Capítulo 15: 'Lembre-se'
/ Jungkook /
Dói, porcaria, como dói. Meu corpo inteiro parece estar sendo esmagado por toneladas de pedras invisíveis. Minha cabeça lateja tanto que nem consigo sequer pensar direito. Tento me virar para o lado quando escuto o barulho irritante de algo apitando sem parar, foi a pior escolha da minha vida , porque agora quero gritar de dor.
- Senhor? Você está bem? - Uma voz engraçada quase fez meus ouvidos sangrarem.
- Pareço bem? - Digo e me assusto com minha própria voz, está seca e...grossa?
Fico imóvel encarando o teto branco e frio da sala, minha cabeça está extremamente confusa enquanto pensamentos embaralhados me atormentam, fecho os olhos por alguns segundos com o turbilhão de imagens distorcidas em minha mente.
O que há comigo?
/ Lisa /
JungHyun e eu entramos em disparada no hospital, no entanto, logo somos parados por uma mulher de cabelos grisalhos e linhas de expressão, uma enfermeira. Ela agora parece bem eufórica.
- Ele acordou! - Diz ela. - Está ciente do ambiente a sua volta, até mesmo me disse seu nome e data de nascimento! - Ela diz e então eu solto uma lufada de ar com alívio, mas meu coração ainda bate acelerado no peito. Quero vê-lo ainda mais.
Quando estou prestes a correr em direção a sala JungHyun dá um passo apressado na frente, quase me parando, e então me olha com súplica.
- Lalisa...Eu... - Ele diz receoso enquanto encolhe os ombros, faço o mesmo já sabendo o que está por vir.
- Tudo bem...eu entendo. Você pode ir primeiro. - Eu sorrio tentando ser reconfortante e os olhos de JungHyun brilham em emoção.
Eu deveria entender, ele está obviamente com saudades do irmão e o encontro deles depois de tanto tempo não foi tão agradável, ele mais do que ninguém deveria ser o primeiro a entrar naquela sala.
- Obrigada Lalisa, te devo essa. - Ele diz antes de sair correndo pelo corredor, deixando uma Lisa ansiosa para trás.
Sento-me em uma das cadeiras do corredor esperando por sua volta, balanço as pernas, tento distrair minha mente com outra coisa, planejo coisas para mais tarde e evito qualquer pensamento que envolva a mãe de Jungkook.
Falando nela...
Escuto o barulho irreconhecível de seus saltos caros batendo no chão com força. Ela e seu marido passam por mim, claro, sem uma palavra sequer. Ele provavelmente não faz ideia de quem eu seja, já ela, apesar de não dizer nada, encara-me ameaçadoramnete quando nossos olhos se encontram, e então vira o corredor e desaparece.
Suspiro com tédio apesar da ansiedade que toma conta do meu corpo. Olho para o relógio de dois em dois minutos, esperando a volta de JungHyun para que eu finalmente possa ver Jungkook. Meu homem lindo.
No entanto, os minutos de passam e ninguém vem, nada acontece, tudo aqui parece muito silencioso. Não vi nenhuma das meninas ainda, nem mesmo Jimin ou Taehyung. Todos sumiram.
Agitada, levanto-me e vou para o banheiro do hospital. Lavo as mãos e o rosto enquanto respiro pesadamente enquanto me olho no espelho, estou começando a suar, falta pouco para eu delirar completamente.
Fico ali por mais alguns minutos tentando fazer minha respiração se estabilizar. Porém nada parece funcionar, fico mais nervosa a cada segundo.
- Quando me disseram que você era determinada, eu juro, nunca acreditei. Mas, sério, estou chocada com tudo isso. - A voz feminina e irritantemente doce me faz querer vomitar. Meu estômago revira ainda mais quando vejo seu reflexo no espelho.
SeungAh
- O que... Que merda você faz aqui? - Pergunto ao me virar bruscamente para ela, que sorri com satisfação.
- Eu que deveria perguntar. Não? - Ela cruza os braços com aquele sorrisinho irritante nos lábios. - Quando fiquei sabendo sobre seu término com Jungkook e seu objetivo de mantê-lo afastado...Eu nunca pensei que fosse tão extremo, Lisa. Você realmente mudou os sentimentos dele por você.
Meu corpo gela e minha pele provavelmente está mais branca que papel , estou com a boca seca e não consigo nem sequer dizer algo. Isso era um segredo , como diabos ela sabe disso? De que merda ela está falando?
- O-O que? Do que você está falando? Quem te disse isso?
Ela gargalha , uma gargalhada alta de fazer a barriga doer.
- Eu e Sra. Jeon somos assim. - Ela diz cruzando os dedos ainda com o sorrisinho nos lábios. - Ela me contou, e pelo que acabei de testemunhar... - Ela então, estranhamente, começa a bater palmas enquanto sorri de forma consideravelmente assustadora. - Você fez um ótimo trabalho.
- Do que você está falando?! - Começo a sentir meu sangue borbulhar e minha pele esquentando . Estou sem fôlego.
- Hum...Por que você não vê com seus próprios olhos? - Ela sorri pela última vez então dá as costas e vai até a porta do banheiro. No entanto, para e olha para mim. Apenas uma última vez. - Obrigada , Lisa. Você facilitou muito as coisas.
Ela vai embora e antes que eu possa correr atrás dela e exigir informações. Vou para o corredor com passos apressados e um coração aflito mas paro de supetão ao encontrar JungHyun, seu rosto é impassível, parecendo em choque.
- JungHyun...? - Digo em um sussurro , ele está olhando pra mim, sei que ouviu quando chamei pelo seu nome. Mas ele não responde, parece em um transe. - JungHyun? Você está bem? Jungkook...
- Lalisa... - Ele diz pela primeira vez , sua voz alta e um pouco...embargada?
Não seu o porquê, mas algo me faz parar exatamente ali, no meio do corredor me fazendo esperá-lo vir até mim , seus passos são lentos e cuidadosos e, por algum outro motivo, minha garganta assim como meus olhos começam a queimar.
- Jungkook...Ele está bem , falou comigo, nós finalmente conversamos depois de tanto de tempo. - Ele dá um leve sorriso e eu também, trazendo um rápido alívio para o meu coração. Rápido. Porque o sorriso logo se desfaz. - Vamos conversar na minha sala...?
- Por que?!
Não sei o porquê , mas acabo disparando a pergunta de forma rude, não era minha intenção de qualquer forma , mas JungHyun está me matando dizendo as coisas assim.
- Lalisa, é melhor nós dois nos sentarmos...Tudo bem?
- Não, não está tudo bem. Porque você está agindo desse jeito? O que diabos está acontecendo? - Pergunto sem fôlego.
Meus lábios tremem e meus olhos se enchem de água, tudo parece realmente incerto agora. O que há de errado com todo mundo? O que SeungAh está fazendo aqui? O que foi aquela maldição que ela disse? Por que JungHyun apenas não diz de uma vez?
- Lalisa. Jungkook parece ter sofrido síndrome de amnésia. - Ele diz rapidamente, seus lábios estão apertados e seu corpo tenso. Fico durante alguns segundos sem palavras antes sentir a garganta queimando outra vez.
- O quê? - Vocifero e JungHyun encolhe os ombros.
- Perda de memória.
Prendo a respiração, rezando para que eu não tenha ouvido corretamente, estou horrorizada e meu corpo todo se contrai em dor.
- Conversei com ele, há obviamente um corte em sua memória... A parte de seu cérebro que armazena certas lembranças sofreu um trauma. Nossa habilidade de acessar lembranças é um processo muito complexo, mesmo sem a desvantagem adicional de um trauma cerebral.
Fecho os olhos, tentando assimilar toda a informação.
-O que está dizendo, JungHyun?
- Estou dizendo que Jungkook, ao que parece, perdeu os últimos três anos da vida dele.
Três anos...Envolve todo o nosso tempo juntos.
Desmorono, minhas pernas fraquejam e eu não penso em fazer com que minhas lágrimas parem de cair. Nos últimos dias, as lágrimas que deixei cair serviam para um ano inteiro, eu pensei que não poderia chorar mais depois de tudo. Eu estava enganada.
- Ele não se lembra de mim...? Nada? - Eu pergunto, mesmo sabendo a dura resposta. JungHyun morde o lábio.
- Eu sinto muito, Lalisa. Eu...
Sem conseguir ouvir mais uma palavra corro desesperadamente pelo corredor e entro novamente no banheiro em um dos cubículos. Coloco tudo pra fora, vomito e tusso sobre o vaso, não comia a dias, mas sabia que isso não tinha nada haver com o meu estômago. Era o medo, a realidade.
Jungkook perdeu a memória.
Jungkook perdeu tudo que nós vivemos.
- Lalisa! - Eu ouço a porta do banheiro se abrir em um estrondo e os passos do irmão de Jungkook atrás de mim. Logo sinto suas mãos em meus ombros. Soluço enquanto cubro meu rosto , estou um desastre.
- Ele não se lembra de mim. - A frase mal sai de minha garganta, ainda tento entende-lá, mas é difícil. Ouço um suspiro e um aperto de JungHyun em meu ombro.
- A maioria dos pacientes que sofrem amnésia como resultado de um trauma se recuperam totalmente, dependendo de alguns fatores, claro, mas...ele vai se recuperar! - Ele diz com encorajamento na voz. Solto um gemido de dor e impotência.
- A maioria dos pacientes? - Pergunto me concentrando apenas nessa parte.
- Jungkook é jovem, saudável. Tudo conta ao seu favor, além de que memórias relacionadas ao seus estudos nos últimos anos pareceu não ter sido afetada, estranhamente... É como se...
- Ele tivesse se esquecido de tudo que já fez seu coração bater um dia.
(...)
/ Jungkook /
Lembro-me de ter apagado segundos depois de responder algumas perguntas do meu irmão. Sim, meu irmão, JungHyun.
Fiquei agitado na hora, fazia mais de sete anos que eu não o via, no entanto, ele não parecia tão animado.
Eu ainda estava na cama quando ele me acarretava com várias perguntas enquanto tentava me impedir de levantar, o que não era difícil. Eu estava acabado.
Também me lembro da minha mãe e meu pai parados no canto do quarto , o que me fez sentir um frio na barriga. Eles no mesmo cômodo que JungHyun nunca era coisa boa. Mas, estranhamente, eles estava inquietos e pareciam até um pouco horrorizados com o que eu respondia a meu irmão.
Eu estava confuso, ainda não havia me olhado no espelho, mas não poderia estar tão ruim a ponto deles se sentirem horrorizados. Depois apaguei, não me lembro de nada o que havia acontecido depois ou como isso aconteceu. Mas sei que durante o sono senti um cheiro familiar, mas que logo sumiu.
- Quem diria , eu que passei por cima de você dessa vez.
Despertei com o coração acelerado , olhei para os lados e vi minha mãe sentada em um dos sofás do quarto me encarando. Ao meu lado, uma garota, SeungAh.
Porém ela estava...Diferente? Talvez um pouco mais alta?
- Ah! Jungkookie! - Ela afinou a voz e deu um sorriso enorme para mim. - Estou feliz que tenha acordado.
- Oi. - Eu disse , assustando-me com minha voz outra vez. Levei minha mão menos dolorida ao rosto e tive um sobressalto ao sentir algo pinicando a palma da minha mão.
Barba...? Desde de quando eu tenho isso?
As portas da sala se abriram e pelo menos três enfermeiras entraram , ajudaram-me a me sentar em uma cadeira de rodas e então SeungAh me empurrou para fora ao lado de minha mãe. Ainda não havia visto JungHyun e me peguei imaginando que tudo aquilo teria sido um sonho. Minha mãe não havia aberto a boca, diferente de SeungAh, que não parava de falar com a voz fina.
Entramos em uma sala e então dei de cara com um médico sorridente , mas que ainda assim tinha um olhar um pouco...acolhedor? Talvez? Não sei , nunca fui bom em entender emoções.
- Olá, JungKook. Como vai? Eu sou o Doutor Son. - Ele se levantou e foi até mim, estendeu a mão até a minha e então apertou levemente. - Nós precisamos conversar.
Minha mãe se sentou em uma cadeira em frente a mesa do médico enquanto SeungAh permaneceu atrás de mim. Todos pareciam tensos deixando minha cabeça ainda mais confusa, o que estava tão errado?
- Jungkook, você sabe porque está aqui? - O médico pergunta com um olhar curioso e então me dou conta de que até agora não me fiz essa pergunta, porque diabos estou nesse hospital?
- Não faço ideia. - Eu digo sem rodeios e o médico levanta uma sobrancelha.
- Você sofreu um acidente de carro. Não se lembra de nada? - O médico questiona e então, com dificuldade, dou de ombros.
- Não me lembro de nada.
A sala fica em silêncio por alguns segundos e o médico suspira pesadamente e volta para sua mesa , suor escorre por sua tempora.
- Infelizmente , não tenho boas notícias, sr. Jeon. - Ele diz me fazendo estremecer de leve , ainda que sinta dores pelo corpo , ainda estou inteiro , não vejo nada de errado. - O senhor teve um corte de memória...Você perdeu aproximadamente três anos de sua vida por conta de um trauma.
Fico sem ar e congelo na cadeira, olho para o médico com dúvida, só para ter a certeza de que ouvi certo. E então constato que sim.
- Eu não entendo. - Digo com um sorriso de pânico se formando em meus lábios. Olho para minha mãe. - Você viu mãe, você me ouviu responder as perguntas de JungHyun mais cedo! Eu respondi perguntas de vestibulares , respondi quantos anos tinha, você viu!
Eu não estava louco.
Minha mãe encolhe os ombros.
- Senhor , quantos anos você tem? - O médico que pergunta dessa vez, parecendo duvidar de algo.
- Eu tenho dezesseis anos... - Digo, mas seus olhares me trazem incerteza. Eu sei quantos anos tenho! Não sei?
- Você fará dezenove anos em dois meses , Jungkook. - Minha mãe diz e eu congelo outra vez, em choque.
- Uma parte de seu cérebro que guardava certas lembranças sofreu um trauma, causando um corte em sua memória. - O médico diz direto me fazendo encolher os ombros.
Perdi três anos da minha vida?
- Não...Eu... - Digo tentando dizer algo, mas tudo que me preenche é horror.
- Eu sinto muito sr. Jeon. Mas não deve perder a esperança, a maioria dos pacientes que sofre a amnésia se recupera totalmente. Quanto tempo a recuperação irá levar depende de muitos fatores: a gravidade do ferimento, o estado mental do paciente, suas memórias de longo e curto prazo.
- E quanto a medicação, doutor? - Minha mãe finalmente diz algo. O que é realmente bom, porque nada consegue sair da minha boca agora.
- Não há presença de enfermidade física ou mental, sra. Jeon. Ele não precisa de medicação. Ele precisa da família para ajudá-lo a recuperar as lembranças perdidas. Para dar-lhe apoio. Há muitas opções de terapia a serem consideradas, como terapia cognitivo-comportamental, EMDR, psicologia energética, neurofeedback e talvez até hipnose.
Esse monte de palavras jogadas não significam nada para mim. Estou perdido nessa loucura.
- É só isso o que se pode fazer, sra. Jeon. Isso e apoiá-lo em qualquer das sessões de terapia que decidirmos tentar para ajudá-lo. - Ele dá um sorriso tímido e então olha para mim. - Sei que isso é um tanto frustrante quanto perturbador. Mas você não pode perder a esperança.
- E se eu não conseguir recuperar as memórias completamente? - Pergunto conseguindo retomar a fala, ainda que em choque.
- As lembranças continuarão perdidas.
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