Capítulo 21: 'Aquela garota'
/Jungkook/
- "O modo como ela caminhava, erguendo os calcanhares muito de leve, e sua saia comprida dava a impressão de que ela na verdade estava flutuando. E aquele cheiro estranho..." - Meus lábios narraram um dos trechos de "Flor Negra" de Kim YoungHa em um sussurro em que só eu poderia escutar.
Estava sozinho em meu novo dormitório, lendo na mesa do canto do meu quarto e a usando para terminar os exercícios do professor Cha. O dia havia sido longo, mal conseguia manter minha concentração no livro, então o fechei e joguei sob a mesa, bufando para mim mesmo.
Hoje tive que arcar com a perseguição de três idiotas e mais uma aglomeração de garotas ao meu redor. Todos agindo como se fossem meus amigos, eles não eram, nunca seriam.
Meu celular apita.
- Jungkookie, estou com saudades. Ocupado?
SeungAh manda, suas mensagens e visitas tem sido frequentes.
- Estou. Nos falamos mais tarde.
Silêncio o celular e o deixo em cima da mesa antes de olhar para o teto. A chuva é trilha sonora para minha inquietude. Tenho desesperadamente tentado me lembrar de algo nos últimos dias, mas nada veio, como se a engrenagem que antes girava aos poucos em minha cabeça tivesse enfim emperrado.
Decido voltar aos exercícios inacabados.
(...)
No banho tenho alguns momentos da sensação de paz, um dos poucos que tenho sentido desde o acidente. Deixo a água quente correr por mim, tentando manter a minha mente em branco.
Saindo visto calças largas e aquele moletom preto, aquele em específico. É a minha peça de roupa favorita, podem o lavar quantos vezes quiserem, eu ainda consigo sentir aquele cheiro, já fraco, mais ainda consigo. É com ele que consigo dormir nas noites de insônia, que os pesadelos não me atacam e meu corpo relaxa.
Aquela garota...
Oh, sim. Eu pude sentir o mesmo cheiro nela, não fazia ideia de como, nunca havia a visto na vida, mas o perfume...era o mesmo, eu não estava maluco.
Deito-me na cama com a mente preenchida de imagens dela, seus cabelos loiros e longos, os olhos grandes de cor chocolate, o sorriso atrevido...Aquela boca.
Porra.
Eu nunca iria negar isso, ela era bonita e me atraiu...fisicamente, apenas. Rolo os olhos. Nos dois somos diferentes, a conversa que houve entre nós hoje foi provavelmente a última.
Mas por que não gosto dessa ideia?
/ Lisa /
- Droga! - Eu murmuro cobrindo meu rosto quente com as mãos enquanto me jogo na cama. Estou nervosa, com o coração batendo erraticamente e estou ligeiramente excitada. Solto uma lufada de ar antes de encarar o teto. - Por queee? - Digo com a voz embargada enquanto me lembro daqueles olhos.
Aqueles malditos e lindos olhos negros.
Eu devo ser a pessoa mais azarada desse mundo, acabo de me matricular em uma Universidade com o objetivo de recomeçar uma nova vida e esquecer do passado, mas ele volta para me atormentar, na mesma Universidade, no mesmo auditório, apenas algumas fileiras atrás de mim.
Toda vez em que olhar para trás e vê-lo perdido a culpa vai me atingir, sabendo que fui eu que causei tudo isso. E o pior de tudo, ainda me permitir sentir algo por ele, como eu podia?
Aquela conversa na chuva, o que tinha sido aquilo? Eu deveria ter corrido na primeira oportunidade, mas não, eu fiquei e deixei que ele falasse, aceitei seu guarda chuva quando ele o estendeu. E agora estou aqui, jogada na cama do dormitório tentando entender em como posso amar tanto alguém.
Eu não o merecia.
Meu celular vibra várias vezes. São mensagens da Chae.
- Chegou bem?
- Lalisa.
- Lalisa, meu Deus, eu fiz uma besteira muito grande. Eu estou desesperada, me ajuda, por favor!
Meu corpo gela enquanto levanto da cama.
- O que aconteceu?
Mando a mensagem e a resposta vem rápido.
- Recebi uma mensagem anônima, dizendo que o tempo está acabando. Eu não sei o que fazer! Meu pai não tem nada haver com isso, não contei a Jimin e simplesmente havia esquecido dessa merda!
- Merda.
Mando sem saber o que dizer, realmente, merda.
- Estou indo para o seu dormitório.
- Não! Jimin está aqui. Preciso arrumar um jeito de contar isso pra ele. Vou ficar bem, nos vemos mais tarde.
Aperto o celular e o deixo sob a mesa da cozinha. Isso não é bom, Chaeyoung está correndo perigo e nas mãos de alguém que não faz ideia de quem seja, e pior, essa pessoa sabe quem nós somos. Todos correm perigo.
- Puta merda. - Eu murmuro antes de ir ao banheiro e ligar o chuveiro na pressão máxima.
Se eu pudesse, entraria naquele apartamento para tentar colocar um pouco de bom senso na cabeça da minha melhor amiga, como ela pode simplesmente ter esquecido?
Despindo-me entro no chuveiro tentando resfriar a cabeça.
(...)
Perto da meia noite alguém bate na porta da frente, espio pelo olho mágico e vejo Chaeyoung do outro lado, tensa. Abro a porta e ela entra antes mesmo de dizer um "oi".
- Tudo bem? - Pergunto mesmo sabendo que nada está bem, espero ela retrucar, mas não acontece.
- Horrível.
Ela se vira para mim, e é então que percebo que ela está chorando. Suspiro e deixo que ela se deite no sofá da sala de estar.
- Ele ficou bravo? - Pergunto e ela olha para mim, os olhos grandes lacrimejando.
- Bravo é pouco, Lisa. Ele ficou louco de raiva comigo. Eu estraguei tudo.
Arregalo os olhos de leve.
- Você terminaram?
Ela nega com a cabeça e com os lábios tremendo.
- Não, mas eu fiquei com medo que isso acontecesse. Ela ficou muito bravo, Lisa. - Ela estremece. - Nunca vi Jimin daquele jeito.
- O que ele disse? - Disse me sentando no sofá e deixando sua cabeça descansando em minhas pernas.
- Além de gritar? - Ela quase riu. - Ele disse que o pai dele é delegado, que vai o mandar investigar. Mas sabe o pior? - Ela continuou depois que murmurei um "hum?". - Eu acho que a gente ia transar.
Engasgo com a minha própria saliva, certo, eu não esperava que ela me contasse isso do nada.
- Você é virgem? - Pergunto não querendo demonstrar espanto, eu imaginava que ela e Jimin já tivessem dado esse passo e que ela simplesmente quis manter isso em segredo. Mas parece que não.
- A maior virgem que você já conheceu. - Ela ri dessa vez, mas noto que ela não acha graça, sinto a tristeza em sua voz. - Nem todo mundo é como você e Jungkook, Lisa. Não pensávamos em transar igual coelhos.
Ensgasgo de novo.
- Era, Chaeyoung. Era. - A corrijo vendo-a se encolher.
- Desculpe. - Ela murmura baixinho.
- Tudo bem.
- Eu nem te perguntei, como você está com tudo isso? - Ela se levanta do meu colo, se indereitando ao meu lado no sofá. Puxo o ar.
- Com medo. - Eu digo a verdade. - Tenho medo que ele se lembre, mas ao mesmo tempo queria que ele se lembrasse da gente. Sabe? Pensar que ele perdeu tudo por minha culpa...
- Eu vou te dar um soco, sério. - Chae me corta, alterada. - Você não tem porra nenhuma de culpa nisso tudo, aconteceu, não dá pra reverter as coisas. E se eu fosse você... - Ela segura minhas mãos e as aperta. - Eu contaria a verdade.
- O que acontece depois, então? De qualquer jeito, a mãe de Jungkook não me quer por perto. - Solto essa última parte sem querer, mas que se foda.
- Ela que vá para o inferno! Jungkook pode ter esquecido o que aconteceu, mas não deixou de ser ele mesmo.
- As coisas não são tão fáceis...
- O que não é tão fácil?
A pergunta faz as palavras entalarem na garganta, machucando-a, preciso contar e desabafar.
- Na noite em que a mãe de Jungkook apareceu no apartamento da Kim...ela disse que eu deveria deixar Jungkook ou o tiraria do país. Eu não podia deixar isso acontecer! Iria estragar os sonhos dele, ele nunca quis sair de Seoul e eu não queria ser a culpada por isso. - Solto tudo de uma vez com as lágrimas começando a surgir em meus olhos. - No outro dia disse que não o amava mais.
Vi o corpo de Chae ficar tenso ao meu lado.
- Discutimos, ele ficou irritado e foi embora. O acidente aconteceu meia hora depois, foi minha culpa. - Quando percebo estou sendo envolvida pelos braços da minha melhor amiga e soluçando. - Ele quase morreu...por minha causa.
- Você esteve escondendo isso por todo esse tempo?
- Eu precisava, não podia arriscar. Prometa que não contará para ninguém! - Digo saindo de seus braços e apertando suas mãos. - Ninguém, nem Jimin ou Jisoo. Por favor! - Suplico juntando as mãos, Chae revira os olhos.
- Eu não vou fazer isso, mas você sabe...a verdade logo cairá por terra.
- Espero que quando isso aconteça eu já esteja longe daqui, bem longe.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro