus traços.

Ele aproximou mais a face da dela, encostando seus lábios com cuidado num beijo demorado sobre a testa da pequena que piscou fechando os olhos em reflexo antes de bocejar. Liam ao longe permitiu-se sorrir largo sentindo o coração dar uma guinada em alegria. Ele mal acreditava ainda, que sua família havia crescido. Ou que ele era pai finalmente. Refletia sobre tais fatores no silêncio confortável. Seu foco em nenhum momento desviando de seus bens mais preciosos.

Theo por outro lado, enfim se entregou aos bons minutos que ele merecia. Ficando inteiramente absorto no momento com sua filhote. Atento em memorizar cada mínimo detalhe, cada reação. Enquanto acariciava com delicadeza os fios ralos castanhos que habitavam na cabeça da pequena. Certificando-se em executar toques leves, uma atitude bem nova em si se parasse para pensar. Bem como se em sua concepção Lori fosse algum tipo de boneca de porcelana rara. Jamais se sentiu assim em toda sua vida.

O mais velho não tinha uma noção exata de quanto tempo se passou após isso. Somente reparou que Lori logo adormeceu outra vez, e com o pequeno ouvido aconchegado próximo a seu coração. E isso depois de um período aparentemente longo observando-o até as pálpebras começarem a pesar demais. Passou-se alguns segundos; ela moveu durante a inconsciência sua mãozinha esquerda de forma desajeitada para segurar o dedo indicador dele com certa força.

Theo tentou a todo custo ignorar a ardência nos olhos. Ainda que nada colaborasse para isso. Ele ofegou minimamente, erguendo o olhar rumo a Liam a tempo de reparar no semblante comovido do beta que o assistia. Dunbar desde então mantinha-se numa distância respeitosa, porém não perdendo a postura de cão de guarda.

— Me desculpa.. — Theo murmurou. O timbre meio falho enfatizando seu estado sensível. Seus braços se contraindo com calma, puxando Lori para mais perto, se era possível. Suas íris verdes não desviavam de Liam. — No fundo eu senti que deveria ter ficado em casa, m-mas..

— Shh.. amor... — Liam pediu. Adiantando-se em se aproximar. Arrastou-se pelo colchão meio fino da maca, tendo sutileza nos movimentos. Pousando logo em seguida a mão esquerda contra o rosto do namorado, que se inclinou ao toque de maneira necessitada. O beta umedeceu os lábios, acariciando a bochecha rosada do outro com o polegar. — Vamos com calma. A única coisa que quero agora é que descanse, mas principalmente lembre-se de que está aqui.. — Disse devagar. Enviando um olhar profundo ao chimera inquieto, que foi estabilizando o ritmo respiratório novamente. Liam comprimiu a boca, descendo de relance o foco para Lori. — Que vocês dois, estão. — Respirou fundo, não se contendo em romper um pouco do espaço entre eles. Plantando um beijo suave e demorado no beicinho choroso que Theo mal notava quando fazia.

Raeken retribuiu no mesmo instante. Percebendo a tensão diminuindo relativamente de seus ombros, a medida que se entregava ao toque íntimo com o passar dos segundos. Ele definitivamente precisava daquilo depois de tantas emoções pesadas. Ou melhor, precisava de Liam.

— Deita aqui?.. — Theo suplicou baixinho após romperem o selar, embora não quisessem. O chimera soou um tanto temeroso assim que o namorado fez menção de se afastar dele. Liam analisou o olhar do mais velho, especialmente a feição. Não levou muito tempo para notar o pavor estampado ali com todas as letras. Isso o quebrou ainda mais, pois só viu esse olhar antes em Theo há anos atrás. — Por favor... — Choramingou o pedido ao não receber resposta. Liam esboçou um sorriso ladino em compreensão, passando a mão pelos cabelos meio longos do namorado.

— Tem sorte dessa maca não tá caindo aos pedaços. — Comentou num tom brincalhão afim de tentar descontrair. Não hesitando em se ajeitar com cuidado no espaço razoável que habitava ao lado do mais velho. Que de qualquer modo conseguiu se mover minimamente para esquerda, mas não muito por Liam ter impedido no mesmo segundo, passando o braço direito enlaçando o quadril do chimera. — Hey, não. Seus pontos precisam cicatrizar bem, amor. — O beta alertou gentilmente. Sua expressão num misto de preocupação e carinho. Deixou uma vaga carícia pela cintura do Raeken ao soltá-lo. Arrumando a postura e apoiando as costas na parte elevada da maca. Theo não tardou em se aconchegar nos braços do mais novo.

— Minha cura pelo visto tá uma porcaria, então.. — O chimera resmungou ao suspirar meio cabisbaixo. Deitando levemente a cabeça sobre a clavícula do Dunbar que o apertou com carinho pelos ombros sem pestanejar. Theo desceu o olhar para checar Lori apagada em seus braços. Esboçando automaticamente um sorriso suave, movendo o polegar pela mãozinha dela ainda presa a seu dedo. Logo sentiu Liam beijando sua testa.

— Sabe que nosso emocional atrapalha na cura. Só que neste caso, você não tem culpa disso. — Liam explicou brevemente com os lábios rente aos cabelos bagunçados de Theo. Logo inspirando o cheiro dos fios. Ele não sabia até hoje como o namorado conseguia cheirar tão bem quase todo o tempo. O chimera ergueu de repente a cabeça para encarar o pai de sua filha. Exibindo através do olhar a incerteza que pairava em seu peito. — Não. Para, Theo. No fundo sabe que tô certo. — Disse enquanto acariciava o ombro esquerdo do mais velho onde sua mão residia. Theo mordeu o lábio inferior, desviando o foco do rosto do beta.

— Acredite, eu queria concordar com você.. — Confessou num tom embargado na última parte, apesar de odiar toda essa emotividade. Suas orbes verdes se concentraram em observar o rostinho sereno de Lori. Embora sentisse aquele frio horrível na boca do estômago só de lembrar do que mais o apavorou. — E-Eles.. disseram que levariam ela.. pra longe da gente. Pra longe de mim... — Engoliu em seco não fazendo esforço para ignorar as lágrimas já formadas mais uma vez, que molharam suas bochechas depressa. Theo revirou os olhos aborrecido, por um momento sentindo exaustão, só que não física. — Eu não queria fazer assim. Ter que criar ela sabendo que uma hora.. teríamos que fugir se preciso.. — Theo nunca odiou tanto verbalizar como agora. Sentia-se ridículo pelo quão trêmula sua voz saiu. Ele respirou fundo se encolhendo mais contra o aperto de Liam. Trabalhando internamente de novo para buscar um meio de cessar aquele pânico. Ainda que os soluços sutis que tentava segurar, fossem persistentes.

— Meu bem..shh.. olha pra mim. Aqui. — Liam chamou determinado num volume baixo, guiando a mão direita rumo ao queixo do namorado afim de trazer o foco do mesmo até si outra vez. Certificando-se de não executar movimentos bruscos para não acordar a filhote nos braços do chimera. — Primeiro, concentre-se na minha respiração. Vamos.. você pode fazer isso. — O beta pediu num tom paciente ao encostar sua testa com a do mais velho. Logo subindo a mão pelo rosto do companheiro sem hesitar até pousá-la na bochecha corada. Theo fechou os olhos em reflexo ainda meio ofegante. Levando alguns segundos para conseguir organizar as emoções nos eixos certos pelo menos por hora. Liam ficou imóvel, esperando enquanto monitorava a respiração do Raeken até notá-la tranquila o suficiente. — Lembra o que todos afirmaram quando descobrimos sobre nossa lobinha? — Murmurou retoricamente. Theo apenas ouvia, não se importando muito em sinalizar uma resposta. — Não estamos sozinhos. E posso dizer quantas vezes for preciso, seja lá quem for essa gente, não vão ousar se meter com a nossa alcatéia de novo. — Garantiu firmemente. Tendo de segurar um rosnado no fundo da garganta na última parte.

Theo por um milésimo de segundo, quase pôde ver nitidamente uma breve aura sombria refletindo nos olhos azuis de seu namorado. Apertou os lábios apreensivo diante daquilo. Sentindo uma pontada de intriga sem evitar, porém no momento apenas quis roçar de leve seu nariz contra o de Liam num carinho antes de afastar suas faces. Não demorou para o brilho habitual retornar às íris claras do beta, ainda que misturado ao cansaço. Theo inspirou fundo voltando a repousar sua cabeça na clavícula do Dunbar, esfregando um pouco a lateral do rosto ali.

— Primeiro foi na Lua cheia, e a agora no seu nascimento essa bagunça... — Liam franziu um pouco a testa confuso a princípio ao escutar o chimera murmurando após segundos de quietude. No entanto, logo compreendeu se tratar de um diálogo com Lori, embora a pequena ainda dormisse. O beta esboçou um sorriso carinhoso descendo de forma mínima o olhar, observando Theo brincar com os dedinhos dela. — Como agora sei que não gosta de ser acordada. Imagino o quão irritante deve ter sido tudo isso, não é filha.. — O tom bobo e baixinho que o chimera adotou subitamente, foi sem dúvida uma das melhores melodias que o beta teve a honra de ouvir. Liam bufou uma risada fraca, retirando a mão esquerda do ombro do mais velho só para guiá-la à cabeleira do mesmo. Executando um breve cafuné.

— Ela parecia bem irritada horas antes de você acordar. — Comentou distraído. Aconchegando a cabeça sobre a de Theo, que piscou atento somente esperando o namorado continuar. — Senti que ela não queria ninguém por perto depois que Melissa a limpou e deu a fórmula. Exceto você e eu. É como se ela já soubesse diferenciar nossos cheiros. — Liam explicou em meio ao olhar distante. Não sendo capaz de deixar de expor uma de suas fascinações sobre a filha. Por bons segundos a concentração o envolveu de novo, mantendo-o ocupado em admirar os detalhes de Lori. As sobrancelhas quase invisíveis, o formato do nariz delicadamente arrebitado. O beta suspirou contra os cabelos do outro. — Sério, amor.. ela é muito a sua cara. Melissa quase não acreditou quando viu. — Falou com tanta convicção no tom. Causando um breve rubor inesperado pelas bochechas do chimera, que se encolheu acanhado.

— Posso ser suspeito pra falar, mas.. vi mais de você nela. — Theo murmurou tímido e não parecia estar brincando. O beta franziu a testa surpreso, tendo a confirmação só de ouvir a sinceridade explícita na voz do namorado. — Não sei explicar, eu só.. ela me lembra você também. — Completou dando um meio encolher de ombros, relaxando ainda mais com os afagos que recebia. Soltou com cuidado seu dedo da minúscula mão da filhote, levando o polegar para acariciar a bochecha gordinha dela. Theo esboçou um sorriso ladino quase imperceptível, perdendo-se em pensamentos. Até se dar conta de uma certa informação. Ele tinha que perguntar. — Foi a Melissa.. que alimentou ela?.. — O desconforto foi mais difícil de disfarçar do que esperava. E isso Liam não tardou em perceber. 

— Na verdade não. — Respondeu de forma tranquila, intensificando o cafuné durante a breve pausa. Theo se recostou mais nele automaticamente. — Ela sabia que.. seria melhor um de nós ter atitude nessa parte. Ainda mais porque a Lori não se sentiu confortável em ficar longe do meu cheiro devido a.. circunstância.. — Tentou explicar com a maior delicadeza possível. Plantando beijos castos pela têmpora de Theo que fechou os olhos em reflexo. De fato, agradecia tanto pelo namorado saber a maneira certa de mantê-lo estável. — Lori mamou por uns 10 minutos, ficou meio esperta depois e Melissa me ajudou em algumas partes. Ela dormiu por um tempo. Até o momento em que você acordou.. — Praticamente era o relatório completo. E por uns instantes Theo sentiu como se não tivesse perdido as primeiras partes importantes. Porém, aquele sentimento incômodo retornou. O chimera apenas suspirou, assentindo. E Liam entendeu aquela mudez repentina. — Meu bem.. eu sei que você queria ter...

— Não, tá tudo bem. O que importa é que cuidaram bem dela. — O mais velho o cortou, não tão gentilmente como gostaria, mas de qualquer forma Liam sabia que não era nada pessoal. O beta só concordou com a cabeça devagar ao prensar os lábios, achando melhor se manter quieto, enquanto acariciava o braço do namorado que sustentava Lori. Theo respirou fundo tentando ignorar aquela sensação, que ele sequer entendia. Sentia-se irritado, frustrado num nível quase absurdo que o deixava inquieto. Haviam cuidado de sua filha quando ausente, então por que reagir assim? Raeken focou a atenção na bebê ainda lidando com essas questões internas. Movendo a mão rumo aos cabelos dela. — Me desculpa, Liam.. eu não quis.. ser um idiota. — Negou com a cabeça minimamente ao lamentar.

— Não é idiota querer ter visto ela no primeiro momento, ou ter dado a primeira mamadeira.. — O beta divagou de um jeito breve, sempre em seu tom paciente e amoroso. O que foi amenizando um pouco do aborrecimento em Theo, além da culpa perceptível por ter sido rude com o mais novo. — Só.. entenda que você fez muito também, okay? Protegeu nossa filha desde o início. E agora temos chances de estar com ela em todos os momentos. — Ressaltava num sussurro íntimo próximo ao ouvido direito do chimera, que suspirou trêmulo somente permitindo o outro a continuar. — Foi injusto sim a forma como tudo aconteceu pra estarmos aqui. Mas a partir de hoje, todos os instantes ao lado dela são uma primeira vez. E serão tão especiais quanto agora. — Prometeu sem nenhum fundo de incerteza, ou só um meio de consolação barata.

Eram palavras reais, e essa era só uma das diversas qualidades que Theo mais amava no namorado. Liam mesmo quando não tinha ideia do próximo passo, acabava descobrindo um jeito de conduzir determinada situação com maestria. Theo virou a cabeça erguendo o olhar, examinando o rosto do beta.

— Obrigado, por tudo. — A vulnerabilidade no semblante do chimera juntamente ao alívio naquelas palavras. Liam a essa altura já havia se entregado, depois de horas, às poucas lágrimas que molharam suas bochechas. Theo sorriu suavemente, depositando um selinho demorado contra os lábios do outro que retribuiu de bom grado. — Se eu tive forças pra lutar, vocês dois.. — O mais velho indicou a filhote vagamente, logo prosseguindo. — Foram os principais motivos.. — Confessou. Emitindo um riso anasalado ao levar a mão esquerda com cuidado rumo à bochecha do beta, enxugando umas duas gotículas. Liam beijou a palma do mais velho, que o lançou um sorriso choroso. — Não acredito que estamos piores que ela. Isso é ridículo. — Theo negou com a cabeça, deixando um beijo rápido na testa do beta antes de se voltar à filha. Sem dúvida, ouvir a risada baixa do Raeken depois daquela tortura, trouxe uma paz imensa a Liam. — Eu juro, filhote. Não éramos tão chorões assim até saber sobre você. Não que isso seja ruim. — Murmurou para Lori num tom doce ao acrescentar a última parte. Afastando meramente a manta na área do peitoral dela, observando a roupinha clara. Não lembrava muito de todas as peças que ganharam, mas admitia que essa era adorável. Combinava com com sua bebê.

— Não é ruim mesmo. Graças a Lori que conheci mais do seu lado sentimental. E ela pelo visto herdou a fofura de você. Tá estampada neste rostinho. — Liam comentou com um sorriso orgulhoso em seus lábios. Voltando com o cafuné nos cabelos do mais velho enquanto levava a mão livre à filha. Ele posicionou o indicador e polegar em cada lado nas bochechas dela, brincando com cautela nas áreas levemente carnudas. Distraído o suficiente para não notar dessa vez o rubor forte que tomou o rosto de Theo, que riu baixinho ainda não totalmente acostumado a elogios. — E.. por falar nela, amor... — Iniciou num timbre neutro, ganhando a atenção imediata do namorado. Liam sorriu ladino, retirando com os dedos alguns dos fios meio longos do chimera caídos na testa. — Já sabe qual nome? Q-Quer dizer, você viu o rosto dela agora, então pensei..

Theo levou o lábio inferior entre os dentes afim de conter o breve riso, curtindo por hora ao assistir o modo atrapalhado como o beta tentava se explicar. O mais velho negou com a cabeça de um jeito quase imperceptível, porém o que o entregou de fato foi a aura divertida que acabou dominando sua feição.

Liam em instantes foi desacelerando o falatório nervoso ao perceber, revirando os olhos por ter se preocupado talvez demais em como falaria sobre tal quesito. Entretanto, preferia ver Theo zoando com sua cara de novo do que vê-lo tão quebrado como há minutos atrás. O beta bufou fraco sustentando um pequeno sorriso carinhoso. Theo suspirou fundo, dando outro selinho no mais novo.

— Agora que me provou ser o pai bobão. Sim.. eu... eu já tenho um nome em mente.. — Admitiu num sussurro ainda com os lábios a centímetros da boca do beta, que por míseros segundos ficou estático. Theo o lançou um olhar cativante, logo redirecionando o foco a filhote. Liam copiou o ato do mais velho, apenas aguardando. — Hope.. — O chimera proferiu de maneira sugestiva. Porém, sem nenhum resquício de incerteza por trás, e sem contar na satisfação em seu semblante. Dunbar entreabriu os lábios impressionado, gostando de como o nome soou. — Uhm.. tudo bem se você não..

— Combina com ela. — Liam disse subitamente. Vendo Theo lhe encarar rápido erguendo as sobrancelhas surpreso, o que o deixou ainda mais adorável. O beta emitiu um riso curto em carinho, desviando a atenção para a filha de novo. — Hope.. Hope Lori Raeken Dunbar... É um ótimo nome. — Acrescentou maneando a cabeça de leve para o lado em concordância. Pousando a mão cuidadosamente sobre a cabeça da bebê. Theo possuía um sorriso terno enquanto admirava o namorado, contente por ele ter entendido seus motivos do porquê de nomeá-la assim. — Sabe que ela tem sorte em ser sua filha, não é? — Embora o mais novo tenha sido retórico, adoraria ouvir uma resposta. Um indício, ainda que pequeno, de que o chimera poderia começar a se enxergar da mesma maneira como Liam o via.

— Eu realmente espero que sim, amor. — Theo disse após soltar uma lufada de ar, evidenciando seu cansaço. Recostou vagamente a coluna contra o acolchoado elevado da maca, sentindo os dígitos de Liam escovarem seus cabelos. Seus olhos verdes focaram rumo ao teto por breves instantes antes de voltá-los para sua pequena. — Só sei que eu.. eu sou o sortudo aqui. Por ter vocês.. por ter ganhado essa lobinha. — Ele esboçou um sorriso suave ao deslizar com cuidado os dedos sobre o corpo frágil da criança, que suspirou baixo emitindo um ruído fofo.

Theo riu encantado junto a Liam enquanto apreciava a maciez no tecido do macacão, recordando-se durante esse meio tempo das vezes em que se pegava imaginando como as roupinhas ficariam nela. Isso até ser surpreendido com Lori despertando de repente. O chimera naquele instante quase jurou que morreria de fofura.

Ela primeiro passou a esfregar de modo desajeitado o dorso das mãozinhas no rosto, não demorando a esticar em seguida os pequenos braços para cima espreguiçando-se no colo do Raeken. O mais velho mal soube lidar com aquela cena. Com o fato dela estar tão a vontade. Ele não choraria novamente. Chega.

— Eu juro que nunca quis tanto apertar um bebê.. — Liam comentou num falso tom choroso por infelizmente ter que se segurar, conformando-se em somente beijar o topo da cabeça da filha por enquanto. Theo emitiu uma gargalhada baixa, assentindo. Removendo um pouco da manta que envolvia o corpo da recém nascida por perceber que estava deixando-a desconfortável. Ela não tardou em mirar o olhar na direção de Liam após Theo ajeitá-la melhor, o que cativou o beta rapidamente. — Sim, eu tô falando de você, meu amor.. — Ele ergueu de leve as sobrancelhas ao adotar um tom de voz tolo para falar com a menor, que piscou de maneira graciosa parecendo prestar atenção nele. Theo não poderia estar mais apaixonado. — Nem parece que nasceu há algumas horas só. Eu tinha cara de joelho na sua idade, filha.. — Informou com a maior seriedade subitamente. O chimera quase riu alto se não fosse pela dor que sentiu.

— Que droga, Liam. Para de me fazer rir. — Theo pediu num timbre risonho ao fechar os olhos com certa força. Embora o desconforto nos pontos, sentia-se mais leve e disposto. Na realidade, seguro era o termo melhor. Ouviu Liam se desculpar seguido de um beijo em sua testa. O chimera respirou fundo acenando com a cabeça, somente esperando a dor aguda se dissipar eventualmente. Corria tudo bem até essa parte, mas então sentiu o toque leve da mãozinha de Hope em seu pulso. O mais velho arregalou de leve os olhos ao notar as veias negras percorrendo o braço dela. Trocou de relance um olhar pasmo com Liam que se alarmou também. — Não, não. Filha, não faça isso, meu bem.. para. — Usou um tom gentil ao dirigir o pedido à ela, ainda que a pequena não compreendesse. Theo não hesitou em afastar a palma dela de sua pele, mas foi como se tivesse sido o pior erro do mundo já que desencadeou na filhote choramingando em segundos. — Calma, pequena. Não precisa.. — Mal pôde terminar a frase. O ambiente foi preenchido pelo choro fino e meio alto. Theo sentiu o coração acelerar de nervoso, tomando a atitude de erguer a bebê com calma em seu colo apesar da falta de jeito. Liam o deu um pouco de espaço, mas permanecia perto.

— Amor, se quiser eu posso.. — O beta parou no meio da sugestão assim que recebeu um aceno em negação quase imperceptível do mais velho, junto a uma súplica diferente no olhar dele. Não era anseio por ajuda. Ele queria lidar com a filhote, mas dessa vez, sozinho.

Liam comprimiu os lábios concordando com a cabeça, lançando um sorriso fraco em encorajamento. Claro que ignorar seus instintos lupinos devido ao choro de Hope e não poder pegá-la, foi um saco. Entretanto, a necessidade de respeitar o pedido de Theo era ainda maior. E pensando por outro lado, se não tivesse acatado, não teria visto tal cena se desenrolando a sua frente.

Theo mesmo com o acesso ainda introduzido na mão esquerda, conseguiu equilibrar impressionantemente rápido o corpo da bebê em seu ombro direito. Segurando-a com tanto cuidado e proteção. Liam sentia que iria explodir. O chimera dava tapinhas suaves nas costas dela, que resmungava de um jeito choroso e manhoso de certo modo. O beta cruzou os braços admirando a situação, a sensação confortante só aumentando em seu peito ao vê-la aconchegar o rostinho contra o pescoço do Raeken.

Embora nenhum dos dois tivesse ideia de como contornar todos os desafios pela frente, era como Deaton havia explicado. Os instintos seriam as vantagens para a maioria das ocasiões. Guias, para ser mais exato. E bom, isso soava reconfortante desde o início.

— Tá tudo bem, meu amor. O papai tá bem.. — Theo murmurava com seu timbre rouco próximo ao ouvido da filhote, enquanto sustentava com delicadeza a cabeça dela por ela ainda não ter autonomia e firmeza em todos os movimentos. O chimera por impulso começou a distribuir beijos demorados pela costa dela, certificando-se em mantê-la na posição aparentemente confortável. O choro ainda presente enquanto isso. — Você é a bebê aqui. Sou eu quem preciso cuidar de você, Hope.. — Conduzia uma conversa com a menor sem ao menos notar. Sentindo o estômago revirar num sentimento bom ao ouvi-la resmungar de volta algumas vezes. Theo riu incrédulo em adoração. Ele tinha a melhor filha do mundo. — Também te amo, vida. Mas vamos combinar de você não fazer isso de novo, por um tempo, okay? Você é muito pequena ainda. — Não esperava resposta obviamente, mas torcia muito mesmo para que isso não se repetisse.

Theo respirou fundo continuando a plantar beijos suaves pelo dorso dela, subindo um pouco rumo a minúscula curvatura do pescoço. Não escondendo a satisfação ao farejar. Ele nunca imaginou que amaria tanto o tal cheirinho de bebê. E essa altura, Hope somente emitia ruídos baixinhos, bem mais tranquila do que antes. Ele riu anasalado quase não acreditando que conseguiu.

— Era isso que eu ia falar. — Liam comentou ao longe subitamente preenchendo o silêncio, aproximando-se de novo. Theo franziu a testa curioso ao ouvi-lo, erguendo mais a cabeça. — Ela é mais parecida com você do que imagina. Nossa lobinha mostrou adorar beijos no pescoço tanto quanto você. Só assim ela dormiu rápido. — O beta tinha um sorriso travesso nos lábios. Theo se viu desarmado diante ao comentário do outro, querendo se bater por como suas bochechas esquentaram quase no mesmo instante. Até tentou esconder da vista do namorado, mas foi inútil. — Para de besteira. — Pediu negando com a cabeça. Inclinando-se com calma até alcançar os lábios do chimera que não viu como resistir ao selinho. — Você foi incrível, como em tudo que faz. — A sinceridade na frase era quase palpável. Liam checou Hope por breves segundos antes de se ajeitar em pé ao lado da maca. Theo ainda tentando lidar com a onda de elogios. — Ela já é muito apegada a você, Theo. Mas vamos cuidar pra que essa mocinha não fique se exigindo pra absorver a dor. — Disse como um lembrete no tom repreendedor. Passando a mão devagar pelo braço gordinho dela, que agora lhe encarava. — Não faça isso, tá bom? Não pude brigar enquanto você tava no útero do papai, mas agora tô brigando. — O aviso tinha potencial para ser sério, se não fosse pelo tom carinhoso e bobo que o beta usava.

— Seremos pais moles, não é? Já tô até vendo. — Theo comentou ao negar com a cabeça minimamente, apoiando a bochecha contra a lateral do rosto da filhote. — Sinto como se eu fosse um adolescente de 16 anos agora. Mas ao mesmo tempo é tão.. bom. — Declarou rindo baixo, cheirando os cabelos da filha. Sentindo a mãozinha direita dela próxima a seu pescoço. — Ainda nem acredito que ela fez isso.. — Murmurou mais para si mesmo mas não tinha como Liam fingir que não escutou. — É normal? Digo, ela é só um bebê.. — Questionou de forma tranquila, mas a preocupação sutil estava ali. Liam entreabriu os lábios tentando formular algo para dizer mas no fim, somente acariciou os cabelos do chimera.

— Na verdade, era sobre isso que eu.. — O beta se interrompeu assim que ouviu duas batidas breves na porta. Sua cabeça virando na direção do som rapidamente. Não notou de início Theo tensionar quase que de modo instantâneo, abraçando mais o corpo da filha contra ele.

O semblante simpático e tranquilo de Yoshiro surgiu após a porta ser mais aberta. O homem dessa vez trajando um jaleco limpo igualmente a sua blusa social por baixo. Liam agradeceu em sua mente por isso, já que a imagem da roupa do japonês coberta do sangue de seu namorado, ainda era fresca em sua memória. O beta negou com a cabeça afastando tais pensamentos, voltando-se a Theo em seguida. Porém, a feição que o chimera carregava não era nada boa.

O doutor assumiu um breve sorriso surpreso ao analisar melhor o casal, mais por ver seu paciente acordado. No entanto, teve que parar no meio do trajeto bruscamente assim que um rosnado forte soou. Takahashi trocou um olhar meio alarmado com Liam devido ao susto, mas se manteu parado em respeito.

— Theo, calma. Por favor. — O tom do mais novo era firme. Contudo, a paciência e gentileza se faziam presentes. O beta suspirou ao pousar a mão esquerda sobre a do outro, que permanecia amparando a bebê. Theo encarava o médico sem piscar. Suas orbes amarelas vidradas no japonês, a espera de qualquer menção de possível movimento ameaçador. — Sério, tá tudo bem. Ele nos ajudou em todo o processo. — Tentou mais uma vez. Deixando um aperto carinhoso no pulso do namorado. Theo hesitou por bons segundos antes de desviar os olhos para o namorado, apreensão nítida estampada neles. — Eu juro, amor. Confia em mim.. — Pediu lançando um olhar profundo ao mais velho, mal notando quando suas íris responderam as do chimera. Brilhando intensamente. — Ele não vai machucar você, ou ela. Okay? — Garantiu. Notando a inquietação do mais velho diminuindo.

— Promete?.. — A insegurança e pavor perceptíveis no timbre do Raeken eram tão palpáveis. Ele parecia tão.. frágil. Liam prensou os lábios assentindo devagar, vendo o aperto ao redor de Hope diminuir minimamente. A bebê permanecendo sossegada com a cabeça deitada no ombro do pai, mas ainda assim atenta a tudo. O doutor Yoshiro deu apenas um passo a frente. E o chimera se encolheu de maneira automática. — Espera. Por favor, deixa ela aqui.. não leva ela.. — Theo começou a implorar, como se tivesse entrado num transe parcial. Seus olhos ainda brilhantes em uma mensagem clara de que a parte lobo estava de guarda tanto quanto o próprio Theo. Liam ia se pronunciar. Quando o médico decidiu assumir a palavra.

— Pode ficar tranquilo, não vou levá-la a lugar nenhum. Apenas vim checar vocês. — O japonês respondeu em um tom sereno ao erguer um pouco a mão esquerda num pedido silencioso por calma. Seus pés se movendo com cautela. — Sua cesária correu perfeitamente bem no final, porém no início houve algumas complicações. Só tenho que verificar os batimentos da sua bebê. E claro, seus pontos. — Foi explicando a medida que encurtava a distância entre ele e o chimera. Não desviando o olhar do paciente em nenhum instante.

Os olhos do Raeken a essa altura já haviam retornado para o clássico verde azulado. Todavia, a tensão não se dissipou de seu corpo. Ainda segurava a filhote como se fossem arrancá-la de seus braços a qualquer momento. Embora Liam estivesse quase que colado a ele. Yoshiro terminou sua aproximação mas esperava uma permissão genuína de que poderia de fato executar o exame. Sua postura era paciente, além da expressão empática.

— Que tipo de complicações?.. — Theo murmurou a pergunta num tom de voz neutro. Analisando o médico de cima a baixo com sua típica desconfiança no semblante. Uma movimentação extra na porta do local chamou sua atenção. Logo assistiu a silhueta de Melissa surgir em seguida, adentrando. O chimera piscou suavemente ao vê-la, sentindo que podia em partes relaxar.

— Querido, eu sei que.. tem motivos o suficiente pra reagir assim. Mas saiba, que está seguro aqui. — A McCall veio dizendo durante o trajeto. Com seu habitual tom carinhoso e feição gentil. Colocou-se ao lado do japonês que apenas concordou com a cabeça. — O senhor Takahashi é amigo do Deaton e um ótimo profissional. Sério, vocês não estão em mãos erradas. Sem ele.. o pior poderia ter acontecido. — Reafirmou o fato bem lentamente, com o devido cuidado.

Theo respirou fundo alternando o olhar entre eles por alguns segundos, não demorando a redirecionar o foco a Liam em sua direita. O beta assegurou num aceno breve, deixando um carinho demorado nos fios bagunçados do mais velho. Que abaixou a cabeça vagamente antes de enfim, permitir a aproximidade.

— Se quiser.. que Melissa conduza o exame.. — Yoshiro sugeriu timidamente enquanto ajeitava o estetoscópio em seu pescoço, pondo-se mais perto da maca no lado esquerdo. Theo iria protestar sobre, quase pronto para aceitar mas fora interrompido.

— Desculpe, Yoshiro mas.. acho melhor você mesmo checar essa princesinha.. — Melissa tentou não parecer muito ansiosa ao se pronunciar. Porém, isso não passou despercebido por Theo. A McCall pousou a mão sobre o tornozelo do chimera por cima do tecido do lençol, deixando um aperto carinhoso na área ao notar o olhar do Raeken em si. — Ele tem mais conhecimento em crianças sobrenaturais do que eu. E dará respostas com exatidão. Mas estou aqui, hum? Não vou sair. — Garantiu lançando um sorriso meigo a ele, que engoliu em seco se dando por vencido. Liam direcionou uma feição agradecida à ela.

— Pode colocá-la deitada, por favor? Em suas coxas mesmo, se preferir. — O médico instruiu ao gesticular os braços um pouco. De um jeito que seria até cômico se não fosse pelo clima. Theo então se deu conta de que não havia mudado a filha de posição, esta que cochilava. — Prometo que será rápido. — Acrescentou esboçando um sorriso mínimo e acolhedor. Raeken concordou mordendo o lábio inferior, apoiando a cabeça da filhote em sua palma e as costas dela na outra mão. Desceu os braços até depositar o corpo pequeno no lugar pedido.

Hope choramingou em desagrado ao ser afastada do calor e cheiro do pai meio bruscamente. Liam não tardou em acalmá-la ao se colocar mais perto. Segurando a mão fofa dela, que apertou seus dedos com certa força em resposta. Theo não conseguiu deixar de sorrir singelo para aquela cena, continuando a seguir as instruções do japonês.

O chimera ainda que relutante, desabotoou os primeiros três botões na roupinha dela, expondo parte do peitoral da pequena. Ela não pareceu gostar muito do leve frio em contado a sua pele, pois passou a mexer as perninhas com mais empenho. Liam ficou acariciando o topo da cabeça dela, enquanto Yoshiro pousava o diafragma do instrumento contra o peito dela.

Theo rosnou em reflexo quando ela emitiu um choro fraco. Mas o médico não pareceu se abalar, continuando com o exame parecendo meio absorto. Concentrado em captar os batimentos da criança que ressoavam nos tubos de condução. O japonês ergueu as sobrancelhas numa expressão satisfeita, logo encarando os dois pais, mas principalmente Liam.

— Os batimentos dela estão fortes agora, bem mais que horas atrás. — O homem anunciou esboçando um sorriso suave em alívio, enfim afastando o instrumento da filhote. — Realmente ela só precisava do contato direto com o cheiro dele e tudo mais. Inclusive, não se esqueçam do pele com pele, é muito importante. — Ele desatou a falar por alguns segundos. Theo franziu a testa intrigado com uma certa parte do falatório, a medida que fechava a roupinha de sua filha novamente. Sem demora pegando-a com toda delicadeza, dessa vez aconchegando-a próxima a seu peitoral. Mal notou a expressão surpresa de Melissa devido a sua agilidade neste quesito, mais focado em embalar a pequena. — Posso fazer uma lista se quiserem. Como pais de primeira viagem, imagino como deve ser assustador ter que memorizar isso tudo..

— Eu só quero entender uma coisa.. — O chimera interrompeu o médico mesmo em seu tom baixo. Sua expressão agora menos tensa mas a busca por respostas visível em suas orbes. Yoshiro assentiu de boa vontade, trocando de relance um olhar com Liam. — O que quis dizer com "bem mais que horas atrás"? O que.. o que aconteceu com a minha filha? — Seu timbre não era agressivo ou algo do gênero. Estava apenas com medo sem conseguir evitar.

Liam se adiantou em passar o braço esquerdo pelos ombros do namorado, levando os dedos a trilhar alguns carinhos contra o couro cabeludo do mesmo. Theo redirecionou o foco ao beta.

— Ela teve uma breve parada cardíaca, amor.. enquanto ainda estava dentro do útero.. — Pensar naquilo lhe dava um maldito nó no estômago toda vez, imagina falar. Ou.. ter que ouvir. Liam suspirou olhando bem nas íris verdes do outro, que adotaram um sutil brilho amedrontado. Ele levou a mão livre até o rosto do namorado, acariciando a bochecha macia. — Mas ela está bem agora. Muito bem, aliás. Eu prometo a você. Sem mais segredos, lembra? — Recapitulou a promessa que ambos fizeram há meses, após o chimera contar toda a complicação por trás do convívio com Josh. — Nossa pequena está fora de perigo.. — Repetiu com mais convicção.

— Tudo bem. Eu.. confio em você. — Theo o tranquilizou ao murmurar. Acenando de forma mínima com a cabeça. Inclinando-se mais para o toque do namorado sem perceber. — E eu.. queria agradecer a vocês.. — Ele desviou ocasionalmente o olhar, virando a cabeça para encarar Yoshiro e Melissa. Perguntando-se no fundo de sua mente onde Deaton poderia estar. De qualquer modo diria depois ao druida o que pretendia expressar agora. — Foram incríveis. De verdade. — Um sorriso fechado surgiu em seus lábios, junto a uma vaga melancolia mas tratou de ignorar. Não queria desabar logo na frente de um estranho, que apesar de ter o ajudado, ainda era um desconhecido. — Nunca vou esquecer. — Prometeu lançando um olhar gentil rumo ao doutor Yoshiro, seguido de Melissa que devolveu com seu clássico sorriso maternal.

— Você tem uma menina linda e forte, Theo. Parabéns. — A enfermeira disse num tom carinhoso. Aproximando-se mais para observar a bebê melhor já que devido a correria, nem pôde analisar com calma os detalhes da feição dela. A McCall ficou ao lado de Liam, que sorria na direção da filha. Theo assentiu com um sorriso ladino no rosto, antes de abaixar a cabeça. A tempo de ver Hope bocejar mas ainda assim, manter os olhos nele, quase não piscando. — Nossa, ela é realmente obcecada por você, não é? É raro ver bebês recém nascidos assim.. olhando tudo, focados. — Seu tom brincalhão arrancou uma risada do chimera, que sentiu o peito se aquecer diante o olhar da filha.

— E pelo visto ela terá olhos claros.. tô vendo um azul escuro aí ou é impressão minha? — Yoshiro brincou ao chegar um pouco mais perto. E foi então que Theo se atentou em observar com mais atenção. De fato, embora esta fase dos recém nascidos seja conhecida por eles não terem a cor das íris totalmente definida. Era evidente, tinha os olhos de Liam. Raeken riu incrédulo com o pensamento, trazendo-a um pouco mais para cima, surpreendente recebendo a mãozinha dela em seu nariz. O mais velho fechou os olhos rindo sem graça, e atônito. Era tão.. mágico. — Não sei se sabem. Mas ela pode enxergar vocês sim. Quer dizer, um bebê humano pode enxergar entre a distância de 20 e 30 cm, ou seja mais facilidade de ver a face da mãe.. ou pai. Enfim.. — Theo não conteu a vaga risada que escapou por seus lábios. Na verdade quase ninguém, o que levou o japonês a acompanhá-los. Porém, prosseguiu. — Foi mal. Mas o ponto é: ela provavelmente já tem o foco bem desenvolvido pra um recém nascido, mas a percepção de profundidade talvez demore. Claro que não tanto. — Ele coçou a nuca lançando um olhar curioso à criança, que estava distraída demais com o queixo de Theo. — Na verdade, ela é bem.. digamos.. incomum. Mas não de um jeito ruim. — Confessou. Dando de ombros. Liam redirecionou a atenção ao médico, e o chimera copiou a ação. — Posso explicar melhor para os dois depois, se quiserem.

— Por favor. — Liam disse quase como uma súplica. Sua expressão envergonhada. Yoshiro precisou apertar os lábios para não rir, o que funcionou. Havia explicado resumidamente para o pai da criança, mas como deduziu, ele não havia assimilado metade das informações após a segunda vez quase fazendo uma palestra. — Foi mal.. hoje não tá pra mim. — Negou com a cabeça lamentando, o que levou o namorado a rir baixinho. Esfregou o rosto de forma demorada. Era visível seu cansaço tanto quanto o de Theo, que acariciou seu braço.

— Hoje não tá pra ninguém, querido. — Melissa comentou em meio a uma risada fraca, deixando um aperto amigável no ombro do jovem. — Tudo bem, gente. Mas agora é sério, preciso que o senhor Takahashi verifique os pontos do Theo logo pra que vocês possam descansar. Mas principalmente essa pequenina aqui. — Ela indicou com a cabeça a filhote, esta que brincava de mover os dedos devagar pelo queixo de Theo, que concordou com a enfermeira ao mesmo tempo em que beijava a minúscula palma da filha. — Aliás, e o nome? — A McCall cruzou os braços vagamente numa postura animada. Pedindo através do olhar para que Yoshiro trocasse o soro do chimera que estava praticamente no fim.

— É Hope. — Respondeu Theo num tom meio encabulado. Um sorrisinho bobo dançando em seus lábios ao admirar mais uma vez o rostinho de sua filhote. Melissa sorriu radiante após ouvir, trocando um rápido olhar empolgado com Liam que possuía postura semelhante a do namorado. — Achei coerente já que.. ela me salvou também. — Acrescentou num tom determinado. Passando o dedo indicador da mão esquerda pela bochecha da pequena, contornando a área executando um carinho.

— Como imaginei, escolheram um nome perfeito pra ela. — Melissa retrucou simpática. Parando para contemplar a bebê por alguns segundos. — Ela é uma mistura de vocês. Apesar de tudo, eu amo o sobrenatural. — Declarou no impulso, o que fez Liam rir tendo que concordar. — Mas enfim, pode entregá-la ao outro papai aqui? Preciso levantar sua blusa, querido. — Ela pediu de um jeito amistoso. Esperando pacientemente o outro se sentir confortável, pois sabia que mantê-lo um segundo longe da filha seria quase um sacrifício a essa altura. Ainda mais vindo de um ser metade lobo e coiote.

Theo entreabriu os lábios querendo negar por instinto, mas seria injusto quando parou para pensar já que era o pai de sua menina. Ele respirou fundo assentindo, virando a cabeça para encarar Liam que o lançou uma expressão afetuosa. O chimera sorriu suavemente, ajeitando a filha para então guiar o pequeno corpo com cuidado até o namorado.

Liam a segurou corretamente quase de primeira, mas logo ajustou a filhote de um modo que ela ficasse confortável em seu ombro. Hope aconchegou o rosto imediatamente na área. No entanto, seus olhos não desviaram de Theo quase nada, exceto que suas pálpebras pesavam em curtos intervalos. O chimera ao longe riu baixinho encantado, assistindo Melissa cobrir sua filha com a manta quase esquecida em seu colo.

A enfermeira não tardou em voltar, puxando um pouco para baixo o lençol que cobria Raeken. Ele suspirou colaborando com o que pediam, mas em um momento de distração. Sua mente não hesitou em viajar. Destacando um fato que neste dia se tornou oficial. Mal acreditava.

Ele tinha uma filha agora. Uma filha com Liam Dunbar. Que até uns anos atrás seria o último cara com quem pensaria em se envolver um dia. Porém, não se tratava do clássico ódio ou o que fosse. Somente pelas inúmeras vezes que cogitou sobre não ser bom o suficiente para o beta. Entretanto, ao que tudo indicava, nada do que fez após ser liberto do purgatório, o afastou da única pessoa que demonstrou se importar com ele.

Em todas as ocasiões, parecia viver tentando desviar de uma rota já traçada. Não importava quantas vezes se locomovia pelas ruas da cidade, ou quando fingia estar ocupado em tal dia só para o beta não o ligar tanto. De um jeito ou de outro sempre acabava terminando com os dois sozinhos em algum cômodo.

E ironicamente, assim que passou pela porta da casa do Dunbar. Não voltou mais para a caminhonete, nem sentiu o desejo de recuar. Logo permitindo-se conhecer a sensação de ter um lar. De ter alguém que pudesse chamar de porto seguro. Ele nem imaginava que ganharia isso tudo.

Claro que o quesito gravidez foi um bônus que veio em um momento não muito bom. Mas ele se esforçaria para fazer funcionar. Não só pelos outros ou por ele, mas especialmente por Hope. Ela ganhou o coração do chimera de uma maneira que ele jamais poderá entender. Mas com certeza agarraria tal presente e não soltaria mais.

Sua pequena era um pedaço dele. Seu e de Liam. E ir adiante com tudo isso, esperar oito meses para conhecê-la. Valeu muito a pena, cada esforço.

|

                                                                  |

~~~~x~~~~

Alguém vivo? 👀 Pois eu não KAKAKAKKAJSSJ O que mais surpreendeu vocês? Podem dizer aqui plss

Juro, nem sei o que dizer pra vocês kakakakkaj eu amei cada segundo desse cap e só eu sei o quanto tive inúmeros momentos de insegurança, pensando se tava tudo caminhando bem, se os sentimentos dos personagens estavam passando da maneira correta. Mas tô orgulhosa do resultado, sério mesmo. E espero que tenham gostado, juro

Agora uma nova etapa se inicia...💃

E viram a baby? 😢 Acharam ela mais parecida com quem? Eu voto em Theo, mas de qualquer forma é como se ela fosse uma bela mistura dos dois mesmo. Ainda tem mais de onde saiu essa Polaroid skakkaksms vocês vão explodir de fofura

Bom, acho que é isso hihi
Até o próximo wolfies! 🛐🐺🌙💙💚

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro