
━━ 17.
𝗡𝗔𝗥𝗥𝗔𝗗𝗢𝗥.
O terraço do prédio de Astronomia era bem conhecido na universidade por ser o lugar mais procurado dos estudantes para transar ou fumar maconha. Naquela noite em específico, nenhum dos dois jovens pretendia colocar qualquer das duas opções em prática. Avery se senta sobre a borda do edifício, desviando sua atenção da enorme altura para se concentrar nas luzes da cidade à noite. Por ser o prédio mais alto e ter uma vista linda, os casais do campus costumavam fazer a festa. Ninguém julgava, afinal, a falta de privacidade e tempo naquele lugar era uma merda.
⏤ Cuidado aí, princesa ⏤ Cameron cruzou os próprios braços enquanto se aproximava da garota de cabelos claros. ⏤ não tô afim de ser acusado de te jogar daqui de cima.
Avery sorri, irônica.
⏤ Nah. Você tem cara de mauricinho demais pra isso.
Seu comentário tinha a intenção de encucar a autoestima de Rafe, mas não é isso que acontece. Ele balança os ombros e se senta ao lado da mesma, tomando cuidado para não deixar as pernas tão soltas no precipício. O silêncio prevalece. Avery não fazia tanta questão de iniciar qualquer assunto que fosse e Rafe estava concentrado demais pensando nas idiotices que seu treinador havia lhe passado em nome de Ward. Ele respira fundo, nitidamente irritado. A garota não demora pra perceber que seu semblante não está normal e rapidamente liga os pontos com a gritaria que lhe acordou. O típico jeito de Rafe de esvair as emoções.
A jovem puxa os pequenos materiais de dentro do bolso do moletom. Sabia que mesmo que não encontrasse o autor do barulho extremo, precisaria esvair pra conseguir adormecer de novo. Rafe não percebe sua movimentação, desde então.
⏤ Vai me explicar o que aconteceu? ⏤ ela perguntou, sem tirar a concentração do quê estava fazendo.
Rafe só percebe que Avery está bolando um baseado quando tira os olhos do horizonte para fita-la. Está tão focada em fechar a seda com a erva dentro que chega à ser hilário. As íris castanhas levemente iluminadas pela luz da lua e os lábios comprimidos um no outro. Avery Jackson era estupidamente atraente preparando um beck.
⏤ Você se importa? ⏤ ironizou.
⏤ Não ⏤ ela passa a língua na seda. ⏤ mas sou curiosa.
Sua patada à altura faz Rafe rir pelo nariz. Ele apoia levemente o peso do corpo sobre os cotovelos nos joelhos, voltando à olhar pra todo o campus visível daquela altura.
⏤ Meu pai passou uma lista de tudo que ele não quer que eu faça até a temporada começar ⏤ ele arfa de frustração. ⏤ o treinador deixou claro que não tenho saída à não ser acatar as ordens do filho da mãe.
⏤ Ouch ⏤ grunhiu. ⏤ que merda, cara.
Avery termina de bolar o baseado e estende a mão, tombando levemente a cabeça pro lado com os olhos em Rafe. Ele bufa, retirando o Zippo do bolso e entregando à garota, que sorri satisfeita. Ela sabia bem que ele não saia de casa sem a merda do isqueiro com seu nome escrito.
⏤ Mas você já é adulto. Não tem que ficar seguindo regra do Ward. ⏤ ela acende o cigarro, dando o primeiro trago e entregando o isqueiro de volta pro jovem.
⏤ Ele controla a minha carreira, sem contar que a empresa ajudou à construir essa porra toda ⏤ Rafe respira fundo e pousa as mãos no concreto do prédio, sabendo que os empregados de seu pai que fizeram aquilo um dia. ⏤ não tenho muita escolha.
A jovem solta a fumaça pelo ar e fecha os olhos, deixando que a brisa acalmasse a tensão causada pela cafeína em seu corpo. Mas não podia ficar cem por cento à vontade, não quando alguém estava se lamentando das merdas de sua vida ao seu lado.
⏤ Já pensou em pedir emancipação? ⏤ o olha.
Rafe nega, logo, dando uma risada sem humor.
⏤ Você não conhece mesmo Ward Cameron, princesa ⏤ passou as mãos pelo cabelo. ⏤ se ele descobre que estou fazendo algo pra me livrar da minha imagem vinculada à dele, ele me mata.
O mais assustador de tudo era saber que ele não falava da boca pra fora. Ward Cameron podia mesmo lhe matar.
Avery suspirou. Deu mais um trago e deitou levemente o rosto pro lado, tendo melhor a visão do rosto de Rafe. Ele a olha de volta, e então, ela percebe que as íris azuis estão iluminadas pela luz da lua e das estrelas.
⏤ Sinto muito.
Rafe balança a cabeça negativamente de forma leve.
⏤ Tanto faz ⏤ sorriu sem mostrar os dentes. ⏤ eu não ligo.
Ah, claro que não.
Jackson assente, estendendo o baseado pro garoto.
⏤ Alivia o estresse.
⏤ Exigência número um, nada de drogas. ⏤ Rafe desvia o olhar, tentando resistir à maldita tentação.
⏤ Ah, qual é ⏤ ela sorri. ⏤ maconha não é droga.
⏤ É o que todo usuário de droga diz.
Avery não segura a risada. Continua fumando, agora, mantendo o mesmo silêncio que reinava há pouco tempo atrás. Os dois apenas fitam a lua que estava mais brilhante do que nunca no céu do Havaí. No mesmo instante, Avery sente falta de quando sua maior diversão era surfar na praia durante à noite. Até mesmo, durante tempestades. Ela nunca viu nada demais em enfrentar o perigo, achava que nada era capaz de abala-la.
⏤ Não tá empolgado pro jogo? ⏤ ela volta à falar, dando mais um trago.
⏤ A cafeína te deixa fazendo perguntas demais sempre ou só está tentando puxar assunto comigo?
Sua fala faz Avery revirar os olhos.
⏤ Me poupe dos seus comentários egocêntricos, Cameron.
⏤ Ah, admite, vai. Você é apaixonada por mim desde que me viu com a Sarah pela primeira vez no campus.
A gargalhada que a jovem dá é alta. Estava tão anestesiada pelo efeito da erva em seu corpo que não dá a mínima se alguém escutaria seu riso.
⏤ Não sei porque ainda te dou ouvidos. ⏤ ela sai da borda, se pondo de pé pelo chão do terraço.
⏤ Porque eu sou irresistível, princesa.
Mesmo sem olha-lo no rosto, sabia que ele estava sorrindo.
Avery continuava fumando, agora olhando pro alto e se concentrando na luz da lua. Remexe seu corpo levemente de um lado pro outro no ritmo de uma música que toca apenas na sua cabeça. Logo, ela cantarola a melodia baixa.
⏤ Rafe? ⏤ ela diz, com a voz baixa demais.
⏤ Avery? ⏤ ele responde, mais perto do que ela imaginava.
A jovem se vira, notando que ele também não está mais na borda do terraço. Tem o rosto focado no seu, e parece curioso demais pra escutar o quê ela tem a dizer. Os olhos azuis centrados demais nos lábios rosados, e com um mínimo sorriso no rosto, Avery lhe surpreende.
⏤ Você acha que o JJ ainda sente algo por mim? ⏤ ela pisca devagar.
Porra, Av. Aí não.
O loiro mexe a mandíbula, desconfortável. Logo, percebe como os olhos da garota estão pesados demais pra alguém sóbrio. Avery está chapada e perguntando do seu ex. E ela acaba de ferir mais um pouco o ego de Rafe Cameron. O incômodo em seu peito cresce ainda mais do quê antes.
⏤ O JJ tá pouco se fodendo pra você, Avery ⏤ não toma cuidado nas palavras. ⏤ nunca nem ligou, cara.
O sorriso no rosto da garota murcha mais rápido do que ele espera. Chapada, sensível, e agora, com os olhos inundados de lágrimas.
O garoto se assusta um pouco com sua reação, e quando tenta tocar em seu ombro, ela bate em seu pulso, o afastando. Ela respira fundo, tentando controlar a vontade incessante de chorar que subiu em sua garganta. Nem ela mesmo entendia o porquê estava daquele jeito. Por isso odiava a erva que os veteranos lhe vendia. Sempre deixando-a mais fora da linha do quê o normal.
⏤ Boa noite, Rafe ⏤ responde, embolada. ⏤ manda o seu amigo se foder em meu nome.
Ela se põe na ponta dos pés, se aproxima do rosto do garoto e...
Beija o canto de sua boca, assim como ele fez na noite da festa.
E então, lhe deixa plantado no terraço do prédio, se retirando o mais rápido que pode dali.
Naquele momento, ele se vê um pouco de acordo com as regras do treinador Collins. Drogas são uma merda.
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