𝗔𝗩𝗘𝗥𝗬.

Minhas amigas me fazem de gato e sapato.

Há aproximadamente uma hora e meia atrás, Sarah tinha me acordado para nos arrumarmos pra um programa qualquer num sábado à noite. Não contestei muito, porque seu dia tinha sido terrível e eu faria qualquer coisa que fosse preciso pada ver um sorriso no seu rosto. Tanto faz se fôssemos à alguma festa lotada, ou até mesmo uma barraquinha na esquina que vendia espetinhos de carne e latinhas de coca por mixarias. Na real, parecia ser a programação simples ideal pra mim.

Agora, eu estou caminhando pela areia da praia durante a noite ao lado da loira. Próximo de nós, tinha uns vinte marmanjos fortes e com dois metros de altura, se gabando pelos seus músculos e citando como executaram outros caras de um tal time adversário. Sarah havia comentado que era uma comemoração pela vitória do time de futebol dos amigos de um tal Topper, isso quando já estávamos dentro do meu carro. A vontade de dar meia volta para continuar largada na cama do meu alojamento foi imensa. Porém, é tudo por Sarah. Qualquer coisa pra pôr um sorriso em seu rosto.

Vendo por outro lado, as meninas dali presentes estavam animadas e não pareciam nojentas como a maioria das calouras do campus. Algumas eram namoradas dos jogadores e outras só queriam se divertir, assim como eu e Sarah. Elas bebiam, estavam confortáveis em seus biquínis e gargalhavam entre si. Apesar de provavelmente estar fazendo uma temperatura absurda de fria aquele horário da noite, elas pareciam tão empolgadas que nem sentiam nada. Era até engraçado, confesso.

Também viemos pelo bendito irmão da minha melhor amiga que foi quem lhe chamou pra cá. Ele deveria saber que eu viria com ela, pois quando chegamos, a primeira coisa que fez foi trazer bebidas pra nós. Um copo de batida de limão com vodca pra mim e um meio de energético pra Sarah, pois de acordo com ela, ela não reagia bem ao álcool quando estava triste.

Achava fofo como ele se preocupava com a irmã. Por ser filha única e afastada dos meus únicos primos, nunca tive alguém que cuidasse tanto de mim pela convivência e me conhecesse tão bem. Nunca senti falta disso, na real. Cresci muito bem sozinha e isso fez com que eu aprendesse à lidar com minha própria companhia. Pessoas são exceções, não regra. Acho que a parada mais melancólica que eu já vi na vida são pessoas que acham que precisam estabelecer relações se quisessem ser felizes. Colocar toda a sua estrutura de vida em cima de laços que possivelmente podem se desatar no futuro é praticamente suicídio. Dependência emocional não deve ser romantizada nunca.

Talvez álcool suavizado pelo gosto de frutas batidas me deixem pensativa. Acabo com o copo sem nem perceber.

⏤ Ei, eu vou pegar mais bebida. ⏤ digo à Sarah, indicando com a cabeça para que ela me siga.

Minha melhor amiga nega com a cabeça e abre um sorriso fraco.

⏤ Pode ir. Quero ficar um pouco sozinha.

A olho por alguns segundos e suspiro, me aproximando.

⏤ Tem certeza?

Ela assentiu e me passou segurança. Então, deixo um beijo em sua testa antes de caminhar de volta para onde os caras e as bebidas estavam.

⏤ Ei, gata!

As vozes femininas chamaram minha atenção. Tiro os olhos dos coolers espalhados pela areia e encaro as inúmeras meninas vindo em minha direção com sorrisos animados no rosto. Elas tinham algumas garrafas de bebidas nas mãos, o que levemente me assustou. Pretendiam quebrar cada uma delas em minha cabeça? Não sei, gente bêbada é louca demais pra pensar como um ser humano normal.

⏤ A gente tava te olhando ali sozinha com a irmã do Rafe ⏤ algumas das garotas deram risadinhas. ⏤ então, não querem brincar com a gente de verdade ou consequência?

⏤ Ah, eu... ⏤ olho novamente pros coolers na areia.

⏤ A gente tem bebida, boba! Vem pra cá. ⏤ uma loira já me puxou pelo pulso.

Eu não tinha muito o quê responder, também não poderia correr pra Sarah porque ela estava tendo o próprio tempo dela. Esses tipos de momentos são sagrados, não quero atrapalhar de forma alguma.

De qualquer maneira, não há pra onde fugir. As garotas se sentam numa rodinha e eu faço o mesmo, me aconchegando com pernas de índio. Uma delas termina de beber o último conteúdo da garrafa que estava segurando para coloca-la no meio da roda.

⏤ Céus, que falta de educação, desculpe ⏤ a da garrafa bateu a palma da mão na testa, logo se virando pra mim. ⏤ Meu nome é Cleo.

Noto como ela é bonita. Sua pele preta reluzia pela luz da lua, as tranças bem feitas caindo pelos ombros e suas pálpebras levemente abaixadas pela quantidade de bebida que provavelmente já havia ingerido. Assim como todas elas, estava nitidamente animada.

⏤ Avery. ⏤ sorrio, um pouco tímida.

⏤ Nome de poderosa, ó ⏤ Cleo diz e fez as meninas rirem, o que me provocou a mesma reação. ⏤ então, essa é Eleanor ⏤ apontou pra uma garota morena que acenou pra mim. ⏤ Aaliyah ⏤ moveu o dedo indicador na direção da loira que me puxou. ⏤ Tessa ⏤ indicou uma garota de cabelos cacheados ao seu lado, que abaixou levemente os óculos escuros pra me lançar uma piscadela. ⏤ e essa é Katherine.

Katherine tinha os cabelos negros como a noite e um sorriso lindo. Todas elas tinham suas belezas extremamente únicas, mas em comum, a mesma cara de bêbadas ou chapadas. O charme de uma mulher nas alturas durante o luar.

⏤ Bom, enfim ⏤ Cleo se sentou.

Ela girou a garrafa. O recipiente de vidro pairou na divisão de Aaliyah e Tessa.

⏤ Hum ⏤ Aaliyah fincou os dentes no lábio inferior. ⏤ Tess, verdade ou consequência?

⏤ Consequência. ⏤ Tessa responde sem pensar duas vezes.

Ela parecia ser ousada.

Aaliyah colocou as mãos na areia e ergueu levemente o corpo pra frente, sorrindo ainda mais pra garota à sua frente.

⏤ Sua consequência é me beijar.

A ousadia da garota fez você arregalar os olhos, mas todas as outras assoviaram como se já estivessem acostumadas com a personalidade de Aaliyah. Então, com um sorriso malicioso no rosto, Tessa não hesitou em se inclinar pra frente e puxar a garota pelo pescoço, juntando seus lábios num beijo quente.

⏤ Uh, olha as gatas se beijando! Tô com calor... ⏤ o grito masculino próximo a vocês arrancou gargalhadas dos caras e fizeram as meninas revirarem os olhos.

⏤ Odeio hétero. ⏤ Tessa murmurou, logo quando terminou de beijar a outra garota.

As meninas continuaram o jogo. Agora, quem gira a garrafa é Aaliyah. Surpreendentemente, ou não, a mesma para bem na sua direção.

⏤ Avery, verdade ou consequência?

Sente que aquelas garotas eram ousadas como você, por isso, respondeu rapidamente.

⏤ Consequência.

A loira pensa um pouco, batendo o dedo indicador no próprio queixo e logo dando um gole na sua latinha de cerveja. Olha em volta e, rapidamente, um sorriso sapeca cresce em seu rosto. Se estivessem num desenho animado, provavelmente uma lâmpada se acenderia em cima da cabeça da garota.

⏤ Sua consequência é escolher algum dos garotos para fazer um bodyshot em você.

Novamente, a ousadia do desafio te faz ficar em choque. Literalmente, os únicos homens conhecidos presentes eram Rafe e Topper. Isso faz você respirar fundo.

⏤ Hum... não pode ser outro? ⏤ Aaliyah fez uma careta.

⏤ Caramba, gata, é rapidinho. Olha, tá cheio de homem gostoso por aqui!

⏤ Ó, pode escolher qualquer um, menos aquele dali ⏤ a tal da Eleanor fala pela primeira vez, apontando pra um garoto que estava apenas de bermuda e ria de alguma coisa que os caras falavam. ⏤ nem aquele ali. ⏤ então, ela aponta pra Topper. ⏤ o moreno é o meu namorado e o loiro é o namorado da Katherine.

⏤ Ele não é meu namorado. ⏤ Katherine sussurra envergonhada.

⏤ Ah, é quase, para. ⏤ os olhos castanhos de Aaliyah reviram.

Eu não iria deixar caras desconhecidos que provavelmente fariam comentários estúpidos sobre mim lamberem meu corpo, e nem fingiria que a ideia daquela brincadeira me excitava. Então, mais uma vez, me vejo sem ter pra onde fugir.

⏤ Certo. ⏤ as garotas dão gritinhos de felicidade.

Eu pego a garrafa meio cheia da mão de Aaliyah, que me olha com o semblante mais safado possível. Me levanto e respiro fundo, retirando as minhas roupas mais devagar do quê eu esperava. Naquele mesmo momento, escuto os assobios masculino enquanto tiro minha blusa. Ao jogar minhas peças sobre a areia, meus olhos se focam nos azuis específicos, apesar de haver tantas íris azuladas espalhadas por ali. Rafe me encarava de braços cruzados, sem entender o porquê de eu estar tirando a roupa na frente de todo mundo do nada.

⏤ Será que é expulso do time se ingerir álcool pelo meu corpo? ⏤ eu ergo a garrafa na sua direção.

Os sons de comemoração que os caras emitem na direção de Rafe é como se ele tivesse acabado de ganhar um prêmio por um campeonato de hóquei. Consigo ver Topper batendo no ombro de Rafe, tirando o chapéu pra ele. O sorrisinho no canto da boca do capitão do time é inevitável. Então, coloco as mãos em minha cintura, aguardando qualquer mínima atitude sua.

Rafe atravessa aquele mar de homens com olhares maliciosos para vir na minha direção. Quando percebo que ele está perto demais, olho pra trás e noto que as meninas abriram um espaço pra mim. Automaticamente, meu sorriso no rosto aumenta. Volto à olhar pro seu rosto, e com a expressão tão sarcástica quanto sempre, ele intercala sua atenção entre meus olhos e minha boca.

⏤ Então você tá me pedindo pra lamber o seu corpo, Avery Jackson? ⏤ deita levemente a cabeça pro lado.

Estalo a língua no céu da boca e, com os olhos vidrados nos seus, arranco a tampa da garrafa com os dentes. No mesmo instante, o sorriso no rosto de Rafe some.

⏤ Porque o Topper não tá disponível ⏤ sorrio fraco. ⏤ sabe como é, você não seria minha primeira opção, nem de longe.

O travar de sua mandíbula me fez ter vontade de rir, mas antes que eu tivesse qualquer reação, Rafe me pegou pelo pescoço e pressionou seus dedos contra a minha garganta. Deixo minha boca semiaberta pela repentina falta de passagem de ar, e minhas pernas fraquejam pra trás quando ele joga sua força em cima de mim. Me deito sobre a areia e mesmo sabendo como minha pele ficaria depois, não mexo mais um músculo ao sentir ele puxando meus shorts jeans até minha coxa, deixando meu corpo praticamente seminu pela minha lingerie livre aos seus olhos.

Rafe toma a garrafa da minha mão e derrama sobre minha pele. Escuto os gritos masculinos e femininos aumentarem feito uma torcida de futebol. Fecho os olhos imediatamente com a rapidez que a sua língua toca o meu corpo. Primeiramente, sua boca toca minha clavícula, lambendo todo o conteúdo amargo do álcool até o meio dos meus seios. Ele não demora pra descer, chupando a curva que marca minha cintura e encaixando bem os lábios nos ossos dos meus quadris. Pressiono meus lábios um contra a outro, mas de repente, um alerta liga no meu corpo. E é exatamente quando Rafe beija minha tatuagem bem em cima de minha pélvis.

Eu o empurro no mesmo instante, mas é tarde demais. Pela expressão que ele me olha, ele já havia notado o meu medo.

Os caras vieram agarrar ele e bater em suas costas e peito, esbravejando sua "conquista" pública. Enquanto isso, coloco minha roupa rapidamente e mordo meus lábios, sentindo uma mão no meu ombro em meio à tudo que estava acontecendo. Penso que é alguma das meninas, mas quando olho por cima do ombro, os cabelos loiros familiares captam meu foco.

⏤ Que merda tá acontecendo? ⏤ Sarah cerrou os olhos.

A primeira reação que tenho é negar com a cabeça repetidamente, então, abraço meus próprios cotovelos.

⏤ Eu quero ir pra casa.

Acelero meus passos pra fora da praia, deixando Sarah, seu irmão, as meninas bêbadas e os jogadores de futebol machistas pra trás.

Eu preferia ter ficado na minha cama.