
13 | Aquele em que Ela Conta
𝐀𝐐𝐔𝐄𝐋𝐄
𝒆𝒎 𝒒𝒖𝒆 𝒆𝒍𝒂 𝒄𝒐𝒏𝒕𝒂
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Hollywood Hills, Los Angeles
24 de setembro
☁︎
Vivian retornou para casa após o almoço. Por mais que Pedro tivesse demonstrado sua clara vontade para que ela continuasse com ele pelo restante do dia, a morena alegou que tinha alguns trabalhos para adiantar, e ele não contestou. Não era exatamente uma mentira.
Mas a verdade é que Vivian havia ficado um tanto preocupada com o que Pedro pareceu demonstrar. O ciúme. Ela não era a melhor com sentimentos, mas podia reconhecer bem. E aquele estava suficientemente claro para ela. Por mais que tentasse negar, Pedro havia ficado com ciúmes de suas interações com Isaac.
Vivian dirigiu para casa pensativa o suficiente, ainda com o perfume de Pedro no corpo mesmo que não usasse mais as roupas dele. E as sensações de pequenas borboletas começando a se movimentar pelo seu estômago não pareciam exatamente por paixão. Talvez uma sutil ansiedade crescendo por pensar tanto no mesmo assunto.
E só voltou a si quando recebeu uma chamada, atendendo pelo alto-falante bluetooth do carro.
— Vivi! Está em casa?
A voz de Florence saiu pelo som, alta e animada como a ruiva sempre era. E isso foi momentaneamente suficiente para acalmar os ânimos de Vivian.
— Estou chegando. Porquê, amor?
— Não abri a cafeteria hoje, foi dedetizada.. Quer algum lanche com sua melhor amiga?
Vivian podia dizer que Florence estava rindo copiosamente mesmo que elas não pudessem se ver. Seu tom de voz indicava isso, e ela riu.
— Vou fazer o retorno e busco você aí.
— Descendo…
Antes mesmo que a ligação fosse finalizada, Vivian já estava numa curva para entrar na avenida que a levaria para o apartamento de Florence. E cantarolou mais alguns versos de Hozier até chegar a frente do apartamento. A ruiva já estava na frente, com uma sacola em mãos e a outra segurando a guia de Krypto, um doberman robusto.
— Aw, meu cachorro de suporte emocional — Vivian diz, sorrindo quando a amiga abre a porta de trás do carro, deixando que o cão suba no banco.
— Não podia deixar ele sozinho — Florence fecha a porta, entrando do outro lado.
— Estava falando de você — Vivian retruca com humor, enquanto acariciava o focinho do cachorro com a destra.
Florence a olha, tentando ficar séria, e quando se entrega ao riso, bate no ombro da amiga com a carteira. Aos risos, Vivian dá partida no carro, seguindo direto para o Walmart mais perto.
— E porque você precisa da sua amiga de suporte emocional? — Florence finalmente pergunta, após guardar a sacola no apoio entre os dois bancos.
— Hm… Passei a noite com ele — A morena sequer precisa citar o nome, sabendo bem que sua amiga entenderia. — Foi um happy hour em casa, com a irmã e alguns amigos dele, mas eu bebi e estava de carro, então dormi lá.
— Dormiram juntinhos? Teve conversa pós-sexo?
— Como você sabe-
Antes que Vivian possa concluir a pergunta, Florence aponta para a marca avermelhada e sutil no pescoço da amiga, ouvindo um suspiro dela e rindo.
— Conversamos sobre muita coisa. Pedro é uma excelente pessoa para passar horas e horas falando, ele conhece o mundo e tantas coisas…
— Sei… E você fugiu porquê?
— Eu conheci um amigo dele ontem. Na verdade, vamos trabalhar juntos e tivemos uma reunião durante o dia, então… Nós já tínhamos um pouco de assunto para falar, e eu não conhecia as outras pessoas, então acabei falando mais com Oscar..
Florence dava toda a atenção a amiga, já juntando as peças e podendo compreender em sua mente o que poderia ter acontecido, principalmente conhecendo bem Vivian como ela conhecia.
— Pedro não quis dizer, mas ficou com ciúmes. Talvez porque tivemos um pouco mais de intimidade, mesmo que muito pouca. Eu contestei hoje cedo e ele pareceu chateado com isso.
— Ele disse que sentia ciúmes?
— Óbvio que não, mas estava escrito nos olhos dele — Vivian retruca, puxando o freio de mão quando finalmente estaciona perfeitamente na vaga, dentro do Walmart. — Depois o clima ficou estranho. Ainda almoçamos juntos mas eu sabia que tinha algo errado e ele não quis falar.
— Sinto muito que tenha acabado assim, amor — Florence se compadece honestamente com a amiga.
Vivian suspira enquanto tira o cinto, e deixa as janelas travadas com um palmo de abertas ao sair, e trancar o carro. Deixaram Krypto dentro. O clima estava ameno, ventilado, e elas não pretendiam demorar.
— Você ficou chateada com isso? Com ele? — Flo pergunta, interessada em ajudar. Sabia como era difícil para vivian se expressar espontaneamente.
— Com o distanciamento dele. Achei que, pelo menos, podíamos ser sinceros um com o outro — Ela morde o interior da bochecha ao falar, girando a chave do carro entre os dedos conforme adentra o estabelecimento.
— Não acha que ele pode ter tentado evitar desgaste? Quer dizer, vocês se conhecem há pouco tempo, estão.. ficando há pouco tempo… Ele pode estar tão assustado quanto você.
— Não sei. Pedro é muito adepto ao diálogo, e disso eu sei. É estranho que ele tenha guardado isso para si.
As duas, ao mesmo tempo que conversavam, empurravam o carrinho com diversos lanches e bobagens que queriam comer. Não costumavam seguir nenhuma dieta à risca, mas o momento pedia salgados e doces gordurosos e cheios de colesterol. Era assim que se matava a tristeza.
— Talvez ele não queria te assustar — Flo dá de ombros, tentando entender os dois lados e ser racional.
— Me assustou de qualquer forma — Vivian é quem retruca e dá de ombros agora, lendo um rótulo de vinho.
Florence se aproximou da amiga, apoiando o queixo no ombro de Vivian enquanto observava a escolha de vinho rosé. E pôde ouvir um suspiro vindo dela, sabendo bem o quão confusa e possivelmente triste ela estava por dentro.
— Ele não sabe disso, amor. Vocês precisam é conversar.
— Eu sei que precisamos. Esclarecer tudo antes de continuar.
— E o que mais?
— Ser sincera sobre o que eu sinto, e o que eu espero de.. “nós”. Que não é nada, na verdade. Não tenho em mente me relacionar seriamente agora, mas imagino que ele tenha.
— Isso sim pode ser um impasse…
Vivian assentiu lentamente enquanto observava o carrinho, pensando se levava algo mais e tentando por um momento tirar Pedro da sua mente. Só quando as duas pareceram satisfeitas com seus itens, passaram tudo no caixa, pagando e empacotando, retornando para o carro.
— Não aguento mais pensar nisso. Me conta sobre você, sua vida… Me entretenha com suas aventuras.
Vivian pede, abrindo um pote de batatas e deixando no colo de Florence. A ruiva riu, se lembrando de um encontro recente, e deu alguns petiscos a Krypto antes de dar total atenção para a amiga outra vez.
— Conheci uma pessoa há um tempinho… Foi quando você estava no Brasil.
— Uma pessoa? — Vivian semicerra os olhos ao parar em um semáforo. Florence ri, deixando que ela pegue algumas batatas.
— Um homem. Sam, europeu. Chegou para um escritório de advocacia, é promotor.
— Chique. Bonito?
— Muito.
— Beijo?
— Muito bom.
A resposta veio junto a um sorriso que entregava bem Florence, e Vivian riu. Não precisava ser qualquer gênio para saber o que havia acontecido.
— Ele tem ido na cafeteria, me ver e levar café ou algum almoço rápido para o trabalho.
— Então está sendo um lance mais sério?
— Não sei. Ele chegou na cidade há pouco tempo e… Ainda não tivemos tempo para realmente conversar sobre futuro. Prefiro esperar que ele se estabilize.
— E você quer um futuro?
— Talvez? Ele é bom na conversa, pensamos igual sobre política e filosofia… E ele adorou o Krypto.
Inevitavelmente Vivian olha para o cachorro pelo espelho do carro, e o sorriso que dá é sincero, animada pelas possibilidades da amiga. Sentia que Florence merecia alguém, e só de já ter encontrado um pequeno passatempo, por enquanto, já era ótimo. Torceria para que os dois avançassem.
Assim que ela conhecesse o tal Sam e tivesse certeza de que ele era uma boa pessoa.
— Se o Pedro não fosse famoso, poderíamos fazer um encontro duplo — Flo sugere, percebendo o biquinho de Vivian.
Não por mágoa por ter tocado no nome dele, mas pensativa.
— Ele tem cara de que gostaria dessas coisas. Tenta descobrir com o Sam se ele conhece o Pedro, se não.. Pode ser arranjado.
— Aí você conhece o Sam, e eu, o Pedro.
O olhar que as duas trocaram foi cúmplice de uma tarefa. E sorrisos óbvios demais, que se tornaram uma breve gargalhada em uníssono. E, ainda pensativa sobre os diversos assuntos, mas muito mais tranquila com tudo ajustado em sua mente, Vivian seguiu a entrada para a sua casa, estacionando na frente e ajudando Florence com as sacolas.
As duas entraram e acomodaram as compras na mesa de centro. Florence serviu comida e água nos potes reservas de Krypto, que já ficavam na casa de Vivian, por todas as vezes que ela ficava de babá, assim como a caminha que ele agora estava deitado. Era como um filho com guarda compartilhada, e o pensamento fez Vivian rir.
— Mas você ainda não me contou como realmente conheceu o europeu — Vivian instiga, sentando no sofá e deixando as duas taças de vinho na mesa.
— Ele foi no café numa tarde aleatória, alguém do escritório em que ele estava que recomendou.
— E aí ele pediu um croissant e conheceu uma ruiva gata — A morena brinca, notando o nítido sorriso tímido da amiga.
— Ele tinha acabado de largar e pediu algumas dicas sobre a cidade. Levou um café e dois salgados, e voltou no outro dia.
— E vai lá todo dia?
— Sim.
— E vocês se falam por mensagem?
— Sim.
— Ele está louco por você. É sério — Vivian reafirma quando Florence ri. — Homem nenhum vê tanto assim uma mulher se não estiver louco por ela. Todos os dias, Flo! Eu preciso conhecer esse cara antes que ele te peça em casamento.
A resposta de Vivian faz Florence dar uma risada alta e sincera, conhecendo bem o humor da melhor amiga. E, com uma comédia romântica passando de fundo, as duas conversaram mais sobre o europeu recém-chegado e como ele e Florence já estavam se envolvendo em segredo. Vivian não via problema que a amiga guardasse segredos como aquele, sabia que no fundo ela só queria ter a certeza de que realmente era algo antes de contar. E, se não fosse, Vivian sabia que ela contaria da mesma forma.
Elas se entendiam bem, sempre foi assim.
— E esse Oscar… Você realmente sentiu algo por ele ou o Pedro teve ciúme por nada?
— Eu não sei se senti algo — A morena diz, mexendo o vinho na taça. — Ele é legal, teve um bom papo quando conversamos ontem, mas tem o mesmo jeito de flerte que o Pedro.
— O flerte latino que funciona — Florence comenta, com um sorrisinho. — É o seu karma, saiu do Brasil mas a América Latina não te deixa, amor.
— Esses gringos me fazendo pagar a língua — A morena dá um suspiro cômico outra vez.
— Seu irmão que o diga… — Flo provoca, lembrando de sua vaga paixonite por Wagner.
— Seu sonho.
— Foi superado pelo europeu — Ela dá de ombros, quase com uma ironia no olhar também. Vivian ri. — Mas voltando ao seu gringo, ele flertou com você? O Oscar?
— Não exatamente, mas ele tem olhares, tem toques… Eu percebi, Pedro percebeu…
— Dizem que quem vê de fora, percebe mais, realmente… — Florence faz um biquinho, esticando as pernas para relaxar o corpo.
— Não sei. Nem sei se quero continuar pensando nisso.
— Relaxa. Sei que vai resolver esse impasse, e entender o que sente pelos dois. Você tem uma inteligência emocional invejável.
— As vezes.
— Todos temos alguns deslizes — A ruiva dá de ombros, concordando e erguendo a taça para a amiga, como um sutil brinde.
— Aos nossos deslizes, então.
— Saúde!
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Mais um daqueles caps pra dar continuidade a história, e conhecer um pouco mais o círculo social da Vivian..
Mil desculpas pelo atraso na postagem, avisei sobre meu ouvido inflamado no perfil, mas sei que nem todos que leem aqui, me seguem lá, então aviso de novo:
Tô me recuperando de um problema de audição, e ainda sinto umas dores que me deixam insuportável e sem vontade de existir, por isso preferi descansar pra melhorar de uma vez!
Pra compensar, o próximo cap tem a volta do Oscarsito, e eu já pretendo postar nessa sexta!
Beijinhos
♡.
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