Capítulo 47: 'Paraíso'
/ Jungkook /
- "Dante, perdido numa selva escura, erra nela toda noite. Saindo ao amanhecer, começa a subir por uma colina, quando lhe atravessam a passagem uma pantera, um leão e uma loba, que o repelem para selva. Aparece-lhe, então, a imagem de Virgílio, que o reanima e se oferece para tirá-lo de lá, fazendo-o passar pelo Inferno e pelo Purgatório, Beatriz, depois, o guiará para o Paraíso. Dante o segue."
Lalisa lê o trecho de O Inferno de Dante para o nosso trabalho. Cruzo os braços sobre a mesinha de centro em que trabalhamos e apoio meu queixo neles, a observando ler em voz alta.
Ela é incrível.
- Jungkook? - Ela chama, corando e sorrindo divertida para mim. - O que foi? Você está tão quieto.
- Apreciando a vista. - Sorrio. - Pode ler outra vez?
Ela dá uma risadinha, mas relê o trecho novamente.
- "...fazendo-o passar pelo Inferno e pelo Purgatório, Beatriz, depois, o guiará para o Paraíso. Dante o segue."
- Você é minha Beatriz, baby. Tem me guiado ao Paraíso desde que nos conhecemos.
Ela cora de leve, e então fecha o livro e se aproxima, passando os braços em torno do meu pescoço e se acomodando em meu colo. Suas mãos sobem por meu rosto e as pontas de seus dedos tocam cada centímetro da minha face com carinho enquanto seus olhos me analisam da mesma forma.
- Às vezes me pergunto se você é real, se sou tão sortuda assim mesmo por ter você aqui.
Apoio meu rosto em sua palma, inclinando-me um pouco para beijá-la ali.
- Me pergunto o mesmo todos os dias.
Ela me beija suavemente, deslizando suas mãos para minha nuca e apertando meus cabelos gentilmente entre seus dedos. Então me empurra lentamente para o chão, ficando por cima e tomando o poder para si.
- Todo meu. - Ela murmura contra os meus lábios, traçando beijos leves em torno deles e pedindo pela passagem.
Toda vez que Lisa me beija é como se fogos de artifício explodissem em minha corrente sanguínea, meu coração se esquecesse como se bate corretamente e minha mente se torna um infinito branco, quase posso ouvir sinos tocarem.
- Sim, sou seu. - Confirmo sem pensar, cedendo da mesma forma a seus beijos. - Todo seu.
Ficamos nos amassos por mais alguns minutos, até Lisa sofrer um sobressalto e se afastar, corando violentamente.
- Está vendo? É por isso que não podemos fazer um trabalho juntos. - Ela quase reclama, quase.
- Por que? Precisamos trazer um pouco de diversão a esse trabalho. - Brinco, vendo seus olhos revirarem enquanto ela sai de cima de mim.
- Estava pensando em realizar uma parte dois daquilo que você iniciou no banheiro, dessa vez na sua cama.
- Você é incorrigível! - Ela mal olha para mim, por isso sei que está corando.
Sorrio, enlaçando sua cintura com os braços e colando suas costas contra meu peitoral, enterro meu nariz na curvatura de seu pescoço, sentindo sua pele arrepiar com o contato.
- Hum, você cheira tão bem. - Gemo, agora sentindo o cheiro de baunilha impregnado em seus fios loiros.
- E você está se aproveitando de mim. - Ela suspira, inclinando a cabeça para o lado para dar acesso novamente ao seu pescoço. - Isso é muito errado, visto que temos um trabalho para fazer.
- O trabalho pode esperar um pouquinho. - Murmuro contra sua pele, sentindo ela se arrepiar novamente contra meus lábios. - Não me importaria de passar mais que o tempo necessário aqui com você. Contato constante, baby.
Traço uma linha imaginária de beijos suaves em seu pescoço lindo, mordiscando a pele doce e sentindo Lisa estremecer no meu colo. Volto minha atenção a seus lábios convidativos, reivindicando eles de forma lenta do jeito que precisamos, aproveitando cada segundo.
Ela apoia a cabeça em meu ombro ao descolar nossos lábios, roçando o nariz em meu pescoço e me fazendo sentir sua respiração quente batendo contra ele. Ela fica em silêncio por alguns segundos, até suspirar levemente.
- Quando começamos nosso relacionamento, éramos muito ciumentos um com o outro, você tinha ciúmes dos meus amigos, e eu das garotas que viviam na sua cola, acho que se tivéssemos um pouco de maturidade, talvez tudo estivesse bem.
Quis muito perguntar diretamente sobre sua última observação, mas decidi estender.
- Se não tivéssemos errado tanto, não seríamos quem somos hoje, não estaríamos aqui agora provavelmente. - Murmuro, me afastando de leve para olhar em seus olhos. - A melhor parte disso tudo foi poder me apaixonar por você outra vez... - Engulo as palavras quando percebo o que acabei de dizer, Lalisa tem seus olhos vidrados nos meus.
- Eu...acho que sim. - Ela murmura, um pouco sem fôlego.
Meu corpo está rígido enquanto penso desesperadamente como posso amenizar a tensão no ar ㅡ e no fundo esperando por uma resposta. Olho para minha bolsa e uma luz parece se acender em minha cabeça.
- Preciso te dar uma coisa, antes que eu esqueça de novo, na verdade, preciso te devolver. - Puxo minha bolsa e a vasculho, tirando do fundo o livro amarelo quando o encontro, Lisa fica rígida em meu colo imediatamente. - Acho que isso é seu.
Ela ainda está imóvel em cima de mim, seus olhos estão cravados no livro em minhas mãos, em uma mistura de choque e alívio. Isso fica ainda mais evidente quando lágrimas enchem seus olhos e ela engole em seco, levando as mãos trêmulas ao livro.
- Onde...? - Ela começa com a voz embargada, mas não consegue terminar.
- O achei enquanto desempacotava as caixas da mudança, não sabia que era seu, apenas depois daquela noite. Liguei os pontos quando vi seu colar... - Abro o livro, tirando a fotografia escondida entre as páginas. - O mesmo que essa mulher usa.
As lágrimas de Lisa caíram silenciosamente enquanto ela tirava a foto de minha mão, limpou-as e esboçou um sorriso repleto de saudade.
- Obrigada, você não sabe como isso é importante para mim. - Ela diz, ainda com a voz falha enquanto me encara com agradecimento.
- É a sua mãe? - Pergunto, estendendo minha mão para limpar suas lágrimas. Ela sorri como se recordasse de algo especial.
- Sim. - Ela olha para foto. - Sinto muito a falta dela.
- Ela devia ser alguém incrível. - Tinha certeza que sim, sua filha é um anjo.
Tem me guiado ao Paraíso desde que nos conhecemos.
- Ela era. - Confirma chorosa, sorrindo para foto.
- E o livro? - Pergunto, lembrando que ele era muito especial para Lisa, na verdade para eu também, se não fosse por ele provavelmente também não estaríamos aqui. - Por que ele é tão especial?
Ela me acaricia levemente no rosto antes de voltar sua atenção para o livro.
- Foi minha mãe que o escreveu.
Deixo minha respiração escapar, levantando as sobrancelhas por estar surpreso, ela no entanto não parece tão afetada com isso, pois vira o livro para mim, mostrando a escrita da primeira página.
Mali Manoban
Desvio o olhar para dedicatória.
Para minha filha querida, eu te amo até a lua.
- Eu...nem imaginava, não havia prestado atenção nisso. - Aperto os cabelos. - Nossa!
- Minha mãe gostava de escrever, mas parou logo depois que nasci, pois precisava dedicar cem por cento do seu tempo para mim. - Ela olha para o livro. - Ela costumava ler para mim, eu gostava de escutar as histórias sobre vida dela, pareciam tão divertidas. Depois que nos mudamos para Coréia não encontrei muitos exemplares dela, apenas esse, foi o último livro que ela escreveu, e o único que não conseguiu terminar de contar.
Quando vejo ela está a ponto de chorar outra vez, por isso limpo rapidamente suas lágrimas antes de envolvê-la em meus braços. Ela soluça e treme silenciosamente, se recuperando devagar enquanto a aperto em meus braços.
- Ela teria gostado de você. - Ela soluça, se afastando para ver meu rosto, sorrio para ela.
- Aposto que seria mútuo.
Ela enxuga o rosto com as costas das mãos, tentando sorrir com os lágrimas.
- Ah, chega de lágrimas por hoje. - Reclama. - Vou fazer alguma coisa para comermos, chocolate quente e torradas?
- Parece ótimo. - Concordo vendo ela se levantar depois de depositar um beijo em minha bochecha e andar até a cozinha.
- Você gosta de geleia? - Ela grita.
- Sim, mas prefiro pasta de amendoim. - Respondo.
- Ew. - Ela murmura e quase posso vê-la enrugando o nariz, me fazendo rir.
Alguns minutos se passam e eu tento adiantar o nosso trabalho, mesmo não conseguindo tirar da cabeça o fato que a mãe de Lalisa era uma escritora, e que provavelmente esse é o motivo por ela fazer literatura.
O toque de seu celular faz ele dançar em cima da mesa, me tirando o pouco de atenção que tinha.
Sehun.
- Baby, tem um tal de Sehun te ligando. - Grito para ela.
- Pode atender, é meu antigo colega de trabalho da biblioteca.
Pego o celular e deslizo para atender, colando o celular ao ouvido.
- Oi, a Lisa está...
Paro no meio da frase ao ouvir uma onda de soluços do outro lado, como um choro sôfrego.
- Lisa, a senhora Min...
- Jungkook? - Lalisa volta a sala com a bandeja com as torradas e o chocolate quente, parecendo um pouco atônita enquanto me encara.
Minha voz trava.
- Ela faleceu. - Ele termina.
Primeiro ouço o estrondo da bandeja caindo no chão junto a porcelana das xícaras se quebrando, em seguida o grito de horror escapando dos seus lábios.
É coisa mais cruel que eu poderia ter visto na minha vida inteira.
*Desculpe por qualquer erro ortográfico, eles serão corrigidos em breve.
*Vote e comentem, isso motiva minha escrita e a continuação da história.
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