Capítulo 17: 'Sonhos'
/Jungkook/
Senti aquele aroma familiar outra vez, dessa vez mais doce, mais perto. Senti até mesmo um toque familiar enquanto dormia, no entanto, quando acordei não havia ninguém no quarto, talvez fosse mais um sonho.
Por ordens médicas tive que passar mais uma noite no hospital, o que era horrível, porque eu apenas queria ir para casa e colocar as coisas no lugar. Ainda era difícil entender.
Era como se eu tivesse dormido durante todos esses anos e agora simplesmente acordei com dezoito anos, quase dezenove. Eu dirigia, e obviamente não fazia isso muito bem visto pelo meu estado agora. Forçei-me a lembrar de algo, mas a única coisa que recebia era dores de cabeça, o Doutor Son disse que eu não deveria forçar e que as memórias viriam ao decorrer do tempo, mas eu não quero esperar, quero tudo agora e isso é tudo muito fodido.
Eu estava agitado, queria que pelo menos alguém me contasse alguma coisa, mas todos pareciam se recusar ao dizerem "Mais tarde". Eu não estava afim do "Mais tarde", eu queria o Agora.
Também me perguntei onde estaria meu irmão, que até mais cedo esteve aqui e eu podia jurar que aquilo não era um sonho, eu o vi, ainda que parecesse mais velho do que me lembrava, já que na realidade, quase dez anos haviam se passado desde que ele passou pelos portões de casa e nunca mais voltou.
Fui pego pelo sono outra vez.
(...)
- Jungkook! Volte aqui! Menino! - Ouvi a voz de Eunmi, a governanta, gritando por meu nome. Não me importei e continuei subindo as escadas até tropeçar e sentir uma fisgada no joelho, um corte.
- Ah! - Eu gritei e então senti suas mãos em meus ombros , mãos que ainda seguravam aquela maldita escova de cabelo.
- Olhe só! Está vendo? Era só você ter deixado arrumar seu cabelo. Vamos limpar esse corte antes que sua mãe veja...
Despertei um pouco zonzo, talvez sem ar. Olhei para os lados e percebi que não estava mais sozinho. Dr. Son e meus pais estavam ali.
- Como se sente, Jungkook? - Son pergunta com um sorriso genuíno.
- Bem. - Eu digo prático enquanto tento mexer as pernas para fora da cama, ainda que seja difícil.
- Bom, então te darei alta. Você não pode fazer esforço com seu braço esquerdo e sempre terá que limpar o machucado e limpar os curativos. Está bem? - Ele disse se oferecendo a me ajudar.
- Sim.
- Ótimo. Te vejo em semanas Sr. Jungkook.
Deixo o hospital mancando e com a cabeça tão confusa quanto ontem, entro no carro com a ajuda de minha mãe e permaneço em silêncio até o final da viajem.
Aquilo foi uma lembrança? Ou apenas mais um maldito sonho?
Repasso a cena outra vez em minha mente e fecho os olhos com força, meu coração bate acelerado e eu perco o fôlego. Minha cabeça dói e quase consigo ver uma luz se acendendo ali dentro.
- Você precisa se arrumar para a formatura... Jungkook. - Repito a frase que vem a minha cabeça com a voz tremendo.
- Jungkook?
Abro os olhos e vejo minha mãe com um olhar de dúvida e ao mesmo tempo surpreso.
- Hm? - Tusso. - Não é nada.
Reencosto-me no banco outra vez e fico assim até o final da viajem. Estou ficando maluco? Isso realmente aconteceu?
Suspiro tentando me lembrar de algo mais, mas tudo que me vem é um número. 16.
(...)
Eu realmente não esperava ser recebido com uma festa em casa.
Bom, quase.
Quando passei pelas portas havia flores em todo canto, mensagens positivas e até mesmo o cheiro de bolo de baunilha, o único doce que eu comia, pairava no ar.
- Jungkook? - Eunmi acenou com um sorriso amarelo. Ao seu lado um homem alto de cabelo liso com expressão nervosa. Eu o conhecia?
- Oi. - Eu disse, ainda olhando em volta e para todos no hall.
- Bem vindo de volta. - Uma voz animada e feminina soou me fazendo olhar em sua direção. Uma garota baixa e morena de cabelos curtos olhava para mim com os olhos brilhando. Acenei com a cabeça.
- Ahm...obrigado... - Eu disse tentando desesperadamente lembrar seu nome.
- Eunbi. - Ela sorriu. - Me chame de Eunbi.
- Obrigado pela recepção...calorosa, que fizeram ao meu filho. Mas ele precisa descansar, Garam, leve Jungkook ao seu quarto. - Meu pai disse com a voz firme se dirigindo ao mordomo.
Todos deram espaço para mim, e então Garam me ajudou subir as escadas e ir ao meu quarto. Entrei e fui acometido por um leve espanto, mesmo que não devesse. Meu quarto obviamente teria mudado depois desses anos, eu não era mais uma criança.
- Tudo bem, sr. Jungkook? - O mordomo pergunta.
- Oh, sim. - Eu digo saindo do transe e então me afastando continuando a olhar em volta.
- Qualquer coisa é só me chamar, sr. Jungkook. - Garam diz antes de sair e fechar a porta, deixando-me sozinho no quarto imenso.
Ando com dificuldade até a cama e suspiro ao conseguir finalmente sentar. Tudo parece errado.
A porta do quarto se abre.
- Sr. Jungkook? - A garota de cabelos curtos aparece e entra relutante no quarto.
- Olá. - Eu digo percebendo um rubor em suas bochechas ao se aproximar.
- Eu...só queria dizer que você pode contar comigo, para o que precisar. - Ela diz com determinação me fazendo levantar as sobrancelhas.
- Obrigado, Eunbi. Mas eu posso me cuidar sozinho. - Digo em um suspiro cansado e ela assente, envergonhada.
- Sim, senhor.
Ela deixa o quarto rapidamente com o rosto ruborizado.
Certo, há algo muito errado aqui.
(...)
Acordo com a luz irritante vinda da janela e o barulho insistente de alguém batendo na porta.
- Inferno. - Eu murmuro contra o travesseiro antes de chutar o cobertor e grunhir de dor. Havia me esquecido que até ontem estive na cama de um hospital após quase morrer em um acidente de carro e perder a maldita memória.
- Jungkook? Você está acordado? - A voz irritante de Eunmi soa do outro lado.
- O que você quer? - Perguntei colocando o travesseiro sobre meu rosto.
Vá embora logo.
- Seus avós estão aqui, vieram te visitar. - Ela diz me fazendo finalmente abrir os olhos.
- Vou tomar banho, desço em quinze minutos. - Pulo da cama segurando um gemido de dor e vou mancando até o banheiro. Perco o ar ao me ver no espelho, era a primeira vez que me via desde de acordei no hospital.
Seja lá quanto tempo fiquei na cama desacordado, pareço um maldito bêbado com essa barba, e merda, esses machucados em meu rosto são horríveis. Tiro a camisa de botões, o que me faz ainda mais me parecer um bêbado fodido, nem me lembro de ter caído no sono.
Noto os leves arranhões em meu peito e abdômen...
Eu tenho tanquinho?
Eu poderia ficar surpreso se não estivesse mais ainda com o tamanho da cicatriz em meu ombro esquerdo, ainda que esteja costurado, sei que isso não irá ficar bonito depois que os pontos forem tirados.
Canso de me olhar e vou para o box, tomo o banho mais agonizante da minha vida já que as feridas ardem ao a água encontrá-las. Busco uma toalha e depois tento me lembrar em que parte do guarda-roupa guardo minhas cuecas.
Visto a calça moletom deixada em cima da cama e busco por outra camisa de botões no guarda-roupa, elas são mais fáceis de tirar e vestir. No entanto algo me chama mais atenção, um moletom preto no fim do guarda-roupa tem aquele cheiro, aquele que senti antes de dormir e que faz meu coração se eletrizar como nunca.
O cheiro nele é ainda mais forte. Reconfortante. Faz meu coração acelerar.
Guardo-o de volta no fim do armário e pego uma blusa de lã com botões.
- Sr. Jungkook? - Eunmi chama do outro lado.
Ela ainda está aí?
- Estou descendo.
Visto a camisa desajeitado, calço meias e chinelos e desço a escada. Não consigo me lembrar da última vez que me vesti assim. Na verdade, realmente não me lembro.
- Jeongguk! - Escuto a voz doce de minha vó ecoar pelo hall assim que coloco os pés nele. - Meu menino! - Ele diz vindo até mim, com os braços abertos e receptivos.
Eu a abraço sem exitar. Mas se tem uma coisa que me lembro é que os abraços da vovó são muito, muito apertados.
- Oh, desculpe. - Ela se afasta com uma risadinha e meu avô, Dowon, se aproxima.
- Matou todos nós de preocupação, menino! - Ele me repreende antes de abraçar-me igual a minha avó.
- Vamos tomar um café da manhã agradável, sim? - A voz da minha mãe soa quando ela adentra no hall.
- Sim, vamos. - Minha avó diz enquanto me segura pela mão e meu avô pela outra. - Você precisa raspar a barba, ela te deixa mais velho. - Ela solta uma risada.
O café foi de fato agradável, ninguém falou nada, ninguém pareceu querer falar sobre algo. Era um momento de paz e silêncio que eu não tinha a dias, no entanto, não durou muito.
- Já se decidiu que faculdade irá fazer? - Meu avô pergunta e então é chutado por minha avó debaixo da mesa. É então que minha ficha cai, se tenho dezoito provavelmente já me formei e tinha planos para a faculdade. Tinha.
- Hum...O que eu planejava fazer? - Pergunto encolhendo os ombros e meus avós parecem horrorizados.
- Administração, em Harvard. - Meu pai intervém me oferecendo um sorriso amarelo. Estremeço, eu queria realmente isso? Não me parece...
- Não. - Minha avó que dessa vez intervém com um olhar ameaçador ao meu pai. - Você queria fazer psicologia ou literatura coreana, aqui, em Seoul.
Olho para o meu pai que lança um olhar de "cala a boca" para minha avó. Meu avô parece absorto e minha mãe se preparando para algo.
- Você não pode me controlar só porque perdi a memória. - As palavras apenas saem da minha boca me deixando confuso. Eu nunca havia dito algo assim ao meu pai, não que me lembre.
Ele está olhando para mim agora, mas não parece surpreso. Sinto meus pulmões sem ar e deixo a mesa com a cabeça girando a mil por hora.
Subo as escadas e por algum motivo meus pés me levam ao escritório da casa. Abro um dos armários da sala dando de cara com livros, papeladas e álbuns de fotos.
Perfeito.
Puxo um de capa de couro negro e percebo que é meu álbum de formatura do fundamental. Abro na primeira página onde há uma foto de toda a sala, não me lembro do nome de todos, mas consigo reconhecer meus amigos na foto.
Jennie
Jimin
Namjoon
Todos nós na fase da puberdade com as roupas de formatura. Sim! Me lembro disso, estava usando essa mesma roupa no sonho em que tropeçava na escada, e com certeza, eu nunca usaria esse tipo de cabelo coberto de gel. Agora entendo porque eu estava fugindo de Eunmi.
Solto uma risada, feliz por talvez ter me lembrado de algo. Ainda que pareça uma coisa pequena em meio a esses três anos.
Continuo a folhear os outros álbuns e não encontro praticamente nenhuma foto minha depois da formatura, era como se tudo tivesse simplesmente sumido.
Olho para a data do primeiro álbum.
16 de novembro de 2016
E então compreendo o tal número que atormentava a minha cabeça. E no final fico até feliz com isso, tento me forçar a lembrar de algo mais, mas nada vem.
- Jeongguk? - Escuto a voz de minha avó e seus passos adentrando na sala, é então que noto que estou sentando no chão cercado por álbuns e fotos espalhadas pelo chão.
- Oi. - Eu digo ainda me forçando a lembrar de algo.
- Não force. As memórias irão vir na hora certa. - Ela diz como se estivesse lendo minha mente e se senta ao meu lado.
- Eu me lembro de algumas coisas, mas ainda é muito pouco.
- Eu sei que deve ser frustrante, mas você deve ter paciência. Tudo irá vir quando você menos esperar.
A sala fica em um silêncio confortável por alguns instantes e então decido perguntar.
- Por que meu pai mentiu sobre a Universidade? - Questiono, mesmo que no fundo saiba a resposta.
- Você nunca quis assumir os negócios da família, ele apenas viu uma chance para que você apenas concordasse. Minha filha casou com um cretino.
- Então...O que eu faço? - Pergunto em meio a tantas dúvidas que me cercam. Ela coloca a mão sob meu ombro com um sorriso doce.
- Siga seu coração. Ele vai saber o que fazer.
*Desculpe por qualquer erro ortográfico, eles serão corrigidos em breve.
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