
04. ʀᴀᴘᴏsᴀ
ATO I
sintonia(s.f.)
é quando o nosso santo bate. é aquilo que fez
a gente ter um mês de amizade e parecer dois
anos. é querer ver o mesmo filme. é quando
a gente se encontra no mesmo lugar sem
marcar. é suspirar ao mesmo tempo. é um
aperto de mão entre duas almas. é o som da
harmonia entre duas vidas.
é sintonizar na estação de outro alguém.
N A R R A D O R A
Edição 65º dos Jogos Vorazes
Ezlyn estava horrorizada.
Todo aquele luxo e disponibilidade que faltava em seu Distrito, se encontrava todo concentrado na Capital. A viagem de trem foi turbulenta e não apenas porque estavam indo a 200 quilômetros por segundo.
Pra qualquer canto que ela olhasse, encontrava uma
vida que nunca foi atribuída pra ela, mas que estava prestes a sufoca-lá por muito tempo.
Sentada no banco de um dos vagões do trem, ela piscou, sem acreditar. Aquele anúncio com o seu nome ainda estava fresco em seus ouvidos. A forma como sua mãe simplesmente desabou entre todas as pessoas e seu pai correu para abraçá-la, era como se ela tivesse amassando algo bom com suas próprias mãos.
Ezlyn nunca havia ouvido sua comunidade tão quieta quanto naquele dia.
A despedida foi curta e tão necessária... Ela ainda ouvia o choro de sua mãe e os conselhos de seu pai sobre o que não fazer nesses dias na Capital.
Mas para onde quer que ela olhasse, tava estampado que ela não tinha chances de sair com vida daquela arena.
Era isso.
Ezlyn estava viajando para a sua morte e não adiantava ter o mentor Keenan Sin ou Dinah Sigrid ao seu lado. Ela e aquele garoto imperativo que também tinha sido anunciado no dia da Colheita, estavam mortos, definitivamente, mortos.
As boas-vindas fora curta.
Keenan Sin era um homem com o esqueleto alto e com alguns músculos para complementar sua figura. Ele havia vencido a Edição 35º dos Jogos Vorazes. Ezlyn não se lembrava muito dele, pois era proibida de assistir qualquer coisa relacionado a chacina que acontecia nesses jogos por seus pais, que juravam que ela jamais participariam.
Mas o tributo ao seu lado, Corbin Tallis, era um grande fã do mentor. Então isso explica seu sorriso enviado a ele após as palavras de boas-vindas e onde devemos nos acomodar.
Ezlyn se sentiu mal educada ao não conseguir repetir aquele sorriso que o garoto estava entregando. Apesar de tudo, seu pai sempre havia ensinado que ela devia ser educada, não importa em que situação esteja.
Mas apenas em pensar em esticar os lábios para demonstrar felicidade, seu estômago se embrulhou, sentiu uma pontada na sua cabeça e teve medo de passar mal.
Ela estendeu os olhos para encarar a sua frente, mas ver toda aquela porção de comida só ajudou a piorar. Não a comida em si, pois, tudo parecia delicioso. Mas olhar para tudo aquilo e lembrar dos casos em seu distrito de pessoas passando fome, implorando para conseguir um pão, a fazia querer renegar tudo aquilo.
Ou ao menos, pegar tudo, descer do trem e ir andando até o seu Distrito e distribuir tudo à eles.
Mas ela estava presa, não era?
Sem aguentar mais um segundo, coloco os dedinhos prensados nos lábios e saiu correndo do vagão, sem saber onde estava indo.
Ela ouviu seu nome sendo chamado pelo mentor, mas isso não a impediu de sair daquele vagão e encontrar um banheiro, onde ela pôde se curvar para liberar todo aquele nojo.
Ela vomitou o que nem havia comido ainda, fazendo assim sua bile sair incolor. Seu estômago se contorceu quando ela terminou e apertou a descarga. Ficou sentada ainda ali por um tempo, inclinada no vaso sanitário sem realmente toca-lo, sentindo que iria vomitar novamente.
Pelo canto dos seus olhos, mesmo sem querer, ela conseguiu perceber que alguém havia chegado no banheiro e se encostado no batente da porta.
Mas, envergonhada, não desviou a atenção do chão.
— Você está bem?
Mesmo sabendo que estava ali, ela se assustou com a voz e ergueu a cabeça para encara-lo. Ela esperava que fosse Keenan, o mentor. Não que fosse Corbin Tallis, o tributo masculino que lutaria ao seu lado até não conseguir mais.
Ezlyn não queria preocupa-lo e nem incomoda-lo, eles tinham acabado de se conhecer e se mostrar fraca não era um ponto bom pra ela. Mas, ao mesmo tempo, ela odiava mentir e dizer a ele que ela estava bem, seria a maior mentira de todas.
Ela preferiu balançar com a cabeça em negação, deixando cair seus olhos.
Corbin suspirou de um jeito pesado e se desencostou do batente da entrada do banheiro. Ele sempre esteve pronto para isso, para ser anunciado naquele altar e jogar para ganhar, mas ele entende que nem todos são assim e também não os culpa.
Ele deu um mínimo passo para entrar de vez naquele banheiro e abaixou-se sobre os seus tornozelos, equilibrando-se em suas próprias coxas para não acabar jogado naquele chão.
Sua ação fez com que a atenção de Ezlyn voltasse pra ele.
— Quer saber de algo? — Ele questionou, levantando o canto dos seus lábios. Ezlyn assentiu, encarando aquele
fio loiro solto na testa dele. — Eu acho que você tem grandes chances de ganhar.
Sua primeira reação foi bufar um sorriso como uma criança. Corbin teve vontade de rir, pois ela era muito fofa. Mas então, lembrou para onde estavam indo e ser fofa não era algo bom.
— Está mentindo.
Corbin se calou, sem saber se sua afirmação era real ou não. Ele queria consola-lá, mas percebeu imediatamente que a garotinha era muito esperta.
Qualquer pessoa em sua situação, após ouvir o que ele disse, sorriria orgulhoso e talvez até agradeceria. Mas Ezlyn apenas o olhou com os olhos brilhando e desmascarou ele. Ela sabia a situação em que estava. Mentir para ela não adiantava.
Então ele decidiu ir por outro caminho.
— Então vamos fazer você ter chances.
— Só temos quatro dias — ela argumentou, os ombros baixos. — Não podemos me transformar em uma guerreira em 96 horas.
— Não, guerreira não — ele negou, inclinando os dedos para tirar aquela franja da frente dos olhos da garotinha. — Uma raposa.
Seus dedos caíram do rosto da garota, mas seus olhos continuaram firmes um nos outros. Ezlyn se perguntava o motivo dele estar ajudando-a naquele momento. Apesar dos distritos iguais, se sobrasse só eles na arena, uma luta ainda teria que ser travada.
— E aí, raposinha? Está comigo ou não?
Com aquilo martelando em sua cabeça, Ezlyn admirou seu parceiro. Não era todos que se aproximavam de alguém que poderia chegar a ser seu concorrente para ajudá-lo a melhorar em um aspecto.
Corbin era bom.
E ali, quando Ezlyn confirmou a parceria, ela prometeu a si mesma que se chegasse na hora de escolher entre ela ou ele, apenas um voltaria ao seu distrito.
Ezlyn sorriu com todos os dentes pra ele, aceitando que não seria ela.
Se antes a garota estava de queixo caído, ela com certeza já tinha o perdido no meio do caminho. Quando o trem parou, as pessoas estavam esperando eles lá fora, doidos para enxerga-los, pegar um pouco de sua essência, pois eles eram um saco vazio.
Era isso que Ezlyn pensava.
É triste, ela pensou enquanto era protegida pelos braços de Keenan e Corbin para não terem acesso diretamente a ela e sua cara de morta-vida. Mas tudo o que Ezlyn podia ver ao olhar ao seu redor, além dos sorrisos, das maquiagens e roupas exageradas era que eles eram um saco vazio, sem pensamentos próprios e perdidos.
Então ela ultrapassou a portaria do hotel em que ela e os outros iriam passar os próximos dias. Parecia inacreditável. Seus olhos caíram para o chão, onde seu pé refletia de tão limpo que estava.
Havia uma bancada onde os mentores do outros Tributos estavam pegando suas chaves para então arrastar suas mercadorias pelo prédio.
Ezlyn viu Corbin passando os olhos frios por cada um dos outros Tributos e ela acabou fazendo o mesmo. O casal do Distrito 11 estava entrando agora no elevador, acompanhado de seus tutores. Ezlyn não conseguiu ver muito além de suas roupas desgastadas, suas peles escuras e seus cabelos cacheados.
Logo atrás dele, os Tributos do Distrito 12.
— Fiquem aqui — pediu Keenan, ganhando só a atenção de Ezlyn, pois Corbin estava com o olhar longe entre os Tributos espalhados pelo saguão. — Iremos pegar nossas chaves e já vamos subir. Não aproximem-se de ninguém.
Dinah e ele se afastaram, a mulher se mantendo um pouco calada desde que anunciou a entrada de Corbin e Ezlyn. Ezlyn se sentia como se estivesse sendo analisada desde seus ossos até sua carne sempre que encontrava o olhar da Sra. Sigrid.
Isso a arrepiava.
— Viu algo de interessante, Corby? — Ezlyn bateu seus ombros no de Corbin, que imediatamente a encarou com as sobrancelhas franzidas pelo apelido. As bochechas de Ezlyn arderam. — Seus amigos não te chamam de Corby? Parece um bom apelido pro seu nome.
Corbin negou com a cabeça, deixando os olhos caírem. Foi a vez da Ezlyn cruzar as sobrancelhas.
— Eu não tenho amigos, raposinha — ele disse pra ela. Foi algo triste de se dizer, mas Ezlyn não captou nenhum tipo de tristeza nele.
— Eu posso ser sua amiga — ela soltou tão rápido que o assustou. — Bom, só se você quiser. Eu sei que não é o melhor momento pra isso, mas... — sua boca continuou se mexendo enquanto ela brincava com seus dedos.
— Eu gostaria de tê-la como amiga — confessou Corbin, sem coragem para olhá-la nos olhos.
Ezlyn sorriu mais uma vez, gostando da sensação de ter um amigo, mesmo nessas circunstâncias. Eles poderiam se apoiar, no final das contas.
A garota foi cortada ao meio desse pensamento quando um corpo tentou passar por ela, quase a levando junto no processo.
Ela recuou, sentindo o baque e prestes a mijar nas calças de tanta vergonha. Acontece que tinha um banco bem ao seu lado e quando aquele ombro alheio bateu no seu, seu corpo tropeçou e ela caiu sobre o banco, indo logo depois pro chão.
Os Tributos ao seu redor riram dela.
— Toma cuidado, garotinha, você pode até matar alguém assim — ironizou uma garota qualquer que se abaixou ao seu lado pra sussurrar alto o suficiente para todos ouvirem.
E rirem.
Ezlyn sentiu seus olhos tremerem quando ela os ergueu, mas sua preocupação logo reinou quando ela viu seu parceiro, Corbin Tallis elevado a sua frente, com a gola de um menino entre seus dedos enquanto os pés do garoto mal tocavam o chão.
— Por que você não olha por onde anda? — Sugeriu Corbin, mal ligando para a comoção que começou a rodear eles.
Ezlyn se levantou, preocupada.
— Qual é cara, a garotinha aí que estava na frente — o garoto esticou os braços, apontando para Ezlyn que estava abraçando seu próprio corpo. — Se ela fosse um pouco maior... e ameaçadora, talvez...
— Como é seu nome, verme?
Ezlyn encarou Corbin, seus olhos tremendo sem saber se se preocupava com o seu tom ou não. Seus olhos não desviavam do garoto em seus dedos e sua voz estava muito diferente de quando ele tinha falado que adoraria ser amigo dela.
Estava obscura. Ameaçadora.
Foi quando Ezlyn percebeu que ela não estava preocupada e sim assustada.
— Tracy.
— Tracy? — Corbin cuspiu, soltando sua gola para ficar atrás dele e agarrar seus ombros com brutalidade. Tracy tremeu. — Você tem nome de mulher, Tracy — debochou e Ezlyn rodou os olhos, vendo as pessoas rindo de Tracy.
— Não sou uma mulher!
— Não falei que você era — esclareceu, despreocupado. — Mas você deveria respeitar elas. Como Ezlyn, por exemplo. Está afim de respeitá-la, Tracy?
O garoto franziu a cara toda em confusão e medo. Foi quando Ezlyn pôde analisá-lo melhor.
Era Tracy Filippo, Tributo do Distrito 2. Seu pai era um grande ganhador dos Jogos Vorazes e agora, seu próprio mentor. Mas diferente de seu pai, com rugas elegantes e cabelos claros, Tracy tinha cabelos castanhos chocolate e seus olhos eram cor-de-mel.
Ele não era baixinho, mas quando se comparado com Corbin que tinha quase 1.90 de altura, ele era como uma formiga.
Todos deram um passo pra trás quando Corbin fixou sua mão na nuca de Tracy e o puxou até estar curvado, o rosto há centímetros do sapato.
— E agora, Tracy? Está disposto a respeitá-la? — Ezlyn arregalou os olhos, os dedos pequenos e delicados cobrindo seus lábios em horror.— Não? Que tal provar o gosto do meu sapato?
Ezlyn poderia estar satisfeita nesse momento. Tracy merecia, afinal, certo? Ele a empurrou de propósito, apenas por ter julgado que ela era menor, menos experiente e um alvo fácil. Ela deveria ficar feliz por estar sendo protegida, certo?
Mas não.
Ezlyn recuou entre a multidão que estava eufórica demais com Corbin pressionando o rosto de Tracy em seus sapatos para notar que ela havia se empurrado entre eles, depois corrido até os elevadores.
Ela passou pela recepção, ouvindo seu nome sendo chamado por Keenan. Mas ela não parou.
Uma lágrima desceu quando ela finalmente cedeu os passos em frente à caixa de metal que a levaria pra cima. Seus pés balançaram, esperando que ela abrisse em um passe de mágica.
— Aqui — uma voz surgiu ao seu lado, apertando um botão implantado ao lado do elevador. — Precisa apertar pra ele abrir.
Como se fosse uma contribuição para a sua explicação, as portas do elevador se abriram e Ezlyn entrou acompanhada do garoto. Ela não sabia pra onde estava indo, só não queria ficar naquele lugar. E ele...
Ezlyn encarou o garoto ao seu lado de rabo de olhos. Ele estava parado, observando-a. Suas bochechas esquentaram, mas ela não desviou os olhos.
O que ele estava fazendo? Ela se perguntou quando ele não se mexeu. Nem pra apertar outros daqueles botões, nem para sair e deixá-la sozinha, após ajudá-la.
— Sou Finnick — ele finalmente diz algo e estende a mão para Ezlyn. — Finnick Odair.
Ela pensa por apenas um segundo antes de encaixar sua mão na dele.
— Sou Ezlyn Lysander.
— Gostei do seu nome — ele disse, puxando sua mão de volta e sorrindo pra ela que colocou o cabelo pra trás da orelha e abaixou o rosto. — Por que estava chorando, Ezlyn?
Ela parou e pensou antes de responder.
As portas se fecharam automaticamente e o elevador começou a subir. Mas ela não estava com medo de ser pega ou acabar perdida.
— Por que acha que as pessoas são tão más, Finnick? — Ela o questionou, sua voz manchada de soluços.
O coração do garoto inchou por algum motivo naquele momento. Ele não sabia se era pela forma como ela sempre desviava os olhos dos dele, se era seus olhos que estava avermelhados ou a forma como ela acabou de dizer seu nome, mas ele quis sorrir.
Então ele sorriu. Mas não a respondeu.
Mas Ezlyn não queria mais que ele respondesse. Ela queria que ele sorrisse pra sempre. O sorriso dele era lindo.
— Nos vemos mais tarde, Ezlyn.
As portas abriram e ele saiu do elevador. Foi só quando Keenan invadiu o lugar que ela percebeu que eles haviam voltado para a portaria. Finnick havia apertado o último andar e depois voltado pra portaria.
Um passeio de elevador, Ezlyn renomeou.
Mas então ela percebeu.
Ele era um Tributo.
Espero que estejam gostando!
A primeira interação deles é TUDO pra mim. Eles estão tão inocentes nesse capítulo...
E o que acharam do CORBIN até agora? Acham que ele está apenas enganando ela ou que realmente quer uma amizade e que está disposto a protegê-la na arena?
Tentei muito e esse foi o melhor jeito que eu consegui!
ELES ERAM TÃO FOFOS!
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