Capítulo 38: 'Hematomas'
/ Lisa /
Naquela manhã me levantei um pouco melhor, mas a diferença não era tanta comparada a ontem. Ainda sentia um aperto no coração e uma cabeça confusa. Tive que fazer um certo esforço para ignorar os acontecimentos recentes e focar na minha vida universitária.
Por isso ao acordar tomei duas xícaras de café, me vesti com agasalhos suficientes para não sentir frio e levantei a cabeça, fingindo que o dia anterior nunca havia acontecido.
Fiz o caminho a pé até o auditório da faculdade como fazia todos os dias, senti a movimentação habitual do campus e o vento gelado batendo contra meu rosto, fazendo meus fios loiros voarem ao vento.
O céus estava nublado e o sol era uma mancha dourada no céu, tudo em volta parecia cinza e frio.
Todo auditório estava silencioso quando cheguei, o que era extremamente suspeito, considerando que a trindade fazia questão de iniciar seu show desde de cedo, ou melhor, desde que tivesse pessoas suficientes no auditório para que eles pudessem infernizar.
Ouvi borburinhos e por um segundo achei que fossem sobre mim, já que até a semana passada eu era a aluna rebelde que colocou tachinhas na cadeira do professor. Mas eu estava enganada. Todos os olhares estavam direcionados a Lee Taeyong e seus amigos, no canto do auditório.
Pensei que algo viria, que toda aquela cena significava que algo nada bom estava por vir. Mas então Jaebum e Bobby olharam para mim, e eu olhei de volta.
Mas nada veio.
Eles manteram os olhares perturbados em mim, e após meros segundos eles rapidamente desviaram. Como se estivessem com medo que se me encarassem demais iriam virar estátuas ou algo do tipo.
Não consegui ver o rosto de Lee Taeyong, o que me fez achar ainda mais suspeito.
Achando ser apenas uma bobagem que minha cabeça conturbada criava, dou de ombros e desço as escadarias até chegar a minha fileira. Tzuyu estava sentada no seu lugar habitual, mexendo em seu celular de último modelo.
- Bom dia. - Cumprimentei, sentando-me ao seu lado.
Tzuyu e eu não éramos exatamente amigas, talvez boas colegas. Ainda não tínhamos um alto nível de intimidade, mas ela era a única com quem eu podia conversar.
- Bom dia. - Ela olhou para mim, oferecendo um sorriso. - Como foi seu encontro com o meu irmão? Ele não quis me contar nada sobre. Na verdade, não o vejo desde sábado de manhã.
Remexo-me desconfortável no assento, me lembrando da noite de sábado. Mingyu era uma ótima companhia, ele me fez rir enquanto, de alguma forma, me senti ter sido rejeitada por Jeon. Fico imaginando o que aconteceria naquela noite se aquela garota louca não tivesse jogado água e mim.
- Foi legal. - Eu digo, lembrando de Mingyu me ajudando a limpar o vestido segundos antes de receber uma ligação urgente.
- Uhh. - Tzuyu sorri, me lançando um olhar de duplo sentido. - Acho que meu irmão está caidinho por você.
Estremeço com o pensamento.
Mingyu e eu? Juntos? Quando penso nisso momentaneamente parece normal, mas quando penso mais do que deveria, parece loucura. Uma completa loucura e falta de nexo.
Mingyu é legal e tudo mais, mas não consigo pensar em nós dois, tipo...tendo um futuro juntos.
- E como está sua madrasta? Ela melhorou da cólica de rim? - Mudo de assunto na hora, me referindo a ligação urgente que Mingyu recebeu na noite de sábado antes de me deixar no shopping com o dinheiro para o táxi.
O rosto de Tzuyu se contorce em confusão.
- Do que você está falando?
Arqueio as sobrancelhas, mas antes que possa questionar o professor Cha entra, fazendo com que tudo se torne em um completo silêncio e que os universitários abram seus cadernos. E é então que me sinto observada.
Olho para trás, encontrando Lee Taeyong me encarando de longe, inexpressivo. É então que noto seu rosto, principalmente seu olho esquerdo, cheio de hematomas roxos e vermelhos, além do feio corte em seu lábio inferior. Ele rapidamente desvia o olhar, assim como os outros fizeram, como se estivessem com medo.
Quero perguntar a Tzuyu se ela sabe de algo, mas ela parece estar extremamente focada em uma anotação em seu caderno.
As portas do auditório se abrem repentinamente, atraindo a atenção de boa parte do auditório, inclusive a minha.
- Está atrasado, Sr. Mingyu. - Professor Cha diz ao fundo, mas não consigo tirar os olhos da face machucada de Mingyu.
- Desculpe, Professor. Não irá mais acontecer. - Ele diz, parecendo estar com dificuldade até mesmo para falar.
Ele parece ter tentado cobrir os hematomas com maquiagem, mas os machucados em seu rosto branco são nítidos, quase tão piores que os de Taeyong.
Taeyong e Mingyu.
Olho para Tzuyu, mas ela parece tão chocada quanto eu. Volto a olhar para Mingyu, que caminha até o canto de sua fileira, seu olhar se cruza com o meu por um breve instante, mas desvia, quase como se não tivesse me visto.
Todos parecem ter desviado a atenção de volta aos estudos, mas ainda estou inquieita com tudo isso.
Meu olhar é por algum motivo atraído a Jungkook, que escreve algo em seu caderno, parecendo concentrado. Os fios longos de seu cabelo caem em suas têmporas e pestanas, uma jaqueta de couro cobre seus ombros largos e relaxados. Seus lábios se contraem levemente, assim como seus olhos se apertam em concentração.
Mas assim como eu, seus olhos são atraídos para os meus, e diferente dos outros, ele não desvia, inclusive sorri para mim. Um sorriso um tanto...safado?
Coro e me viro para frente com rapidez, o que está havendo?
(...)
- Nós nos beijamos.
O queixo de Chaeyoung cai em direção a extratrosfera, e não sei se há intenção de voltar.
- Vocês...o quê?! - Ela quase grita no meio da praça de alimentação, a cantineira que coloca comida em nossas bandejas pula de susto, mas se recompõe rapidamente. - Como isso aconteceu?
Suspiro longamente, remexendo os ombros em desconforto.
- Bom, você sabe, quando dois lábios se encontram...
- Não seja ridícula. - Chaeyoung resmunga, seguindo-me até uma mesa relativamente vazia. - Quero saber em detalhes como isso aconteceu, você não me ligou ou mandou mensagens durante dois dias.
Puxo o ar com força, contando como tudo aconteceu, desde nossa fuga do baile até quando ele me tirou da chuva ontem a tarde.
- Isso é tão... - Chaeyoung suspira, quase derretendo na mesa. - Romântico e sexy.
- Romântico e sexy? - Eu rio. - Isso é desesperador, eu não sei o que fazer.
Sentia que Chae não estaria me escutando, mas sim pensando em uma fantasia irreal entre Jungkook e eu. Fico nervosa ao ver seu sorriso se ampliar.
- Vou deixar essa pra você. - Ela desliza o quadril para o lado, ficando a quase um metro de distância de mim.
- O quê...? - Murmuro, sentindo meu coração palpitando quando sinto um corpo quente atrás de mim, uma de suas mãos está apoiada em cima da mesa, ao lado da minha.
E eu conheço muito bem esta mão.
- Vitamina de morango. - Sua voz soa atrás de mim, e ele deixa um copo transparente com a vitamina na minha frente.
É a minha favorita.
Viro para trás, encontrado seu abdômen, seus músculos se contraindo por trás da camisa enquanto ele se inclina levemente sobre mim, subo o olhar, encontrando seu sorriso presunçoso, mostrando as covinhas sutilmente.
- Obrigada. - Eu agradeço e aceito a vitamina, o sorriso satisfeito e contente em seus lábios fazem minhas pernas tremerem.
Ele se senta ao meu lado, ignorando o fato de todos na mesa, exceto Chaeyoung e eu, estarem intimidados com sua presença.
Eu como em silêncio, tentando controlar o nervosismo por ele apenas estar por perto. Bebo um gole da vitamina, tentando relaxar.
- Bom? - Ele pergunta.
- Uma delícia. - Eu admito, dando mais um gole.
- Eai, gente. - Jimin chega, deixando um beijo na cabeça de Chaeyoung e então olhando para Jungkook e eu, parecendo surpreso outra vez.
O que deu nele?
Jungkook não dá muita atenção ao amigo, parecendo se recusar a tirar os olhos de mim.
Ajeito o corpo ao lado dele, erguendo o queixo.
- A que devo sua gentileza, sr. Bad boy?
Ele sorri de lado, inclinando o pescoço para frente. Seus olhos brilham da mesma forma que brilhavam no estacionamento naquela noite, mordo o lábio inferior, lembrando.
- Tenho muitos motivos para ser gentil com você. - Ele sussurra diante dos meus lábios, lentamente.
Eu que sorrio dessa vez.
- Por exemplo? - O desafio.
Suas pupilas dilatam um pouco nas imensidões escuras, sua língua umidece gentilmente seu lábio inferior.
- Beba. - Ele se afasta, apontando o queixo para o copo de vitamina.
Sorrio, debochando levemente.
Olho para os lados, vendo se alguém presenciou o nosso espetáculo além de nós dois. E parece que sim, grande parte das líderes de torcida que se jogam em Jungkook diariamente nos encaram, caladas.
Os minutos seguintes são silenciosos e quentes, levando em conta que o meu corpo pulsa por um toque de Jungkook, que apenas me observa com atenção.
- Vocês vão ao jogo de hoje? - Jimin diz, cortando o clima e a tensão sexual entre Jeon e eu.
- Jogo? - Chaeyoung diz, mastigando um pedaço do sanduíche do namorado.
- Sim, hoje a noite o time da SNU vai se dividir e vão jogar no campo, parece que irá ter uma festa depois do jogo. - Jimin diz, tomando um longo gole de sua água.
- Humm. - Chaeyoung murmura, animada. - Podemos ir como casais.
Ruborizo, sentindo uma vontade enorme de bater naquele sorriso maligno que cresce no rosto de Chaeyoung.
Jungkook enrijece ao meu lado, mas não demora para relaxar outra vez, diferente de mim, que estou controlando as mãos de baixo da mesa
Mãos que insistem em pegar os cabelos de Chaeyoung e arrastá-los para longe.
- Seria legal se nós fossemos todos juntos. - Jungkook responde, me lançando um olhar sugestivo.
Penso na possibilidade. Isso se igualaria a um encontro entre casais?
Não, claro que não.
Somos apenas bons amigos indo assistir a um jogo, certo?
Certo.
- É, acho que seria legal irmos ao jogo, como amigos. - Digo a última palavra com entonação, deixando bem claro para minha falsa melhor amiga.
Ela no entanto parece ainda mais animada.
- Perfeito! Então Jimin e eu nos encontramos com vocês no campo hoje a noite. - Chaeyoung se levanta, puxando Jimin pelo braço, mas antes de ir ela se inclina até mim, sussurrando em meu ouvido. - Aproveite esse tempo para se pegarem.
Minha mão se levanta, pronta pra atingir o rosto dela, mas ela se afasta rapidamente e me oferece um sorriso diabólico.
- Vejo vocês a noite. - Ela pisca antes de sair.
Com apenas Jungkook e eu na mesa, o clima volta a tensão anterior, dessa vez um pouco mais pesada e constrangedora. Jungkook não é idiota e entendeu muito bem o que Chaeyoung quis dizer.
Dou um último gole na vitamina e me levanto.
- Deveríamos ir, não devemos chegar atrasados a aula.
Isso obviamente foi uma desculpa horrível para me livrar daquela tensão e constrangimento. Jungkook riu de leve, mas não protestou e se levantou também.
Caminhar com ele pela praça de alimentação e pelo campus parecia como se uma placa de "Preste atenção em mim" estivesse pendurada em meu pescoço. Ninguém tirava os olhos de nós, eu quase podia ouvir suas cabeças se perguntando quem era a garota esquisita e misteriosa que andava com Jungkook.
Lalisa Manoban, a ex namorada que ele não se lembra. Prazer.
Ele não parecia ligar que a atenção de todos estivesse sobre ele, até entendo, Jungkook desde sempre foi cercado pela popularidade, independente de onde estivesse. Já eu não, eu era a garota que sentava na primeira fileira e que quase todos esqueciam que existia, e eu sempre gostei de ser essa garota.
Seu braço roçava com o meu a medida que caminhávamos pelo campus, suas mãos se escondiam nos bolsos na jaqueta de couro e seu rosto se mantinha erguido e ameaçador, enaltecendo sua aura de cara bad boy.
- Você sabe o que aconteceu com o Taeyong? - Pergunto, puxando assunto. Sua respiração se torna pesada.
- Aquele cara cheira a confusão, não fico impressionado em vê-lo fodido daquele jeito. - Jungkook diz, dando de ombros.
- Mingyu também estava machucado, acha que Taeyong tem algo a ver com isso?
Jungkook dá de ombros outra vez.
- Ele não tem cara de se meter em confusões, sabe? Ele é tão doce.
Vejo sua mandíbula se apertar e seus ombros tensionarem um pouco, mas ele rapidamente relaxa.
- Esses são os dois tipos de cara que você deve se manter longe. - Ele diz, rouco.
- Por quê? - Arqueio as sobrancelhas, notando que sua respiração se mantém pesada. - Mingyu é um cara legal.
- Tão legal que te deixou com um vestido molhado e sozinha a noite. - Ele diz como se aquilo estivesse entalado em sua garganta a dias, foi como um balde de água fria sendo jogado em minhas costas. - Desculpe. - Ele diz no segundo seguinte, encolhendo os ombros.
- Bom... - Eu me afasto, sentindo o meu sangue ferver. - Não foi ele que estragou o nosso encontro. - Vocifero.
- Ei. - Ele rosna, segurando meu braço e se aproximando. - Eu já pedi desculpas por isso.
Cruzo os braços, olhando-o de cima a baixo.
- Não significa que eu perdoei você.
Sua mandíbula se aperta outra vez e seus olhos estão em um turbilhão de sentimentos reprimidos. Seu corpo está a ponto de explodir.
Ele suspira longamente antes de começar.
- Mingyu é o tipo de homem que não consegue se proteger de suas próprias merdas, quem dera proteger você. Ele não é o tipo de cara que você precisa, ele não merece nem um por cento de você. - Ele rosna baixinho, diante dos meus lábios, é quando percebo que sua mão ainda segura meu braço, enviando faíscas eletrizantes por todo o meu corpo.
Minhas pernas tremem e meu corpo pulsa outra vez em antecipação e luxúria. Minha respiração se torna decompassada e meus lábios umidessem quando encaro os seus.
- Acha que pode rotular que tipo de homem eu posso me envolver? - Digo, voltando a olhar em seus olhos negros.
- Não, ninguém é suficientemente bom pra você. - Ele sussurra, aproximando seus lábios dos meus. - Mas eu não consigo evitar...
- O que você vai fazer? Me beijar outra vez? - Questiono em um sussurro, implorando internamente que a resposta seja sim.
Seus olhos brilham encarando meus lábios.
- Gostaria de fazer mais que isso. - Ele ofega. - Mas a aula nos chama, loirinha.
Seus lábios se juntam aos meus em um selar demorado. Minha língua pede passagem, mas Jungkook segura meu queixo, guiando o ritmo com gentileza. Suas mãos descem por meu quadril e eu levo as minhas ao seu pescoço, o puxando para mais perto.
- Uh. - Eu gemo, sentindo meu lábio inferior sendo puxado enquanto ele se afasta.
- Pare de ser tão estressadinha. - Ele diz e seu hálito quente acaricia meu rosto.
Seu corpo se afasta completamente, e com um sorriso presunçoso ele dá as costas, caminhando em direção ao auditório. Deixando-me ofegante, excitada e sozinha outra vez.
Não olho para os lados para ter a certeza de que todos ao nosso redor viram isso. Sei que viram.
Encaro seu corpo andando relaxado pelo campus, parecendo nenhum pouco afetado com o que havia acabado de acontecer.
Comprimo os lábios e suspiro.
Preciso contar a verdade.
*Votem e comentem! Motiva muito o meu trabalho❤
*Desculpe por qualquer erro ortográfico, eles serão corrigidos em breve.
* Obrigada por todo o apoio, isso é extremamente importante para mim❤
*Cuidem-se!
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