Capítulo 29: 'Apenas ele e eu'
/ Rosé /
Meu sono é interrompido por uma conversa silenciosa, mas que é suficiente para me acordar. Uma luz me cega por alguns instantes e então aperto as pálpebras, enxergando o teto branco e frio de um quarto de hospital.
Os sussurros continuam e então tento me mexer, mas a dor que atinge todos os meus músculos não permite, sem contar a confusão em que minha cabeça se encontra, não lembro de absolutamente nada depois de que apaguei naquela sala escura.
Consigo mover meu pescoço um pouco para o lado, dando-me a vista de minha mãe parada da ponta da cama, inquieta e atordoada ao lado de um senhor de jaleco.
- Como se sente, srta. Park? - O homem de cabelos grisalhos e rosto enrugado me encara com atenção, esperando uma resposta
- Dolorida e com fome. - Eu digo a mais pura verdade, quase gemendo.
- A enfermeira trará medicamentos para dor passar, você desmaiou por pouco açúcar no sangue mas ficará bem logo.
O médico troca baixas palavras com minha mãe e então sai da sala em silêncio. Minha mãe se aproxima e imediatamente percebo o olhar triste em seus olhos, ela permanece calada por um tempo, apenas acariciando meu couro cabeludo e então cai no choro.
- Mãe... - Eu digo querendo que ela pare, ela soluça um pouco antes de limpar as bochechas molhadas e segurar minha mão.
- Fiquei tão preocupada com você! - Sua expressão de tristeza rapidamente passa para uma de raiva e decepção. - Não posso acreditar como Jong pode fazer isso com a minha menina.
Eu não a questiono o motivo de chamar meu querido pai de apenas "Jong", acho que a resposta é bem óbvia pelo tom que ela acaba de usar.
- Esqueça isso, mãe. - Eu peço, mesmo sabendo que ela não irá esquecer, nem eu mesma vou.
Ela balança a cabeça devagar com o sofrimento estampado no rosto e acaricia-me no rosto com um sorriso fraco. Nosso momento é interrompido quando a porta se abre e Jimin aparece na entrada do quarto, a expressão surpresa passa por seu rosto quando ele me vê, mas então relaxa se tornando aliviada.
- Você acordou... - Ele sussurra e então olha para minha mãe. - Estou atrapalhando alguma coisa?
- Não...querido. - Minha mãe diz e então volta seu olhar para mim. - O médico recomendou que amanhã você não fosse à faculdade, vou te levar para nossa casa mais tarde, quando tiver alta. - Ela beija minha testa e se afasta trocando um olhar carinhoso com Jimin, e então sai do quarto.
- Então vocês finalmente se conheceram? - Eu digo tentando amenizar o clima de tensão que preenche a sala. - Não esperava que minha mãe e meu namorado se conhecessem dessa forma, tipo, eu sendo sequestrada e tal...
Jimin não responde ou dá risada, apenas se aproxima e se senta ao lado da minha cama, inquieto e parecendo cansado, noto seus olhos marejados e me espanto.
- Você está chorando? - Pergunto parecendo chocada, ele balança a cabeça.
- Você me deixou tão preocupado, vê o que faz comigo? -Ele segura o meu rosto com as duas mãos e se aproxima, esconstando a testa na minha delicadamente. - As vezes não consigo acreditar no quanto eu sou sortudo, Chae. Você é tão preciosa para mim.- Seus olhos percorrem meu rosto e suas mãos me me acariciam, como se ele quisesse se certificar de que sou real.
- Você também é precioso para mim. - Digo baixo, esperando que ele me compreenda.
- Promete que não vai mais ser sequestrada por algum traficante ou gênio do crime?
Eu solto uma risada e deixo um beijo casto em seus lábios.
- Eu vou tentar.
Seus braços enlaçam meu corpo com cuidado e ele respira pesadamente em meus cabelos, não é uma posição tão confortável, mas não me mexo. Ele precisa de mim, tanto quanto eu preciso dele.
/ Jennie /
Dei passos longos e nada hesitantes para entrar no elevador, ajeitei minha bolsa no ombro e arrumei meu cabelo enquanto subia. Hoje seria o definitivo, o ponto final. Eu me rendi ao meu orgulho e estou no prédio de Kim Taehyung para admitir a minha total e falha meta de provar que posso viver sem ele.
Pois é. Eu não posso.
Eu nunca corri atrás de homens ou do amor. Para mim, amor sempre foi algo substituível, nunca fui de pedir ou implorar. Se eles me quisessem? Ótimo. Se não me quisessem? Perfeito. Nunca precisei correr para ter o que queria, eles que chegavam aos meus pés e imploravam, não eu.
Egoísta e exibido? Sim, eu sei, mas isso não vem ao caso, porque agora sou eu que estou indo atrás de Kim Taehyung para um possível final feliz e isso é na verdade um pouco estranho para mim.
Jamais pensei sentir atração em alguém como Taehyung, quero dizer, inocente e fofo, fácil de lidar. Eu sempre gostei mais dos bad boys, como o Yoongi. Então por que estou aqui? Tentando uma segunda chance com o garoto doce do campo? Precisei de uma noite em claro pra descobrir isso.
E bom, a verdade é que amor não substituível como eu pensava, não quando se ama de verdade. É por isso que estou aqui, porque encontrei o meu amor insubstituível.
Aproximo-me da porta de seu AP e bato três vezes, nervosa e impaciente, não liguei antes de vir, uma parte de mim, uma parte bem pequenininha, queria saber como seria a reação dele. Ouvi risadas e então a porta de abriu. Taehyung apareceu na porta usando calças jeans, camiseta larga e sem sapatos, o sorriso no seu rosto era largo, mas seus olhos pareciam surpresos ao me ver.
- Jennie? Eu não sabia que viria. - Ele olha para mim, parecendo um tanto curioso com a minha visita repentina.
Estufo o peito e crio coragem, já sentindo a adrenalina correr por mim.
- Bem...eu... - Eu começo, mas minha fala é imediatamente cortada por um:
"Taehyung oppa"
Congelo na hora e Taehyung percebe, a porta se abre mais um pouco e uma mulher de longos cabelos castanhos aparece na porta, ela se apoia descaradamente no ombro de Tae e olha para mim, curiosa.
- Quem é essa ai? Taetae?
Sério? Taetae?
Taehyung limpa a garganta enquanto olha para nós duas.
- Sou Jennie. - Me apresento antes que ele faça isso, a mulher ainda continua apoiada no ombro dele, parecendo querer envolvê-lo com o corpo todo.
- Você nunca me falou dela, Taetae. - Ela geme e meus ouvidos por pouco não sangram.
- Ele também nunca me falou sobre você. - Eu suspiro, olhando para ele, que não parece nada confortável.
Ela solta uma risada.
- Você deve me conhecer, sou protagonista de um drama muito famoso. "Bela dama" , você deve conhecer. - Ela balança as mãos fazendo vários gestos, ainda assim continua extremamente grudada em Taehyung.
- Eu não assisto dramas. - Sorrio falsamente e olho para Taehyung, ainda parado e quieto entre nós duas. - Nos falamos outro dia, aproveitem seja lá o que estavam fazendo.
Dou as costas e caminho com passos rápidos pelo corredor. Eu não deveria estar irritada, Taehyung não é meu namorado, mas estou morrendo de raiva porque realmente pensei que ele ainda sentisse algo por mim. Fui belamente enganada.
- Jennie! - Escuto sua voz grave me chamando, mas como a doce e irritada mulher que sou, ignoro e entro no elevador.
Aperto o botão para o térreo ouvindo passos pesados no corredor, mas as portas de aço se fecham antes que algo aconteça. Olho-me no espelho visivelmente irritada, mas agradeço internamente por chegar antes que algo a mais entre aquela mulher e ele acontecesse, não teria gostado de presenciar algo mais.
As portas se abrem e eu me apresso para sair. O porteiro aparece, parecendo estar surpreso com algo, mas não dirijo meu olhar para ele, estou irritada demais para falar com qualquer um que não seja eu mesma.
No entanto...
Dou de cara com um peitoral firme e ofegante, sinto o cheiro amadeirado irreconhecível e encontro o rosto impassível de Taehyung à alguns centímetros do meu.
- O que você está fazendo aqui? - Eu pergunto, parecendo levemente confusa, mas ainda assim muito irritada.
- Bom...eu moro aqui. - Ele dá de ombros.
Eu fico em silêncio por um instante, apenas controlando minha garganta para não soltar um palavrão ou dizer algo extremamente rude.
- Quero dizer...porque você está aqui...? - Digo esperando sua resposta e sentindo suas mãos subindo por meus braços.
- O que aconteceu lá em cima...
- Está tudo bem, Taehyung. - Tento me desvencilhar, mas ele me aperta, negando.
- Não, não está tudo bem. Você entendeu errado!
- Eu entendi que você seguiu em frente, tudo bem? Não precisa ser tão baixo.
- Jennie, ela é uma colega de trabalho.
- Uma colega de trabalho que você pega?
Seus olhos reviram de leve.
- Vou contracenar com ela em um drama.
Minha boca seca por um momento, o silêncio que nos cerca é inevitável, visto pelo meu choque. Abro e fecho a boca várias vezes, sem saber o que dizer.
- Você o quê?
Ele dá um leve sorriso e então toca as laterais de meu rosto.
- Vou virar ator. Ela é minha parceira de cena, estávamos testando algumas cenas juntos.
Oh, tudo bem, por essa eu não esperava.
- Por que não me disse isso antes? - É a primeira coisa que consigo dizer depois de processar toda informação, e me sinto completamente idiota depois de dizer isso. Ele dá uma risadinha.
- Tentei te ligar, mas você não atendeu.
Meus olhos vão direto para o celular em minhas mãos, é então que vejo as duas chamadas perdidas de Taehyung e mais cinco chamadas de Jisoo. Ops.
- Haha... - Eu solto uma risada nervosa com as bochechas corando, não apenas pela cena que acabei de fazer, mas também por conta do jeito que Taehyung me olha. - Eu não tinha visto, desculpe. - Sussurro, me segurando para não sair correndo e me esconder de baixo da mesa mais próxima.
- Então...Se você não veio aqui para falar sobre isso, o que veio dizer?
Dez segundos se passaram entre o momento em que Kim Taehyung me fez a pergunta que poderia mudar meu dia, ano ㅡ talvez minha vida ㅡ em um piscar de olhos. Dez segundos inteiros.
Uma quantidade saudável de excitação passou eletrizando pelo meu corpo, e me lembrei em como o efeito de seu charme bizarro sob mim funciona mais do que com qualquer outra pessoa.
Eu suspirei, reuni toda coragem que possuia no corpo e me joguei ㅡ não literalmente. Segurei seu rosto e levantei-me na pontinha dos pés, toquei nossos lábios levemente no início, mas as coisas se tornaram um pouco mais quentes quando ele tocou minha cintura com firmeza. Seus dentes pegaram meu lábio inferior quando ele se afastou, apenas para voltar para mais.
Suas mãos avançaram sob
a minha camisa, aquecendo cada
célula do meu corpo, preenchendo cada espaço escuro dentro de mim com o calor de sua pele. Tocá-lo, beijá-lo novamente era como era como queimar-se e se sentir ótima. Eu estava em chamas.
Craaaak
O barulho de algo rangendo fez nosso beijo parar em súbito, o porteiro nos encarava ruborizado, se escondendo atrás da enorme folha de jornal que lia. Uma risadinha reverberou da minha garganta e Taehyung acompanhou.
- Minha nossa... - Cobri o rosto rindo baixo, senti as mãos de Taehyung me envolvendo pelos ombros, até meu rosto estar colado ao seu peito.
Relaxei por um instante, então suspirei com força, colocando as mãos no peito de Tae para olhar em seus olhos.
- Eu precisava dizer que amo você e que fiquei com saudades.
Ele sorri acariciando meu rosto levemente.
- E mesmo depois do que aconteceu...eu ainda continuo amando você, e mesmo que...
- Jennie... - O dedo de Taehyung me cala quando é pressionado levemente em meus lábios. - Eu também amo você, e é só isso que importa. - Suas palavras ecoam fundo em mim, atingindo meu coração e o fazendo disparar como a tempos não fazia.
Quando seus lábios voltam para os meus outra vez é doce, tudo em volta some, não existe mais um passado que nos machuca, uma mágoa, o sentimento de raiva ou um porteiro bisbilhoteiro. Apenas eu e Taehyung, apenas eu e ele.
(...)
/Jungkook/
- Deveríamos ir, Lalisa. - Eu murmuro pela centésima vez e ela nega com a cabeça ㅡ pela centésima vez.
- Eu não vou, vá sozinho se quiser. - Ela resmunga ao meu lado e eu reviro os olhos.
Estamos a mais de uma hora sentados nesta sala de espera do hospital, e mesmo sabendo que sua amiga está bem, Lalisa continua insistindo em ficar. Encosto a cabeça na parede, já cansado em tentar convencer essa cabeça dura.
O silêncio preenche a sala durante alguns minutos, apenas o som de nossas respirações cortam o ar. Dou o meu máximo para manter meus olhos longe dela, sabendo o quanto ela se torna perigosa para mim e para minha sanidade mental quando a vejo.
- Quem era aquela...mulher com você? - Pergunto quebrando o silêncio.
- Jisoo? É minha amiga, quase minha irmã.
Eu solto uma lufada de ar, aliviado.
- Eu pensei que ela fosse... - Paro imediatamente quando percebo a besteira que diria, seus olhos cravam em mim.
- Fosse...?
- Hum... - Limpo a garganta, pensando em qualquer outro assunto. - Acho que deveríamos ir para casa, lugares como esse me dão calafrios. - Esquivo-me do assunto com rapidez e sem resistir meu olhar é levado ao dela.
Um calafrio me atravessa quando nossos olhos se encontram, fico confuso e sem fala por um instante, sentindo como se aquilo já tivesse acontecido antes, várias e várias vezes. Lalisa também não diz nada, seu rosto é impassível, mas seus olhos estão em um turbilhão de sentimentos que não consigo decifrar.
- Por que você sente calafrios? - Sua voz sai lenta e suave, já eu mal consigo dizer algo sem sentir minha garganta tremendo. Quando meu olhar cai sob seus lábios cheios minha boca seca, fico sem ar e posso ter a certeza que minha pupilas dilataram.
Aperto a mandíbula e desvio o olhar, se ela continuasse a me olhar daquele jeito, com aquela boca...não responderia por mim.
- Há dois meses, sofri um acidente de carro... - Recupero a fala, ainda que esteja um pouco fora de mim. - Os médicos disseram que perdi três anos da minha vida naquele acidente, não me lembro de quase nada. É como se eu...tivesse adormecido como uma criança e acordasse como um cara que acabou de entrar pra faculdade. Não foi um tempo legal. - Admito para ela em voz baixa e ela não tenta me interromper.
- Você se lembra de algo? - Sua voz treme.
- Algumas coisas, nada de tão importante.
O silêncio volta entre nós, mordo os lábios com o nervosismo a flor da pele sabendo que seus olhos ainda estão em mim.
- Não sei se um dia voltarei a me lembrar... - Sussurro. - As vezes acho que deveria desistir de tentar, talvez devesse esquecer completamente o que houve e seguir em frente. Você me entende? - Não espero ela negar ou assentir em confirmação, apenas continuo. - Mas existe algo...eu nem sei explicar...mas que me faz querer saber o que aconteceu antes do maldito acidente. - Engulo em seco.
- Sinto isso toda vez que fico com você.
Lalisa não diz nada, o que torna tudo um tanto desagradável, o silêncio entre nós se torna ensurdecedor.
- Desculpe por is... - Minha fala é engolida quando sinto um peso sob meu ombro, fico sem ar outra vez e olho para o lado, vendo o rosto adormecido de Lalisa em meu ombro.
Ela não ouviu nada?
Parte de mim fica um tanto aliviada sobre isso. Afasto os fios de cabelo que caem em seu rosto pequeno e fico tentado a não tocar em sua pele e lábios, mas me contenho.
Porra, por que ela tem que ser tão...tão Lalisa?
- Hora de ir para casa.
*Votem e comentem! Motiva muito o meu trabalho❤
*Desculpem-me por qualquer erro ortográfico, eles serão corrigidos em breve.
* Mil perdões pelo atraso do capítulo, eu deveria ter postado ontem, mas foi meu aniversário e acabei recebendo uma festa surpresa(😂), o que acabou resultando no atraso do capítulo.
*Amo vocês❤
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro