Capítulo 34: 'A Lua é Linda'
/ Lisa /
Nossos dedos estão entrelaçados, o vento bate em meu rosto e tampa meus ouvidos, tento acompanhá-lo com meus saltos e vestido longo, e mesmo que seja difícil, me sinto viva pela primeira vez em meses.
Um sorriso involuntário surge em meu rosto e o sentimento de euforia se apossa do meu peito. Tudo de repente parecia mais leve, mais fácil. Aperto sua mão e o deixo me guiar.
Parei de pensar no que era certo ou errado, provavelmente me arrependerei disso mais tarde, mas agora nada disso importa. Eu quero fazer isso, eu preciso fazer isso.
- Para onde você está me levando? - Eu perguntei entre as risadas que não conseguia conter. Ele se virou e me ofereceu um sorriso de menino, ainda me guiando para fora do campus.
- Você vai ver. - E então desviou o olhar.
Corremos mais um pouco e quando passei a ficar ofegante ele diminuiu o passo, me fazendo agradecer mentalmente. Paramos em frente a um imenso auditório.
Ainda com as mãos unidas, Jungkook me levou aos fundos e então passamos por uma larga porta de metal, que estranhei por estar aberta a essa hora da noite, mas decidi ignorar.
- Jungkook...O que nós...
- Shhh...
O lugar que antes estava em uma escuridão total passou a ter suas luzes acesas, uma de cada vez, ao Jungkook puxar a alavanca dos interruptores.
Perdi um pouco do fôlego ao tomar consciência de onde estávamos.
- Isso é...
- Incrível?
O Teatro da SNU era imenso, estávamos apenas nos bastidores até então, o cheiro de madeira e tecido pairava no ar. Fiquei tão entretida que acabei esquecendo ainda estar segurando a mão de Jungkook, o libertei com as bochechas corando e o olhar hesitante.
Minha atenção foi imediatamente atraída para as araras que penduravam diversas fantasias.
- Não brinca! - Passei a vasculhar os cabides e esqueci completamente do mundo a minha volta. Talvez tenha até feito um desfile privado usando os diversos acessórios.
Percebi que havia me perdido no tempo quando comecei a rir de mim mesma ao olhar para o espelho. Aqueles óculos gigantes e o chapéu de cowboy definitivamente não combinavam com o meu vestido.
- Eu sou tão ridícula, não acha...? - Disse jogando o chapéu para o lado e tirando os óculos até finalmente me dar conta que Jungkook não estava mais ali.
Não sei se isso é bom ou ruim.
- Jungkook? - Chamei ao notar o silêncio.
Ele não teria me deixado aqui sozinha, ou teria?
Meu corpo todo se arrepiou quando ouvi o som de um piano soar.
Com passos lentos, atravessei a cortina vermelha e pesada do teatro em direção ao palco, Jungkook estava ali, tocando para as centenas de poltronas vazias.
Seu corpo estava relaxado a medida que ele tocava e sua melodia era um tanto doce e melancólica. Decidi não me aproximar, apenas fiquei a distância o ouvindo e inquieta.
Mas então ele parou de repente e inclinou a cabeça para o lado, seu olhar não chegou ao meu, mas pude ver quando ele acenou para que eu me aproximasse.
- Você toca? - Perguntou. Neguei com a cabeça, tímida por algum motivo.
- Então se sente. - Sua voz soava como um pedido e ao mesmo tempo uma ordem.
- Não sou seu cachorrinho. - Eu não perderia a oportunidade de irritá-lo.
Sua sobrancelhas arquearam e seu olhar escureceu, pude ver seus ombros e dedos tensionarem um pouco.
- Desculpe, eu havia esquecido que vocês homens tem um problema sério com a falta de controle sob as mulheres. - Sorri de lado antes de me sentar ao seu lado. Sua face relaxou um pouco.
- O que você sabe sobre pianos? - Ele questionou.
- Na verdade, nada. Mas conheci alguém que tocava, ele era ótimo...
Por que maldições disse isso?
Ele cruzou os braços por um momento, seus olhos permaneceram a me encarar sob a máscara.
- Toque. - Ele disse, no entanto fiquei imóvel, olhando para ele, sem saber o que dizer ou fazer. - O piano. - Ele completou.
Encarei o piano, sem a menor ideia do que fazer. Antes que pudesse encostar na primeira tecla, Jungkook ergueu a mão.
- Seus dedos estão tensos, vai tocar absolutamente nada se estiverem assim. Observe. - Seus dedos tocaram algo simples, mas foi ágil.
Engasguei e corei ao pensar mais profundamente sobre isso.
- Eu realmente não consigo fazer isso. - Disse a verdade.
Jungkook então se levantou e lentamente se pôs atrás de mim. Suas mãos descansaram sob as minhas e seus dedos sob os meus.
- Sinta o coração na ponta de seus dedos. - E então me guiou para tocar uma única nota.
Deixei que ele continuasse a me guiar pelas teclas, notas lentas e melódicas afloraram.
- Isso, Lalisa. - Eu sussurrou ao pé do meu ouvido e meu corpo estremeceu por inteiro. Parei de respirar por um instante. - Seus dedos são grandes, você seria uma ótima pianista.
Ele então se afastou e eu me repreendi por sentir a falta do seu calor.
- Aposto que seria tão boa quanto você, Jeon. - Virei-me para trás e pude vê-lo estremecer em silêncio, seu olhar era fixo em mim. Exigente, confuso e sensual.
Sua mandíbula estava rígida e seu corpo parecia tenso e contido. Ele estendeu a mão.
- Preciso te levar a um lugar.
(...)
Caminhamos para ainda mais longe do campus, em direção as árvores atrás do campo de futebol. Desisti dos saltos e agora meus pés estavam em contato com a grama.
Passei a ficar hesitante quando nos distanciamos demais e nos aproximamos da floresta.
- Jungkook. - Disse parando e o puxando pela manga do smoking. - Estamos indo longe demais.
Seu olhar brilhou com a luz da lua quando ele olhou para mim, meu coração pulou uma batida e sua mão apertou a minha em conforto.
- Estamos perto, confie em mim.
Eu confiava, confiava de olhos fechados. Ele poderia ter perdido a memória, mas lá dentro continuava a ser o Jungkook. O meu Jungkook.
- Eu confio. - Sorri de leve e deixei que ele me levasse.
Havia vezes que assustava comigo mesma ao pisar em alguns galhos no chão, e em seguida batia em Jungkook por ele rir.
Observei uma luz branca no fim do corredor de árvores.
- Chegamos. - Jungkook disse ao pararmos diante de um terreno vasto pela grama e com apenas uma árvore no centro. Meu queixo caiu um pouco, mas Jungkook ignorou e me puxou em direção a enorme árvore.
Paramos diante dela e eu precisei fazer um certo esforço com o pescoço para ver o seu topo, era de fato uma árvore enorme. Suas raízes eram grandes e se sobressaiam da terra, seu tronco era grosso assim como suas ramificações.
- Você sabe subir em árvores? - Jungkook questionou antes de soltar minha mão e escalar a árvore, sentando-se em um dos galhos grossos e sorrindo para mim feito um gato.
Arregacei as mangas imaginárias.
- Sou perita nisso. - Deixei meus saltos no pé da árvore e escalei com dificuldade por conta do vestido. Jungkook estendeu a mão quando me aproximei.
- Obrigada. - Fingi arrumar os cabelos em um gesto exibido. Jungkook sorriu e suas covinhas apareceram sutilmente.
- Você é tão presunçosa.
- É uma das minhas melhores qualidades.
Ele ri, balançando a cabeça.
- Se você diz.
- Você não concorda?
Seus olhos brilharam em diversão e seus lábios se contrairam em um sorriso.
- Tanto eu quanto você sabemos que isso não é verdade.
- Então me diga uma qualidade minha. - Argumento, achando um tanto interessante o fato que ele me elogie.
- Você é inteligente. - Ele diz.
- Isso é como dizer que precisamos de oxigênio para sobreviver.
Jungkook joga a cabeça para trás, gargalhando. Seus olhos se tornam duas linhas retas enquanto ele cobre a barriga, fazendo um esforço louvável para parar de rir, mas falha completamente. Aproveito esse tempo para observá-lo e escutar sua risada.
Eu sinto tanto a falta disso.
- Tudo bem... - Ele suspira. - Você é linda.
Meu corpo fica rígido momentaneamente, meus lábios tentam formular uma resposta, mas não consigo .
Droga, ele apenas fez um elogio.
- Isso, de fato, é como dizer que precisamos de oxigênio para sobreviver.
Sinto minhas bochechas esquentarem e agradeço mentalmente por estar escuro e que ele não possa me ver com clareza. No entanto ele se aproxima.
Suas mãos tocam suavemente meu rosto e de início me assusto com o contato, mas fico paralisada assim que encaro seus olhos concentrados por trás da máscara negra.
Ele tira minha máscara, lentamente. E por momento hesito em olhar em seus olhos outra vez, mas não tenho escolha quando ele toca meu queixo.
- Posso te ver melhor agora. - Ele diz baixo, ainda tocando meu rosto com as pontas dos dedos, sutilmente.
Seus lábios comprimem e seu olhar é contido, posso sentir sua respiração pesada em meu rosto.
Ele fecha os olhos por um instante e suas mãos se afastam. Um segundo de silêncio se passa e me repreendo por estar desapontada com isso.
Jungkook abre os olhos, encarando o céu.
- A lua é linda, né?
Desvio o olhar em direção a lua, notando em como ela está cheia e brilhante esta noite.
- Sim, ela é.
Perco-me em pensamentos por um momento, fico relaxada até me lembrar de um pequeno detalhe.
- Meu Deus, o Mingyu! - Bato a mão na testa e olho para Jungkook, seu olhar não é tão doce agora. - Eu preciso ir, ele deve estar preocupado. Você deveria ir atrás da sua garota também.
Desço da árvore e pego meus sapatos no chão, olho para cima uma última vez, encontrando o olhar atento de Jungkook sob mim. Percebo que há algo de errado naquele olhar, mas ignoro.
- Obrigada pela noite. - Murmuro antes de me afastar.
(...)
Corro de volta para o campus e vasculho o lugar para encontrar Mingyu, fico aliviada assim que o vejo.
- Onde você estava? Você sumiu. - Ele diz arqueado as sobrancelhas em preocupação. A festa estava praticamente no final visto pela diminuição de pessoas circulando.
- Eu fui tomar um ar e perdi a noção do tempo. Posso te recompensar de alguma forma? - Pergunto esperançosa enquanto junto as mãos em perdão. Ele sorri de leve.
- Hum... O que você acha de sairmos amanhã? Te busco no seu dormitório as cinco.- Ele sugere colocando as mãos nos bolsos do smoking com um sorriso curvando os lábios.
- Perfeito. - Sorrio de volta.
Seu rosto animado de um segundo para o outro se torna confuso.
- Onde está sua máscara? - Ele pergunta e é então que me dou conta, toco meu rosto.
- Oh. - Dou uma risadinha involuntária só de lembrar. - Eu acho que acabei perdendo.
(...)
/ Jungkook /
Sua boca estava em mim, mas não era era a boca que eu queria.
Ji Eun estava em baixo mim, movimentando-se, gemendo e suando, enquanto eu mantinha os olhos fechados e a imagem de Lalisa em minha mente.
Sim, eu sabia que era a porra de um filho da puta babaca, mas não podia evitar.
Tentei imaginá-la ali, se contorcendo em baixo de mim enquanto eu aproveitava para sentir seu cheiro intoxicantemente doce. Mas não consegui, não era ela.
Ji Eun gritou outra vez e eu me separei. Estava bêbado e ela também.
Senti-me culpado, sujo e constrangido. Queria gostar daquilo da mesma forma como ela gostava, mas era muito difícil.
Não era ela.
- Preciso ir. - Murmurei me afastando por completo e abotoando minha camisa.
- Mas já? - Ela manhou se cobrindo com o lençol.
- Sim, estamos bêbados demais pra algo a mais. - A mentira saiu de minha boca antes que eu pudesse pensar. Apertei o cinto antes de pegar meu smoking jogado no chão.
- Nosso encontro amanhã ainda está de pé? - Ela pergunta em tom sonolento.
- Sim, está. Boa noite. Se cuide. - Digo curto e saio sem olhar para trás, cambaleando um pouco.
Chego no elevador e noto como estou horrível ao me olhar no espelho. Minha gravata já não está presa ao colarinho e meu cabelo não está tão alinhado, dou de ombros.
Eu deveria ir para o térreo, mas por algum motivo meu dedo aperta o botão para o sexto andar. E eu o deixo ir.
Quando as portas se abrem eu cambaleio pelo corredor até chegar a porta do 273. Coloco meu ouvido sob a a madeira.
Silêncio.
Ótimo, ela não trouxe ninguém e deve estar dormindo.
- Boa noite, loirinha. - Eu murmuro e não faço ideia de onde saiu o apelido.
Na verdade, pouco importa.
Só sei de uma coisa.
Você está encrencado, Jeon.
*Votem e comentem! Motiva muito o meu trabalho❤
*Desculpe por qualquer erro ortográfico, eles serão corrigidos em breve.
*Cuidem-se!
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