𝗢𝗡𝗘
Quando a nostalgia de
verões passados vem a tona.
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Cape Cod, Massachusetts
June 17, 2022
ESTÁVAMOS CAMINHANDO DE volta para casa. Meu cabelo coberto de água do mar, minhas pernas com resquícios dos grãos de areia da praia. Zoe devorava os últimos triângulos de doritos na embalagem, antes de a amassar e jogar para dentro da bolsa de pano. O sol se punha, colorindo o céu com um tom rosado e alaranjado, que para mim era a melhor parte do verão. Bati nas pernas para tirar o excesso de areia e então anunciei:
— Esteja aqui em casa às sete, minha mãe vai fazer tacos - sorri, cutucando o ombro dela. Como eu amava tacos.
— Como se eu fosse perder. Se eu não como na sua casa, eu não como em lugar nenhum. Parece que minha mãe esquece de me alimentar no verão e fica o dia inteiro no clube.
A abraço por apenas alguns instantes e me despeço. A linguagem de amor de Zoe não era contato físico e eu respeitava isso. Me sentia privilegiada por realizar o sonho de várias garotas quando minha melhor amiga morava exatamente na casa ao lado da minha.
Entrei em casa procurando me mover o menos possível, assim os grãos de areia que eu carregava não se espalhariam pela casa inteira. Deixo minha canga e a bolsa de praia na varanda e corro com as pontas do pé até o meu banheiro. Uma das melhores sensações — e mais específicas também — era passar o dia inteiro na praia, chegar e tomar um banho quentinho, a pele bronzeada e o cabelo mais claro, o estômago pedindo por uma comida de verdade depois de passar o dia inteiro comendo salgadinhos. No verão, se bronzeador fosse comida, estaria alimentada o dia inteiro.
Como combinado, Zoe estava lá em casa às sete em ponto. Abri a porta e ela nem me cumprimentou. Correu em direção ao cheiro de carne moída vinda dos tacos e deu um abracinho em minha mãe. Ela ajudou a colocar os pratos na mesa e se sentou com os olhos brilhando para atacar a comida em sua frente. Eu ri, porque não havia atitude mais Zoe que aquela.
Quando já tínhamos ao menos acalmado o estômago, mamãe começou a contar sobre seu dia. Não prestei tanta atenção até que mencionou o nome de Mary Lou. Mary Lou era a mãe dos dois garotos mais queridos que já conheci e também do garoto mais insuportável que pisou na Terra.
Levantei os olhos do alface que eu tentava reunir com o meu garfo e levantei as sobrancelhas. Faziam anos que a família Sturniolo não passava as férias aqui em Cape Cod.
— Eles estão aqui pro verão? - perguntei. Não sabia como me sentir a respeito. Sei que a última vez que os vi, éramos pirralhos que a maior preocupação era não perder o episódio de Bob Esponja na TV, mas ainda assim.
Matt e Nick não eram a minha preocupação. Na verdade, eles eram a parte que me fazia sentir feliz por estarem passando o verão aqui. Chris me preocupava. Tudo bem, eu estava presa a memória do Chris de seis anos que destruía meus castelinhos de areia, me cutucava, me empurrava para chegar na água primeiro e era o primeiro a dar a ideia de me jogar na piscina de roupa e tudo com os irmãos — e também foi o responsável a dizer para eles que eu estava de acordo com aquilo. — Mary Lou ficava de cabelo em pé, sempre fazendo Chris se desculpar comigo. Ele fazia uma careta e me dava um abraço falso, então me mostrava a língua quando sua mãe estava longe o suficiente.
— Sim, e Mary Lou insistiu para irmos a casa dela amanhã - ela deu um gole no suco de laranja como se não lembrasse de todos os verões.
— Certo - disse sem argumentar demais. Respirei fundo e mantive os olhos no meu prato com restinhos de carne moída e alface.
Depois do jantar, quando minha mãe já estava indo deitar, Zoe e eu ficamos na cozinha ajudando a lavar as louças. Quando digo "ajudando" quero dizer que ela ficou sentada na bancada da cozinha falando em FaceTime com Diana, nossa melhor amiga que morava a 2,260 km de nós — mais especificamente no Canadá.
— Você poderia me ajudar, Zoe - falei, colocando mais um prato para escorrer. - Sua oportunista, come a minha comida, dorme na minha casa e nem me ajuda.
— Que mentira, estou te ajudando a ver se esse tal de Chris é uma pessoa normal agora - ela balançou as pernas suspensas pela bancada, rolando a tela do celular apenas com o polegar.
Ecoando no auto falante do FaceTime, Diana falou tão alto que Zoe teve que diminuir o volume enquanto fazia uma careta:
— Que Chris?! Que saco, vocês estão me excluindo. Não é minha culpa que eu moro em outro país - ela choramingou. Eu nem precisava ver a tela do celular para saber que ela forçava um biquinho triste.
— Fala baixo, Diana! A tia Monica está dormindo. E eu também nem sabia desse aí até que a cara da Maddie ficou toda pálida quando a mãe dela só mencionou a mãe deles - ela deu de ombros.
Puxei o pano de prato que estava pendurado no fogão e sequei as mãos, espiando a tela do celular. Coloquei meu rosto na câmera por alguns instantes e mandei um beijinho para Diana.
— Oi, momozinho! Tá toda linda bronzeada. A Zoe que não pega cor por nada - ela comentou e eu dei risada ao ver a careta enojada que Zoe lançou a ela.
"Momozinho" era um apelido que Diana nos deu. Não lembro como e quando isso começou, mas era como nos chamávamos às vezes. Era vergonhoso, mas não dávamos a mínima.
— Não vou nem me dar o trabalho de te responder - Zoe falou, revirando os olhos por um instante. — Qual é o sobrenome dele mesmo? Vou pesquisar no Instagram.
— Sturniolo.
— Ave Maria, como se escreve isso? - Diana falou do outro lado da chamada.
Peguei o celular de Zoe e abri a aba de pesquisa do Instagram. Digitei apenas o primeiro nome dele e o perfil surgiu como primeira opção junto de um símbolo de verificado do Instagram. Torci as sobrancelhas e cliquei no perfil, quase dei um pulo quando vi a quantidade de seguidores.
— Puta merda, Maddie! Quase um milhão de seguidores? Como você não viu isso antes? - Zoe pegou o celular de volta e começou a stalkear o perfil dele. — Eles são trigêmeos?! E youtubers?! A Diana deve saber quem são.
— Cadê? Me manda o perfil.
Diana era youtuber, tinha começado a gravar alguns vlogs não muito sérios no ano passado e agora estava com quase novecentos mil inscritos. As pessoas gostavam de como ela não precisava fingir ser alguém que não era, e do seu senso de humor. E estavam certos. Diana era uma das pessoas mais hilárias que já conheci. Ela era transparente e não tinha vergonha de falar em frente de uma câmera, nem em público.
Zoe arrastou os dedos pela tela e enviou o perfil para Diana. Ela viu imediatamente. Escutei um gritinho vindo do celular e soube que ela tinha os reconhecido. Estava começando a achar que ela os conhecia até mais do que eu já pude conhecê-los.
— Sei quem são. Já vi um vídeo deles no TikTok. São uma gracinha, mas prefiro o melhor amigo deles.
— O Nate? - perguntei. Lembro de um dos verões que os meninos trouxeram o Nathan com eles. Não conversamos muito, mas lembro que Chris esquecia que eu existia quando ele estava.
— Isso, tem foto dele aí nos dumps de sexta-feira - ela falava, sua voz tornando-se mais grave pelo bocejo que deixou sua boca.
Peguei meu celular que estava na mesa da cozinha e pesquisei o Instagram de Chris. Com a conta aberta, passei por todas as fotos. Ele estava diferente, é óbvio. Tinha deixado o cabelo crescer, continuava usando as roupas laranjas que costumava usar. Seu sorriso era tão lindo. Madelyn, mas que porra? Para com isso.
Balancei a cabeça e quando olhei para Zoe, ela me olhava com uma risadinha no canto dos lábios. Arqueei as sobrancelhas e desliguei o celular.
— O que foi? - Apaguei a luz da cozinha e andei para o meu quarto, deixando que ela me seguisse.
— Achei engraçado você estando tão focada em babar nas fotos do Chris que nem ouviu a Diana dizendo que ia desligar.
Me joguei na cama e comecei a rir, uma risada mais surpresa que divertida. Não estava óbvio assim, e eu não estava babando.
— Eu não estava babando. Mas tenho que admitir que achei ele bonitinho, sim. - Coloquei meu celular para carregar, minha mente ainda presa em como os pirralhos do fim da rua estavam tão crescidos.
Enquanto tentava dormir — Zoe já dormia profundamente do meu lado na cama —, não pude evitar de pensar: nunca vi os meninos no inverno, não sabia de metade da vida deles. Eles sempre foram muito branquinhos, mas no verão ficavam mais rosadinhos e às vezes, com sorte, levemente bronzeados.
Então peguei meu celular e meu fone de cima da mesa de cabeceira e decidi assistir um de seus vídeos. Eram os mesmos garotos que eu conheci quando pequena. Chris que estava diferente, ou talvez agia normalmente com os irmãos. Não sei como me lembrava tão bem daquela época, do jeito deles, de como aqueles verões eram.
Não sei quantas vezes eu cobri a boca para segurar a risada conforme assistia os vídeos deles. Eu conseguia ver porque eram famosos. Era estranho pensar que eu conhecia apenas a versão antiga deles. Minha barriga ficava fria ao lembrar que eles estavam a apenas duas casas da minha, estavam ali e eu os veria na manhã seguinte. Puta merda.
i. espero que tenham gostado do primeiro capítulo!
ii. vocês não tem ideia do quanto eu tô ansiosa pra escrever isso 😭
iii. não esqueçam de comentar bastante! amo vocês 🧡
© walkthdead, 2024
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