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Infelicidade, onde estava quando eu era jovem
E nós não dávamos a mínima?
Porque nós fomos educados
Para ver a vida do melhor jeito e aguentar o que pudermos
Ode To My Family
the cranberries
O HORÁRIO DO JANTAR NA MANSÃO dos Whitlock era um momento sagrado. Todas as noites, Madame Divone Whitlock, a matriarca e fundadora da excêntrica família de super-heróis, fazia questão de reunir os seus seis filhos adotivos ao redor da mesa comprida localizada no grande salão de jantar. Para ela aquele momento era solene, sendo a melhor hora do dia para que todos pudessem conversar sobre os eventos passados e resolvessem seus problemas, caso existentes, como uma família comum.
No instante que os Whitlock's sentavam a mesa para ceiar, por algumas horas eles deixavam de fazer parte da famosa Thunder Academy, também conhecidos como a "Academia Umbrella que deu certo". Não havia heróis, codinomes eram estritamente proibidos de serem usados (isso desde o instante que colocavam os pés dentro de casa) e os poderes se tornavam obsoletos. Ao redor da mesa, ou em qualquer ocasião que estivessem unidos em casa sem os uniformes, eles eram pessoas normais, apenas os membros de uma família bem equilibrada contando piadas e aproveitando a companhia um dos outros.
E se existe uma palavra que pode ser usada para descrever os Whitlock, essa palavra é "UNIÃO". Não é atoa que continuam exercendo o ótimo trabalho como defensores da cidade e do mundo, sendo convocados com certa frequência para resolver os conflitos mais graves existentes, aqueles em que uma verdadeira equipe de heróis se faz necessária. Eles utilizam dos seus poderes para ajudar a humanidade, seja impedindo pequenos delitos dentro da cidade ou defendendo espécies em extinção de caçadores ilegais, a equipe arrisca suas vidas para impedir o mal de ser espalhado.
Por isso os jantares em família são importantes para Madame Divone, é o momento que ela tem certeza de que seus filhos amados estão seguros, de que nada ruim aconteceu com seus pupilos e podem aproveitar a ocasião para colocarem os assuntos em dia e resolverem suas pendências, caso exista alguma.
Com um sorriso orgulhoso estampado sobre a face, a matriarca da família admirava cada um dos seus pupilos que já estavam devidamente acomodados com imenso carinho, deixando visível em seus olhos azuis acinzentados o orgulho que sentia. Apesar deles possuírem vinte e nove anos, tendo deixado de serem crianças a muito tempo, ela jamais deixaria de considerá-los seus bebês.
Seu olhar caiu primeiro sobre Medusa, a primeira criança adotada que havia nascido de modo surpreendente de uma mulher que nem imaginava estar grávida. Vinda diretamente da Escócia, a mulher de longos cabelos ruivos, olhos verdes e grande coração, conversava empolgada com Cybelle sobre a viagem que pretendiam fazer para Cancun em oito dias. Ela estava encantada com a ideia de passar um tempo longe de casa com a irmã que havia acabado de entrar de férias, devido seu trabalho como repórter no jornal da noite, Medusa raramente deixava a cidade e essa viagem seria uma ótima oportunidade para conhecer novas pessoas e se divertir.
Enquanto Cybelle, a bela mulher negra com tranças no cabelo, vinha planejando aquela viagem desde que regressou de sua viagem pelos locais paradisíacos do Caribe, ela estava encantada com a beleza do local e queria mostrar para todos os seus irmãos o que o seu local de nascença tinha a oferecer de melhor. No instante que conseguiu tirar todos os dias de férias acumuladas em seu serviço como Médica Legista, começou a colocar seu plano de viagem em prática, marcando a data e montando o roteiro.
Seu planejamento incluía levar Vidia e Hemera, além da Medusa, sendo uma viagem exclusiva para todas as garotas da família. Entretanto, Vidia recusou o convite ao descobrir por Kieran, seu irmão gêmeo rebelde cheio de tatuagens e grandes olhos verdes, que estava incluso no roteiro passar grande parte do dia de biquíni e roupas curtas. Desde muito jovem, quando teve seu primeiro membro transplantado por outro, Vidia desenvolveu inseguranças quanto ao seu corpo, principalmente por ele ser cheio de pontos e cicatrizes, além de partes coloridas que deixam claro que pertenciam a outra pessoa antes dela. Todos de casa, principalmente Kieran, tentavam levantar sua autoestima com frequência, dizendo o quanto ela era linda e divertida. Porém raramente seus comentários surtiam efeito.
Notando que Vidia estava empolgada para viajar com as irmãs antes de descobrir o destino da viagem, Franklin, o primeiro menino a ser adotado por Madame Divone e o com poder considerado "inútil" pelos membros da Academia rival, decidiu retirar algumas abonadas do seu trabalho como professor de física quântica na universidade da Cidade para levar a irmã em uma viagem divertida para a Disney. Pois para Frank não existe lugar mais encantador, divertido e feliz no mundo do que a Disney.
Já os motivos que fizeram Hemera Hargreeves recusar a viagem com as irmãs eram extremamente profissionais. Ela possuía uma agenda cheia de compromissos e aparições públicas para cumprir, desde entrevistas em televisão a eventos grandiosos em defesa a causas sociais que considerava de notável importância. Parte disso era culpa de seu passado, pois diferente dos irmãos adotivos, toda a mídia conhecia seu passado e identidade secreta por baixo das máscaras.
Hemera não era uma Whitlock desde a adoção, como seus seis irmãos atuais, mas uma Hargreeves. Ela havia sido adotada, ou melhor, comprada pelo excêntrico bilionário Reginald Hargreeves quando era recém nascida, tendo participado como número Oito dos anos dourados da Academia Umbrella. Após a morte do seu irmão de outra academia, número Seis, ela se rebelou contra os abusos do pai e foi pedir exílio para os "inimigos número um", sendo recebida de braços abertos por Madame Divone ao notar o horror e pesar em suas palavras. Seus irmãos não demoraram para aceitá-la na equipe, sendo receptivos e a incluindo na equipe.
Na Thunder ela não era apenas um número, mas uma pessoa real, com sentimentos. Não existiam rixas, nem picuinhas desnecessárias, apenas amor e união. Infelizmente, isso causou o afastamento de três dos seus irmãos restantes, incluindo Diego, aquele com quem foi muito unida quando criança. Sendo chamada de traidora por Luther, Allison e Diego. Tanto que foi Allison que revelou na época em uma entrevista que a nova membro da Thunder Academy era a traiçoeira da Hemera. Mesmo com todos os xingamentos e ofensas, Hemera tentou manter contato com os "irmãos" da outra academia. Mas os únicos que foram recíprocos, nunca desligando o telefone em sua cara e aceitando encontrá-la no tempo livre foram Vanya e Klaus. Tanto que Vanya chegou a ficar alguns dias com a nova família de Hemera, pelo menos até arrumar um local onde pudesse seguir com sua vida longe de todas as coisas ruins que passou com Reginald.
— Onde está Hemera? — Perguntou Madame Divone olhando preocupada para Frank. O rapaz era o irmão mais próximo de Hemera, sendo seu melhor amigo e a primeira pessoa da Thunder Academy com quem a loira teve contato. — Ela está atrasada para o jantar.
— Estou aqui! — Gritou Hemera antes que Franklin pudesse responder a mãe adotiva, ela permanecia com o uniforme branco com estrelas dourada, feito especialmente para as aparições públicas — Desculpe a demora, tive um problema para resolver, mas vim voando.
— Algo grave? — Perguntou Cybelle preocupada. — Sabe que deve pedir ajuda quando...
— Nada grave, Cyb! — Respondeu Hemera interrompendo a irmã e acomodando-se na mesa ao lado de Frank — A minha agente marcou uma reunião surpresa com dois diretores da BBC, ela insiste que faça um documentário sobre os anos na Academia Umbrella.
— Outro? — Perguntou Kieran arqueando as sobrancelhas — Você já não faz isso há alguns anos atrás? Aquele livro...
— O livro foi escrito por Vanya — Respondeu Madame Divone avaliando a filha dos pés a cabeça — Mera deu uma coletiva para a imprensa.
— Mas isso não foi o suficiente, aparentemente — Hemera revirou os olhos enojada — Desde o lançamento de Extra Ordinária eles insistem que conte minha visão, principalmente por ter fugido da academia.
— E porque não faz? Eles foram uns escrotos com você — Falou Vidia movendo os ombros com desdém. — Principalmente aquela atriz mimada.
— Devemos ser superiores aos nossos inimigos — Disse Madame Divone com soberba — Mesmo que somente eles nos vejam como tais. O que houve com Hemera no passado é escolha dela narrar ao mundo, ou não, devemos respeitar suas decisões.
— Obrigada, mamãe! — Agradeceu Hemera fazendo uma mesura breve. — E também não tenho interesse em recomeçar uma discórdia e perder os poucos irmãos que ainda gostam de mim.
— Não vamos deixar de gostar de você, fique tranquila — Comentou Kieran sorrindo sem mostrar os dentes.
— Eu sei, vocês são os melhores irmãos que possuo. — Falou Hemera inclinando a cadeira para trás e estendendo o braço, tocando com sutileza na face de Kieran. O qual segurou a mão da irmã ao tocar seu rosto e depositou um beijo tenro. — Mas estou falando do seu namoradinho e de Vanya.
— Namoradinho não, por favor — Kieran fez careta com o comentário de Hemera.
— E como você descreveria sua relação com Klaus? — Perguntou Cybelle arqueando uma das sobrancelhas.
— Fodas casuais e seguimos com nossa vida — Kieran moveu os ombros com desdém.
— Controle o palavreado, querido! — Repreendeu Madame Divone olhando desgostosa para o filho ao ouvir o palavrão — Prefiro que utilize outros termos, como relações carnais ou sexo, sexo está ótimo.
— Desculpe, mamãe! Mas pensei que as regras tinham sido flexibilizadas, já que Hera está com o uniforme durante o jantar — Disse Kieran sorrindo divertido.
— Mas estou sem a máscara! — Rebateu Hemera curvando o lábio.
— Seu irmão tem razão, Hemera! — Disse Madame Divone suspirando — Vá se trocar.
— KIERAN! — Reclamaram os outros irmãos em uníssono, os quais estavam cansados de esperar por Hemera para poderem jantar.
— Vou ser rápida — Disse Hemera levantando da mesa — Dessa vez não vão esperar tanto.
— Eu vou morrer de fome! — Reclamou Vidia encarando o forro da casa, fazendo com que os outros rissem de seu comentário dramático.
Antes que Hemera pudesse deixar o salão de jantar para trocar suas roupas, Bernie, o android criado especialmente para ajudar Madame Divone a cuidar de suas seis crianças com super-poder, ingressou no recinto segurando o telefone em uma das mãos.
— Senhorita Hemera, precisam falar com a senhorita — Disse o robô estendendo o aparelho para a loira, a qual fez caretas com o gesto. Não estava interessada em conversar com pessoas de fora da família, principalmente depois da reunião surpresa que foi obrigada a assistir. — Não acho prudente utilizar uma de minhas desculpas prontas nesse caso.
— Que caso? — Perguntou Hemera cruzando os braços na frente do corpo.
— É melhor conversar, senhorita — Disse o Bernie chacoalhando o aparelho na frente da jovem mulher. — Seu nome é Pogo.
Ao ouvir o nome do antigo criado da casa que habitou quando criança, Hemera sentiu o coração bater acelerado e um gelo incômodo na barriga. Não era do feitio do chimpanzé, ou qualquer outra pessoa do passado, entrar em contato com a loira, principalmente depois da mesma ter ingressado na Thunder Academy. Aquele tipo de ligação não poderia significar boas notícias, fazendo com que o cérebro de Hemera já esperasse que o pior poderia ter ocorrido com um dos ex-irmãos.
— Quem é Pogo? — Perguntou Frank ao notar as expressões assustadiças na face de Hemera.
— Alguém do passado da Hemera — Respondeu Madame Divone gesticulando para que todos os filhos ficassem em silêncio.
— Senhorita... — Insistiu Bernie mantendo o telefone estendido.
— Eu... — Hemera olhou em direção a mãe adotiva em busca de apoio, a qual assentiu com a cabeça, dando a autorização que ela esperava para poder continuar. Nervosa, a mulher levou o aparelho até a orelha — Alô!
— Boa noite, senhorita Hemera! Não trago boas notícias — Disse Pogo do outro lado da linha. Puxando o ar pelo nariz, Hemera engoliu em seco e levou a mão até o peito, seus irmãos a olhavam preocupados. — Creio que não tenha tido tempo para assistir aos noticiários.
— Não. — Respondeu Hera balançando a cabeça negativamente — Está na hora do jantar.
— O que está acontecendo? — Perguntou Medusa preocupada para as irmãs ao sentir o clima pesado que instaurava no ambiente.
— Não sabemos — Respondeu Vidia mantendo o olhar na direção da Hemera — Mas alguém morreu, talvez o Klaus.
— O Klaus morreu? — Perguntou Kieran erguendo a cabeça e olhando preocupado para Vidia, deixando de dar atenção para o jogo do Pokémon que brincava escondido em seu Gameboy.
— Não sabemos — Respondeu Cybelle curvando o lábio.
— Mas é uma teoria válida, ele vivia drogado — Disse Vidia dando com os ombros — Que pena, nunca conheci esse cunhado.
— 'Tá com o Ronald McDonald enfiado no cú hoje, hein! — Falou Kieran revirando os olhos com o comentário engraçadinho de Vidia, o qual era o centésimo da noite.
— A boca! — Repreenderam todos os presentes na mesa.
— SIlêncio! — Ordenou Madame Divone aos filhos enquanto acompanhava com curiosidade os movimentos de Hemera, a qual havia desligado o telefone e encarava a família tão assustada quanto antes de atender o aparelho — O que houve, querida?
— Alguém morreu? — Perguntou Frank levantando da mesa e aproximando de Hemera, ele segurou a irmã pelos ombros e olhou profundamente em seus olhos. Ela apenas assentiu com a cabeça.
— Foi o Klaus? — Perguntou Kieran voltando a ficar preocupado com o amigo da outra academia. Hemera balançou a cabeça negativamente. — Menos mal.
— Kieran! — Medusa repreendeu o descaso do moreno.
— Ele é meu amigo, os outros eu nem ligo — Rebateu Kieran com desdém.
— Agora não, Kieran! — Disse Frank abraçando Hemera com força. — Independente de quem foi, era a família dela.
— Não acho que tenha sido algum irmão. — Falou Madame Divone levantando de sua cadeira com expressões apreensivas na face — Hemera está assustada, não triste.
— A senhora está dizendo... — Cybelle começou a falar, mas foi interrompida por Hemera, a qual havia acabado de se afastar de Frank.
— Reginald Hargreeves está morto e ele me queria no funeral — Respondeu Hemera mordendo o canto do lábio.
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