/ Lisa /

A primeira lágrima caiu quando ele bateu as portas da biblioteca e se foi. Eu era um monstro , um completo monstro. Eu fui tão... Insensível. Eu poderia ter tentado o convencer de que nós dois nunca daríamos certo , apesar de que sei que Jungkook nunca entenderia isso , ele é muito cabeça dura.

Cheguei a soluçar de tanto chorar e permaneci com a cabeça baixa durante um longo tempo , acho que nunca agradeci tanto por ninguém atravessar aquelas portas e me peguei pensando se talvez um dia ele voltasse.

De que merda adiantaria a mãe dele permitir que ele frequentasse o lugar? Ele provavelmente nunca mais irá querer voltar aqui e se encontrar comigo outra vez , ele deixou isso claro.

Perdi-me em soluços outra vez. Chorar não adiantaria em nada , mas eu também não posso fazer nada. Ele foi tirado de mim , não há como recuperar.

- Lisa? - A voz doce da Sra. Min ecoou naquele lugar vazio. Não levantei a cabeça mesmo sabendo que ela já havia notado o meu choro crescente. Senti suas mãos macias e geladas afagando-me nas costas e na cabeça , soluçei sem me conter. - Você vai ficar bem. Vocês vão ficar bem. Não é o fim. Essas são apenas as primeiras páginas da história de vocês.

- E olha no que já se tornou. Não há mais um felizes para sempre , eu queimei nossas páginas finais , esse é o nosso fim.

- Ah...menina.

Aperto os olhos sentindo uma fisgada dolorida no peito , mordo os labios e suspiro longamente , não quero mais chorar. Meu coração bate acelerado quando noto chamadas perdidas de Chaeyoung. Mal tenho tempo de colocar as mãos no celular e ela já está ligando novemente.

- Chaeng...

- Onde você está , porra?! Por que não atende o celular?

- Eu deixei no silencioso , desculpe. - Digo cortando seus gritos com a voz embargada.

- Você está chorando? Onde você está?!

- Estou na biblioteca , Chaeng. Por que você está gritando? O que está acontecendo?

Silêncio

- Chaeng? O que há? O que está acontecendo?! - Dessa vez sou eu que grito.

- Lalisa... Fique calma , tudo bem? Você está sentada , certo?

- Chaeyoung? Como você quer que eu fique calma, porra?! O que está acontecendo? - Estou começando a suar frio.

- Lisa. - Mais silêncio. - O Jungkook...ele...ele sofreu um acidente. Mas fique calma , ele vai ficar... Ele vai ficar bem.

Tudo congela e desaba. Não consigo respirar ou sequer responde-lá , minhas mãos estão tremendo e não sinto nada além de frio. Apenas minha garganta e olhos queimam , solto o celular sem perceber , meu estômago revira e a ânsia me atinge.

- Lisa? Lisa? - Ouço o chamar de Chaeng distante e quase não sinto o toque das mãos da Sra. Min nas minhas costas. - Lisa! Me responde!

Fui eu...? Fui eu que causei tudo isso?

Pego o celular outra vez.

- Onde...? Como isso aconteceu? Onde ele está? - Digo retomando a fala toda de uma vez , lágrimas de desespero correm por minhas bochechas. - Onde, Chaeyoung?!

- Foi em uma das estradas pra Gangnam...Eu não sei , Lisa! Ninguém sabe o que aconteceu! Jimin acabou de me ligar e perguntou se você sabia de algo.

- Não! Como ele está? Você sabe? Ele está bem?

Por favor , ele tem que estar bem.

- N-não! Eu não faço ideia! Jimin me disse ele está a caminho do hospital mas não disse o quão grave é.

Não, não, não...

- Para que hospital ele foi? Eu preciso vê-lo! - Levanto-me com pressa e agarro minha bolsa em cima da mesa. Olho para Sra. Min em súplica. - Eu preciso ir. - Quase imploro fazendo a Senhora encolher os ombros.

- Vá. - Ela diz rapidamente.

Meu olhar cai sobre minha mesa , o cd que ele me presenteou continua ali , o pego com pressa e o coloco em minha bolsa. Atravesso as portas altas de madeira da biblioteca sendo atingida por uma ventania de fazer os cabelos voarem.

- Lisa? Jimin vai estar aí em menos de dez minutos , tudo bem? Jungkook vai ficar bem!

- Isso tudo é culpa minha... - Sussurro descendo as escadas. O tempo está péssimo , escuro e gelado , só me faz ficar mais desesperada.

- Do que você está falando? Ninguém teve culpa alguma, muito menos você! - Ela quase grita e minha garganta se fecha.

Não importa o quanto ela diga , sei que foi minha culpa. E tenho vontade de sumir por isso , mas não posso , eu preciso de Jungkook , preciso vê-lo bem.

(...)

Acometi o pobre do Jimin de perguntas até o hospital , que não ficava nem um pouco perto da biblioteca ou de qualquer ponto da cidade. Passei os vinte cinco maiores minutos da minha vida em um completo tormento e em agonia. Jimin tentou conversar comigo , tentou me fazer parar de pensar , mas era impossível.

Pensar em Jungkook , o homem que tanto amo , na cama de um hospital , talvez entre a vida e a morte por minha culpa me faz pensar que eu faria absolutamente tudo para estar no lugar dele. Ele não deveria estar lá , ele não merecia isso. Eu não merecia Jungkook.

Quando chegamos ao tal hospital Jimin teve que apressar o passo para me alcançar. Eu não liguei em observar em como o hospital parecia ser de outro mundo , Jungkook era tudo o que me importava agora.

(...)

Os vinte e cinco minutos dentro do carro para vir ao hospital não foram absolutamente nada perto das horas que tenho passado dentro dessa sala de espera. Se Jisoo e Chaeyoung não estivessem lá para me segurar , eu provavelmente estaria na sala de cirurgia ameaçando os médicos de morte se não o salvassem.

Quanto tempo isso vai durar?

Os pais de Jungkook estiveram aqui , a mãe dele obviamente não gostou da minha presença , mas não fez questão de mostrar isso na frente dos outros. Aliás, ainda tínhamos um segredo.

Eu vi um dos médicos sair da sala carregando algo mas mãos, ele passou longos minutos falando com os pais de Jungkook. Eu soube que tinha que esperar , pois mais que repudiasse a mulher , ela ainda era mãe dele , o filho dela estava dentro de alguma daquelas salas. Eu nunca saberia o que ela estaria sentindo.

O médico se foi outra vez e então Jimin se afastou para falar com eles. Jisoo me fez tomar um copo de água gelada , por mais que eu jurasse que não conseguiria tomar sequer uma gota. A cada segundo sem notícias aquela dor aumentava em meu peito , uma dor profunda.

Olhei em direção a porta quando duas pessoas entraram , Jennie estava acompanhada de um garoto alto e bronzeado , e que pelo que pude ler na plaquinha fornecida pelo hospital se chamava...Taehyung.

O rosto de Jennie estava vermelho e inchado , além de coberto de lágrimas. Eu a entendia , ela e Jungkook eram amigos desde a infância , ela também deveria estar abalada.

Jimin voltou para sala me fazendo entrar em alerta. Jisoo toucou-me no ombro , me preparando.

- Jungkook levou uma pancada forte na cabeça, o que causou um grave edema no cérebro... - Jimin diz baixinho encolhendo os ombros , cada palavra é uma dura pontada em meu peito. - Um corte profundo no braço rompeu uma artéria importante, também. Entre isso e o ferimento da cabeça, ele perdeu quase oitentapor cento do volume do sangue. Os médicos disseram que terão que trabalhar duro para repô-lo em uma série de transfusões nas próximas vinte e quatro horas...

Estou mordendo o lábio com força , impedindo um soluço e as lágrimas que insistem em cair outra vez. Jisoo e Chaeyoung me abraçam por trás.

Eu sou fraca e impotente , eu não sou nada , absolutamente nada sem Jungkook. Ele é a melhor parte de mim.

- Neste momento, ele se encontra em estado crítico. Vão submetê-lo a mais uma tomografia computadorizada pela manhã para saber se houve melhora, mas a extensão dos danos só poderá ser determinada... - Ele fica em silêncio e então pigarreia.- ...quando ele acordar.

Sei que Jimin guardou o "se" para si. "Se" ele acordar.Meu coração se aperta emagonia.

- Os outros ferimentos são superficiais. Algumas lacerações aqui e ali, e os raiosX confirmaram que não há ossos quebrados. Parece que a cabeça sofreu o pior golpe...

Minha mente se esforça para absorver o fluxo de informações enquanto meu peito parece ser esmagado a cada uma delas.

- Então... Jungkook pode arcar com danos cerebrais ao acordar? - Pergunto com a voz desgastada.

- Eu não sei. Mas acho que não podemos descartar essa possibilidade. Jungkook está sendo transferido para a UTI.

Assim que ele termina a frase, vejo portas se abrirem em um estrondo e dois homens sairem pelo corredor empurrando uma cama de hospital imensa, acompanhados de uma
enfermeira.

Não consigo aguentar e soluço alto , cubro minha boca.

- Não!

Jisoo inspira,chocada, seu braço enlaça meu ombro,para me manter de pé enquanto Chae e Jennie me seguram pelo outro braço.

-Ele vai ficar bem. - Jisoo diz ,mas sei que lá no fundo ela não acredita mesmo nisso. Como poderia?Mal posso vê-lo sob os tubos, fios e aparelhos, mas o que consigo ver faz meu coração quase parar: meu garoto lindo está cinzento, obviamente devido à perda de sangue. Meu homem forte e inteligente está fraco e frágil.

Eu me sinto à beirada da segunda maior perda que já tive que encarar.