Capítulo 30: 'Livro amarelo'
/Lisa/
Meu corpo era leve, eu parecia flutuar, até mesmo podia sentir uma brisa fria cobrindo minha pele. Não dormi bem noite passada, como poderia? Minha melhor amiga estava em perigo e o contato físico com Jungkook não ajudou tanto nas minhas tentativas falhas de tentar tirá-lo da minha cabeça.
Eu parecia drogada, pois sabia que estava sendo levada para algum lugar, mas não ousei me mexer pois estava confortável e cansada demais para isso. A última coisa de que me lembro antes de apagar foi Jungkook falando comigo sobre seu acidente, mal ele sabia que eu tinha o conhecimento sobre tudo e que inclusive sou a culpada.
- Onde estão suas chaves? - Ouço um sussurro, mas não faço questão de abrir os olhos, me aconchego no corpo quente e mergulho em um perfume masculino.
Escuto algo como um girar de chaves e uma porta rangendo até se abrir. Solto um suspiro satisfeito quando meu corpo encontra um lugar macio e quente, há silêncio por alguns segundos. Meus olhos se abrem ternamente e me encontro de baixo de uma coberta, sinto o perfume de água fresca próximo e então vejo Jungkook parado no canto da cama, olhando para mim.
- Você me perdoa? - Sussurro e Jungkook se aproxima, parando ao meu lado.
- O que? - Ele sussurra de volta, olhando-me como se fosse maluca ou algo do tipo.
Movo minha mão até seu rosto, é assustador como posso senti-lo na palma da mão, é tão real. Traço uma linha em seu lábio inferior com o indicador, sua expressão não é de surpresa, mas sim de concentração. O brilho nos seus olhos também me parece tão real...
- Você é tão lindo. - Eu murmuro, antes de sentir minha mão cair e eu perder completamente a consciência.
(...)
Acordo um pouco tonta e não faço a menor ideia de que horas são. Espreguiço-me desajeitadamente e percebo estar na minha cama.
Como vim parar aqui?
Minha memória volta a cena mais cedo e é que então minha ficha cai, aquilo não era um sonho...maldição! Fico boquiaberta por alguns instantes, tentando entender em como pude fazer aquilo. O que Jungkook deve estar pensando agora?
Pego meu celular com pressa e começo a escrever uma mensagem para ele.
- Desculpe por mais cedo, eu não sabia o que estava fazendo....
Apagar. Ele vai me achar maluca.
- Sobre mais cedo, me desculpe, eu não...
Apagar. Eu nem sequer agradeci.
- Obrigada por hoje mais cedo, tirando a parte que você me deixou acariciar seu rosto e te chamar de lindo....
Apagar. Definitivamente.
Deixo o celular de lado e vou para cozinha procurando algo alcoólico para beber, quando não encontro me contento com água mesmo.
- Burra! - Bato em minha própria testa e solto um suspiro longo e frustrado, vou para sala de estar totalmente irritada e transtornada comigo mesma. Jogo minha bolsa deixada em cima do sofá para o lado para poder me sentar, mas meu coração dispara quando meus pertences caem, entre eles um envelope.
O que é isso?
Pego-o do chão com curiosidade e meus olhos se enchem de lágrimas ao perceber o que é.
De: Jungkook
Para: Minha garota
O CD que Jungkook me derá no dia fatídico ainda permanecia em minha bolsa, intocado, o mesmo que recusei friamente junto a rosa branca.
Como pude me esquecer disso? Como pude fazer aquilo?
Com as mãos trêmulas, tiro o CD do envelope e noto um pequeno bilhete junto a ele.
"Você se lembra da vez que te escrevi um poema, mas disse que havia o perdido e nunca o recitei? Bom, a verdade é que nunca consegui fazer um poema bom o suficiente, não quando se tratava de você. Acho que finalmente consegui fazer algo que você goste. Aproveite, isto é apenas seu. Eu te amo, loirinha."
Término a leitura soluçando e trêmula, olho para o CD e percebo que deveria ter visto isso há muito tempo. Porém me recordo que não tenho um DVD Player, o que tira totalmente minha esperança de ver o que há neste CD, no entanto...
- Kim Jisoo! - Exclamo assim que lembro de seu DVD Player velho, mas que ainda deve funcionar. Coloco o envelope com o CD de volta na bolsa antes de sair do meu apartamento as pressas. Atravesso o hall do dormitório feminino e então percebo mais um obstáculo.
Como eu vou ao prédio sem carro? A casa de Jisoo fica praticamente do outro lado da cidade, ônibus ou metrô terá que servir. Onde fica a estação mais próxima?
- Lalisa? - A voz grave me faz ter um sobressalto. Olho para trás encontrando Jungkook parado há apenas alguns metros de distância com uma caixa nas mãos.
- Ah, oi... - Digo, sentindo minhas bochechas ruborizarem. - Sobre mais cedo...
- Não tem problema. - Ele diz antes que eu termine, fazendo-me corar ainda mais. Seu olhar me estuda de cima a baixo. - Vai a algum lugar?
- Eu vou a... Espera, está tentando controlar minhas saídas? - Digo assim que percebo estar sendo amigável demais, Jungkook não pode me ver como alguém doce que quer sua amizade, eu não posso deixar que isso aconteça.
Ele franze as sobrancelhas, mas uma expressão divertida passa por seu rosto.
- Não, é que está nevando. Só queria me oferecer para levar você...ser amigável. - Ele diz, sorrindo levemente.
- Você faria isso? - Pergunto visivelmente animada, porém me castigo no segundo seguinte. - Quero dizer...não que eu precise, há ônibus e metrôs, mas um carro seria melhor, entende?
Ele dá uma risadinha.
- Entendo, sim. Só preciso levar essas coisas lá pra cima. - Ele se refere a caixa. - Me espere no estacionamento.
(...)
O caminho até o apartamento de Jisoo é silencioso e rápido, mas tenho tempo suficiente para pensar e imaginar o que haveria neste CD.
Depois que o porteiro nos permite a entrada, Jungkook estaciona em uma vaga para visitantes, olho para ele, talvez esperando que estar aqui seja um gatilho para ele se lembrar de algo, mas nada acontece.
- Fique aqui, eu volto logo. - Aviso e ele apenas assente com a cabeça com um sorriso nos lábios, parecendo achar muita graça da minha ordem.
- É sério. - Digo saindo do carro.
Corro para os elevadores sentindo meu coração pulsando com força e rapidamente, uma ansiedade tomando conta do meu corpo.
Ao chegar no andar do apartamento não bato na porta antes de girar a maçaneta, só não contava que a porta estaria realmente aberta.
- Jisoo...Meu Deus! - Grito me deparando com SeokJin e o tal Jinyoung, os dois completamente sem camisa. Jisoo, que assiste a cena sentada no sofá, olha finalmente para mim, parecendo assustada.
- Lalisa! - Jisoo que grita dessa vez, vindo até mim. - Eu não sabia que viria. - Ela dá uma risada nervosa antes de me arrastar para o corredor, para longe dos dois peladões. - Por que não me avisou que viria?
- Eu...eu nem vou perguntar sobre isso. Preciso do seu DVD, agora.
Jisoo arqueia as sobrancelhas, mas não questiona o porquê ao perceber minha agitação. Sem uma palavra sequer ela me guia ao seu quarto, passando a vasculhá-lo por inteiro antes de achar o velho DVD Player de baixo de sua cama, todo empoeirado.
Ela o conecta a TV e ao perceber que ainda funciona um suspiro de alívio escapa dos meus lábios sem que eu perceba. Jisoo me encara com os olhos brilhando em curiosidade.
- O que está havendo? - Ela pergunta.
Vasculho minha bolsa e tiro o envelope com o CD sentindo meu corpo tremendo e suando frio apenas em pensar no que poderia ter ali. Algo bom, eu espero, mas aposto que irá destruir meu coração em pedacinhos, não sei se estou pronta para isso, mas sei que devo arriscar, dois meses já se passaram, está na hora de encarar a realidade.
- Preciso saber o que tem aqui. - Digo determinada.
Ela tira o envelope das minhas mãos e sua boca se forma em um grande e perfeito "O" quando ela analisa a caligrafia no papel.
- Isso parece importante. - Ela murmura antes de colocar o CD no DVD Player e a tela da Tv se tornar escura.
Nós duas nos sentamos em frente a Tv, em silêncio. A tela permaneceu escura por alguns segundos e quando começou clarear todos os músculos do meu corpo se tornarem tensos ao vê-lo, a primeira nota soa, melancólica e doce, sua voz a seguindo.
O Jungkook de dois meses atrás, o que ainda se lembrava de nós e me amava, tocava e cantava para mim, não era uma música qualquer, era uma música para mim, e meu coração se apertou ao ouvi-lo cantar. Ele nunca gostou de fazer isso em público, mas eu o ouvia, e ele sabia o quanto isso significava, ele confiava e mim, não tinha vergonha em ser quem ele era quando estávamos sozinhos, ele sabia o quanto eu amava vê-lo cantar.
Oh, eu não posso te ligar, eu não posso te abraçar
Oh, não posso
E, sim, você sabe, sim, você sabe
Oh, eu não posso te ligar, eu não posso te tocar
Oh, não posso
Eu me encolho com o sentido que a frase causa, dor. Apenas dor. Porque agora todas essas frases se aplicariam a mim, no entanto, Jungkook não sabe o motivo, e na verdade, eu gostaria que ele nunca descobrisse.
É, eu não preciso saber para onde vou
Mesmo que seja para o oposto do Sol
Uma vez no presente
Duas vezes no passado
Fico feliz por termos nos conhecido
Agora será para sempre
- Desligue, Jisoo. - Eu imploro com as lágrimas queimando minha garganta, no entanto Jisoo parece concentrada de mais, talvez perplexa. - Por favor, desligue! - Minha voz sai entrecortada e emanando desespero, ela rapidamente desliga a TV e tudo fica em silêncio. Apenas o meu choro incessante e meus soluços patéticos podem ser escutados, Jisoo não diz nada, acho que nem sequer se moveu.
O sentimento de culpa me assombra desde aquele dia, o de perda ainda mais, porque mesmo que ele ainda esteja aqui, ele não é o meu Jungkook, ele não se lembra de mim, o que me faz uma parte apagada e inexistente de seu passado.
- Lisa... - Jisoo sussurra. - Eu sinto muito.
Recupero meu fôlego e limpo minhas lágrimas com rapidez.
- Eu...acho que preciso ir.
Jisoo devolve o CD e me envolve em um abraço caloroso, quando passamos pela sala mantenho o olhar o mais longe possível dos 2Jin, mas sei que a expressão confusa passa pelo rosto dos dois, visto que acabei interrompendo o show deles ou seja lá o que eles estavam fazendo.
- Você vai ficar bem? - Jisoo pergunta ao chegarmos ao elevador.
- Eu sempre fico. - O suspiro longo e triste que escapa dos meus lábios contraria totalmente o que eu disse. Jisoo percebe, mas não diz nada, apenas me abraça uma última vez antes de me deixar ir.
O elevador desce lentamente, e neste meio tempo tento manter minha mente em branco, não quero chorar na frente de Jungkook outra vez. As portas se abrem e eu caminho até onde havia o deixado.
Minhas defesas se quebram assim que o vejo encostado ao capô de sua Mercedes, seus braços cruzados enquanto ele olha para um ponto distante, distraído. Meu mundo desaba completamente.
Caminho em sua direção sentido-me pequena e totalmente indefesa, quando ele me vê o sorriso presunçoso surge em seu lindo rosto.
- Eu estava pensando... - Ele começa. - Já que lhe ofereci uma carona, nós poderíamos... - Antes que ele termine me lanço contra seu corpo, prendendo meus braços em torno dele em um reflexo, respirando contra seu peito e deixando seu perfume de água fresca me consumir. Ele paralisa, tenso, mas então lentamente me envolve com os braços, levando sua mão a minha cabeça com seus dedos se enterrando em meus cabelos.
Eu sinto tanto sua falta.
Seguro o choro e sem me afastar suspiro contra seu peito.
- Lalisa... - Ele sussurra, mas o interrompo.
- Obrigada. - Murmuro baixinho e sinto seu peito se expandindo contra meu rosto.
- Olha, eu não faço a menor ideia do que você tá falando, mas por mim tá tudo ótimo.
(...)
/Jungkook/
Eu sou um bobo, exatamente. Eu sou um bobo. Não, melhor, eu sou um bobo por Lalisa Manoban. Descobri isso desde que a deixei na porta de seu dormitório e ela sorriu para mim...Céus, eu poderia jurar que minha cabeça iria explodir de tão quente que meu rosto ficou.
Voltei feito um idiota saltitante para casa, quase que sem fôlego. Eu não entendia, eu nunca me senti assim, não que eu me lembre, e na verdade, isso é tudo muito estranho para mim. Nunca senti uma euforia tão intensa, e droga, ela apenas sorriu para mim.
Eu não gostava de sentir isso, me sentia impotente. Lalisa já tem feito um estrago suficiente, está na hora disso acabar, mas porque não consigo fazer isso parar? Qual é o meu problema?
Malditos hormônios.
Decido parar de pensar nela assim que entro em meu dormitório, tenho coisas mais importantes para fazer, como abrir as caixas com meus pertences que ainda estão jogadas no canto do meu quarto.
Abro a primeira caixa, tirando vários exemplares de livros que ganhei ao decorrer dos anos e os colocando nas prateleiras do quarto. Alguns nunca havia visto na vida, ou pelo menos achava que nunca havia visto.
A caixa estava quase vazia quando retirei o livro com o título "A esperança", sua capa e contra-capa eram completamente amarelas, tornando algo bem chamativo. Era um dos livros que não me lembrava de ter lido alguma vez, porém quando o abri na primeira página minha mente e visão se tornaram turvas.
Andei até as prateleiras tentando achar um livro que me interessasse , percorrendo por várias e várias prateleiras. Ouvi um estrodondo na parte da frente da biblioteca o que me assustou e me fez virar a cabeça em direção a entrada.
Quem mais viria a essa biblioteca velha além de mim?
- BOA TARDE, SRA. MIN! - Uma voz feminina e escandalosa ecoou por aquele lugar.
- Está atrasada...
Corte, não ouvi nada ou vi algo por meros segundos.
- Me desculpe, Sra. Min . - Se aproximou da mesa arrancando alguns livros da bolsa.
A garota vestia uma blusa azul, o que me fez no mesmo momento me lembrar de um pavão, ri pelo meu pensamento estúpido, porém verdadeiro, realmente parecia um pavão.
Percebo que estava sem respirar assim que retomo consciência. Meu corpo parece paralisado mas minhas mãos permanecem trêmulas com o livro ainda em minhas mãos.
Isso foi uma lembrança?
Minha atenção é atraída para uma foto no chão, que provavelmente caiu do livro assim que o abri, na foto há apenas uma mulher e uma criança, uma pequena menina, a foto está parcialmente queimada, mas a imagem ainda é nítida.
O rosto é tão familiar, mas minha cabeça insiste em tornar tudo mais confuso. Viro a foto, notando a letra "M" escrita na parte de trás, o resto está completamente borrado por cinzas, é impossível de ler.
Fico em silêncio sentindo meu coração e mente em um turbilhão de sentimentos e lembranças confusas.
Quem são essas pessoas na foto?
A quem pertence esse livro?
Porque ele me fez lembrar de um acontecimento tão aleatório?
Quem era a garota de roupas azuis na lembrança? Porque não consegui ver seu rosto?
Pela primeira vez, quero realmente tentar entender o que aconteceu antes do maldito acidente.
*Votem e comentem! Motiva muito o meu trabalho❤
*Desculpe por qualquer erro ortográfico, eles serão corrigidos em breve.
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