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ᝢ 𝒇𝒐𝒖𝒓

𝐴𝑚𝑎𝑙𝑑𝑖𝑐̧𝑜𝑎𝑑𝑎
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Aquele comportamento definitivamente não era do feitio dela, onde já se viu Évora Eckford cabular uma aula? Ainda mais uma que tanto gostava, bem, era exatamente o que estava fazendo. Desde que avistou o sinistro no fundo de sua xícara há uma semana na primeira aula de Madame Berkshire, a morena não estava nem um pouco inclinada a participar das aulas de Adivinhação. Ela sabia que aquele era um símbolo de mau agouro e que esse tipo de coisa era inevitável, no entanto, no pequeno mundo que criou em sua própria cabeça era perfeitamente capaz de evitar todos os seus problemas se apenas se enfiasse entre as árvores altas da Floresta Proibida. A copa das árvores já estavam quase desnudas, sua folhagem, que outrora era verde escuro, continuava a cair no solo em tons de laranja e afirmando que o fim do outono chegaria em breve.

Entretanto havia ainda mais um motivo para não desejar estar na aula de Madame Berkshire, como encarar aquela víbora sendo a única aluna a saber a verdade sobre o paradeiro da Professora Hewson, e pior, por que aquilo foi censurado pela direção do castelo? Não fazia sentido. Todos estavam perfeitamente cientes de ataques que começaram a acontecer por conta de um bruxo idealista maluco, mas tinha certeza de que em breve o Ministério da Magia daria um jeito naquela situação, a não ser que estivessem escondendo mais coisas dos estudantes do que Évora imaginava. Pelo menos ela teria provas concretas na semana do Natal em algumas semanas, apesar do seu avô sempre jogar no seu time, ele mandou somente o que achou ser necessário e aqueles devaneios fizeram surgir uma pulga atrás da sua orelha.

O vento frio fez seus cachos negros dançarem e ele trouxe consigo a sensação de uma pequena liberdade rebelde que nunca a arrematou, no entanto o sentimento de solidão não se fez presente; havia mais alguém ali, ela sabia disso. Os sentidos de sua clarividência deviam estar aguçados, pois o calor se espalhou por toda sua pele tirando todo o arrepio do clima outonal e o direcionou para onde vinha aquela onda quente. Ela não queria seguir, era burro e imprudente, as chances de morrer como uma personagem clichê de filme de terror trouxe era altíssima, e pensar que a Eckford as julgava tanto para estar prestes a fazer o mesmo.

Ela caminhou com cautela sobre as folhas secas deixando que aquele sentimento guiá-la, não era possível que seu sexto sentido fosse atirá-la nos braços da morte, por isso deu a ele um voto de confiança. Só que o que chegou aos seus olhos castanhos foi algo que Évora não esperava em um milhão de anos, poucos metros em sua frente estava o cabelo preto lambido de Sirius Black dançando com o vento, ao seu redor um rebanho de testrálios se alimentavam das pequenas porções de carne que o grifinório ofertava direto em sua mão sem medo de acabar sendo bicado, enquanto seus lábios comprimidos em bico assobiava uma canção familiar. A Eckford perdeu a noção de quanto tempo passou assistindo aquela cena, mas seu paradeiro foi entregue quando o galho que estava pisando finalmente cedeu em um "creck" alto fazendo-a arfar em surpresa, Sirius não reagiu muito diferente, ele se virou de supetão e olhos cinzentos arregalados se voltaram para sua direção.

— Por Merlin, Eckford, quase me matou de susto, porra! — gritou colocando uma das mãos sobre o peito de forma quase dramática.

A gargalhada ficou presa na garganta da corvina, porém ela não conseguiu conter o sorriso meio amarelo, meio faceiro de nascer em seus lábios.

— O que você está fazendo aqui? — inquiriu ele, desconfiado, franzindo as sobrancelhas. Évora notou que Sirius olhou ao redor procurando por sabe-se lá quem, a clarividente perguntou se o garoto estava procurando a companhia dele ou supondo que ela tinha uma, mas não vocalizou.

Ela não tinha uma resposta, bem, até tinha, mas não queria dar a ele.

— O que você está fazendo aqui? — devolveu cruzando os braços em cima do peito, aproximando-se em passos cautelosos. Não podia dizer que era uma surpresa para a Eckford o fato de Sirius ver os testrálios, no entanto assisti-lo cuidando deles com certeza não era algo que ela não esperava ver.

Évora observou a criatura quadrúpede e esquelética que estava mais próxima do grifinório com atenção, ela era menor que os outros do rebanho, podia até mesmo ser considerado um testrálio adolescente na sua cabeça. Quando voltou o olhar para Sirius, notou que o mesmo prestava atenção nela, alternando as orbes cinzentas entre a clarividente e seu amigo.

— Você pode ver... — murmurou tão baixo que Évora teve de se esforçar para ouvir, e não foi uma pergunta. Era evidente que ele queria questioná-la sobre, mas não o fez e ela o agradeceu por isso.

O silêncio reinou entre eles por pelo menos um minuto, dando voz apenas ao vento e o soar dos bichos que reclamavam por mais comida ao redor do Black, Évora não tinha muita ideia do que dizer, ou se deveria dizer alguma coisa na verdade, era uma das poucas vezes em que esteve tão confusa e incerta. Sirius, por outro lado, parecia estar se divertindo com a situação, pois sua expressão séria logo adotou um sorriso zombeteiro e meio sarcástico, deixando-a na defensiva em segundos.

— Não vai pedir desculpas por me espionar feito um serial killer? — ele inquiriu levantando uma sobrancelha. Évora arfou com o insulto.

— Não estava te espionando — mentiu, era uma péssima mentirosa.

E o Black sabia muito bem disso, só que por algum milagre divino ele não discutiu, apenas riu da sua cara – o que era bem pior.

— Évora Ophelia Hetfield-Eckford — o garoto proferiu o nome completo dela em tom de deboche e a corvina já sabia que coisa boa não estaria por vir. —, devo dizer que estou perplexo! Para mim é uma honra ser provavelmente o primeiro a te pegar no flagra matando aula, é um evento recorrente ou...

— Não seja estúpido — rebateu ríspida.

— Vai me dizer que é a primeira vez? — ele questionou naquele mesmo tom irritante que fazia Évora desejar batê-lo com um dos galhos secos. Não tinha ideia da expressão que fez, mas foi suficiente para responder ao grifinório, que gargalhou descaradamente de seu desconcerto. — Porra, Eckford, quem diria que esse dia ia chegar!

Black gargalhava alto sem se importar com o som que ecoava entre as árvores e isso fez Évora começar a se enfurecer, céus parecia uma criança.

Argh, você é tão infantil, Black, nem sei porque me dou o trabalho — a morena ralhou, não segurando mais o revirar de olhos que estava querendo dar desde que o avistou ali.

Ela estava prestes a dar as costas quando algo atingiu suas costas emitindo um barulho esquisito, pior ainda quando o testrálio adolescente galopou até ela com euforia e lhe passou uma bela rasteira para abocanhar a carne crua que Sirius jogou, fazendo Évora cair de bunda nas folhas secas. As gargalhadas do Black triplicaram o volume e ela jurou ter visto uma lágrima descer por um dos olhos do garoto, se estava furiosa antes, agora bufava de ódio. Por que ele tinha que ser daquele jeito?

— Você é um imbecil, Sirius Black! — ela gritou mais alto que os risos do mesmo enquanto a garota levantava. — Você é um imbecil e nunca vai se tornar algo na vida se não amadurecer e virar um homem de verdade.

— E quem é homem de verdade? — o grifinório inquiriu com uma seriedade se apresentando pela primeira vez no dia. — O frouxo do seu namorado?

Agora o rosto de Sirius estava contorcido apenas em deboche, suas sobrancelhas arquearam avaliando-a por inteiro, fazendo Évora encolher de leve por alguns segundos, mas logo tratou de endireitar a postura e não abaixar a cabeça para aquele projeto de trasgo. Ela ainda precisava conversar com Marshall sobre as coisas que estavam a incomodando no relacionamento, como ele não se posicionar contra os amigos pela própria irmã, do contrário não podia defendê-lo ao ser chamado de frouxo. Mesmo que tenha vindo de Sirius Black...

— Olha quem fala, o garoto que gosta de usar os outros para benefício próprio — a morena despejou com acidez palpável, medindo-o de cima a baixo como ele fez há pouco. — Você é um fingido e nada mais que isso!

— Do que diabos você está falando?!

— De você e seu ódio ridículo pela sua família!

— Não fale do que não sabe!

— Eu falo porque eu sei! — a essa altura era provável que todos no castelo já estavam escutando os gritos de ambos.

— Foi você quem se afastou de todo mundo depois que começou a sair com aquela lombriga loira de merda da Sonserina que se acha melhor que todo mundo! E você não é muito diferente, não é, Évora? — ele vociferou. A morena sentiu seus olhos se arregalaram de leve quando o moreno proferiu seu nome, sentindo um arrepio eletrizante descer por sua espinha. Um alerta de fuga. Mas Sirius lhe oferecia algum perigo? Não, ele era apenas um babaca, sentia-se mil vezes mais segura sozinha com esse babaca do que com qualquer amigo de Esben. — Depois de tudo o que ele fez, você ainda entrelaça seus braços naquele energúmeno e desfila por aí como se fosse um troféu a ser exibido. Você não tem orgulho?

Os olhos castanhos de Évora queimavam assim como sua garganta ao tentar conter as lágrimas que se esforçaram para escorrer, mas ela se negava a chorar na frente daquele garoto. Por que ele agia como se a culpa fosse apenas dela? Foi ele quem a usou, por que diabos não reconhecia isso?

— Mais uma vez: por que me dou o trabalho? — sua voz soou rouca, raspando pela garganta contraída que ainda lutava pela sanidade ao invés das lágrimas.

Sem deixá-lo dizer mais nada, Évora lhe deu as costas e marchou para o mais longe possível dali. Eles jamais poderiam conviver como pessoas normais por uma hora no mínimo, não sabia porque James queria tanto que ela conversasse com seu amigo sabendo que o único rumo que tomaria seriam gritos e mais gritos contra o outro. Era bobo do Potter acreditar que voltariam a ser como antes, como eram quando Hogwarts começou.

Era quase impossível imaginar que Évora Eckford e Sirius Black foram melhores amigos um dia e agora mal suportavam estar na mesma floresta por mais que trinta minutos. Só que quando imaginou estar enfim livre, pôde ouvir os passos dele vindo atrás dela em uma corridinha pra lá de patética.

— Você não pode me dar as costas todas as vezes que discutimos, e depois quer me chamar de infantil.

— De uma vez por todas, Black, você é extremamente infantil — ela clamou em alto e bom som. — E não consegue reconhecer seus próprios erros.

— Eckford, fica difícil pra caralho saber que porra eu fiz se você não me fala! — o moreno rebateu dando passos à diante, a clarividente não se afastou, apenas cruzou os braços na frente do peito mais uma vez e desviou o olhar do dele por alguns segundos. Encarar os olhos tempestuosos de Sirius nunca foi fácil para ela e era pior ainda quando estavam tão escurecidos pela fúria. — Eu não sou um maldito adivinho! Eu não sou você!

Évora viu os lábios do garoto crispar em uma linha fina, sentiu seus olhos tempestuosos fitando-a atentamente e a morena fazia o mesmo. Mais uma vez, o único som entre eles era o uivo do vento e suas respirações quentes e descompassadas após a discussão. Ela se perguntava o que diabos ele queria dizer com aquilo, o que ele sabia sobre ser uma "adivinha"? Ou foi apenas um modo de dizer? Não tinha como Sirius saber o segredo da sua família, era algo vindo da parte Hetfield e os Blacks tinham problemas apenas com os Eckford, não fazia sentido. A morena deixou o silêncio reinar por mais alguns segundos, eles estavam tão próximos um do outro que qualquer um que chegasse ali tomaria uma interpretação completamente contrária e esse era um problema que a garota não queria na sua vida. Ela tinha um namorado, pelo amor de Merlin!

— O que você quer dizer com isso, Black? — tomou coragem para questionar, enfim dando um passo para trás. Évora notou que os ombros de Sirius relaxaram como se ele estivesse prendendo a respiração há tempos, o garoto olhou para o chão desconcertado. — Se não tomar cuidado vai parecer que está me elogiando.

— Eu não sei — respondeu sem graça. — Você é a pessoa mais inteligente que já conheci e isso porque Lily Evans namora o meu melhor amigo, mas você sempre foi diferente, Eckford, você sempre soube de tudo. Você sabia das coisas mesmo antes de eu te contar! Sabia quando eu estava triste ou estressado... você era minha melhor amiga.

— Isso não é bem um elogio — ela murmurou, não querendo ouvir mais sobre como eles eram. Aquilo acabou, não era mais aquela Évora. — E nada disso importa mais...

— Foi por isso que te chamei de adivinha, é só isso — ele proferiu em um suspiro, ignorando as últimas palavras. —, mas você não é mais aquela garota, não é? Você ainda é academicamente perfeita e vai ser a melhor Medibruxa que vi na vida, só que não consegue enxergar as pessoas ao seu redor. Eu não sei se é negação ou se somente aceita, apenas sei que nenhum de nós está disposto a assistir você se afundar, Eckford.

O semblante do grifinório era sério, sem qualquer resquício daquele sarcasmo que sempre usava ao se dirigir à ela e isso fez um sabor amargo invadir a boca de Évora, ela sabia que ele estava falando de Marshall novamente, só que como poderia defendê-lo se não tinha argumentos? Quando foi que havia se tornado tão tola?

Foi tirada dos devaneios quando a figura de Sirius moveu-se para longe na direção de Hogwarts, ela queria gritar com ele mais uma vez, dizer que estava sendo idiota, mas a troco de quê? James dizia que era falta de comunicação, que eles tinham que colocar tudo para fora de uma vez e "pararem de agir como duas crianças", Évora chegou a cogitar se ele estava mesmo certo algumas vezes, porém alguns momentos na presença desse idiota a fazia lembrar do motivo para terem parado de se falar. Ela só queria voltar ao castelo e ter o restante das aulas do dia em paz, sem o grifinório como única companhia e talvez ganhar um pouco de silêncio. Quanto custava ter paz? Ela estava disposta a vender seus irmãos para pagar.

Infelizmente o caminho para Hogwarts era o mesmo, no entanto nenhum deles se atreveu a dizer qualquer outra coisa. Causava um pequeno ferimento no ego de Évora deixar Sirius ter a última palavra na discussão, todavia, era novidade aquela seriedade toda para se referir a ela e não podia mentir que estava surpresa. Tinha tantas perguntas e jamais teria respostas...

A clarividente quase suspirou de alívio quando colocou os pés dentro do corredor do castelo, havia um mar de alunos em vestes das quatro cores perambulando de um lado para outro e seria muito fácil se enfiar entre eles e desaparecer da vista do Black sem ele mesmo notar. Só que isso seria bom demais para ser verdade.

— Srta. Eckford, Sr. Black, devo admitir que é uma surpresa vê-los — a voz de McGonagall soou rígida, como sempre, mas havia a sombra de um sorriso em seus lábios finos. — Ainda mais por vê-los juntos. Também fiquei perplexa quando a Madame Berkshire questionou sua ausência, achei até mesmo estranho pois sempre foi sua matéria favorita, é notável até para os docentes.

Évora se encolheu sob o olhar da vice-diretora, querendo abrir um buraco no chão e se enfiar lá para todo o sempre, suas bochechas queimaram de vergonha.

— E você, Sr. Black, devo admitir que não estou surpresa com esse tipo de comportamento, mas imaginei que fosse tomar algum jeito após ser suspendido do time de Quadribol — pela primeira vez no dia, a morena viu a expressão de Sirius cair, derreter como um sorvete no calor do deserto do Saara.

Ela ficou surpresa mais uma vez, Sirius sempre amou Quadribol mais que tudo na vida e era um orgulho para ele ser um dos melhores Apanhadores que a Grifinória já teve. Foi estranho assistir James jogando naquela posição no sábado, mas não tinha ideia que esse era o motivo.

— Os dois na minha sala, agora.

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— Eu deveria dar uma detenção por estarem fora da aula, principalmente você, sr. Black — a mulher começou antes mesmo que eles grudassem a bunda nas cadeiras em sua frente. Nem Évora, nem Sirius ousavam dizer alguma coisa, ela não havia pensado que a professora nova daria falta de sua presença tão rápido assim. — Mas irei dar uma segunda chance à vocês, se cooperarem! Srta. Eckford, é de conhecimento geral suas habilidades em Poções assim como suas excelentes notas... — de soslaio viu o moreno revirar os olhos e conteve a vontade de puxar seu cabelo. — o Sr. Black, no entanto, está com certas dificuldades nessa matéria e está proibido de jogar Quadribol enquanto suas notas e desempenho não melhorarem, entrarei em acordo com o Professor Slughorn para serem uma dupla fixa a partir de agora além das aulas particulares aos sábados.

— O QUÊ? — os dois gritaram, olhando-se ao mesmo tempo.

— Sábado é demais, Professora, não pode ser depois da aula?

— Apesar do motivo dele ser a mais pura preguiça, Professora, eu ainda tenho o compromisso com a Madame Pomfrey para aprendizado — ela odiava ir contra a vontade de algum professor, porém viu-se em uma saia justa. Se pegasse a detenção perderia a vaga na Ala Hospitalar, mas se aceitasse ensinar Sirius aos sábados também perderia a vaga. — Não tem como entrarmos em outro acordo?

— O seu tempo na Ala Hospitalar vai até às 16 horas, srta. Eckford, você pode auxiliar o Sr. Black a partir das 18 — aquilo não era uma pergunta. Sirius abriu a boca para protestar mais uma vez, no entanto Évora o conteve com um chute leve embaixo da mesa. Era possível que ela piorasse a sentença se ele reclamasse demais, além disso não é possível que ele fosse tão burro a ponto de demorar tanto para aprender algumas instruções, logo estariam livres. — Considere esse o castigo de vocês; está liberado, sr. Black.

O grifinório não precisou que ela pedisse novamente, voou para longe daquela cadeira como se estivesse em chamas. Évora queria protestar o quanto era injusto deixar ele ir e ela não, só já tinha dado mancada o suficiente e não estava em posição para protesto.

— Quero tratar de alguns assuntos com você, Srta. Eckford, de suma importância devo ressaltar.

Aquele olhar quase travesso e a sombra de qualquer sorriso haviam desvanecido do rosto da mulher, agora suas sobrancelhas estavam franzidas de preocupação junto dos lábios comprimidos fazendo Évora se remexer na cadeira em desconforto. Era intimidador demais estar na mira de McGonagall, atraindo toda a atenção da bruxa para si.

— Primeiro gostaria de saber o que te levou a abandonar Adivinhação sem qualquer aviso prévio, srta. Eckford, isso nunca foi do seu feitio e devo admitir que foi uma surpresa.

Évora pensou em mentir, era embaraçoso confessar que aquela professora nova lhe dava arrepios, ainda mais sabendo o que realmente ocorreu com Anne Hewson, mas ela era melhor que isso e tinha certeza que McGonagall era superior demais para cair em qualquer mentirinha que contasse. Então ela apenas lhe contou o ocorrido da última aula.

— Isso explica algumas coisas... — a mulher disse simplista, sua testa franzida fazia algumas rugas de idade ressaltar. — Eu sempre achei sua família muito interessante, Srta. Eckford, sua avó era uma das melhores alunas da nossa época, assim como sua mãe foi uma das minhas melhores alunas.

Évora questionou-se por um segundo se McGonagall iria mesmo acabar com ela por um único erro, no entanto, sentia dentro de si que aquela estava longe de ser a intenção.

— E mesmo assim você as superou, em todos esses anos nunca tivemos uma aluna tão dedicada e focada, com um currículo intacto — houve uma pausa de segundos antes da vice-diretora parar de fitá-la por cima de seus óculos ovalados e baixar o olhar para os papeis em sua mesa. — Até agora.

O coração da corvina já estava batendo em sua boca àquela altura, lembrou-se da tarefa de Transfiguração da última aula e se bombardeou com inúmeras perguntas, tinha falhado tão feio a ponto da Professora querer conversar a sós com ela? Estava tão confiante com aquele trabalho, o que diabos fez de tão errado? Talvez fosse aquela maldita distração que a pegou... por que ela foi tão tola? Queria dar a si mesma um belo puxão de orelha.

— P-Professora, eu posso refa-

— Para que você compreenda onde quero chegar, preciso que leia o trecho que grifei em vermelho — a bruxa mais velha lhe estendeu o pergaminho. Évora o segurou com as mãos trêmulas, tentando formular em segundos o que tinha feito de tão errado, mas sua falha não foi academicamente; soube disso no segundo em que colocou os olhos na primeira linha.

Ela não se recordava de ter redigido nada daquilo, se não fosse sua exata caligrafia teria dito que alguém estava sabotando sua nota, mas até mesmo a letra "T" meio torta lhe mostrava a verdade. Évora descrevia sem medir palavras a morte de Tessa Hewson em cada linha que McGonagall destacou. Flashbacks de um momento que nem mesmo presenciou vinham em sua mente com perfeita clareza ao passar suas íris escuras pelas linhas: o corpo fraco de Tessa jazia no chão de mármore frio, seu corpo pálido repleto de cortes profundos que denunciavam uma tortura cruel, havia um círculo de pessoas ao seu redor, mas ela não conseguia identificar nenhum deles, todos usavam máscaras e capa preta, mesmo assim era possível visualizar o brilho de satisfação nos olhos de cada um deles.

— O que vamos fazer com o corpo? — uma voz masculina questionou.

— E de que importa? — agora era feminina e estridente. — Não achamos a pessoa certa, ele não vai gostar nada disso!

Atônita, a corvina sentiu a garganta queimar ao conter as lágrimas que começavam a embaçar sua visão, amassou o pergaminho entre seus dedos não querendo ler mais uma página daquilo sequer, era repugnante o que fizeram com aquela garota. Quanto mais tentava tirar aquela visão tenebrosa da sua mente, mais parecia imergir no cenário. A casa era luxuosa, ampla, com móveis caros e enfeites que provavelmente custavam mais do que um carro do mundo trouxa, mesmo assim era fria, escura, sem nenhum sinal de vida ou conforto que um lar deveria ter; Évora caminhou lentamente pela sala onde o corpo de Tessa jazia, podia ouvir seus gritos, sentir o cheiro do seu sangue queimando suas narinas, no entanto, a garota não estava mais ali, a sala se encontrava vazia e sem sinal da barbárie.

A clarividente se beliscou no braço de leve querendo acordar, não funcionou, ela repetiu o ato e dessa vez mais forte, continuou em vão pois suas pernas seguiam caminhando sem que pudesse ter controle. À medida que saia de onde Tessa Hewson foi assassinada os gritos estridentes aumentavam cada vez mais, porém eram diferentes, não soava nada como o anterior como se fossem de outra pessoa. Cada segundo que Évora passava naquela casa era angustiante, ela queria acordar, queria fugir, mas estava presa ali. 

O corredor extenso que ela caminhava tinha inúmeras portas, as luzes eram esverdeadas e instáveis, no final exibia um espelho luxuoso enorme que mesmo afastada já era possível enxergar a si mesma com uma clareza quase impressionante comparando com o restante da sua visão. O problema é que a garota que se aproximava do espelho não tinha seu rosto. A Eckford parou de caminhar no mesmo instante e a garota do espelho também, para confirmar se o reflexo era ela mesmo ergueu uma das mãos para seus cachos escuros e a figura repetiu o ato; Évora dançou as mãos em frente ao próprio rosto e observou aquela desconhecida fazer exatamente a mesma coisa.

Sua respiração se tornou descompassada em segundos, ela se acordar mais uma vez ao fechar os olhos com força e fincou as unhas na palma das mãos e mais uma vez não funcionou, pois assim que os abriu novamente ela estava cara a cara com a garota do espelho, um sobressalto percorreu seu corpo inteiro, arrepiando-se da cabeça aos pés, o grito de susto ficou entalado em sua garganta. Seu peito subia e descia rapidamente tentando manter-se calma de alguma forma, entretanto, nada naquele ambiente ajudava. Com cautela a corvina estendeu as mãos para tocar a superfície gélida do espelho e não se surpreendeu quando a desconhecida fez o mesmo, ela encarou aquela figura por alguns segundos notando como os traços dela pareciam familiares agora de perto. A garota não aparentava ter mais de vinte anos mesmo com alguns cortes e hematomas espalhados pelo rosto, seu cabelo liso e castanho tinha alguns nós agora denunciando que sua presença ali não era recente, ela parecia uma versão mais jovem da Professora Anne Hewson e enfim Évora se tocou, aquela era irmã de Tessa, Kate.

As orbes escuras da Eckford agora queimavam intensamente prendendo as lágrimas que lutavam para não cair, sua garganta trancou ao mesmo tempo que um enjoo violento atingiu seu estômago em cheio. Em uma fração de segundo, Kate se moveu sozinha e bateu com força dentro do espelho jogando Évora para trás com o susto, os olhos anteriormente opacos da garota agora brilhavam em ódio quando ela começou a gritar:

— Vocês todas vão morrer! Ele irá atrás de uma por uma!

Suas palavras ecoavam no corredor vazio e mesmo assim ela repetia cada frase assim que terminava a primeira. Pela primeira vez ela não conseguia se arrancar de uma visão pela dor, não conseguia controlar sua habilidade e esse fato só lhe causava mais pânico. As luzes piscantes do corredor se intensificaram conforme Kate ficava mais furiosa dentro do espelho, debatendo-se e gritando que "ele" viria por elas. As pernas da Eckford se derreteram como um nada até a morena atingir o chão com um baque seco, abraçando os próprios joelhos, ela fechou os olhos com força tentando ignorar os berros estridentes da garota Hewson e tentou concentrar o máximo que conseguia para se libertar de qualquer coisa que a prendia naquele corredor.

— Isso não é de verdade — murmurou para si mesma entre uma respiração profunda e outra. — Isso só está acontecendo dentro da minha cabeça — repetiu.

— Joaninha, eu estou aqui — a voz do seu irmão ecoou, parecia tão longe. — Você precisa abrir os olhos, tudo bem? Abra os olhos pra mim.

Évora negou com a cabeça, confusa, os gritos de Kate se misturavam com o que seu irmão dizia, ela sentiu um aperto firme em suas bochechas e tentou se desvencilhar, mas foi impedida por outras mãos. Ela estava presa naquele limbo entre um corredor amaldiçoado e uma vida real tão condenada quanto, nunca poderia escapar do sangue que corria em suas veias, visões como aquela só iriam piorar tinha certeza daquilo. Como começaram, subitamente todo aquele barulho acabou em uma fração de segundos, tudo se tornou escuro.

Puxou o ar para seus pulmões com força mais uma vez e pôde identificar o calor em seu rosto sendo segurado com delicadeza pelas mãos de alguém, ela não queria abrir os olhos tinha medo de que a primeira coisa que visse fosse o corpo morto de Katherine Hewson assim como sua irmã, mas mais uma vez foi a voz suave de Soren que a chamou.

— Évora, abre seus olhos — pediu ele. — Eu estou aqui por você, estou aqui.

Assentiu levemente inclinando-se para frente apenas para ser recebida pelo abraço que conhecia muito bem, os braços de Soren não hesitaram em recebê-la em um aperto quase sufocante e ela finalmente deixou o choro vir. As lágrimas lavaram seu rosto em segundos, acompanhadas por soluços ininterrompíveis, era como se toda a angústia que arrebatou seu corpo há minutos estivesse sendo eliminada na forma de água. Soren lhe fazia carinho no cabelo murmurando apoio, dizendo que tudo ficaria bem, que a dor passaria logo, mas ela sabia que não era verdade. Comensais da morte estavam matando mulheres da mesma habilidade que ela, não podia ser uma coincidência, eles eram sangue-puro e mesmo que não tivessem se juntado à causa, Você-Sabe-Quem estava mais interessado nos trouxas ou bruxos nascido-trouxa.

Quando ela abriu os olhos depois do que pareceu décadas se derramando em lágrimas, a primeira coisa que viu foi McGonagall encarando-a em uma mistura de compreensão e pena, tudo tinha acontecido tão rápido e se a Professora tinha alguma dúvida do que ela era, agora estava sanada. Foi com apenas um aceno por parte da mais velha que Évora soube que seu segredo estava seguro com ela, a bruxa não lhe fez perguntas, apenas a deixou ir com a ajuda do irmão.

——— AUTHOR'S NOTES

Boa tarde, amores!

Primeiramente, me perdoem por demorar tanto tempo a voltar, infelizmente eu não sou herdeira e tenho compromisso com a faculdade e trabalho.

Gostaria de dizer também que ainda não estou 100% de volta, ainda não entrei em férias mas quando esse período chegar vou me esforçar para atualizar mais vezes. Só que também preciso da ajuda de vocês pra isso sabe? Eu não vou ficar colocando meta de comentário nem nada mas seria ótimo se vocês parassem de ser fantasmas ok.

Por fim, eu estava querendo alguém para betar Thunderbird então se alguém tiver interesse me conte aqui.

Até mais!

Com amor, Lily

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