
17 | Aquele com a Decisão
𝐀𝐐𝐔𝐄𝐋𝐄
𝒄𝒐𝒎 𝒂 𝒅𝒆𝒄𝒊𝒔𝒂𝒐
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Bel Air, Los Angeles
23 de outubro
☁︎
Era óbvio que nenhum dos dois estava confortável com aquela situação. A tensão podia ser sentida, era palpável entre eles, e era o que preocupava Pedro. Os sons de notificação no celular de Vivian só cessaram quando ela desligou a internet do aparelho, e ele pôde ver bem como suas mãos tremiam.
Os dois temiam que fim aquela agonia teria. Se entenderiam que não era um relacionamento, como Vivian queria, ou se respeitariam sua privacidade, como Pedro desejava, mas internamente sabia que era uma opção quase impossível. E, por isso, ele temia a decisão que ela tomaria também.
Sabia que Vivian era muito pé firme em suas decisões, e não costumava agir de forma impensada. Só não sabia como sua mente funcionava sob pressão. E a pressão que eles estavam tendo agora era a pior.
— Quer mais água? — Pedro ofereceu, observando a mulher sentada no sofá, encarando o celular sob a mesa de centro.
Vivian o olhou, suspirando, e negou devagar. Pedro queria fazer algo, a sensação de inutilidade que lhe consumia não o fazia bem. Ele odiava ver a mulher daquela forma, e era em momentos como esse que ele mais queria poder voltar no tempo.
Mas infelizmente não era possível. Agora tinham de encarar as consequências.
— Eu.. Já conversei com a minha equipe e… Eu tenho algumas entrevistas vindo, uma chance de falar abertamente ao público que não temos nada, e-
— Eles tem fotos nossas, Pedro. Dos beijos na praia, andando de mãos dadas. Como vai negar isso?
Pedro engoliu em seco, desviando o olhar de Vivian, sem respostas. Estava óbvio para quem visse, os dois eram um casal. Seja lá em qual parte do relacionamento, mas estavam juntos. Seus nomes já circulavam juntos, e pouco a pouco a mídia já descobria mais coisas da vida dela.
— Eu poderia dizer que estávamos nos conhecendo, e… Tendo algo sem compromisso.
— Eles continuariam cobrando. Sabe como a mente dessas pessoas funciona. E quanto mais informações tiverem de nós, melhor para eles.
E ela estava certa. Cada palavra que eles dessem, cada foto ou vídeo que alguém os fornecesse, seria como um super trunfo em suas mãos para reafirmar ainda mais que os dois eram um casal. Já afirmavam que era um namoro sem nem mesmo alguém ter confirmado. E isso assustava Vivian.
O rótulo do relacionamento que ela tanto fugiu.
— O que você sugere então? — Pedro perguntou, trocando olhares temerosos com a mulher.
Levando em consideração seu mal entendido sobre os ciúmes, parte dele sequer queria que ela realmente respondesse.
Não poderia ser tão ruim continuar assim, poderia?
— Não podemos simplesmente ir a público e negar, eles já sabem, já está mais do que óbvio, então..
A pausa podia fazer seu coração parar. Ele não estava prono para uma conversa desse porte agora. Nenhum dos dois estava.
— É melhor você não falar nada no seu twitter, instagram, não sei. Podemos passar um tempo sem sair em público juntos, e aí.. Você pode dizer em uma das entrevistas que estávamos conversando, nos conhecendo, mas não deu certo e nos afastamos.
Vivian dá de ombros com sua suposição, honestamente pensando ser a melhor opção que tinham. E, dada a sua situação, tão encurralados, realmente era.
— Hipoteticamente falando, certo? Sobre nos afastar… — Pedro a encarou outra vez, com muitas interrogações em seu olhar.
Por mais que fosse uma suposição boa e que talvez desse certo para esconder o seu status de relação, seja lá qual fosse este, a forma tão sincera e direta que ela falou o assustou um pouco. Vivian não era de falar coisas impensadas, e tudo podia ter uma bela explicação por trás, desde que ela quisesse ser sincera e revelar.
Mas ele definitivamente não queria se afastar.
— Vivian…
— Isso nunca aconteceu comigo. Essa sensação de estar tão exposta, toda a minha vida, Pedro. Meu trabalho, meus gostos pessoais…
— Eu sei, mi amor. Nem comigo. Acredite, eu sempre tive muito cuidado com as minhas relações, e a exposição das pessoas comigo… Não era algo que eu queria que acontecesse com você.
Instintivamente, Pedro se aproximou mais, tocando a coxa de Vivian e a puxando para mais perto de si. Sentia que, quanto mais longe ficasse, fisicamente, pior seria emocionalmente. Por mais que mentisse para si mesmo de que seu emocional estava sob controle. Precisava enganar sua própria mente, assim não afastaria Vivian. Ao menos era o que ele pensava.
— Mas eu não vejo outra forma de continuar, Pedro! Manter segredo não adianta, vamos vacilar de novo, e eles vão descobrir, de novo!
— Também não podemos resolver tudo no calor do momento.
— O calor do momento foi horas atrás quando eu comecei a ver nossas fotos por aí. Eu sei que não devemos tomar decisões impensadas, e é por isso que eu quis conversar.
— Mas eu ainda acho que é cedo demais para decidir que vamos parar de nos ver! — Ele persiste, franzindo as sobrancelhas.
Vivian podia notar bem, por mais que ele tentasse mascarar. Pedro não escondia tão bem quanto achava que sim, e seus sentimentos já estavam óbvios. A amizade, é claro, era um valor crucial. Algo que eles cultivaram entre si desde o primeiro dia, com as tantas conversas que tiveram, e com tudo o que já sabem um sobre o outro.
Mas Pedro era mais emotivo, era mais sensível. E ele se deixou levar muito antes.
Vivian sabia disso. Desde o momento do ciúme, ela podia ter certeza. Com ele negando ou afirmando, a resposta sempre ficava clara no brilho dos olhos dele. Assim como estava agora, com ele quase suplicando para que ela repensasse suas ideias.
— Porque quer tanto continuar assim?
O questionamento dela fez Pedro engolir em seco. Se respondesse o que estava em sua mente, seria o ponto final. Uma vez que admitisse o que guardava dentro de si, seria o fim. Ele estava levando isso tranquilamente, como podia. Com saídas em casal, com passeios e mais conversas. Com momentos íntimos que os deixavam exaustos depois.
Para cada um desses momentos, Pedro sentia algo. E temia que Vivian não sentisse nada.
— Porque somos amigos. E eu não quero perder a sua amizade por causa disso, nena.
— O problema é que na cabeça dessas pessoas, jamais seremos outra coisa além de um casal. Não tem outro jeito.
— É claro que tem! Eu já disse que posso afirmar que estávamos nos conhecendo, ficando… E se não deu certo mas a amizade continuou?
— Porque entre nós tudo vai continuar o mesmo, e eu não sei se conseguiria fingir que não temos nada. Quando formos passear na orla, ou… Ir ao cinema juntos, e… Não dá, Pedro. Eu não consigo!
Vivian ergueu as próprias pernas, apoiando contra o corpo, abraçando a si mesma e deixando a destra dele relaxar no seu joelho. O calor da palma de Pedro lhe passando um conforto que ela precisava, parcialmente lhe acalmando.
E parcialmente a fazendo sentir o perfeito motivo da sua confusão mental e emocional ali, bem na sua frente.
— Eu não quero perder o que temos, Pepe. Nem como.. ficantes, e muito menos como amigos. Mas quero menos ainda ter a minha vida pública assim, ser exposta assim, e ter algo rotulado por pessoas que nem me conhecem. Que nem sabem nada sobre nós dois.
— E isso pode ser resolvido. Eu dei uma proposta, e quero resolver isso da melhor forma para nós dois, Vivian!
Mas ela não queria.
E Pedro lentamente conseguiu perceber isso apenas por olhá-la também. Ainda mantinha seu olhar doce e sutil, sem querer se afastar, mas pôde perceber quando Vivian desviou o dela. Já estava convencida da sua decisão, e não havia motivos para Pedro continuar naquele debate.
— Você não tem medo só do rótulo do relacionamento. Você não quer se relacionar.
Pedro constatou, afastando sutilmente a mão de Vivian quando percebeu que ela não negou. Seu olhar não mudou, sequer seu semblante. Ele estava certo, e não parecia ser uma surpresa para os dois, visto que sequer haviam conversado sobre suas vontades em um relacionamento. Apenas haviam entrado nisso pelo desejo, e assim continuaram, sem preocupações.
Mas a verdade tinha de vir a tona em algum momento.
— Eu nunca quis nada sério, Pedro. Estive bem todo esse tempo em ser só.. um caso. Um alguém para conversar e ter um bom sexo, mas para mim nunca seria emocional, eu não quero isso. Não quero um namoro.
— Porque?
— Porque eu não quero! Isso não dá certo comigo.
— Só porque não deu certo uma vez, não quer dizer que vá ser assim sempre — Ele dá de ombros, se apoiando no outro encosto do sofá, encarando a mulher.
Aos poucos, as fichas de ambos caíam. Um tirando suas próprias conclusões sobre o outro.
— Porque está tão sentido com isso? — Ela pergunta, querendo saber se estava certa sobre o que pensava, mas, ao mesmo tempo, sem querer lhe perguntar diretamente.
— Porque eu- Eu imaginava que estávamos indo a algum lugar. Eu e você, como um.. “nós”, entende?
— Porque não me disse?
— Imaginei que você não estava no mesmo estado emocional que eu, mas persisti assim mesmo. Porque você não é o tipo de mulher que alguém desiste, e não é porque você possa ser difícil ou algo assim, só…
Ele suspirou, outra vez se controlando para não se perder mentalmente nas próprias palavras. O olhar de Vivian era quase impossível de sustentar, e ela se mantinha afastada para evitar aflorar o que ele sentia.
— Eu me encantei por você desde o início, sua inteligência, seu carisma, sua personalidade e como você sempre se doava por algo. Pelo bem do seu irmão, dos seus sobrinhos, do seu trabalho. Eu te achei incrível, Vivian…
— Pedro… Eu não posso, cariño. Não sou o que você procura agora.
— Você é exatamente o quê e quem eu procuro agora, mi amor. Você só não quer ser, por escolha própria, e isso eu não posso mudar.
Vivian engoliu em seco, sabendo bem que ele estava certo, e sem tentar sequer argumentar. Era uma escolha, sim. Quase como se ela pudesse virar uma chave no próprio cérebro e se permitir sentir tudo o que reprimia. Ela sempre fora assim, mas na maioria das vezes se permitia sentir algo primeiro, e nunca acabava bem. Então se fechou, sem deixar as borboletas em seu estômago ou aquela ansiedade boa em seu peito crescerem.
Não até que tivesse certeza de que era o momento.
E nunca chegava ao momento da certeza. Pelo menos não com os outros antes de Pedro.
— Eu não posso agora. Não depois de tudo isso.
— Eu não vou insistir, mi cariño. Eu não posso forçá-la a ficar comigo, a sentir algo por mim.
— O que você sente por mim? — Ela pergunta, por impulso, com um nó começando a se formar na sua garganta.
Mas o olhar de Pedro já era diferente.
— Não me faça dizer. Não é o que você quer ouvir em um momento como esse.
Ele falava sério, e já estava se afastando devagar, fisicamente. Não poderia e nem persistiria nisso, sabia que não era certo. Respeitaria as vontades dela como sempre fez, desde o primeiro contato.
— Me desculpe. Mas eu não estou pronta, Pedro. Aceitar empurrar isso com a barriga, com a bagunça emocional que eu estou agora, é dar a certeza de que eu vou machucar você. E eu não quero tomar uma pessoa tão incrível como você e transformar em uma completa bagunça.
— Sua sinceridade vale tudo isso, nena. Acredite. Eu só.. Preferia que tivéssemos tido essa conversa antes. Antes de tudo, realmente. Dos reencontros, dos passeios, do Oscar…
Vivian, que assentia conforme o compreendia e suas palavras, o encarou com o cenho franzido pela menção do seu outro amigo, e soltou um leve ar pelo nariz quando entendeu que havia algo mais por trás da decisão dele.
— O que o Oscar tem a ver com isso? — Ela questionou, percebendo como o olhar dele pareceu mais avaliativo.
— Ele se interessou por você, e você é solteira, então…
— Então obrigatoriamente eu terei algo com ele?
— Não! Eu só… eu sei que você já era livre “estando” comigo, mas agora que já está óbvio que o que tínhamos não vai, e não ia evoluir, ele pode-
— Pedro… Por favor, me diz que o seu ciúme não afetou em nada nas suas decisões de agora — Vivian pede, fechando os olhos ao dar um longo suspiro, e logo encarando o homem outra vez.
— Então me diz se o seu interesse por ele não afetou você — Ele retruca, outra vez deixando o ciúme vencer no momento errado.
E parece compreender quando Vivian suspira. Não que algum dos dois estivesse errado ou certo naquele momento, e a tensão que já estava quase se dissipando, parecia estar formada de novo. Até que a mulher engoliu os argumentos que queriam sair.
— Acho que foi melhor ter posto um fim aqui, agora, então.
Com um olhar, Pedro compreende. E não precisava dizer mais nada, nem tentaria, embora quisesse. Talvez depois, quando a poeira baixasse e os dois pudessem compreender perfeitamente o que era tudo aquilo, e tudo o que havia acontecido. Agora apenas não era o momento.
Pedro assentiu por fim, mordendo a parte interior da bochecha, e limpou as mãos no tecido da calça, como se afastasse aquele nervosismo característico. Ela apenas observou, sem muito o que pudesse fazer agora. Não tomaria qualquer decisão até que os dois clareassem seus pensamentos.
Tinham de dar tempo ao tempo, porque a bola de neve que começou mais cedo já havia se tornado grande demais, e já havia afastado os dois mais do que devia.
— Podemos… Apenas conversar? Depois… — Ela sugere, temendo que aquilo fosse um afastamento definitivo, se ele entendesse as coisas errado.
— Já deixou bem claro que não deveríamos, não é? Que você não conseguiria?
— Pedro, por favor… Tenta pensar um pouco, e aí… Ao menos terminamos essa conversa do jeito certo. Com as mesmas decisões, mas com a cabeça vazia para entender um ao outro. Pode ser?
Ele pensou, ponderou e questionou a si mesmo. Ela sabia bem que não era uma forma de lhe manter por perto, não era egoísta a esse ponto, mas entendia que não devia ignorar os sentimentos que ele criou por ela dessa forma.
Tudo tinha o jeito certo de acabar.
— Tudo bem. Até depois.
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Atrasando depois de acabar o capítulo naquela tensão, que vergonha...
Eu devia ter postado esse aqui bem antes, mas minha última semana de provas começou, e a faculdade não perdoa ninguém!
Pretendo fazer uma mini maratona e postar com menos brechas assim que as férias começarem, não será uma fic grande e demorada, então relaxam.
Tudo acontece e tudo se resolve...
Beijos!
♡.
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