
⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀⩩⦙ 𝖎𝖎.
Com sua arma pronta, papai veio na surdina
Em direção do celeiro, para o palheiro
Meu pai tem uma arma
É melhor você correr.
A IMPRENSA ESTAVA ACALORADA EM FRENTE à velha mansão dos Hargreeves, todos empunhados com seus materiais de trabalho e aguardando ansiosamente a aparição dos membros da Thunder Academy, mais precisamente da heroína mundialmente famosa, Hemera Hargreeves. Aquela que havia abandonado a Umbrella Academy para se unir a equipe "rival", ingressando em uma nova família e abandonando a numeração que outrora recebera em vez do nome.
Todos ansiavam saber sobre os sentimentos de Hemera em relação à morte do "pai", desde os tabloides aos civis que acompanham seu trabalho desde a queda dentro da Umbrella Academy a ascensão na Thunder Academy. Era do conhecimento público que a emancipação da antiga número Oito com os Hargreeves não ocorreu de forma pacifista. Apesar de a mesma manter o sobrenome de Reginald na certidão de nascimento, as entrevistas dadas por Allison, a ex-irmã número Três, e também pela própria Hemera, não escondiam como as coisas foram terríveis. A discórdia e rivalidade entre as academias ficaram ainda mais aparente quando Vanya lançou o livro com seu ponto de vista, mostrando que Hemera estava certa em fugir de casa quando teve oportunidade. Que a irmã não era o monstro traidor que Allison descrevia, mas uma vítima dos maus tratos de Reginald.
Mesmo estando acostumada com a imprensa pegando no seu pé durante vinte e quatro horas do dia, Hemera não tinha a pretensão de incluir uma coletiva no velório do seu bicho-papão. Principalmente por estar considerando aquele o dia mais doloroso e difícil de sua vida até o presente momento. A razão disso não se dava pela dor do luto, no fundo saber que Reginald estava morto trazia alívio para ela, não existia pesar em seu peito ou tristeza pelo velho. Mas o impacto de regressar para a mansão a assustava, ver o rosto dos irmãos restantes depois de anos os ignorando, ingressar no local que carregava todos seus traumas e lembranças terríveis em cada vergalhão. Aquilo lhe ativava gatilhos e descumpria sua promessa pessoal, a qual era NUNCA MAIS botar os pés dentro da mansão.
Para o alívio de Hemera, ela não precisaria enfrentar todos os problemas do passado sozinha, pois possuía uma família leal que a acompanhava sem picuinhas ou rivalidade idiota, pessoas em quem poderia se apoiar e revelar suas inseguranças. Uma família de verdade.
Com o auxílio de Vidia e Frank, a heroína foi capaz de desvencilhar dos repórteres que os atacavam como abutres sem ter sua privacidade violada, ingressando apressadamente na mansão que crescera. Para que os entrevistadores não ficassem sem respostas e dessem uns minutos de paz para a querida Starlight, Cybelle e Kieran foram os responsáveis por despista-los. Utilizando um roteiro de respostas prontas preparadas previamente por Medusa com auxílio da Madame Divone, eles pediram respeito para com Hemera e os outros Hargreeves durante esse período difícil enquanto respondiam as questões clichês. Prometendo uma coletiva descente quando o período de "luto" da loira terminasse.
— Como você está, Mera? Esses carniceiros te atacaram? — Perguntou Frank segurando o rosto da irmã entre as mãos e certificando de que nenhum repórter havia enfiado o microfone ou gravador dentro dos seus olhos. Algo que havia ocorrido com Kieran depois que a mídia descobriu a identidade secreta do Reptile graças as suas tatuagens.
— Estou bem, Frank. Eu acho. Obrigada pela preocupação. — Agradeceu Hemera dando um meio sorriso ao irmão.
— Ela não é o Kieran. Aposto que lembrou de colocar os braços na frente do rosto ao passar pelos abutres — Zombou Vidia rindo fraco. Ela nunca perdia a oportunidade de recordar a história passada pelo irmão gêmeo, principalmente por estar ao lado do mesmo no dia. — Falando nisso, aposto vinte pratas que ele leva outra microfonada hoje.
— Aposto o dobro que hoje vai ser com um gravador — Assentiu Frank esticando a mão para que a irmã apertasse.
— Vocês nunca vão esquecer isso, não vão? — Perguntou Kieran ingressando na mansão. Para o alívio do russo, Cybelle estava controlando perfeitamente a situação dos repórteres do lado de fora como a ótima líder que era.
— Jamais! — Disseram Frank e Vidia em uníssono.
Enquanto os irmãos zombavam da falta de sorte de Kieran em relação aos paparazzi, Hemera caminhava lentamente para o centro do hall de entrada enquanto mantinha o foco nos pequenos detalhes da mansão. Apesar de ter frequentados árduos meses de terapia com uma psiquiatra de confiança da Madame Divone, eles pareciam não ter surtido efeito ao colocar os pés novamente onde passou os piores anos de sua vida. Todas as memórias traumáticas regressavam feito um turbilhão para sua mente, ativando gatilhos de situações que acreditava terem sido superadas com o decorrer dos anos.
A casa estava exatamente igual. Nada havia sido adicionado ou retirado do local desde sua fuga. Ela era capaz de descrever onde cada corredor levava, qual cômodo se escondia atrás das portas, o nome de todo quadro pendurado nas paredes e seus respectivos pintores, sabia décor e salteado sobre todas as obras de arte que encontrariam espalhados pela mansão, além dos artefatos históricos que Reginald colecionava. Regressar para o local de infância que permanecia com os mesmos traços tóxicos fazia com que Hemera voltasse a ser aquela adolescente que foi torturada por anos, uma criança inocente que passou por treinamentos cruéis. Uma criança que foi trancafiada em quartos escuros, eletrocutada até ser capaz de dobrar seus limites, além de passar horas dentro de um "aquário" cheio de líquido salobro para testar suas conduções elétricas. Alguém que não foi tratado como ser humano, mas pior do que os bichos em laboratório. Não era uma heroína naquela academia, ela era uma sobrevivente.
— Uau! Então é assim a mansão dos Hargreeves por dentro — Comentou Vidia aproximando da irmã para demonstrar seu apoio e acariciando gentilmente suas costas, fazendo Hemera dessa um sobressalto ao ser trazido de volta para a realidade — Não me admira você ter fugido.
— Mil vezes a nossa casa — Disse Kieran passando o dedo sobre a mesa de madeira e fiscalizando a quantidade de pó que havia sobre ela — Essa aqui parece uma mansão mal assombrada.
— Pelo jeito vocês enfiaram a educação no cu — Repreendeu Cybelle que havia ingressado há pouco tempo no mesmo ambiente que os irmãos.
— Ninguém mentiu — Disse Vidia desdenhosa enquanto dava com os ombros. — A casa é quase igual aquela do filme de terror que assistimos semana passada, não me admira Hemera ter se assustado. Será que foi filmada aqui?
— Vidia! — Cybelle lançou um olhar severo na direção da irmã, balançando a cabeça negativamente após notar que os outros riram baixo do comentário, incluindo Hemera — Vamos lembrar que somos visita aqui, não devemos ser rude, mas superiores.
— Falando em sermos visita, não deveríamos ter trazido sanduíche de pepino? Dizem que é rude aparecermos na casa dos outros com as mãos abanando — Disse Kieran aproximando de Cybelle e lhe cutucando com os cotovelos.
— Seria perda de tempo, eles não comeriam — Respondeu Frank segurando com cuidado uma lança de madeira com vários símbolos sumérios entalhados.
— Larga isso aí, Frank! — Ordenou Cybelle ao notar que o irmão estava com seu péssimo comportamento de rapaz curioso que não se contentava em apenas olhar, tendo que tocar nas peças.
— Bota esse treco de volta senão o bicho pega! — Cantarolou Vidia enquanto fazia uma dancinha.
— Tumdum, tumdum! — Completou Kieran fazendo o coro enquanto abraçava Cybelle pelos ombros e a balançava de um lado para o outro.
— É manda esse treco de volta — Corrigiu Cybelle empurrando Kieran — E pelo amor de qualquer coisa sagrada que rege o universo, se controlem.
— Senhorita Hemera! Família Whitlock!
Ao ouvir o chamado o pequeno grupo voltou a compostura e se uniram, ficando mais próximos enquanto olhavam na direção do som. Apesar de terem ouvido Hemera falar sobre o famoso chimpanzé mordomo dos Hargreeves, os Whitlock se surpreenderam com a criatura e se entreolharam curiosos.
— Pogo! — Hemera sorriu sem humor na direção do anfitrião.
— Estou feliz por ter vindo, apesar da confusão do lado de fora — Ele aproximou da antiga moradora e lhe abraçou com ternura.
— Pedimos desculpas por isso — Disse Hemera entortando o lábio e se separando rapidamente do abraço, sentindo-se desconfortável por abraça-lo apesar de ter feito o gesto diversas vezes durante a infância.
— Eles estão ansiosos para saber o que Mera pensa sobre voltar para cá depois de todos esses anos — Falou Vidia puxando Hemera para mais próxima de si ao notar seu desconforto com o chimpanzé. — A casa dos Hargreeves.
— Não esqueça que essa também é sua casa, Hemera — Falou Pogo olhando descontente para Vidia, a qual não se importou, e regressando o olhar sobre a loira. — Sempre será bem-vinda.
— Agora que o Reginald morreu, né? — Disse Kieran rindo sarcástico, ele foi rapidamente beliscado por Cybelle — Aí! Eu menti? — Ela o beliscou pela segunda vez com um pouco mais de força — Caralho, Cyb!
— Está tudo bem, Cyb. Ele não mentiu — Disse Hemera olhando diretamente para Pogo — Sir. Reginald deixou claro que só entraria novamente na mansão por cima do cadáver dele. Bem, dada às circunstancias ele estava certo. Enfim, os outros já chegaram?
— Allison está desmanchando as malas, Luther e Klaus devem estar em algum lugar da casa — Respondeu Pogo — Pode ficar a vontade para caminhar pela residência.
— Esperarei pelos outros na sala — Disse Hemera abraçando o próprio corpo e apontando na direção da sala de estar. — Se não se importar, é claro!
— Como disse, fique a vontade, essa também é sua casa — Assentiu Pogo meneando positivamente com a cabeça. — Whitlock's!
Silenciosamente os irmãos seguiram Hemera para o grande cômodo lateral da casa. A sala de estar era tão assustadora quanto o hall de entrada, porém a culpa disso não era a má iluminação como ocorria no cômodo anterior, mas dos quadros horríveis dos membros da equipe pendurados na parede, além das cabeças de animais empalhados.
— E eu achava que não podia piorar — Zombou Kieran apontando para a cabeça de Gnu.
— Vocês são terríveis — Cybelle estava prestes a fazer um discurso sobre a falta de educação dos irmãos quando foi interrompida por Vidia.
— Resident Evil! — Gritou Vidia saltando animada enquanto batia uma mão contra a outra
— O que? — Perguntou Frank olhando confuso.
— O hall de entrada — Vidia apontou para o local aonde vieram — Igualzinho à mansão do primeiro jogo da franquia.
— Puta que pariu! Idêntico — Concordou Kieran se jogando no sofá.
— Só que mais assustador — Falou Hemera andando na direção do bar. — Alguém deseja uma bebida?
— Vou te ajudar — Disse Frank seguindo a loira para trás do balcão.
— Esse é o falecido? — Perguntou Vidia apontando para o quadro do número Cinco preso na parede da sala.
— Não, esse é o número Cinco — Respondeu Hemera preparando o drink favorito de Kieran, enquanto Frank preparava o de Vidia.
— Ah! O desaparecido! — Falou Vidia movendo os ombros com desdém.
— HEMERA! — O grupo foi surpreendido pelo grito animado de Klaus quando o mesmo ingressou na sala de estar acompanhado por Ben, ele não hesitou em correr na direção da irmã número Oito e abraça-la com força, fazendo com que quase derrubasse a bebida que colocava no copo. — Trouxe a cavalaria.
— Não viria sozinha para cá — Falou Hemera sorrindo aliviada.
A tensão que a loira possuía pareceu esvair quando notou que o primeiro irmão a reencontrar foi o número Quatro. Ele e Vanya eram os únicos irmãos da academia rival com quem Hemera mantinha o contato. O rapaz não havia mudado em nada desde o último encontro que tiveram, o qual ocorrera alguns meses atrás quando ele apareceu em seu covil de heroína para conversar sobre aleatoriedades da vida. No fundo Starlight sabia que aparecimento surpresa do irmão em seu escritório tinha dedo do Kieran, o rapaz havia escutado inúmeras reclamações da irmã sobre o fato dele ter mais contato com o número Quatro do que ela que possuía o mesmo sobrenome.
Ver as feições conhecidas do segundo Hargreeves que não a considerava uma traidora desleal aliviava o peso de seu coração, fazendo com que relaxasse os músculos do corpo e sorrisse com sinceridade pela primeira vez ao regressar para a mansão que passou seus piores anos de vida.
— Estou feliz em te ver por aqui — Disse Klaus mantendo o abraço, porém afastando alguns centímetros para vislumbrar a irmã dos pés a cabeça. — Uau! Uniformizados. O velho morreria agora se já não estivesse morto.
— Traje de gala completo — Zombou Kieran piscando para Klaus.
— Já disse o quanto ele realça suas curvas? — Perguntou Klaus gesticulando exageradamente.
— Argh! — Reclamou Vidia parando ao lado do rapaz encapuzado que tinha acompanhado Klaus para dentro da sala de estar — Ele é sempre assim?
— Na maior parte do tempo — Assentiu o rapaz sorrindo para Vidia.
— Tenho pena de você — Murmurou a Vidia colocando as mãos na cintura. — Não vai apresentar sua foda casual, Kieran?
— É assim que você me trata na frente da sua família, Kieran? — Perguntou Klaus fingindo estar ofendido com o comentário de Vidia — Gostei!
— Céus! — Vidia revirou os olhos e riu baixo.
— É necessário mesmo fazer as apresentações? — Perguntou Hemera segurando dois copos cheios de bebida e saindo de trás do balcão.
— Nicht! Conheço quase todos eles — Klaus aproximou de Cybelle com o cigarro nos lábios e segurou uma de suas mãos — Cyb, primeira heroína lésbica assumida antes dos quadrinhos, graças a ela Batwoman saiu do armário.
— Estou muito feliz em te ver também, Klaus — Cybelle riu baixo com o comentário.
— O gostoso é o Kieran — Falou Klaus virando na direção do rapaz tatuado, o qual piscou sedutoramente para o outro. — A de comentários maldosos é a Vidia, Kieran fala muito sobre sua gêmea do mal.
— Fofo! Mas prefiro que me chame de cunhadinha — Provocou Vidia sentando ao lado do irmão gêmeo no sofá. — Afinal Kieran quase morreu achando que você que tinha morrido.
— Somos o Romeu e a Julieta modernos — Klaus disse sarcástico enquanto levava a mão sobre o peito, em seguira ele estendeu o cigarro de maconha que fumava para Kieran, o qual hesitou antes de pegar o conteúdo — Relaxa, Cece vai permitir e o velho Hargreeves não está aqui para repreender.
— Todo mundo sabe que você gosta de uma Juanita — Provocou Vidia esticando os pés sobre a mesa de centro.
— Oi e eu sou... — Frank aproximou de Klaus levando para ele um dos drinks que havia preparado.
— O inútil da Thunder — Completou Klaus, fazendo com que o menino desmanchasse o sorriso que carregava — Oh! Não leve para o lado pessoal, é que sempre o chamamos assim.
— Se serve de consolo, eu sou a inútil da Umbrella — Disse Vanya ingressando na sala de estar, ele estava com expressões cansadas de viagem e parecia estar tão descontente em estar na mansão do que Hemera.
— Vanya... — Hemera deixou o copo que tomava sobre a mesa e aproximou do irmão número sete — É bom te ver.
— Digo o mesmo — Falou Vanya abraçando Hemera com força — A última coisa que desejava era enfrentar eles sozinhos.
— Vamos passar por essa, juntas — Hemera segurou as mãos do irmão entre as delas.
— Onde está Medusa? — Perguntou Vanya após contar somente quatro membros da Thunder Academy.
— Ficou com a mamãe. — Respondeu Vidia desdenhosa — Alguém precisa vir nos salvar caso seus irmãos decidam nos destruir.
— Ninguém vai te destruir — Disse o rapaz encapuzado, aproximando de Vidia.
— Quero que prove — Falou Vidia sorrindo sem mostrar os dentes para ele.
— Provar o que? — Perguntou Vanya curioso.
— Que ninguém vai nos destruir — Respondeu Vidia. — Ou querer nos matar.
— Bom, é mais fácil o Luther e o Diego se matarem antes de atacar vocês. E o papai morreu. Então vocês não correm o risco — Respondeu Klaus.
— Sorte a nossa! Se bem que eu adoraria ver a cara do velho com quase toda a Thunder por aqui — Falou Cybelle rindo fraco.
— Falando no velho, não desfoquem da missão — A voz de Madame Divone soou através do ponto na orelha de Cybelle. Como uma boa mãe, ela não mandaria os filhos para a casa do inimigo sem se certificar de que poderia salvá-los caso necessário. — Precisam cuidar a Mera, essa casa toda é um gatilho para nossa Starlight.
— Tudo sobre controle por aqui — Sussurrou Cybelle discretamente para a mãe do outro lado da linha.
— Ótimo! Mas não hesite em usar o código secreto, Medusa está a poucos minutos de distância, pronta para salvá-los, se necessário — Disse Madame Divone — Lembrem-se, vocês estão na casa dos Hargreeves e sabe-se Deus o que pode acontecer quando todos se reúnem.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro