/ Lisa /

Meus dedos roçaram nos seus antes que se entrelaçassem, me encolhi dentro do casaco que ele havia colocado sobre meus ombros e me aproximei mais um pouco.

A brisa gelada bateu em nossos rostos por alguns segundos, fazendo nossos cabelos voarem enquanto caminhávamos na repleta escuridão do campus. O silêncio era confortável, com Jungkook sempre era,
apesar de toda dor da perda que ainda sentia, com ele ao meu lado as coisas pareciam se tornar mais leves, Jungkook me fazia esquecer das coisas a minha volta por alguns momentos. Por isso senti que devia muito a ele e que precisava retribuir.

- Que tal sentarmos um pouco? - Perguntei ao observar um banco isolado no meio da imensidão escura. Jungkook assentiu e me seguiu sem pestanejar.

Nos sentamos ㅡ ainda de mãos dadas ㅡ e eu apoiei minha cabeça em seu ombro para olhar o céu noturno sem estrelas, apenas com uma meia lua iluminando nossa vista. Seu polegar acariciou minha palma e por um segundo me permiti respirar e relaxar um pouco.

Olhei para seu rosto pelo canto do olho, ele não olhava para mim, mas seu polegar continuava a dar sua atenção para minha palma.

- A lua está linda esta noite, não está? - Ele diz, sorrindo de leve.

Minha boca se abriu, mas me interrompi no mesmo instante.

" Não diga mais isso. "

Sua voz em minha cabeça me machuca um pouco, mesmo se tratando do antes e não do agora, ainda assim me pergunto se devo dizer.

Quer saber? Fodasse.

- Eu amo você até ela.

Jungkook imediatamente desvia seu olhar da lua para mim, arqueando as sobrancelhas como se quisesse saber se eu realmente havia dito aquilo.

- O quê? - Sua voz é quase um sussurro.

- Eu disse que amo você até a lua. - Repito, um pouco nervosa, mas sorrindo.

Seus lábios tremem um pouco e ele levanta sua mão para tocar meu rosto, arrastando seus dedos por minha bochecha.

- Por favor, diga de novo. - Ele pede baixinho, escondendo uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.

- Eu amo você até a lua. - Respondo com graça, mas não tenho tempo para rir, pois seus lábios colam nos meus de um jeito intenso e doce, cheio de alívio.

- Deus... - Ele suspira. - Eu queria tanto ouvir isso.

- E eu queria muito dizer. - Respondo, tocando seu rosto de volta para beijá-lo outra vez.

Ele corresponde imediatamente, enterrando seus dedos entre meus fios para que eu não me afaste, um sorriso se forma em seus lábios enquanto ele me beija, fazendo-me sorrir também.

- Eu te amo, muito. - Ele murmura, deixando beijos delicados em meus lábios. - Eu amo você com todo meu coração.

- Obrigada. - Minha voz carrega emoção. - Obrigada por ainda me amar.

Deito a cabeça em seu ombro, encolhida contra seu peito e em volta de seus braços, ele murmura uma melodia baixinha contra meus cabelos, o que imediatamente me remete a música que ele fez para mim, mas não tenho certeza se é a mesma.

- Uma vez você fez uma música para mim. - Comento com carinho, sentindo suas carícias em meus braços.

- Mesmo?

- Sim, posso te mostrar amanhã se quiser. - Sugiro como quem não quer nada, desenhando linhas imaginárias por seu peito.

- Parece bom. - Ele responde, mas sua voz é abafada por meus cabelos.

Aproveitamos o momento em silêncio, apenas sentindo e aproveitando a presença um do outro. Nesse momento não consigo pensar em nada além de nós e no quanto eu o amo, e que nada nesse mundo poderia mudar isso.

- Lis. - Ele sussurra rente ao meu ouvido. - Posso te perguntar uma coisa?

- Uhum. - Confirmo de leve com a cabeça e me viro, pressionando minhas costas contra o seu peitoral.

Um suspiro longo escapa de seus lábios enquanto ele mantém suas mãos em meus braços, me acariciando.

- Você já me falou sobre sua mãe, mas e o seu pai? - O nível de curiosidade em sua voz é notória.

Nunca gostei de falar sobre mim, muito menos da minha vida, e esses assuntos foram tratados poucas vezes com Jungkook. Era como se eu não fizesse a questão de lembrar, ainda assim, eu tinha um passado, e acho que preciso esclarecer algumas coisinhas.

- Depois que meus pais se separaram eu raramente o via, ele continua vivo, mas não é tão presente. Eu não o culpo tanto, ele apenas recomeçou a vida depois que minha mãe morreu, mas do lado de uma mulher que mal suporto, então nós dois meio que...estamos kits. Passei o último Natal com ele, mas foi diferente, com minha mãe as coisas pareciam...vivas. Talvez seja um problema que vou ter que resolver em algum momento... - Suspiro. - Ele ainda é o meu pai, e apesar de tudo eu ainda o amo muito, é a única parte da minha família que me resta.

- Acho que eu entendo você. - Responde. - Mas deve ser difícil, acha que haveria alguma chance de eu o conhecer algum dia?

- Acho que sim. Talvez.

A ideia de Jungkook conhecer meu pai me deixa eufórica por algum motivo.

- Lis... - Jungkook me chama, agora um pouco hesitante. - Por que terminamos?

Meus músculos se contraem em tensão, e Jungkook parece perceber, pois aperta meus braços, como um tipo de consolação.

- Lisa, não importa o que aconteceu, meus sentimentos não vão mudar, o que mais posso fazer pra você acreditar em mim? - Sua voz soa calma, mas consigo sentir a pontada de tristeza nela.

- Eu confio em você. Esse assunto é um pouco delicado na verdade, não gosto de lembrar. - Mordo os lábios, contendo o nervosismo. - Foi na noite do seu baile de formatura, durante a tradicional troca de pares na dança, eu vi uma garota beijar você. Estava tão cega de ciúmes e raiva que para mim, você obviamente havia correspondido aquele beijo. Fiquei furiosa, você ficou irritado por eu ter escondido algumas coisas...

- Que coisas? - Ele me interrompe.

- Fazia pouco tempo que meu pai havia entrado em contato comigo, ele havia sugerido que sua nova família e eu voltássemos para nosso país natal, como um recomeço. Eu não queria ou planejava ir, por isso não contei nada, você ficou louco de raiva quando soube, achou que eu ia deixar você.

O aperto de Jungkook continuava persistente entorno de mim, o que me encorajou a continuar.

- Decidimos dar um tempo, só para colocar as coisas no lugar.

- E depois? - Ele parece curioso. - O que aconteceu depois?

- Nos afastamos, demos um tempo um ao outro, mas não durou muito. - Quase ri. - Você é persistente quando quer.

- Sou, é? - Ele parece orgulhoso.

- Sim, você mandava flores e me visitava todos os dias.

- E então eu te conquistei outra vez com meu charme avassalador?

- Você não precisava me conquistar, eu era apaixonada por você, cretino. - Sorrio de leve, mas este logo se desfaz quando me lembro do que vem em seguida. - Nos envolvemos, até demais se quer saber, talvez tenha sido a melhor coisa que poderíamos ter feito, talvez a pior.

- Por quê? - Pergunta intrigado. - Por que, Lisa?

Hesito um pouco, brincando nervosamente com meus dedos.

- Aconteceram algumas coisas nem tão legais, isso nos levou ao um término definitivo.

- Que coisas, Lisa? - Ele parece sério.

Penso e repenso se deveria dizer, isso pode machucá-lo tanto quanto machucou a mim. Não quero estragar o nosso momento.

- Lalisa, que coisas são essas?

- Sua família. - Eu solto de uma vez.
- Em especial, sua mãe, ela colocou muitas coisas em jogo...eu...

- Do que você está falando? - Sua voz se altera um pouco, mas ele se controla.

- É complicado. - Admito. - É difícil falar e lembrar sobre isso, sua mãe queria o seu melhor, tenho certeza.

- Minha mãe a ameaçou, é isso? - Jungkook questiona, deixando a pergunta no ar quando eu não o respondo.

Ouço seu suspiro cansado segundos depois.

- Desculpe. - Ele murmura. - Não queria pressionar você, talvez seja melhor resolvermos isso amanhã.

Solto a respiração que estava presa em minha garganta, me aliviando um pouco do peso que segurava nas costas para relaxar em seus braços outra vez.

(...)

- Durma bem, não pense em nada, sonhe comigo beijando cada centímetro seu. - Jungkook beija minha testa em frente ao meu dormitório, logo em seguida beijando meus lábios como uma promessa de que o dia seguinte seria melhor. - Eu continuo amando você.

- Eu também amo você.

- Até a lua?

- Até a lua.

Ele me beija outra vez e se afasta para ir embora, uma parte minha grita para que ele fique.

- Jungkook. - O chamo pela última vez e ele se vira para mim, arqueando as sobrancelhas. - Você sabia que o nosso coração bombeia em média nove mil litros de sangue por dia? Que é equivalente a quantidade necessária de gasolina para ir daqui até a lua?

Ele arqueia as pestanas de leve e sorri novamente, como se estivesse entendendo meu raciocínio.

- Por isso que quando eu digo que amo você até a lua - Sorrio - , é porque amo você com cada batida do meu coração.

*Desculpe por qualquer erro ortográfico, eles serão corrigidos em breve.
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