ESTOU SOZINHA, tão pateticamente sozinha que chega a ser deprimente. Um apartamento grande em  uma cidade grande italiana, uma conta bancaria cheia para um closet cheio mas adivinha? Sozinha, apenas solitária nesse mundo.

Sem pais, sem amigos, sem parentes, sem namorado, apenas eu e eu mesma. A anos tento me reconfortar, tenho um emprego dos sonhos, o diploma dos sonhos tudo que eu sonhei esta aqui bem na minha frente mas e agora? Oque vem depois de um sonho realizado? Oque eu deveria fazer agora que o tédio de possuir me cercou? O conceito de realização na vida e tão estupido justamente por isso, nunca e o bastante, você sempre vai se sentir sozinha demais, triste demais, feia demais, nova demais ou velha demais.

E honestamente eu cansei disso
Só queria que isso estivesse no meu controle

Mas talvez esteja, estou no meu quarto copo de gin tônica em um bar de hotel em Monza, talvez seja falta de arriscar, talvez seja a falta do último drink da coragem antes de virar para qualquer un aqui e oferecer tudo, meu corpo meu amor e meu sacrifício, e torcer para que ele ainda lembre dessas promessas amanha - e que eu me lembre do nome dele.

Deixo meu mau senso controlar e faço oque pensei, o garçom repõe meu copo e eu viro minha cadeira para analisar o espaço. Caras brancos e ricos ocupam as cadeiras, alguns acompanhados de lindas mulheres que eu apostaria não serem as donas do outro par de aliança que eles carregam, outros sozinhos, observando as mulheres também sozinhas e pensando em qual dar o bote. Nenhum atrai minha atenção de imediato

Nenhum até os olhos verdes se cruzarem com os meus, com a mesa apoiada na única janela do espaço, um copo ocupando as mãos tatuadas, o corpo escondido por um smoking incompleto e o sorriso perfeito, tão perfeito que dói aos olhos. A primeira vista me parece familiar, familiar como os atores de filmes antigos ou o comediantes dos programas de fim de semana. Antes que eu consiga dar a primeira iniciativa de me levantar ele já está ao meu lado, dessa vez com a minha taça em mãos e o sorriso maior

- Sabe eu poderia te passar uma cantada barata agora, puxar um assunto que não vamos lembrar amanha e te oferecer uma bebida - a voz dele me percorre, o sotaque britânico realçando as palavras - Mas não acho que seja mulher de cantadas, nem de perder tempo

Como uma luz, meus olhos brilharam com suas palavras. Eu esperava horas de cantadas, uns elogios e eu ter que deixar claro que queria algo, e agora ele me poupou de tanta conversa. Ai eu queria muito ele

Honestamente, não sei quanto tempo levou para ele me convidar para subir para seu quarto e nem sei quantas palavras trocamos antes da boca dele estar na minha . Mas o resto das memórias estão perfeitamente intactas, cada beijo, cada sensação e cada palavra doce - ou nem tanto - e ainda estavam intactas quando acordei no outro dia

Sozinha, deprimida em um quarto de hotel em Monza

E sempre o mesmo ciclo vicioso