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Capítulo 14: 'Aguente firme'


/ Lisa /

Foram trinta e duas horas de espera , trinta e duas horas intermináveis. Quando as primeiras vinte e quatro horas se passaram fui obrigada a voltar para casa tomar um banho e comer , tive que ser arrastada por Jisoo. Eu não queria sair. Eu havia feito uma promessa de que não sairia daquele hospital até que ele acordasse , mas não tive muita escolha.

Não consegui comer tanto e Jisoo não me obrigou mais que isso. Ela sabia que provavelmente eu colocaria tudo pra fora. Estava péssima , minha coluna estava completamente fodida pela cadeira do hospital.

E como se pode ver , já passaram trinta e duas horas. Ninguém mais teve informações além de que agora ele estava em um sono profundo e se mantendo vivo por aparelhos, tendo convulsões e depois voltando.

Apertei os olhos e uma lágrima solitária desceu. O sono ia e vinha , mas eu não podia dormir , deveria estar acordada para quando ele acordasse.

- Boas notícias. - Jimin disse entrando na sala  ofegante e me fazendo levantar na mesma hora. - A tomografia que fizeram esta manhã mostrou que o edema diminuiu consideravelmente nas últimas doze horas , ainda não se tem certeza da extensão dos danos até ele acordar , mas tudo indica que...Estão caminhando para o lado certo.

Suspiro , eu deveria entender isso como algo bom? Eu queria Jungkook acordado , dizendo que está bem , respirando sem a ajuda de aparelhos.

- Eu preciso vê-lo, quero muito vê-lo. - Eu murmuro. Apenas Jimin e eu ficamos no hospital , os outros precisaram sair desse ambiente de morte por um tempo.

Deixei a sala de espera, exausta , e fui até a recepção do hospital , quando me aproximei do balcão uma mulher que falava no telefone parou imediatamente.

- Bom dia. - Eu disse , mesmo sabendo que era um péssimo dia. - Eu preciso ver o paciente Jeon Jungkook. Pode me dizer qual é o quarto dele?

A mulher levanta uma sobrancelha.

- Não temos nenhum paciente com esse nome.

Dessa vez eu que levanto a sobrancelha.

- Eu passei as últimas trinta e duas horas esperando para vê-lo , diga onde ele está. É tudo que eu peço.

- Desculpe. Mas não posso te dar essas informações.

Suspiro longamente , a raiva sobe por minhas veias. Não pode me dar informações? Quem em sã consciência diria isso a alguém que passou quase dois dias em espera? Eu poderia me jogar nesse chão e gritar.

- Por que você não pode? - Pergunto  fechando os olhos e tentando manter o equilíbrio. A mulher remexe os ombros , incomodada , obviamente está escondendo algo.

- São regras. Os pais do paciente...

- Oh. Entendi... - Afasto-me do balcão quase cambaleando e a cabeça explodindo de dor.

Como ela pode me proibir de vê-lo? Já não foi o bastante ela o tirar de mim?

Não consigo cessar as lágrimas e começo a chorar. Jogo-me em um dos bancos da sala de espera . Meu peito dói, e é a dor pura. Estou desesperada , desolada e sem saber o que fazer. Eu preciso vê-lo, realmente preciso , não aguento mais um segundo aqui , não suporto mais não saber em que lugar desse hospital ele está, de não poder vê-lo de perto e poder me certificar de que ainda está vivo. De que ainda está respirando e que seu coração bate.

- Me perdoe, Jungkook. Me perdoe por não estar ao seu lado dessa vez.  - Sussurro na esperança de que de alguma forma , ele possa me ouvir.

- Senhorita Manoban? - Uma voz grave faz minha pele se arrepiar. Uma voz masculina e bem audível.

Levanto a minha cabeça antes abaixada em direção a voz e encontro um homem de jaleco parado no meio do corredor. Minha visão é turva e embaçada , mas posso notar seus cabelos negros e meio ondulados , o corpo alto e escultural , a mandíbula bem traçada e os olhos pequenos e negros...

J-Jungkook...?

Eu me levanto apressada e então enxergo com maior clareza , o homem possui e barba , a pele bronzeada e definivamente tem um brilho diferente nos olhos , mas ainda sim não é o meu Jungkook.

- Sou e-eu... - Eu digo ainda o analisando , Jungkook e ele são muito parecidos em alguns poucos aspectos , como a cor assustadoramente negra nos olhos , mas ainda se nota um traço mais adulto no homem.

- Ótimo. Venha comigo. Rápido. - Ele pede e então sai correndo pelo corredor. Por algum motivo eu não penso em desobedecer e vou atrás do mesmo que atravessa vários corredores e para em frente a um par de portas brancas no final de um deles.

- Quem é você? - Digo ofegante parando diante a porta. Ele dá de ombros.

- Teremos tempo para falar sobre isso mais tarde , mas agora não, entre. - Ele pede e então abre as portas duplas para que eu passe.

Paraliso assim que coloco meus pés dentro da sala. Jungkook está ali , hematomas cobrem seu corpo e uma faixa sua cabeça e braço. Diferente , mas ainda é o meu Jungkook. Tão frágil e desprotegido. Choro ofegantemente e atravesso a sala caindo ajoelhada ao lado de sua cama.

- J-Jung... - Faço a menção de tocá-lo no rosto, mas paro no meio do caminho com medo de  machucá-lo ainda mais. Por isso lhe toco apenas na mãos, entrelaçando meus dedos nos seus. A coloração de sua pele havia voltado um pouco após as inúmeras transfusões, eu podia vê-lo respirar lentamente ainda com a ajuda dos aparelhos.

- Você deveria conversar com ele. Em voz baixa , faria bem a ele. - Sugeriu o homem de jaleco a poucos centímetros da cama e de mim.

Sem tirar os olhos de Jungkook toquei sua mão com os lábios e notei como sua pele estava gelada. Vê-lo desacordado nunca foi algo que pensei que pudesse odiar algum dia , eu amava vê-lo dormir e suspirar durante o sono. Mas o ver desse jeito...? Era como uma facada no peito.

- Jungkook? Sou eu , Lisa. Não fique bravo , eu estive preocupada com você nas últimas horas , e eu...eu preciso que você aguente firme. Não precisa fazer isso por mim, apenas...acorde. Por favor. - Deixo beijos na ponta de seus dedos , esperando alguma reação de sua parte. - As coisas tem sido tão difíceis sem você aqui , eu preciso de você aqui , comigo. Esqueça as coisas horríveis que te disse , você sabe que eu nunca , nem em um milhão de anos , deixaria de amar você. Não me deixe também, Jungkook.

Olho para seu rosto impassível, os traços que o compõe. As pequenas mechas de cabelo que escapam do curativo em sua cabeça , sinto tanta falta de tocá-lo ali.

- Eu te amo , eu amo você mais que qualquer coisa , Jungkook. Foi com você que eu decidi encarar as coisas , foi com você que eu pude ser eu mesma...você não pode simplesmente ir embora e fingir que não fez parte de tudo isso.

Solto um suspiro sôfrego.

- Você se lembra como tudo isso começou? Você me deixou claro que eu era a única , Jungkook , você é o único homem que eu permiti que me tocasse como você fez. Você sempre vai ser o único pra mim , pra sempre. Então me torne única pra você outra vez , por favor. Eu amo você, só você. E eu nunca pensei que isso fosse doer tanto.

Eu sabia que provavelmente ele não estava me ouvindo , mas ainda sim, tive a esperança de que lá no fundo ele pudesse sentir minha presença e saber que eu nunca o deixaria. Mas ele não se move ou demonstra reação , nenhuma vez sequer.

- Essa é a hora em que você acorda e diz que ouviu toda a minha declaração, Jungkook. - Digo com mais lágrimas brotando em meus olhos e sinto uma mão sob meu ombro. - Ele vai ficar bem? Não vai? - Pergunto receosa olhando para seu corpo inerte. Ouço o médico limpar a garganta.

- Eu não quero prometer. Mas eu vou fazer o meu possível...

Choro baixinho ainda acariciando sua mão. Ainda tenho tantas dúvidas.

- Ele tem que sobreviver... - O médico diz baixo fazendo minhas costas se arrepiarem. Solto um leve soluço antes de me recompor.

- Eu achei que vocês médicos estivessem prontos para qualquer situação. - Digo tirando meus olhos de Jungkook pela primeira vez e me concentrando no médico, que olha fixamente o corpo de Jungkook com aquele brilho diferente nos olhos.

- Sim. Mas não é todo dia que você tem que lutar pra salvar a vida do seu irmão.

Sou tomada por um espanto e encolho os ombros.

O irmão de Jungkook... Ele ...

- Meu nome é JungHyun. Já ouviu falar de mim?

Eu assinto devagar , ainda tentando processar a informação que ele acaba de me dar. Como não pensei nisso?

Ainda que JungHyun pareça relativamente mais velho que Jungkook , é impossível não notar. Até o olhar parece o mesmo , ainda que eu consiga perceber que o brilho nos olhos é completamente diferente.

- Eu não... Eu não entendo. Como você...?

- A história é longa. Os pais de Jungkook não sabem que eu estou tratando do caso dele , tenho evitado os dois a maior parte do tempo. Você não pode contar isso pra ninguém , estamos entendidos? - Ele pergunta e sem pensar duas vezes confirmo. - Vamos comer alguma coisa , você passou muito tempo dentro desse hospital , precisa se recompor.

- Eu não posso. Tenho que estar aqui quando ele acordar. - Digo rapidamente enquanto me levanto. Olho mais uma vez para o rosto de Jungkook.

- Caso ele acorde , serei o primeiro a ser a avisado. Vamos, você precisa comer. - Ele me toca no ombro e sem esforço me guia para fora da sala , olho para Jungkook uma última vez antes das portas de fecharem.

(...)

JungHyun e eu não trocamos muitas palavras , ele parecia um cara legal e tudo mais , mas estava tão abalado quanto eu. Eu nunca conseguiria me encarregar de tentar salvar a vida de quem amo , ainda mais um irmão, nunca conseguiria me perdoar se algo acontecesse.

- Meus pais proibiram sua entrada no quarto, não? - Ele pergunta e quando assinto ele revira os olhos. - Não mudaram nada. Sinto muito por isso, Lalisa.

- Tudo bem. - Digo olhando para o sanduíche que ele acabou de me comprar. Não consigo pensar em comer.

- Vamos , coma. Faça isso por Jungkook , você precisa estar saudável quando ele acordar. - Ele diz enquanto me oferece um sorriso , suspiro e então dou uma primeira mordida. Olhar para ele me lembra Jungkook , talvez seja por isso que não me sinto sufocada ao lado dele , me sinto calma no meio de todo esse caos. - Agora me conte... - Ele cruza as pernas e então me olha interessado.
- Como conheceu meu irmão?

- Hum... - Solto um suspiro. - Faz quase um ano , nos conhecemos na Biblioteca Central , trabalho lá.

- Ele continuou frequentando-a? Depois de todo esse tempo? - Ele pergunta com uma pontada de culpa na fala.

- Sim...Ele ama aquele lugar. Acho que isso foi o que nos uniu , de certa forma.

- Então o que houve com vocês dois? - Ele pergunta e eu murcho na cadeira me lembrando de tudo que tem acontecido.

- Nós...nos desentendemos. - Digo simples não querendo reviver a história.

- Relações são compostas por desentendimentos também. Temos que conviver e aprender com isso. - Ele diz enquanto cruza os braços. Nossa conversa é cortada pelo toque alto de seu celular , que ele atende no mesmo instante.

- Estou aí em menos de dois minutos. Cheque os sinais vitais e retire os tubos regularmente. - Ele diz enquanto se levanta apressadamente e então desliga o celular guardando-o no bolso.

- O que houve? - Pergunto,  levantando-me também.

- Jungkook está acordando.


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